1. Spirit Fanfics >
  2. Amor E Outras Drogas >
  3. Day 8 - Really Dont Care

História Amor E Outras Drogas - Day 8 - Really Dont Care


Escrita por: Haroldinha

Notas do Autor


Att nova finalmente \o/ Já que não tem Brasil na final hoje, vamos ler fanfics
E já que vocês reclamaram do tamanho do capítulo passado, ta aí um grande e só com o Louis narrando.
Espero que gostem e boa leitura!

Capítulo 15 - Day 8 - Really Dont Care


Fanfic / Fanfiction Amor E Outras Drogas - Day 8 - Really Dont Care

Louis Tomlinson P.O.V

Quando uma festa acontece, o próximo dia deveria ser chuvoso. Devia existir uma lei para isso.

Quando se está em um cruzeiro não há nada para se fazer em um dia chuvoso, todo mundo fica com cara de preguiça, bocejando o tempo todo, e como bocejo é uma atitude meio que contagiosa, chega a ser agoniante ver todo mundo ao seu redor abrindo a boca de minuto a minuto. Por outro lado, dias chuvosos em um cruzeiro depois de uma noite de festa são ótimos para alguém de ressaca.

Eu andava tomando porres demais, e fazendo bobagens demais. A parte boa era que não tinha ninguém para “tomar conta” de mim, e a assessoria da banda nem ficaria sabendo de nada. Assim eu esperava. Até porque eu era o único que não estava andando na linha e não queria tomar bronca sozinho.

Além de mim e meus dilemas, ninguém parecia mal. Niall e Harry talvez fossem os que mais estavam curtindo mesmo; Liam e Zayn andavam mais tranquilos, passavam praticamente o tempo todo nas piscinas e coisa e tal... No final das contas eu havia me tornado a ovelha negra do grupo, não parava de pensar que o cruzeiro estava sendo perda de tempo, porque só estava me deixando ainda mais louco.

- Impressão minha ou estamos parados? – Niall franziu o cenho, parando o garfo com comida na metade do caminho entre o prato e sua boca. Aí eu me dei conta de que já tinham me entregado o café da manhã, então comecei a comer.

- Deve ser mais uma escala – Liam respondeu.

- O que é uma escala? – Niall tornou a perguntar. Ele e Liam às vezes pareciam um aluno curioso e um professor.

- É quando o navio faz uma parada em algum lugar pra alguns tripulantes descerem, e pra reabastecer, com comida e tudo mais.

- O celular ta com sinal – Harry comemorou.

- Vou ligar pra Perrie – Zayn anunciou, limpando a boca com o lenço de papel como se fosse uma madame rica e fresca e saiu.

- Ta tudo bem, Louis? – Liam me olhou de soslaio.

- Ta tudo uma merda – Eu disse.

- Sinceridade é tudo – Ele deu risada, mas eu não, ainda mais por ter visto quem menos queria ver passando a umas duas mesas de distância.

Jackelinne sorriu, acenando de um jeito todo contente para onde estávamos, mas não parecia ser para mim, eu torcia para que não fosse. Puxando-a pelo braço, Daniel ia mais a frente, e havia uma outra pessoa com eles, uma loira. Os três usavam capas de chuva transparentes, e mesmo de longe dava para ver que as capas pingavam água. Liam e Niall acenaram de volta.

Coloquei suco no copo e voltei a comer.

 

***

 

- Alguém pode, por favor, me explicar o motivo de ter uma loira com cara de puta grudada no meu irmão? – Junto com a voz irritada veio um baque alto. Jackelinne tinha, mais uma vez, se enfiado entre nós na mesa, puxado uma cadeira, e começava a comer nossa comida.

Quando ergui os olhos na direção dela, vi-a olhando para Liam, depois para Harry e por fim em mim.

- O que?

- Tem uma loira andando com meu irmão desde cedo, ela não desgruda dele – A ruiva não parecia contente. – Ela chama ele de “fofinho” – Disse indignada. – Tem noção do quanto isso é nojento? Jesus!

- Ele não era gay? – Zayn perguntou, mas pareceu se arrepender da pergunta, porque realmente poderia ser inconveniente.

- Deveria ser – Ela disse. – Quer dizer, ele parecia ser, não é?

- Você dizia que ele era – Harry se meteu.

- Eu dizia porque ele nunca teve uma namorada – A ruiva disse como se fosse algo óbvio. Enfiou um biscoito na boca, com o olhar vago direcionado para algum lugar, a cara meio enraivecida. – Achei que vocês fossem descer do navio.

Pois é, ela sabia mudar de assunto bem rápido.

- Podia descer? – Liam perguntou.

- Deram quinze minutos pra ficar lá fora, só que a chuva atrapalhou – Ela explicou. – Eu aproveitei pra ligar pra minha mãe, tive que usar um orelhão, porque a Lola ta morta – Jackelinne me fuzilou. – E ela perguntou “Jackelinne, você ta se comportando?”, aí eu disse “sim, eu to me comportando”. Fiquei imaginando se ela fez a mesma pergunta pro Daniel. Ele deve ter respondido “ontem eu comi uma loira vadia e agora ela não desgruda de mim, mas ta tudo bem sim”. Por que eu to contando isso pra vocês mesmo?

Diante da indignação dela todos riram, balançando as cabeças de um lado para o outro. Sério mesmo que eu tinha que aguentar o desabafo de uma irmã enciumada?

- Vocês dão risada, né? – A cara dela era impagável. – Quero ver vocês rirem agora que o casal meleca ta vindo pra cá.

Realmente eles vinham. Por detrás da minha cadeira ouvi passos bem perto, e não demorou nada para outras duas cadeiras serem puxadas, uma bem ao meu lado, e foram ocupadas.

Apenas cumprimentei com um aceno de cabeça o bom dia que ambos deram e foquei no café, ainda assim podia ver perifericamente o olhar fixo de Jackelinne na garota à frente dela. Eu tive que dar uma olhadinha, só para ver se a garota tinha mesmo cara de vadia... Os cabelos eram loiros, mas percebia-se que era coloração porque a raiz dos cabelos era de outra cor; parecia ter a mesma idade que Daniel, e a garota era realmente um grude. Enquanto Daniel conversava com os outros, ela permanecia com um dos braços sobre os ombros dele, e o outro acariciava o rosto dele. Em outras palavras, ela estava pendurada no cara, como se ele fosse uma árvore de natal e ela, um enfeite.

- Quer um suquinho, fofinho? – A voz da loira se fez audível, e até eu tive que prender o riso.

- Eu vou vomitar – Jackelinne sussurrou, fazendo cara de sofrimento.

A ruiva encarou a loira, e ambas se fuzilaram mutuamente.

- Algum problema, cunhadinha? – A outra falou novamente, e não sei porque, mas Jackelinne pareceu ficar com mais raiva.

Achei mesmo que ela fosse simplesmente explodir, pular na jugular da loira até que tivéssemos um cadáver loiro sobre a mesa, mas não, Jackelinne deu um sorrisinho (falso) e olhou para mim.

- Louis, você prefere um beijinho ou um beijo? – Ela perguntou a mim.

Eu engasguei, pensando que ela tinha me jogado uma indireta por conta do acontecido da noite passada. Puta merda.

Preferi responder do que ficar calado.

- Um beijo me parece melhor – Eu disse e dei de ombros da maneira que pude.

- Prefere ganhar um dinheirinho ou dinheiro?

- Dinheiro...

Aparentando estar satisfeitas com as respostas, ela tornou a olhar para a loira que, assim como todos, não estava entendo aonde Jackelinne queria chegar.

- Esse seu monte de diminutivos diz muito sobre você, sabia? Eu aprendi que a maneira como falamos reflete em como nos sentimos: se fazendo conquistas ou recebendo esmolas da vida – Os olhares estavam todos voltados para ela, porque pela primeira vez eu estava vendo aquela garota falar sério, e isso era bem interessante. – Se você me chamar de cunhadinha e eu aceitar, você vai acabar me etiquetando, achando que eu sou uma mulherzinha. E mulherzinha é frágilzinha, medrosinha, boazinha. Ou as pessoas são boas ou elas são más. No meu caso, prefiro ser má. Então, se for pra falar comigo desse jeito, é melhor nem falar nada. Eu não sou sua cunhadinha.

Ela bateu o copo com força na mesa e se levantou, com faíscas saindo dos olhos.

- E você, Daniel, cuidado com tanta meiguice – Olhou para o ruivo com desdém. – Isso pode ser afeto, mas também pode ser falsidade.

Enquanto ela ia embora, eu olhei ao redor da mesa, onde todos estavam bem surpresos, só aquela loira que soltou uma risada.

- Cunhadinha ta estressada demais. Tsc Tsc...

 

***

 

- Vai me xingar ou me beijar? – Foi a primeira coisa que Jackelinne disse ao me ver.

A pior parte era que eu tinha ido até ela. À que ponto eu cheguei, não?

- Nenhuma das opções.

Ela meneou a cabeça para o lado, sorrindo de canto, meio debochada e meio divertida enquanto eu tentava sentar no banco alto demais na frente de um barzinho. Diferente do outro dia, eu não ia começar a beber cedo. Chega de porres.

- É engraçado ver alguém como você com ciúmes do irmão mais velho... – Eu disse como quem não quer nada, já sabendo que estava cutucando a onça com vara curta.

E Jackelinne só faltou girar a cabeça feito a garota do exorciasta. Como eu estava ao seu lado, não foi preciso, porque teria sido muito estranho se ela tivesse feito.

- Eu não estou com ciúmes dele – Ela disse naturalmente. Eu não sabia distinguir o que era mais assustador: quando ela ficava brava ou quando falava com calma.

- Bom – Comecei novamente, rindo de canto e cheguei mais perto, como se fosse contar-lhe um segredo. – Aquela cena de hoje mais cedo me pareceu ciúmes.

Com os olhos semicerrados ela me encarou.

- Não era ciúmes – A ruiva praticamente sibilou, cerrando os dentes. – Eu só... Imaginei que Daniel não se misturava com aquele tipo de gente. Quer dizer, aquela garota tem a maior cara de puta, você não achou?

- Falo nada, viu?

- Daniel é sempre tão certo, e eu esperava que quando ele arranjasse alguém fosse ser tipo... Uma garota vestida com uma burca que valoriza o sexo só depois do casamento – Acredite, ela falava muito sério. – Não é ciúmes, é só intuição de irmã que me diz que aquela loira é encrenca.

O que eu poderia falar depois disso?

- É ciúmes – Foi o que eu disse.

De novo ela me encarou como se fosse me matar.

- Não vou discutir com você, ta legal?

- Eu esperava que você discutisse comigo – Me fiz de ofendido. – Que decepção.

A ruiva deu uma risadinha rápida e suspirou, no mesmo momento em que alguém me cutucou nas costas. Quando virei, tinha uma pessoa me estendendo um panfleto.

- Vai fazer o que agora? Jogar a loira pros tubarões? – Perguntei.

- Não seria uma má ideia – Ela pareceu ponderar. – Não, claro que não. Mas, bem... Eu já quebrei o nariz do meu namorado, posso quebrar o de uma loira puta, isso se ela fizer alguma coisa com o tapado do meu irmão. O que é isso aí?

Jackelinne arrancou o panfleto das minhas mãos.

- Cinema no quinto andar? Interessante – Ela lia o pedaço de papel. – O segredo da cabana; merda em forma de filme. O lado bom da vida, com Bradley Cooper gostoso. E outro filme que não conheço. Eu convidaria o Daniel pra assistir comigo, mas ele ta ocupado me trocando por uma loira. Você vai fazer o que agora?

Eu não sabia com quem ela falava, mas tinha a leve impressão de que ela começou falando sozinha e terminou falando comigo. Coisa estranha.

- Ta falando comigo?

- É. Vai fazer o que agora?

- Hum... Nada.

- Então me espera aqui. Eu já volto.

 

***

 

Por que diabos eu esperei por ela?

- Vai, tira a bunda daí.

E ainda queria mandar em mim.

Continuava a chover, os tripulantes pareciam ter preferido ficar em suas cabines dormindo porque o movimento era pequeno nos decks. Se eu não tivesse feito a proeza de fazer o que Jackelinne queria, provavelmente ia estar fazendo o mesmo. Agora, ela me empurrava para algum lugar.

- Seria abuso demais pedir pra que me dissesse pra onde ta me fazendo ir?

- Elevador.

- Não – Resmunguei. – Tenho trauma daquele elevador.

Sem demora chegamos no cubículo, e eu realmente não queria nunca mais entrar no elevador com ela. Fiquei um pouco mais aliviado ao ver que mais alguém vinha para entrar ali, só que as grades se fecharam antes que a outra garota entrasse. Isso porque Jackelinne fez questão de apertar o botão de subir antes que ela estivesse dentro.

E a ruiva ainda deu um sorriso debochado quando a garota pediu para que as grades fossem abertas.

- Acho que vai ter que esperar – Disse Jackelinne, dando um tchauzinho nada inocente.

Assim que começamos a subir eu tive que perguntar.

- Você é sempre assim tão má?

Ela deu de ombros.

- Na verdade, essa sou eu sendo simpática – E sorriu convencida.

Notei que ela havia trocado de roupa, tinha tirado a capa de chuva. Agora vestia um short branco e uma blusa preta de alguma banda, com coturnos marrons nos pés e um casaco verde escuro tipo de camuflagem por cima de tudo que ia até o início das coxas. Digamos que ela deixava bem claro seu gosto musical nas roupas que usava; gostava de rock, claro, a não ser pela touca com orelhas de gato que tinha na cabeça.

Ela não disse, mas eu suspeitava que estivéssemos indo para o quinto andar onde teria a sessão de cinema. Confirmei a suspeita quando o elevador parou e saímos, começando a seguir a fila de pessoas que entrava em uma sala que de longe podia-se ver que estava escura, como em um cinema. Estavam dando pipoca e refrigerante na entrada.

Sentamos na antepenúltima fileira de poltronas, que eram giratórias, e eu afundei no estofado macio, rezando que ninguém sentasse na poltrona da frente, assim eu poderia ver o telão perfeitamente.

- Ei, essa poltrona ta ocupada – Ouvi Jackelinne dizer ao meu lado ao mesmo tempo que via uma senhora de idade olhar para ela com as sobrancelhas franzidas.

- Eu não vejo ninguém ocupando essa poltrona – Retrucou a velhinha.

- Meus pés estão nessa poltrona – A ruiva disse descaradamente, erguendo os pés e os jogando na poltrona.

A cara que a velhinha fez foi impagável, mas foi sentar na poltrona do lado. Ao menos eu tinha uma solução para ninguém sentar na minha frente: ocupei a poltrona com meus pés.

- Já ouviu a frase “respeitar os mais velhos”? – Provoquei, cutucando-a com o cotovelo.

- As pessoas precisam me respeitar primeiro e merecer meu respeito – Ela disse simplesmente. – E, se é preciso respeitar os mais velhos, então eu deveria te respeitar, senhor mais velho que acha que é um pedófilo?

Bom, ela me deixou sem respostas, e com vergonha.

- Não depende de você só esperar ser respeitada, mas sim respeitar pra ser respeitada – Eu tentei dar uma de filósofo, mas não deu certo, a resposta dela me calou mais uma vez:

- Eu não gosto de tomar a iniciativa.

- Bom saber – Falei baixinho.

- Também não gosto de ditados que te dizem o que fazer – Tomou um gole do refri. – Sou uma pessoa existencialista, Louis.

- E o que seria isso? – Virei de lado, apoiando o ombro no assento e a olhei.

- É que – Fez uma pausa para jogar uma pipoca para o alto e captura-la com a boca. – Meu professor de filosofia falou bastante sobre as correntes filosóficas, e eu me identifiquei com o existencialismo, que é tipo quando você não segue regras, ou ao menos não gosta delas. Tudo depende das suas ações, o que vale mais é o que você quer, o que você pensa, e o que você acredita. Tipo assim: se alguém estiver te ameaçando com uma arma apontada na sua cabeça, você pode escolher morrer ou viver, mesmo que esteja sob pressão. Você é livre pra escolher.

- Eu escolheria viver.

Ela riu.

- É claro – Revirou os olhos. – Isso é só um exemplo que mostra que pessoas existencialistas não são influenciáveis. Você não coloca a culpa em ninguém porque sabe que foi uma escolha sua. Mas é meio difícil colocar isso em prática, porque geralmente é mais fácil colocar a culpa nos outros do que admitir, mas, enfim...

- Ta, mas – Cocei a cabeça. – O que isso tem a ver com respeitar os mais velhos?

- Se eu não quiser respeitar eles, eu não vou. E ninguém vai me convencer do contrário.

- O que a sua mãe acha disso?

- Não mete minha mãe no meio – Me olhou feio.

- Parei.

Ficamos em silêncio por um tempo ouvindo conversas alheias, esperando que todo mundo se acomodasse para que o primeiro filme pudesse começar. Nesse meio tempo eu fiquei pensando na garota que estava ao meu lado, jogando pipocas para o alto e as pegando com a boca quando caíam. Eu já tinha admitido para mim mesmo que ela era uma mistura de tudo o que eu achava interessante em alguém: era louca, admitia sua loucura, era autêntica e bem, uma infinidade de coisas, e talvez eu nem tivesse visto tudo o que ela tinha mostrar. Eu a conhecia pouco, pouquíssimo, e esse pouco já me deixava completamente fora da casinha. Eu estava muito encrencado, e não sabia como sair disso.

- Sabe aquela música "She’s Only 18", do Red Hot Chili Peppers? – Eu perguntei de repente.

Só que ela me olhou tão apavorada que achei que tinha falado merda.

- Você gosta de Red Hot? – Sério, a garota tinha os olhos arregalados. – Eu amo Red Hot. Você acabou de ganhar pontos comigo. Hum... Eu conheço a música, o que tem ela?

- No meu caso seria "She’s Only 16" – Dei uma risadinha idiota.

- Hum – Ouvi-a murmurar. – Diz aí a primeira estrofe da música.

- Ta, eu acho que é... “Ela só tem dezoito anos, não gosta de Rolling Stones. Ela tomou um atalho para ser mais velha.”

- Pois é. Isso devia ser “Ela só tem dezesseis anos, ama Rolling Stones. E ela não quer ficar mais velha”. Isso, claro, se você estiver se referindo a mim.

Claro que eu estava me referindo a ela. Infelizmente eu esta.

- Tem uma música que chega mais perto. "She’s Only Seventeen", do Kings Of Leon – Ela continuou a falar enquanto enfiava uma bala na boca. – Kings é uma das melhores bandas, você n…

Eu juro que tentei, mas não consegui nem deixá-la terminar a frase porque simplesmente fui para cima sem me importar muito e só fiz o que me pareceu ser o mais eficaz para fazê-la calar a boca. Eu a beijei sem mais nem menos.

Na verdade, as minhas lembranças da noite passada eram vagas demais. E não existe nada mais frustrante do que não lembrar das coisas que deveria lembrar. Eu sabia que de alguma forma tinha beijado ela, agora só precisava lembrar de como era fazer isso. Sem falar que eu realmente tinha jogado tudo pro alto, não queria me importar com mais nada.

Talvez fosse isso que eu precisava mesmo. Jackelinne não se importava com nada, muito menos com o meu jeito um pouco complicado, nem com meus níveis atuais estremos de humor.

Eu não sabia se era coisa da minha cabeça, mas podia sentir aquele gosto de morango e menta nos lábios dela ainda mais forte, fazendo com que aquele bendito sonho ficasse ainda mais vivo em minha mente. A parte de mim que ainda raciocinava dizia que a sede que eu tinha em continuar beijando-a não era algo normal. Não podia ser. No final das contas acabei por concluir que nem ela conseguia me acompanhar direito, apesar de, hum, estar fazendo um bom trabalho... Minha mão direita foi de encontro com a guarda esquerda da poltrona da ruiva, como se eu estivesse a prendendo. E realmente estava, porque, veja bem, eu imaginava que, se por ventura eu estivesse fazendo algo que ela não queria, ao menos teria valido a pena para mim, então só estava fazendo que durasse um pouco mais.

No entanto, a intervenção que eu temia não veio da parte dela, mas sim de um terceiro. Senti um impacto na cabeça que foi forte o suficiente para me impulsionar um pouco para frente. Enquanto levava a mão até a cabeça, senti o gosto metálico na boca que significava a) eu tinha mordido ela ou b) ela tinha me mordido.

O importante (e frustrante) a ser notado era que aquela mesma velha chata aparentemente tinha me jogado um pote de pipoca na cabeça, e me olhava de cara feia.

- Façam o favor de parar, ou arrumem outro lugar para isso – Ela dizia com a voz gasta pela idade. – Quero assistir o filme, mas fica difícil com vocês se lambendo e dando esses beijos estalados aí atrás.

Eu teria dado risada, mas precisava “respeitar os mais velhos”. Mas Jackelinne não precisava.

- E você ta olhando pra cá por quê? Que eu saiba o filme vai passar no telão lá na frente, não aqui atrás, muito menos nas nossas bocas.

Eu teria rido mais ainda depois disso.

Bufando e balançado a cabeça negativamente, a velhinha voltou para seu lugar, e eu fiz o mesmo.

- Pessoas inconvenientes – A ruiva resmungou, e quando a olhei, ela deslizava pela poltrona, abaixando a touca até que tapasse os olhos completamente. Ela virou o rosto na minha direção, mesmo que não me enxergasse. – Me acorde quando começar o filme com o gostoso do Bradley Cooper.

 

***

 

- Não era uma porcaria?

- Eu não entendi nada do filme na verdade – Torci o nariz enquanto falávamos de O Segredo Da Cabana.

- Achei uma merda desde o momento que apareceu uma virgem que não era virgem. Dá pra entender isso? Claro que não.

O bom de ficar conversando com Jackelinne era que ela fazia uma pergunta e ela respondia a si mesma. Só me restava dar risada.

- Olha, eu vou ir dormir. To cansada – A garota desceu na cadeira meio cambaleante.

- Você dormiu durante dois filmes, não pode estar cansada.

- Durante o sono dos dois filmes eu sonhei que estava correndo uma maratona, então cansei sim.

Apesar da chuva ainda se fazer presente, um pouco mais forte do que antes, boa parte das pessoas saiu das cabines e agora estavam espalhadas pelo navio. Haveria festa no outro dia, e agora só havia uma variedade de jogos por todo lugar. Eu estava em frente à um dos bares, sentado em um dos bancos altos, e ia acabar ficando sozinho.

- Então – Jackelinne parou em minha frente. – Você quer me beijar de novo?

Fiquei um tanto que sem reação, mas levando em conta a ocasião da sessão de filme, eu não podia me fazer de surpreso ou desentendido.

- Talvez eu queira...

Ela assentiu e deu de ombros.

- Eu disse que não tomo iniciativa, mas posso abrir uma exceção – Disse somente, antes de dar uns dois passos até mim.

Diferente de antes, foi um pouco mais calmo, menos desesperador. Provavelmente o gosto da boca dela ficaria impregnado em mim, o cheiro dos cabelos dela apareceria em todo lugar, mas eu podia conviver com isso. Meio inconscientemente minhas mãos apertavam sua cintura toda vez que a garota levava as mãos para minha nuca, junto com o jeito nada inocente que ela prendia meu lábio inferior entre seus dentes. Se eu tinha controle da situação na sala do cinema, ela tinha controle sobre mim agora.

- Eu tentando ganhar meu dinheiro honestamente e vocês afastam minha clientela – A voz veio do outro lado do balcão do bar. – Odeio ser inconveniente, mas aí não é lugar pra isso.

Da mesma forma frustrada de antes, olhei pastosamente para o barman que havia me ouvido muito no dia do torneio de vôlei.

- E eu odeio pessoas inconvenientes – Jackelinne disse com um falso sorriso.

- Era dela que você falava? A que traz encrenca demais? – O cara perguntou a mim, dando uma olhada para a ruiva que desviava da piscina para chegar do outro lado do deck e me deu um copo de bebida, o qual eu afastei gentilmente. Sem bebidas hoje.

- É ela – Assenti.

- E o que aconteceu? Ela deixou de ser encrenca?

- Não. Continua sendo, talvez até pior.

- Não entendi – Ele fez uma cara de confusão.

- Não é nada – Dei de ombros. Então só precisei falar a verdade, eu já tinha me acostumado com a ideia de parar de me preocupar tanto em relação a tudo. – É que hoje eu decidi que não me importo com mais nada. Parei de seguir as regras.


Notas Finais


O que me dizem?


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...