História Amor além do ódio - Uma mão lava a outra

Era um momento decisivo, qualquer passo em falso e seria o fim de nossas vidas!

Nós quatro estávamos passando pela sala para poder ir para os quartos e tomar um bom banho, deixar que a água eliminasse qualquer vestígio de lama.

Um passo atrás do outro, a respiração lenta e silenciosa... faltava pouco para chegarmos na escada e salvar nossas vidas.

No entanto, uma tosse de repreensão nos fez dar um pulo de susto e encarar a mulher de braços cruzados.

- Quem vai me explicar o que aconteceu?- Minha mãe perguntou, balançando a cabeça negativamente.

Tia Emma nos olhava incrédula, as mãos em frente a boca.

Três cabeças viraram-se para mim, esperando que eu explicasse o que minha mãe perguntou.

Por que eu tenho que enfrentar a fera?

- Então...- Dona Sônia incentivou.

- Eles me forçaram a ir lá para fora e me jogaram na lama, tentando me defender de seus ataques os derrubei no chão e sai correndo, eles são os culpados, pode levá-los para a salinha do castigo!- Eu disse, apontando para Guilherme, Clara e Jack.

Tomem distraídos!

- É mesmo?- Tia Emma, segurou o riso.

- Sem brincadeiras, Ana Júlia.- Minha mãe repreendeu.- Então essa era a ideia para acabar com o tédio?

- Ah mãe, era pra ser apenas um banho de chuva, mas acabamos nos animando um pouco.- Murmurei.

Mamãe não sabia o que dizer, soltou um suspiro e falou:

- Vão se limpar e depois desçam para jantar.

Escapamos!

Subimos correndo as escadas, pude ouvir a gargalhada de tia Emma e só quando chegamos em frente aos quartos paramos.

- Realmente, iria nos ferra?- Guilherme perguntou.

- Claro, vocês queriam que eu enfrentasse a fera.

- Ela é sua mãe!- Clara disse o óbvio.

- Só por isso?

- E foi você que começou.- Jack disse.

Mandei um olhar mortal em sua direção.

- Se o Gui não tivesse me empurrando não teria tacado a lama.- Me defendi.

Levei a mão até a maçaneta me preparando para abrir a porta do quarto.

- Vamos tomar banho, essa lama toda tá incomodando.- Clara disse, rindo.

Entrei no quarto e corri para o banheiro, tirei a roupa e deixei que a água limpase todas as impurezas.

Assim que terminei e me enrolei na toalha, Clara entrou para tomar seu banho, desesperada para se ver limpa novamente.

Coloquei a primeira roupa que vi no armário e fui para cozinha, onde encontrei meus avós, minha mãe e tia Emma.

Quando todos já estavam devidamente limpos, servimos o jantar enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias.

Assim que Clara e eu terminamos de comer subimos para nosso quarto, sentei na cama e minha amiga sobre o tapete no chão.

- Não acha que eu me esqueci da nossa conversa, né?- Perguntou.- O que aconteceu que te deixou tão atordoada?

Tinha até me esquecido do que havia acontecido mais cedo com Jack na cidade.

Não foi nada de mais ou que realmente precisasse contar para Clara, contudo, sei que minha amiga não iria se contentar com essa resposta.

Expliquei tudo o que tinha acontecido, sem ocultar nada, não tinha porquê deixar de contar.

O que aconteceu não passou de um acidente, poderia acontecer com qualquer um.

- Eletricidade?- Clara, questionou.

- É, não sei explicar, como se algo nos ligasse.- Tente, sem sucesso, expressar o sentimento que senti naquele momento.

- Isso não é comum, Aninha.

- Nos conhecemos desde pequenos, querendo ou não temos um tipo de irmandade.

- Acho que vocês tem muita coisa, menos irmandade.- Clara riu.- Faltam se matar.

- Ele me perturba muito, o que posso fazer?

Clara parecia não acreditar muito, talvez esteja duvidando da minha sanidade mental.

Eletricidade, vê se pode?

Ficamos em silêncio por uns minutos, era confortável, minha amiga conseguia me deixar a vontade em muitos momentos.

- Toc, Toc - Guilherme disse, abrindo a porta do quarto.- Podemos entrar?

Sem esperar pela nossa resposta, Gui e Jack entrou no quarto.

Meu amigo se jogou na cama ao meu lado e o Pateta ficou em pé, escorado na porta.

- Jack, você está fazendo faculdade?- Perguntei, tentando puxar assunto.

- Estou, engenharia civil.

- Pensei que iria fazer educação física.

- Era o que meu pai queria, mas eu nunca faço o que ele quer.- Jack nunca se deu muito bem com o pai, eles tinham pensamentos muito diferentes.

E se tem uma coisa que eu sei sobre Jack é que ele não gosta de ninguém mandando nele.

- Vocês já sabem o que vão fazer?- Perguntou.

- Acho que contabilidade.- Clara sorriu.

- Chefe de sistemas ou programador.- Guilherme disse.

Eu ainda não fazia ideia do que fazer e para ser sincera, não gosto muito de ficar pensando no assunto.

- E você, Ana Júlia?- Perguntou.

- Não sei, realmente, não sei.- Olhei para meus pés.

- Jack, você não teria uma dica para ajudar a Júlia?- Gui questionou.

- Ela é muito indecisa, você poderia ajudar.- Clara incentivou.- Enquanto isso, vou buscar um suquinho pra gente.

Claro que eles iriam pedir para o Jack me ajudar, já devia ter previsto isso.

Gui e Clara saíram, nos deixando sozinhos, Jack sentou ao meu lado.

- Não precisa fazer isso.- Murmurei, desconcertada.

- Ué, por que não?- Ele riu.- Não é um problema pra mim, mas talvez você pode ferir o seu orgulho.

- Idiota.- Chutei seu pé, rindo.

O encarei, enquanto ele parecia analisar o que iria me falar.

- Faça algo que você goste.

- Tenho medo de me arrepender, Jack.

- Se arrisque, sai um pouco da sua zona de conforto e tente.- Seu rosto estava sério.

- Falar é fácil.

- Reclamar também.- Revirou os olhos.

Talvez ele esteja certo, eu tenho medo de me arriscar e dar de cara com a parede.

Só não vou confessar isso em voz alta, nem morrendo faria isso. Aumentar o ego desse Pateta.

- Você me ajudando, acho que vai chover.- Falei.

- Já está chovendo, sua idiota.- Falou.- Só estou retribuindo, você já me ajudou. Uma mão lava a outra.

- Quando?- Me fingi de desentendida.

Eu me lembro de quando o ajudei, mas quero ouvir da boca dele, é tão bom irritá-lo.

- Eu não vou dizer.- Me fuzilou com os olhos.

- Não vai dizer que eu te ajudei a ficar com a menina peituda?- Sorri diabolicamente.- Porquê?

Lembro como se fosse ontem, eu fui uma ótima cupida.

- Namoramos apenas por três meses, você não deu muita sorte pra gente.

- Ela não te aguentou?

- Ela morria de ciúmes por sua causa.

OI?

- Por minha causa, o que eu tenho haver com isso?- Perguntei, era o que me faltava.

- Longa história, pouca vontade de te contar.- Jack passou a mão no cabelo e levantou.

- Ah não, vai me deixar curiosa?

- Tô nem aí, Ana Júlia.

Por que aquela maluca tinha ciúmes de mim? Jack e eu nunca tivemos nada!

Então eu me lembrei de uma coisa, será que...?

- É mesma garota que te ligou?

- Não.- Respondeu grosseiramente e fechou a cara.

Ainda vou descobrir quem é a menina do telefone. Seja quem for, Jack não gosta de falar sobre ela.

E se tem uma coisa que eu sou é curiosa.