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História Amor de Mentirinha - Gostar - Parte I


Escrita por: Taenshi

Notas do Autor


Oi, meus amores!

Sim, é isso mesmo que vcs leram, essa é a primeira parte do capítulo xD Ele vai ser dividido em duas porque tem o dobro do tamanho dos outros, então ficaria algo muuuuuuito cansativo de ler, daí resolvi fazer isso.

Além de grande esse capítulo é muito intenso! Fortes emoções à vista, espero que gostem *-*

Capítulo 5 - Gostar - Parte I



Tonight I'm weak
Essa noite eu estou fraco
It's just another day without you
É só mais outro dia sem você
I can't sleep
Não consigo dormir
I gave the world away for you to
Eu doei o mundo para que você
Hear me say
Me ouça dizer
Don't throw me away
Não me jogue fora
There's no way out
Não há saída
I gotta hold you somehow
Eu tenho que te segurar de algum jeito
All I wanna do is touch you
Tudo que eu quero fazer é tocar você

Abri os olhos, mas não ousei me mexer. Fiquei em silêncio por alguns segundos, absorvendo a ideia de que Harry estava deitado ao meu lado, como eu lhe dissera para fazer na noite anterior. Seu corpo fazia peso no colchão, um ronronar baixinho soava de sua garganta, e sua canela roçava na minha. E a soma de tudo isso mantinha longe aquela sensação de vazio.

Que droga.

Muito lentamente, me virei. Estava de costas para o moreno, e agora encarava seu perfil. E que perfil... Dessa vez, ele não estava com o braço sobre os olhos, me permitindo observar cada traço de seu rosto sem levantar suspeitas. Com os olhos, segui desde a ponta de seu queixo, passando pelas linhas de sua boca e de seu maxilar, depois o nariz e as pálpebras fechadas, até a têmpora e as raízes do cabelo. Meus dedos coçaram, pedindo para serem enterrados nos fios negros, acariciá-los, alisá-los... Tive que praticamente meditar pra conseguir me controlar.

Fechei os olhos e suspirei. Como minha vida podia ter mudado tanto em tão pouco tempo? Estava tudo nos conformes até três dias atrás, eu não tinha preocupações nem... Nem era apaixonada pelo Potter. Awn, lamentei, isso é um problema...

Mas, espera. Por que é mesmo que isso é um problema?

– Ei.

Arregalei os olhos. Harry me encarava de volta.

– Bom dia, flor do dia – disse ele. Teria sido engraçado ou irritante se não tivesse soado com tanto sarcasmo. – Tá na hora de levantar.

– E-eu já ia fazer... isso – gaguejei, o rosto queimando, próximo demais do dele para me permitir pensar com clareza.

Harry não respondeu, apenas quebrou o contato visual dando-me as costas e levantando. Suspirei, então também me levantei.

– Eu vou primeiro – anunciei, já passando a frente dele e entrando no banheiro.

– Mas quem disse? – reclamou Potter, segurando a porta com uma mão. Sua expressão não era das melhores.

– A educação. Nunca ouviu falar em “damas primeiro”?

– Só o que me faltava, ter que respeitar essa regra por sua causa. – Ele revirou os olhos.

– Mas é claro que sim! – bufei. – Eu sou uma dama, se você não percebeu ainda.

– Você nunca fez questão dessas bobagens todas, Weasley.

Ah, ótimo, ele voltou a me chamar pelo sobrenome.

– Mas que coisa, Potter, eu sou uma mulher e pronto! Tenho o direito de ir na frente. – Entortei a boca. Fiz uma breve pausa, desviando o olhar. – Além do mais, somos casados, não é? Você tem que ceder a vez para sua esposa.

– Você não é minha mulher – resmungou Potter, e soltou a porta do banheiro, dando-me as costas outra vez.

Fechei a porta e me encostei a ela. É, eu realmente não era a mulher de Harry... Nem no sentido de esposa, nem no sentido de mulher. Eu chegava a ser mais de Charles do que de Harry e isso... Bem, era por isso que gostar do moreno era um problema.

Afinal, ele me odiava tanto...

Terminei meu banho e voltei ao quarto. Harry estava sentado na beira da cama, e quando ouviu o barulho da porta, levantou e entrou no banheiro, sem nem olhar para mim. Levei uma mão à testa, tentando imaginar como ou o que eu poderia fazer para concertar aquela situação. Sacudi a cabeça, e me pus a me arrumar.

Enquanto escolhia um vestido no guarda-roupa, olhei para o lado e vi a aliança do moreno jazendo sobre o criado-mudo ao lado da cama. Suspirei. É claro, não iríamos usá-las enquanto estivéssemos cada um para seu lado; que cara Charles faria se descobrisse que eu era casada? Tirei minha própria aliança, mas ao invés de colocá-la ao lado da de Harry, peguei a dele e observei as duas na palma da mão. A dele era obviamente mais larga, mas fora isso elas eram idênticas. Lembrando-me do que vira na praia no dia anterior, peguei a aliança de Harry e girei-a de modo a ver a face de dentro.

Senti meu coração acelerar subitamente quando notei que o tamanho era mesmo a única forma de diferenciá-las, já que dentro de ambas estava gravado o nome Potter.

Harry me dera seu sobrenome. Mesmo.

Mas... “Você não é minha mulher”. Era o que dizia agora. Ele não podia estar tão bravo comigo só porque eu iria ao casamento com Charles. Harry não sentia por mim o que eu sentia por ele, não, definitivamente não. Ele me odiava! E mesmo que não fosse o mesmo ódio de antes, não chegava nem perto do que eu sentia agora. Então, por que ele...

Fechei os olhos com força e sacudi a cabeça outra vez.

♥♥♥

– Você não vai tomar café? – quis saber Harry, sem muito interesse. Ele já estava à porta, pronto para descer.

– Agora não, vou me arrumar primeiro – respondi, preferindo encarar as dobras dos lençóis aos olhos verdes e penetrantes do moreno. – Talvez eu coma alguma coisa antes de ir, não sei.

– Hm.

Fez-silêncio. Desejei que ele saísse do quarto de uma vez, e acabasse com aquela tensão que já estava me esmagando.

– Weasley... – recomeçou o moreno. Esperei. – Esqueça. Estou descendo. – Dizendo isso, abriu a porta e saiu.

Suspirei mais uma vez.

Escolhi um vestido de cor salmão, bem clara, que comprei no nosso primeiro dia na cidade. Ele ia até o joelho, tinha alças finas, um decote quadrado e duas fitas largas de cetim que cruzavam meu tronco em “X”. O tecido era leve e solto, ideal para um evento durante o dia. Calcei sapatos de salto, me maquiei sem exageros e prendi o cabelo vermelho em uma trança lateral, que começava quase no topo de minha cabeça e descia propositalmente desleixada pelo ombro.

Olhei-me no espelho e gostei do que vi. Com certeza Potter ficaria de queixo caído se me visse assi... Digo, Charles também iria gostar do resultado. Claro, Charles. Claro.

– Nossa. – Ouvi alguém exclamar e me virei sobressaltada. Ninguém mais, ninguém menos que Harry Potter me observava da porta do quarto, sobrancelhas erguidas e boca entreaberta. Sua mão ainda estava na maçaneta quando ele engoliu em seco.

Meu rosto esquentou na hora.

– Você gostou? – perguntei sorrindo pequeno, encolhendo os ombros.

Potter precisou de alguns segundos para recuperar a voz.

– Você está... Nossa, Gina, você está incrível. – Seus olhos percorriam meu corpo inteiro enquanto ele falava, meio abobado. – Está linda.

Ganhei o dia com aquelas palavras.

– Obrigada.

Harry murmurou algo ininteligível, mas tive a impressão de registrar as palavras “certeza” e “não quer ficar?

Arregalei os olhos.

– O quê?

– Hã? O quê? – Ele pareceu despertar. – Não, eu não... Nada, não foi nada, eu só... Nada. – Potter pigarreou e finalmente fechou a porta. Ele ficou de costas para mim, mas tive a impressão que seu rosto estava vermelho.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

– Bom, er... – falei. – Charles chegará logo, então eu... Vou descer.

– Claro, claro. – Harry gesticulou com uma mão, a outra na cintura, ainda de costas para mim. Aporrinhei-me.

- Olhe para mim quando falar comigo, Potter.

Ele olhou. Eu tinha que me acostumar com aquele novo frio enorme na barriga ao encarar suas íris brilhantes.

– Di-divirta-se – desejei. – Nos vemos mais tarde.

– É. Nos vemos mais tarde – repetiu ele. – Divirtam-se vocês dois.

Com o coração acelerado sem motivo aparente, o peito subindo e descendo devido à respiração rápida, os olhos de Harry me encarando quase como um desafio e um desejo no peito de que ele me impedisse, de que dissesse qualquer coisa que me fizesse ficar, dei as costas ao moreno e saí do quarto.

♥♥♥

– Uau, Gina – exclamou Charles, assim que me viu. – Até Capitu sentiria inveja.

Sorri, mas no fundo já estava achando aquele papo de Dom Casmurro meio repetitivo. Trocar o disco é bom de vez em quando... Ah, talvez eu só estivesse sendo exigente demais, ele estava me elogiando e tentando me agradar, então... Suspirei uma vez e sorri mais aberto.

– Obrigada, Charles. E o que eu posso dizer de você que não me comprometa?

Ele riu. O moreno estava mesmo lindo. Não que ele já não fosse lindo, mas estava irresistível em seu terno preto, sem gravata, com uma blusa azul-escura por baixo, o que só destacava a cor de seus olhos. Seus cabelos estavam penteados para um lado, de um jeito charmoso, e eu não consegui me impedir de pensar em como Harry era o único homem que sempre ficava lindo de cabelos desgrenhados...

Bufei para mim mesma. Pare de pensar no Potter, Ginevra Weasley!

Sair do Paradise aquela manhã não foi fácil. Tina já havia visto Harry tomando café sozinho, e já começara a desconfiar, mas provavelmente ela não perguntou nada a ele com medo de sua expressão carrancuda. O problema é que sobrou para mim.

– Há algo que eu possa fazer pela senhora, senhora Potter? – Ofereceu-se a garota sorridente, quando eu ia passando pelo saguão para tomar café. Pude sentir que havia muito mais significado por trás daquela frase.

Preferi não me aproximar, tentando indicar que não queria conversar.

– Ah, não, obrigada, Tina, estamos bem, obrigada. – Dei um sorriso sem dentes. Ela não se convenceu.

– Estão mesmo? Ah, que bom, então, eu fiquei... preocupada por um instante, apenas isso. – Voltei a ter medo de seu sorriso.

– Preocupada? – Sorri de volta, como se aquele assunto não fosse grandes coisas.

– É, não foi nada de mais, mas eu vi o senhor Potter mais cedo e, bom, ele não parecia muito bem... Pensei que os senhores estivessem com algum problema. – Comecei a dizer que não, mas ela continuou: – E, bom, a senhora está se preparando para sair, pensei que talvez eu pudesse oferecer alguma programação ao senhor Potter para que ele não se sinta tão sozinho.

Nos encaramos por alguns segundos, ambas sorrindo.

– Ah. Ah. – Ri nervosa, tentando formular uma desculpa. Eu devia ter inventado algo antes! Mas não conseguia mais pensar direito, não após descobrir meu sentimento por Harry. – Ah, Tina, é que ele não acordou muito bem hoje... Um desconforto, uma dor de cabeça sem motivo... Nós vamos sair juntos, mas eu vou primeiro, sabe? Ele... Ele vai descansar mais um pouco e me encontrará... lá. Mais tarde. É.

Ela continuou me encarando.

– Ah. – Fez ela também. – Ah, sim. – Breve pausa. – Me desculpe, senhora Potter, eu apenas achei... estranho. Se eu não soubesse que os senhores são casados, bom, poderia até desconfiar que não são. – Ela riu um pouquinho, e eu senti o ar abandonando meus pulmões. O que mais eu poderia dizer?

Ri também, tentando pensar em algo rápido, não podia perder tempo. Tinha que ter cuidado, eu não queria nem ver o desastre que seria se Charles chegasse...

– Então, que bom que você sabe que nós somos casados, não é? – Não dei tempo para que ela respondesse, e prossegui: – Bem, com licença, Tina, eu vou tomar café agora, se não posso acabar perdendo a hora. – Acenei com a mão para ela e dei-lhe as costas rapidamente, tentando evitar que ela voltasse a falar.

Depois do café, passar outra vez pelo saguão foi mais fácil. Tina estava ocupada atendendo um cliente, mas isso não a impediu de pelo menos me lançar um sorriso grande, como sempre, mas que não chegava a seus olhos meio desconfiados. Por um momento, imaginei quão terrível seria se ela ou qualquer outra pessoa descobrisse a verdade sobre Potter e eu. Eu ficaria devendo minha vida inteira ao moreno por colocá-lo nessa. Jazeríamos por anos na prisão, e eu teria que conviver com minha culpa pelo resto dos meus dias.

Sacudi a cabeça.

Fui esperar por Charles na calçada, um pouco distante da entrada do hotel, só para garantir. Ele me buscou em seu carro branco, e após os cumprimentos e elogios, nos dirigimos para o casamento.

O caso é que se eu soubesse o que iria acontecer, não teria nem levantado da cama naquela manhã.

♥♥♥

O casamento seria em uma fazenda, e o lugar era incrivelmente bonito. Tudo parecia cintilar à luz do sol, até o ar. Eu até gostava de casamentos, achava meio entediante, mas era sempre tudo tão bonito e especial que me fazia gostar. Sorri para Charles quando descemos do carro, e ele retribuiu com aqueles dentes alvos e perfeitos, e uma piscadela que me fez rir um pouco.

Charles me instigava de alguma forma, disso não havia dúvidas. Só que... Não, não era da mesma forma que Harry me instigava, nem chegava perto. Aquela sensação estranha no estômago quando encarava suas íris verdes, ou quando ele dizia algo que me deixava sem palavras, bom, ninguém mais conseguia me fazer sentir daquele jeito.

Isso me deixou triste. Amores não correspondidos nunca foram meus favoritos...

– Está tudo bem, Gina? – quis saber Charles, sorrindo, mas se mostrando preocupado com minha mudança de humor.

– Está, está sim, não é nada.

– Mesmo?

Pensei por um instante.

– Mesmo. – Sorri. – Vamos, vamos, quero cumprimentar os donos da festa, estou de penetra aqui, tenho que pelo menos desejar felicidades.

Charles riu e me conduziu para dentro da festa.

Naturalmente, eu não conhecia ninguém por lá, o que me deixou meio desconfortável no começo. Porém, Charles, cavalheiro como só ele, me mantinha perto e sempre me inseria nas conversas, me apresentando às pessoas. Conheci alguns familiares do casal e os amigos de Charles e do noivo, que eu finalmente descobri se chamar Felix. A noiva se chamava May.

Conheci uma mulher que me deixou intrigada. Seu nome era Nancy. Ela não parecia lá muito feliz por estar ali, e quase não sorria. Não estava com raiva: parecia triste. A primeira coisa que me veio à cabeça foi: acho que ela é apaixonada pelo noivo. Senti pena dela, mesmo sem saber se era verdade. Era mesmo ruim gostar de alguém que nunca seria seu...

Enquanto conversávamos à mesa, eu, Charles e outros três casais, me peguei pensando no que Harry estaria fazendo. Ele teria mesmo ido atrás da tal mulher por quem se apaixonara na outra noite? Ele teria sequer saído do hotel? A culpa pesou ainda mais nas minhas costas só de imaginá-lo lá, sozinho, sendo que eu poderia estar aproveitando ao seu lado, ao lado do homem de quem eu tanto gostava.

Mas, talvez, ficar lá não tivesse sido tão bom. Depois da pequena discussão do dia anterior, eu achava que o clima entre nós dois não melhoria tão cedo. Talvez fosse melhor aproveitar com Charles e esquecer alguns problemas por enquanto.

Bom, alguns imprevistos aconteceram, e o casamento atrasou bastante, mais de uma hora. A mãe da noiva pediu inúmeras desculpas aos convidados, e disse que poderíamos almoçar primeiro, a cerimônia aconteceria após. Ela pediu mais desculpas pelo inconveniente, realmente aborrecida por ter que mudar os planos totalmente daquele jeito. Como eu comi pouco e rápido no café da manhã, já estava com fome e, na verdade, agradeci em meu íntimo por não ter que esperar duas horas até poder colocar alguma coisa no estômago.

Estávamos todos almoçando, quando um dos amigos de Charles anunciou:

- Ah, olhem só, aí está nosso futuro marido!

Algumas pessoas riram, e eu olhei para ver quem era o noivo. O rapaz não era lindo, mas chamava alguma atenção. Seu rosto era quadrado e seus olhos eram pequenos, porém o sorriso e a felicidade que ele emanava ofuscavam todo o resto. Felix cumprimentou algumas pessoas, então veio na direção da nossa mesa. Como eu era a mais próxima dele, me preparei para levantar, mas senti Charles pousar a mão em meu braço.

– Eu, hum, vou ao banheiro. Volto logo. – Sem me dar chance de responder, ele simplesmente se foi. Fiquei um pouco surpresa com a saída repentina, mas não liguei.

Quando olhei para Felix outra vez, vi que seu olhar acompanhava Charles deixando a tenda onde era servido o almoço. Suas sobrancelhas se uniram infinitesimalmente e por apenas dois segundos, então ele voltou a sorrir e me cumprimentou. Desejei-lhe felicidades e agradeci por poder estar ali, e ele foi muito educado.

Quase cinco minutos depois que o noivo tinha desaparecido outra vez, Charles voltou para a mesa. Era impressão minha ou ele de repente parecia meio tenso?

– Você parece preocupado com alguma coisa – comentei, enquanto ele se sentava ao meu lado.

– Hã? Ah, não, não, está tudo certo, não tem problema nenhum. – Ele pigarreou e ajeitou o terno, então voltou a sorrir para as pessoas na mesa.

Era outra impressão minha ou de repente o clima na mesa parecia ter ficado mais pesado? Eu tinha a leve sensação de que estava perdendo alguma coisa.

Olhei para Nancy, sentada algumas mesas à esquerda. Ela permanecera com o semblante triste quando Felix a cumprimentou, e agora parecia ainda mais a fim de sair dali. Havia outras duas mulheres sentadas com ela, e pelo visto entendiam o que a primeira estava sentindo, pois o tempo todo lhe lançavam olhares tristes e acariciavam sua mão. Eu tinha quase certeza de que quando o padre dissesse “Se alguém tiver algo contra esta união, fale agora ou cale-se para sempre”, Nancy iria gritar “Eu protesto!” e isso seria uma confusão e tanto.

Primeiro, eu achei que fosse apenas coisa da minha cabeça, mas depois de alguns minutos percebi que Charles ficava mesmo incomodado quando Felix se aproximava. Ele sempre dava uma desculpa e saía de perto, e o noivo, seu amigo, parecia levemente aborrecido, apesar de tentar não deixar transparecer. O que poderia estar acontecendo? Charles não estava tão feliz assim com o casamento de seu amigo? Mas por quê? Só o que me faltava, ser a acompanhante de um cara que era apaixonado pela noiva e se sentia culpado pelo amigo! Já bastava Nancy infeliz com aquela união.

– Vocês estão brigados ou coisa assim? – perguntei a Charles, enquanto nos encaminhávamos para as cadeiras postas diante de um altar, onde já estavam o noivo, seus pais e os padrinhos, além do padre.

Charles engoliu em seco.

– Não exatamente.

– Qual o problema? Antes, você parecia tão feliz por ele estar se casando.

– É que... – Ele contorceu o rosto.

– Não precisa falar se não quiser, tudo bem.

– Não, é que eu achei que conseguisse fazer isso, eu achei que não haveria problemas. Mas me enganei redondamente. – Ele passou a mão pelo rosto, como se enxugasse o suor. Não entendi nada.

– Do que você está falando, Charles? É algum problema pessoal?

Nos sentamos nas nossas cadeiras reservadas, à direita do altar, na segunda fileira. Felix e Charles trocaram um longo olhar, carregado, e eu me senti invisível por alguns instantes. O moreno ao meu lado foi o primeiro a desviar.

– É. Bem pessoal, na verdade. E é daquele tipo de problema que machuca bastante, sabe? – Ele entortou a boca, abatido, então olhou para outro lado, encerrando o assunto.

Por um milésimo de segundo louco, eu achei o jeito de Charles um pouco... diferente. Devia estar imaginando coisas, não era possível.

May estava linda. Seu vestido era magnífico, e ela ainda seria bonita mesmo se não estivesse maquiada. Ironia das ironias, vendo-a ali, caminhando pelo tapete vermelho em direção ao amor da sua vida, lembrei-me de todas as mulheres que eu já ouvira falar que a única coisa em que pensaram durante um casamento foi o seu próprio. E, que droga, comigo não foi diferente.

Eu não tinha certeza se deveria imaginar Harry no meu altar, no final do tapete vermelho. Eu estava apaixonada por ele, isso era um fato, mas nada garantia que seria mais que isso. E se fosse coisa de momento, passageira? Eu não o amava – pelo menos, não ainda –, o que sentia por ele já sentira por outros caras antes.

Mentira.

Mas ainda não era o sentimento. Ou eu não queria enxergar que era. Ou não queria que fosse.

Quando May alcançou o altar, olhei para Charles, e ergui as sobrancelhas. Ele parecia à beira das lágrimas.

– Charles, está tudo bem? Você está se sentindo bem?

Ele sacudiu a mão rapidamente, de um jeito, outra vez, estranho. Enxugou os olhos delicadamente e respirou fundo, e me respondeu apenas com um breve aceno positivo de cabeça. Ele estava agindo muito estranho, e quando digo estranho, quero dizer... menos homem.

Mais alguns minutos se passaram, e quando o padre finalmente disse as fatídicas palavras, uma voz soou:

– Eu protesto!

Eu já ia me virar e olhar para Nancy... quando percebi que o grito viera do homem ao meu lado. Arregalei os olhos enquanto Charles, de pé, com um braço erguido e lágrimas de volta aos olhos, encarava os noivos no altar, todos os olhares postos nele. Fez-se silêncio por vários segundos.

– Charles, por favor... – começou Felix, em voz baixa, mas o moreno o interrompeu.

– Não me venha com Charles, por favor outra vez, Felix! Eu não aguento mais! Eu não posso fazer isso! – De repente sua voz estava mais aguda, mais... feminina. – Eu achei que conseguiria vir aqui e desejar felicidades a você, mas... Eu quero que você seja feliz comigo!

Algumas pessoas arquejaram, e um murmúrio começou a correr entre os convidados. Eu nem piscava.

– Charles, nós já conversamos sobre isso! Eu tenho que fazer isso, você sabe, eu sei que você sabe!

– Felix, por favor. – May olhou com veemência para o noivo, como se o pedisse para acabar com aquele escândalo de uma vez. Mas, por incrível que pareça, o rapaz só tinha olhos para Charles.

– Não, você não tem! – protestou Charles. Ele saiu da fileira de cadeiras e foi até o altar. – Eu já te disse como podemos contornar essa situação, Felix, juntos! Você tem que parar de achar que é o único que sabe o que é melhor para todos!

– O melhor para mim é ficar com você, Charles, você sabe disso! – declarou Felix, arrancando novas exclamações dos convidados. – Mas, às vezes, nós temos que fazer alguns sacrifícios!

Os dois tinham esquecido de todo o resto, viam apenas um ao outro. Nem May ousava interromper. Nem eu ousava respirar.

– Sacrifique qualquer coisa, qualquer coisa, menos isso – Charles fez um gesto indicando eles dois –, menos nós! Nós demoramos tanto para chegarmos aonde chegamos...

– Eu sei, eu sei, mas... – Felix levou uma mão à testa, ficando sem argumentos, cansado como se já tivessem tido aquela conversa outras vezes.

– Eu sei o que é melhor para mim e, acredite em mim somente dessa vez, eu sei o que é melhor para você também. – Charles acolheu as mãos de Felix entre as suas e o olhou nos olhos. – Você não quer se casar com May, jamais quis. Eu não vou permitir que você se sacrifique sozinho desse jeito.

– Charles...

– Não, não adianta, eu não vou mudar de ideia. – O deus grego sorriu. – Você sabe como eu posso ser muito teimoso. – Ele falou aquilo como se fosse uma velha piada entre os dois, e Felix finalmente conseguiu sorrir de volta.

– O que eu vou fazer com você, hein?

Os dois se abraçaram fortemente, sorrindo felizes.

Hã, ok. Alguém viu meu queixo por aí?

♥♥♥

– Acho que lhe devo algumas desculpas – falou Charles, com um sorriso envergonhado. Meneei a cabeça.

– É, seria bom.

Depois da bombástica revelação sobre o relacionamento entre Felix e Charles durante a cerimônia, eles pediram desculpas a todos os convidados e deram algumas explicações. O caso dos dois vinha de longa data, e por causa de alguns problemas pessoais e familiares, Felix estava sendo praticamente obrigado a se casar com May que, por sua vez, sabia de tudo e também não queria se casar. Tanto é que foi a primeira a parabenizá-los. Os pais de Felix não gostaram muito da ideia e deixaram a fazenda depois de uma aparentemente enérgica discussão com o filho a um canto. O ex-noivo pareceu triste com isso, mas apenas por alguns segundos, logo ele voltou a sorrir e a dar as mãos com Charles. Vários de seus amigos os cumprimentaram e parabenizaram, desejando sorte e felicidade. Algumas pessoas simplesmente foram embora, sem dizer nada, mas eu pude ver uma ou outra lançando um olhar de desprezo para o novo casal. Ainda tem muita gente ridícula nesse mundo, e sim, eu estou falando de todos que entortaram o nariz para a cena.

Bom, depois de toda a confusão, o casamento foi formalmente cancelado, mas a festa continuou, para comemorar a nova união. Como os convidados restantes já haviam almoçado, a pista de dança foi prontamente ocupada. Felix já estava lá, dançando com seus amigos e May, mas Charles, após receber mais alguns parabéns, veio em minha direção. Eu permanecera afastada desde que tudo começara, sem saber o que pensar.

– Gina, olha, você é uma mulher linda e incrível, mas não é para mim – disse Charles. – Eu achei que tentando me envolver com uma mulher conseguiria superar Felix, e foi quando conheci você... Mas não tem jeito, entre nós só pode existir amizade. – Ele sorriu sem dentes. – Eu adoraria ter sua amizade, se você quiser me perdoar.

Não respondi na hora.

– Não tem o que perdoar, Charles. Eu achei incrível o que vocês fizeram, sério, foi lindo. Desejo que vocês sejam muito, muito felizes, porque, só pelo que vi, vocês realmente merecem. – Sorri também. – Obrigada por explicar e me pedir desculpas, e pelos elogios, e é claro que eu gostaria de ser sua amiga também. Isso não terminou bem como eu imaginei, mas talvez tenha sido melhor assim, não é?

– Ah, com certeza, e acredite, eu sei do que estou falando, mulher. – Agora que “saíra do armário”, Charles parecia muito mais... à vontade. Ele piscou para mim, e eu fiz cara de confusa. – Ai, Gina, estou falando daquele cara incrível com quem você estava na outra noite! Você pode até ter dito que não, mas eu sei que tem alguma coisa entre vocês. E é bom que tenha mesmo, viu, porque se não fosse o Felix, eu jamais deixaria aquele moreno passar!

Ergui as sobrancelhas e ri, achando muita graça daquele novo Charles Penker. De alguma forma, eu estava... aliviada.

Congratulei Charles e Felix outra vez, agradeci a todos e disse que precisava ir. Afinal, aquela festa definitivamente não tinha mais nada a ver comigo. Charles insistiu em me levar de volta para o hotel, mas eu recusei, e ele se contentou em apenas me pagar um táxi.

– Charles? – chamei, da janela do carro.

– Hm? – Ele se inclinou para me ouvir.

– Você gosta mesmo de Dom Casmurro?

O moreno riu.

– Sim, eu adoro.

Assenti com a cabeça.

– Obrigada.

Passei a viagem de volta completamente quieta no banco de trás do carro, vendo a paisagem passar depressa, a mente vazia...

A primeira coisa que vi quando cheguei ao Paradise foi Potter. Ele estava – sim, ele estava sentado na calçada, com uma garrafa de vidro quase vazia na mão e o olhar longe. Pelo menos até o táxi se aproximar e parar, e eu descer logo em seguida. Assim que me viu, Harry deu um pulo.

Nos encaramos.

– O que aconteceu? – perguntou.

– Você não acreditaria se eu contasse.

Harry ergueu as sobrancelhas.

– Cadê o Penker?

– Lá.

– No casamento?

– Não houve casamento.

Harry franziu o cenho.

– Ah, era mentira, não era? Eu te disse que era mentira, Gina!

– Não, não era, Potter, o casamento era real, tudo era real. Só Charles não era real.

O moreno não entendeu.

– Na verdade, o Charles que eu conheci não era real. Não, ele é real, só não... totalmente... – Sacudi a cabeça, ficando confusa comigo mesma.

– Do que você tá falando, Gina? O que aconteceu?

– Charles impediu o casamento. Ele e o noivo se amam.

– Você quer dizer ele e a noiva.

– Não. – Sorri pequeno, lembrando da cena. – Ele e o noivo.

Harry arregalou os olhos.

– Hein?

– Eu disse que você não acreditaria...


Continua.


Notas Finais


Quem tá surpreso levanta a mão \o/

Mais uma vez, espero que tenham gostado~ E muitíssimo obrigada a todos que estão acompanhando, vcs fazem meus dias mais felizes <3
Logo, logo eu trago a segunda parte!

Nos vemos no próximo!
*curva*


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