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História Amor Fati - Constelaçao


Escrita por: lavignescau

Capítulo 11 - Constelaçao


“Escola é pior do que eu lembrava.” Caroline resmunga, carregando desajeitadamente a mochila em seu ombro pelo hall da escola. Por insistir em utilizar apenas uma alça da mochila, ela tinha que se arrastar contorcida para evitar que seu material caísse todo no chão, o que estava tirando todos do sério.

“E se você não segurar a mochila direito além de sofrer de chatice você vai sofrer de lordose.” Liam tenta corrigir a menina pelo que parece ser a décima vez no dia, mas ela simplesmente se recusava a escuta-lo. 

“Resposta inteligente, Liam. Quanto tempo demorou para pensar nela?” Hayden se junta aos dois na massa de estudantes que saiam da escola. Ela e Caroline se cumprimentam, fazendo um toquinho por trás das costas de Liam. 

Ambas haviam começado uma amizade rapidamente, por mais reclusa que a bruxa parecesse ser. Não tinha muito uma explicação para como elas se entenderam tão bem, mas a admiração em comum que tinham uma pela outra definitivamente era um dos motivos. Caroline não podia deixar de admirar a destreza da lobisomem ao entrar sem medo nas lutas e batalhar com garra, literalmente, enquanto Hayden ficara impressionada com o quão corajosa era a outra, que não hesitava em enfrentar destemidamente os problemas que surgiam. 

Além do mais, Hayden estava aliviada por finalmente ter uma menina de sua idade no grupo. Por mais que Lydia e Kira fossem incríveis pessoas, a diferença de idade as vezes era um problema. E  os meninos, apesar de bons amigos, não eram exatamente a escolha ideal para desabafar sobre problemas de relacionamento. Ademais, ela acabara se distanciando inconscientemente de suas amigas que não sabiam sobre o sobrenatural, pois problemas como caçadores-fantasmas e pessoas ressurgindo tomavam seu tempo mais do que havia esperado.

Saindo do prédio principal, eles encontram Stiles com um olhar agitado Apesar disso ser uma ocorrência comum, eles ficam preocupados. Chagando mais perto, eles percebem que Kira e Malia também estão presentes, carregando olhares igualmente alertas. 

“O que aconteceu?” Liam se aproxima do grupo, assustando Stiles.

“Nathan Kieran fugiu da Eichen House.” Malia responde Liam enquanto Stiles se recupera dramaticamente. “E Stiles está surtando porque Lydia saiu com Allison e agora não atende o celular.”

“Quem é Nathan Kieran?” Caroline pergunta confusa, observando a reação assustada de todos. 

“Fisicamente, ninguém sabe como ele é.” Stiles volta ao normal, contando a historia bem mais precisamente que qualquer site ou artigo seria capaz, provavelmente pelo fato de ter bisbilhotado os arquivos confidenciais sobre o caso. “Nathan teve aulas em casa por toda sua vida e seu pai, Shane, era o responsável por sua educação e cuidado, pois a mãe havia morrido durante seu parto. Segundo os vizinhos, Nathan raramente saia de casa porque tinha erupção cutânea fotoalérgica, que é basicamente o termo médico para, literalmente, alergia ao sol, o que fazia com que o garoto passasse o dia trancado em uma casa com todas as janelas fechadas. Raramente, o garoto saia de casa, e quando saia, era de noite e não havia contato com outras pessoas, a não ser seu pai e sua vizinha, Blanca.”

“Como ele falava com ela se ele mal podia sair de casa?” Liam interrompe, e Stiles o olha com irritação.

“Calma, eu vou chegar lá.” Ele revira os olhos e continua a contar a história. “Quando Nathan tinha 7 anos, durante o Halloween, ele aproveitou o fato de seu pai estar distraído com as crianças que aproveitavam para espiar a casa e saiu pela porta dos fundos. Como ninguém o conhecia, não o estranharam, e foi assim que ele conheceu Blanca. Obviamente, seu pai descobriu, e depois disso, as raras vezes que saia de casa se tornaram nenhuma. Ele amava demais seu filho, e fazia de tudo para evitar perde-lo, mesmo que isso significasse priva-lo de uma vida normal. Entretanto, Nathan havia conseguido pegar o numero de Blanca, e passaram a conversar todos os dias pelo telefone escondido. Shane não desconfiava da amizade entre os dois, e desencorajava o filho a interagir socialmente pois temia que isso o fizesse ter vontade de sair, ou que sofresse com piadas e brincadeiras de outras crianças.” 

“E Shane descobriu sobre a amizade dos dois?” Caroline pergunta. Por mais que ela entendesse o ponto de vista de Shane, privar a criança de amigos era simplesmente uma coisa terrível, independente da ação ser bem intencionada.

“Não até Nathan completar 16 anos. Blanca não havia medido esforços para esconder a amizade, de modo que nem mesmo sua mãe sabia disso. Com o passar do tempo, eles mudaram as conversas pelo telefone para conversas de bate-papo, e Nathan se escondia sobre um perfil falso para não ser descoberto. Porém, um dia esqueceu de apagar as conversas e desligar o computador, e seu pai descobriu tudo. Não se sabe ao certo o que aconteceu depois disso, mas Blanca desapareceu com somente um bilhete dizendo que havia fugido com um menino que havia conhecido pela internet. Enquanto sua mãe a procurava desesperadamente, as famílias ao redor começaram a estranhar uma calmaria excessiva na casa dos Kieran. Apesar de Nathan não sair, seu pai era o contrário, tendo laços com vizinhos e um emprego honesto. Entretanto, faziam dias que ninguém tinha sinal dele. Quando um amigo finalmente tomou a iniciativa de investigar, encontrou seu corpo morto em seu quarto, esfaqueado diversas vezes, e nenhum sinal de Nathan.”

“E como encontraram Nathan?” Hayden pergunta intrigada e assustada ao mesmo tempo.

“Nathan havia fugido com Blanca, os encontraram na casa de uma desconhecida, na proximidade, prontos para fugir para a Europa. Porém, quando encontraram o menino, descobriram que ele completamente normal, e que não tinha nenhuma aversão, muito menos alergia, à luz solar. E isso não é o mais estranho. A desconhecida que os havia hospedado era, na verdade, Melanie, a mãe de Nathan, que não havia morrido. Com as investigações, descobriram que Shane sofria de Síndrome de Munchausen by proxy, onde o enfermo insiste em criar um quadro onde um individuo próximo, geralmente o filho, tem alguma doença que o faça necessitar de cuidados especiais ou ajuda médica, e havia mentido sobre a morte de Melanie.”

“E o que aconteceu com Nathan e Blanca?” Kira pergunta, ouvindo pela primeira vez essa parte da história.

“Nathan foi acusado de matar o próprio pai, apesar de não se ter certeza se ele cometeu o crime ou se Shane havia se matado. Devido a sua história de criação, ele foi mandado para Eichen House, onde muitos dizem ter ficado louco. Blanca, por outro lado, entrou em depressão profunda, e acabou se suicidando meses depois. Muitos dizem que a morte dela foi um dos motivos que o enlouqueceu.” Stiles toma um segundo para observar a reação de seus amigos. A informação ainda não havia sido liberada para todos, mas ele acreditava que reagiriam de forma semelhante. Assustados, confusos, inconformados. “E agora, Nathan Kieran está solto em Beacon Hills.”

                                       

                                                    Ω

 

“Essa cor não fica bem em mim!” Lydia reclama, olhando para o vestido verde que Allison segurava em sua mão.

“Ah, Lydia, fala sério! Não existe algo nesse mundo que não fique bem em você!” Allison revira os olhos e empurra a roupa em suas mãos. “E não me faça utilizar minhas habilidades marciais para te obrigar a vestir essa droga!”

Lydia ri, e, apesar de contrariada, volta para o vestiário, botando o vestido verde. Após se vestir, ela encara seu reflexo no espelho. O vestido era de alça, e deixava suas costas quase totalmente descobertas, a não ser pelos finos laços que atravessavam a pele exposta para segurar o vestido no lugar. O tecido era leve e caia levemente, atingindo seu pé. O decote, na frente, era um pouco cavado, e deixava seus seios em evidência, o que fez Lydia repensar sua opinião sobre o vestido.

Saindo com cautela do vestiário, Lydia deixa Allison de boca aberta. “Se você não comprar, eu compro.”

Antes que Lydia fosse capaz de responder, o som de uma arma sendo disparada ecoa pelo shopping, acompanhado de gritos desesperados. Quase imediatamente, as pessoas começam a correm de um lado para o outro, muitas errando o caminho da saída por causa do medo. Agarrando a mão de Allison, Lydia corre em direção à saída mais próxima, mas percebe que uma briga ocorre em frente ao portão, bloqueando a saída.

Elas mudam a trajetória, mas percebem que, não importa onde elas olhem, algum conflito ocorre, seja eles brigas, discussões ou pessoas simplesmente atrapalhando outras, tentando lhes causar dano. Outro tiro ecoa, e dessa vez o que o acompanha é um alarme. Sirenes parecem vir de algum lugar distante, e luzes vermelhas começam a piscar, tornando a situação mais caótica. Outro tiro soa, mas dessa vez sua proximidade é inegável, e Allison observa horrorizada quando o sangue começa a manchar a roupa de Lydia. 

 

                                                   Ω

 

Stiles abre a porta do hospital violentamente, escorregando pelo piso liso quando corre em direção à Melissa. “Onde ela está? O que aconteceu? Ela está bem?”

“Calma, Stiles, Lydia está bem.” Com isso, ela vê um peso visivelmente ser levantado de seus ombros. “O tiro foi de raspão, e só atingiu a o ombro dela. Ela perdeu bastante sangue, mas chegou no hospital a tempo de não ter danos graves. Já demos os pontos, então ela deve ter alta em pouco tempo. Vem, vou te levar até lá.”

Ele não consegue parar suas mãos, que tremem intensamente, e as esconde em seus bolsos, ainda nervoso com toda a situação. Havia passado o dia todo preocupado com Lydia, e quando tinha notícia dela, era Scott falando que sua mãe havia ligado para dizer que havia acabado de ver Lydia chegar em uma ambulância. Isso tinha feito Stiles surtar, e antes que percebesse o que estava fazendo, já havia dado a partida em seu Jipe e ia em direção ao hospital. 

Não fazia ideia do que havia acontecido, e isso o desestabilizava totalmente. Stiles era sempre o que estava informado, era para quem as pessoas olhavam quando estavam em duvida sobre o paradeiro de alguém ou sobre o que acontecia. Mas pela primeira vez na vida, não fazia ideia do mundo ao seu redor e, sinceramente, não se importava. Ele só queria saber como Lydia estava.

Foi somente quando seus olhos castanhos encontraram o par de íris verdes que suas mãos pararam de tremer.

 

                                                      Ω

 

“Stiles, você não disse nada o caminho inteiro.” Lydia suspira, tendo como resposta apenas o barulho da porta do carro batendo. Quando olha para o lado, o banco está vazio. Através da janela, ela vê Stiles passar a mão pelo seu cabelo de maneira frustrada. Abrindo a porta, ela sai do Jipe, caminhando até Stiles no quintal de sua casa. 

Depois de receber os pontos, havia o encontrado do lado de fora de seu quarto hospitalar, e ele havia oferecido a levar para casa, utilizando poucas palavras. O menino parecia ter milhões de pensamentos em sua cabeça, e Lydia sabia que quando isso acontecia era melhor dar espaço para os organizar. Mas, agora, já haviam chegado em casa e ele ainda não tinha dito uma palavra.

“O que você quer que eu diga Lydia?” Stiles finalmente fala, mas sua voz sai uma mistura de emoções indecifráveis. “Porque há certamente varias coisas que eu pensei que nunca teria a oportunidade de dizer quando Scott me ligou.” 

“O que isso quer dizer?” Lydia chega mais perto de Stiles, vendo agora que lágrimas não derramadas cobrem seus olhos, os fazendo reluzir sob a luz. 

“Isso quer dizer que, enquanto você estava no hospital sendo atendida, eu estava ficando maluco, pensando em todas as coisas que eu não teria a oportunidade de dizer se você não saísse de lá viva.” Ele respira, e uma gota salobra escorre pelo seu rosto. “Desde que tudo sobrenatural começou, tudo que vejo ao meu redor são mortes. Amigos, parentes e estranhos perdendo a vida sem nem mesmo saber o porquê. Tudo que parecia acontecer eram desgraças, arrependimentos, perdas, e eu não conseguia enxergar nada no mundo a não ser sua crueldade e frieza. Mas então, eu olhava para você e percebia que, em meio a todo esse caos, nós acabamos compartilhando a mesma existência, e então eu percebo que, talvez, enfrentar todo esse emaranhado de coisas ruins não seja tão ruim se eu a tiver ao meu lado. Por mais que o destino seja doloroso, eu estou disposto a aceitar o que está destino se isso significa a ter ao meu lado.”

Lydia parece congelada, incapaz de se mover, enquanto as palavras jorram da boca do garoto em uma declaração nada além de sincera. “Amor Fati.” Ela sussurra.

 “Você, a menina por quem sou apaixonado por mais tempo do que sou capaz de lembrar.” Stiles continua, mas um sorriso se abre em seu rosto ao mencionar a menina. “No início, era um amor platônico, daqueles tolos de infância que servem apenas para moldar o conceito de amor. Mas, com o passar dos anos, eu fui percebendo que era muito mais que isso. Eu olhava para você e era como se eu passasse a ver meus sentimentos alinhados como estrelas, formando uma constelação, tão bonita como infinita. E, de repente, foi essa constelação que passou a adornar meu universo. Toda vez que eu a observava, era como seu eu fosse capaz de iluminar todo o mundo que antes eu julgava sombrio, e tornar sublime os aspectos que eu achava grotesco. Afinal, é isso que o universo faz, transforma os tumultos em estrelas. E, foi em uma astrologia reversa, que eu decifrei suas constelações e descobri quem eu era, transformei o que eu via. E é por isso que, todas as vezes que eu abro meus olhos, e me deparo com esses olhos verdes, eu me apaixono, porque é neles que eu encontro a luz que ilumina meu universo.”

Lydia olhava Stiles com lágrimas escorrendo de seus olhos, sem sequer lembrar de quando elas haviam começado a cair. Com passos determinados, ele avança, e segura o rosto dela em suas mãos, enxugando as lágrimas em seu rosto com os dedos.

“É verdade o que dizem sobre o amor. Ele é indescritível, imensurável e adimensional. Mas, se eu tivesse que explicar, a sensação de estar com você é o mais perto possível de amar.” E com isso, Stiles une seus lábios com os de Lydia, em um beijo desesperado, intenso e apaixonado. As mãos de Stiles descem do rosto de Lydia para envolverem sua cintura, a puxando para mais perto de si, enquanto ela corre suas mãos pequenas em seu cabelo castanho, o puxando levemente. 

E é traçando um mapa das constelações de Lydia que Stiles percebe a beleza do impreciso, quando descarta as medidas e, como um telescópio, aproxima os detalhes das estrelas sem tentar quantificar seu brilho.

 

 



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