História Amor Eros - Let the games begin

OITO

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Na manhã seguinte, acordei com uma cara horrível. Meus olhos inchados deduravam que havia passado a noite chorando.

Meus cabelos estavam desgrenhados, e eu não estava com a mínima vontade de sair da cama, muito menos de enfrentar um dia inteiro de aulas chatas e cansativas. E tudo isso por dois únicos motivos: vergonha e raiva.

Justin, aquele cretino, não que o foco disso tudo fosse ele, mas... Argh! Como alguém pode ser tão repugnante? Ah, mas pode sim. Isabelle por exemplo.

Após sair de meus devaneios, fiz minha higiene matinal e vesti o uniforme, pronta —  ou não tão pronta assim —  para encarar todos os olhares que certamente cairão sobre mim. Será que Jace também irá rir de mim? Eu espero que não, até porque ele foi uma das poucas pessoas que me simpatizei por aqui.

Quando eu entrei no refeitório, me senti uma piada, na verdade eu sou uma. Todos estavam me encarando e comentando com a pessoa ao lado, senti uma vontade súbita de chorar. Mas a partir do momento que vi Isabelle conversando com suas amigas, essa vontade de chorar, de me esconder e nunca mais ser encontrada, foi embora.

Se eu estivesse em um desenho animado, neste exato momento meu nariz estaria fumegando de tanta raiva.

Peguei a bandeja, um prato e me servi, posso achar muitas coisas ruins neste  lugar, mas a comida não era uma delas. 

Por falar em coisa ruim, assim que sentei-me na cadeira de uma das poucas mesas vagas, um moleque indesejável, causa de 50% da minha raiva, sentou ao meu lado. Justin olhou para mim com um sorriso cínico.

— Olá, Artemísia. Tudo bem com você? Soube que anda um pouco frustrada, isso é sério?

— Não enche o saco, Justin. —  falei com uma voz um pouco mais alta do que desejava.

— Qual é, gata! Você terá que me aturar muito ainda na aula, é melhor sermos amigos, não acha?

— Se você não fosse você, aí eu poderia pensar em ser sua amiga. Mas olha só, você continua o mesmo garoto estúpido. Agora, por gentileza, poderia sair para eu comer em paz?

— Então é sério mesmo que você está um pouco estressada. Bom, se for para o bem de todos, eu deixo sim você comer “em paz”. Então tá, tchau. Te vejo mais tarde, docinho. — finalizou a frase com uma risada rouca e saiu.

Levantei um pouco mais meus olhos, e o observei caminhar em direção a uma mesa onde os seus três amigos estavam. Justin sempre mantinha sua postura de “garoto-mau”, e isso não era diferente em seu andar. Mas isso não importa agora.

Quando terminei de comer, encontrei Clary encostada na parede com algum objeto nas mãos, mas guardou assim que me viu. 

— Oi, Art! Pra onde está indo?

— Para aula de Arco e Flecha. Você vem?

— Não, tenho que ir para o treinamento de guardiões em formação.

— Ah, sim. Queria que você fosse, afinal, só tenho você de amiga...?

— Sim! Sou sua amiga, é claro! Mas o Jace vai estar lá, ele é um dos instrutores dessa aula, você vai ter ele lá. Fica tranquila. —  falou com um sorriso simpático no rosto.

— Mas se ele vai estar lá... Por que você não vai também?

— Eu nunca fui muito chegada para o Arco e Flecha, mas o Jace sempre foi um dos melhores arqueiros, muito melhor do que muitos dos filhos de Apolo.

— Oh, claro que sim. — falei um pouco surpresa, ou nem tanto. Sempre soube que Jace tinha muitas habilidades — Então já vou indo, não quero me atrasar. Tchau, Clary.

— Boa sorte, Art.

Disse um obrigado quase inaudível e fui para minha aula que seria ao ar livre. Chegando lá, vi uma fileira de alvos padronizados e outra fileira de alunos tentando segurar suas flechas da maneira certa com a ajuda de um instrutor, para cada aluno. Senti alguém pegar no meu ombro e me virei. 

— Artemísia! E aí, que tal começarmos? — Jace perguntou, sorrindo abertamente, mostrando seus dentes exageradamente brancos e alinhados.

— É, pode ser, mas... Eu não sei nada sobre... Isso. — falei gesticulando para o arco e a flecha que estavam em sua mão.

— Estou aqui para te ajudar, não estou? — perguntou.

— Então me explica como funciona.

— Certo, a cor amarela vale dez e nove pontos, o vermelho vale oito e sete e a azul, seis pontos. Pega. — ele me deu o arco.

— Você segura assim... — atrás de mim, ele se apoiou nos meus ombros e  segurou meus braços, colocando-os nos lugares certo do arco — Agora você puxa e solta. Tenta se concentrar, não pensa em nada.

A pergunta que eu estava me fazendo mentalmente era como não pensar em nada com ele envolvendo firmemente os meus ombros e meio que me “abraçando”? Se o Jace era atraente antes, agora eu não sei mais o que ele é. Dezesseis anos e cheia de hormônios, Jace não poderia ter esperado quarenta anos para me dar essa aula?

 — Er...Certo, já entendi. Acho que preciso um pouco de espaço, pra me concentrar melhor, sabe? — ele se afastou de mim. Depois de uns segundos eu soltei a flecha.

— Uau! Você tem certeza que “não sabe nada sobre isso”? — fiquei em choque quando a flecha acertou uma parte do alvo pintado na cor amarelo.— Bom, vejo que não preciso lhe ensinar mais nada.

— Acho que sua ajuda já foi mais útil, Sr. Jace. — brinquei.

— Na verdade, nunca me superei tanto, dei apenas algumas dicas sabe. — retrucou, entrando na brincadeira.

Depois que a aula acabou, Jace me acompanhou até meu quarto, disse que não incomodaria. Na verdade, andar com ele é meio... Assustador. A cada lugar que passávamos, as meninas ficavam olhando para ele, quase sem piscar.

Frente ao meu quarto, tentei me despedir, mas ele me interrompeu com um beijo na bochecha. 

— Tchau, Art. Até depois.

— T-Tchau, Jace.

No meu quarto, tirei minhas roupas e fui tomar um longo banho. Admito que, devido as circunstâncias, e tudo que acontece, foi impossível não pensar no mero beijo de Jace em minha bochecha.

O.k, esse pode ser só mais um truque dele para conquistar as meninas. Mas, o Jace não é igual aos garotos do tipo do... Justin. Ele é diferente. Não, não e não! Seremos apenas amigos, não acho que estou pronta para um romance. Na verdade, não sei exatamente o que é isso, nunca me apaixonei por alguém. O Alec não conta, eu tinha nove anos e nós basicamente brincávamos juntos e sorríamos um para o outro. Jace e eu, amigos, fim. 

[...]

Acordei com batidas extremamente calmas na porta. Com muita dificuldade, levantei-me e calcei meus chinelos. Abri a porta e dei de cara com uma mulher carrancuda, vestida em trajes escuros.

— A diretora Hathaway mandou informar aos alunos que se dirijam ao pátio principal, em 10 minutos. — após falar suas poucas palavras quase que roboticamente, ela se virou e foi embora.

Fechei a porta e fui rapidamente ao banheiro, escovar os dentes, porque não daria tempo tomar banho. Prendi meus cabelos em rabo de cavalo alto. Assim que terminei de amarrá-los saí do meu quarto. Não tinha ninguém no corredor, provavelmente já haviam ido pro pátio. E se eu estivesse atrasada? Será que isso afetaria alguma coisa em meu histórico?

Fui correndo para o local estipulado pela diretora e ao chegar lá, vejo um aglomerado de alunos, todos muito eufóricos. Varri o local com os olhos tentando encontrar Clary mas nem sinal dela. Olhei para trás e ali estava ela, acenando e caminhando em minha direção.

— Ei! — falou com a voz falha pela pequena corrida.

Antes que eu pudesse responde-la,  um estrondoso barulho fez todos se conter.

— O que é isso? — perguntei curiosa.

— Trombeta de caramujo. Significa que hoje terá a captura da bandeira, nós esperamos muito por esse momento, é bem... Legal.

Ouvimos gritos e aplausos, então me virei para uma espécie de palco improvisado, lá estava a diretora Hathaway com um sorriso contagiante.

— Caros alunos da escola Olimpiana, é com um imenso prazer que os comunico que hoje haverá a captura da bandeira. Para os novatos que não tem conhecimento do que esse evento seja, irei explicar. Bom...

Minha atenção foi desviada para Clary quando a mesma me cutucou no braço esquerdo. Assim que a olhei, ela fez sinal com a cabeça numa direção onde havia alguns alunos. Entre eles, Jace. Ele estava graciosamente vestido em uma armadura, um elmo de penugem vermelha e em sua cintura repousava uma espada.

Quase podia ouvir os suspiros, mas não apenas os meus. Ouvindo mais aplausos, virei-me novamente para a direção do palco.

— ... Justin Bieber e Jace Wayland, subam com suas bandeiras.

Vi Justin e Jace caminharem em direção ao palco com enormes bandeiras. A de Jace era vermelho brilhante, com a pintura de uma lança ensanguentada e uma cabeça de javali; a de Justin um azul cintilante e no centro um raio celeste, bem assustador, assim como seu traje, que era completamente negro, dos pés à penugem de seu elmo.

Quando subiram, exibiram com orgulho suas bandeiras.

Virei-me para Clary.

— Zeus e Ares sempre lideram as equipes?

— Na maioria das vezes, sim. — deu de ombros.

A diretora voltou a se pronunciar:

— Como todos sabem, os vencedores das últimas partidas foram Zeus e Ares, portanto, eles podem escolher quais os Deuses querem em sua equipe. Justin?

Justin sorriu astuto.

— Atena.

— Boa escolha, Justin. — a diretora falou orgulhosa — Jace?

— Hermes.

— Justin, qual o próximo?

— Hm, Apolo. — falou convencido.

— Eu escolho Hefesto. — Jace logo se pronunciou.

— Métis. — assim que Justin falou, senti meu sangue ferver.

Clary iria para a equipe dele.

— Um minutinho, meninos. Sabemos que nem todos participarão, apenas mais duas equipes. Agora Jace escolherá. — a diretora avisou

Por um momento, tive a impressão que Jace havia olhado pra mim para depois falar.

— Afrodite. 

Todos encaravam Justin, esperando pela sua última escolha, mas ele apenas gargalhou, em alto e bom tom,  para todos ouvirem.

—  Você só pode estar brincando! Os filhos de Afrodite são os piores na captura da bandeira. Essa já tá no papo! —  zombou.

A diretora pigarreou.

—  Heróis, como nas edições anteriores o jogo será na floresta, depois dos portões da escola, e o limite é o riacho, a floresta toda está valendo. Os guardiões estão espalhados por toda a floresta, garantindo que os monstros não se aproximem. Todos os itens mágicos são permitidos.

Houve uma gritaria, mas cessou-se quando a diretora pediu silêncio e prosseguiu:

—  Que os jogos comecem. E lembrem-se, que a sorte esteja sempre ao seu favor.