História Amor Infinito - O início de tudo

Logo que eu me sento no sofá, a Lara diz que precisa ir ao banheiro, e como ela disse que não podia segurar, pedi para que ela fosse em um pé e voltasse no outro. E realmente, ela foi bem rápida, já que normalmente ela demorar um século dentro do banheiro e parte desse tempo é só se olhando no espelho.

- Voltei! – Ela diz e ao se sentar.

- Amém! – Brinco.

Ficamos viradas uma de frente para a outra. No primeiro momento, enquanto eu olhava o pacote e lia o que tinha escrito nele, ambas ficaram caladas. Mas logo ela quebra o silêncio:

- E aí? Alguma coisa? – Lara levanta a cabeça, que antes estava para baixo. Digo que não, mas logo depois, olho no fundo do pacote e encontro escrito: “Feliz Aniversário Pequena! ”. No mesmo momento entro em choque, “desesperadamente” abro aquela caixa e tiro o que a ocupava. A Lara fica um pouco assustada coma a minha reação e fica a perguntar um monte de coisa, porém, logo se cala.

Quando finalmente tive o objeto em mãos; o observei, depois tirei todo o plástico bolha que o envolvia. Era um objeto razoavelmente grande. Aos meus olhos era uma coisa maravilhosamente espetacular, a qual eu sempre sonhei em ter, pelo menos imaginava que fosse. E logo, constatei que estava certa. Era um estojo de desenho profissional, que antes eu, infelizmente, não havia encontrado no Brasil, nem em lojas on-line para comprar. Nele, acho que, havia quase todas as cores existentes na Terra, pelo menos havia as que eu conhecia... Bom, eu acho.

- Aí Meu Deus! Não creio! – Exclamou a Lara. – Esse não era aquele estojo de desenho profissional que você estava louca para ter?

- Sim! Eu também não acredito!

- Pode acreditar, que eu deixo. E porque aqui está dizendo que é para a senhorita. – Ela diz depois de tocá-lo e apontando para o nome escrito na caixa.

Foi aí que lembrei que ainda havia o mistério: quem havia me mandado aquilo? E por que mandara tal “presente”?

A Lara começou a sacudir a caixa de cabeça para baixo, e dela voou um papel. Eu apenhei do chão e abri. Estava escrito à mão. E eu conhecia aquela letra.

- O que é isso? Uma carta?

- Sim. Pelo menos é o que parece. – Respondi deixando o “presente” de lado.

- Leia em voz alta! Talvez tenha o nome de quem a enviou com o pacote.

Concordei com a cabeça e comecei a ler em voz alta, como ela havia sugerido:

- “ De: Yoongi (1993) Para: Gabriela (prettygarden_)

Olá Gabi! Tudo bem? Bom, sou eu, o Yoongi. Faz muito tempo, não é? Hoje é seu aniversário! 2 de agosto de 2016.... Uau! Minha pequena faz 19 anos! Aumenta de idade, mas não de tamanho. Mas eu gosto assim. Porque desse jeito consigo brincar com você, muitas vezes tirar você do sério e de irritar um pouquinho e não tem como você alcançar o topo de minha cabeça; você furiosa comigo fica tão fofa brava por nada. Sinto saudades disso. Me desculpe por não ter conseguido manter contato. E pelo nosso relacionamento à distância não ter dado muito certo... Me desculpe por ter terminado com você de uma forma tão “arrogante”. Não queria fazer você sofrer mais, você não merecia tanto sofrimento para guardar para si. Desapareci, sem avisar, eu sei. Não expliquei direito por que voltei para Daegu. Houve alguns problemas, mas agora está tudo se resolvendo. Mas voltando para você, acho que esse é o presente certo para você, e o qual você tanto queria. Quando o vi, imediatamente lembrei de você, e de quando você o viu pela primeira vez pela vitrine de uma loja. Seus olhos brilharam e consegui ver o quanto você o queria. Então quando o encontrei aqui na Coréia, imediatamente comprei-o. Espero que goste e utilize-o para fazer desenhos maravilhosos e incríveis, como você. Quando você menos esperar, eu irei estar aí ao seu lado! Feliz Aniversário! ”

- Nossa! – Minha amiga arregala os olhos.

- É...

- Você está bem? – Lara se aproxima de mim.

- Sim. Estou bem. – Sorrio fraco.

Como aquilo não havia chegado em mim antes? Era lindo e com toda a certeza ele havia acertado no presente. Acho que ele era o único, além da Lara e de meus pais, que sabia sobre o estojo. Eu estou realmente agradecida e queria poder dizer isso à ele.

E sobre o porquê que o Yoongi voltou para a sua cidade natal e de como nos conhecemos, acho que ainda não falei sobre isso. Bem, então vou explicar.

Tudo começou com um passeio da escola no 1º ano do colegial. Todos das turmas A e B, foram convidados para um passeio que seria organizado pelos representantes de cada turma e os coordenadores, e a partir de uma votação iria ser escolhido o local que nós iriamos visitar. E o que ganhou foi o Parque do Ibirapuera, aqui mesmo em São Paulo, e por sorte foi pelo qual eu tinha votado. O passeio foi para um trabalho de Biologia, todos foram divididos em grupos de quatro, ao todo haviam vinte grupos. E como sempre eu fiquei com a Lara e mais dois amigos.

Quando chegamos lá, nos dividimos para encontrar uma flor e conseguir uma foto ou desenho de exemplo da planta, e quem encontrasse-a primeiro teria que avisar aos outros para nos encontrarmos no local. E adivinha, quem encontrou-a? Sim, eu mesma! E já com um caderninho que eu sempre levava comigo e um lápis em mãos, depois de informar ao restante do grupo, comecei a desenhar a paisagem que estava à minha volta, enquanto esperava pelos outros.

Tinha uma vegetação magnífica ali. Não consegui me conter e, enquanto passava aquela paisagem para o papel, acabei me distanciando um pouco da flor. Acabei em um banco e quase esbarrei em alguém. Naquele momento a distração estava ativa e conseguiu fazer o papel dela. E esse alguém não era ninguém e ninguém menos que o Yoongi.

Quando me deparei com aquele garoto, fiquei muito envergonhada e comecei a me desculpar sem parar. Ele me encarou por um tempo, meio sério. Mas logo estampou um sorriso no rosto, o que me deixou mais aliviada; já que quando quase esbarrei nele, parte de seu material e seu celular caíram no chão. Logo depois ele pediu para que eu parasse de me desculpar. O fiz e me agachei para pegar o que tinha caído. E quando coloquei a minha mão em um dos lápis, senti as mãos dele tocando na minha. Senti um arrepio na nuca, peguei o lápis, o entreguei e imediatamente me afastei. Naquele momento senti minhas bochechas queimarem. E quando vi, ele estava rindo de mim. Mas não era de “deboche”, mas sim como se tivesse feito aquilo de “propósito”.

- Mais uma vez: me desculpe por derrubar suas coisas. Eu sou atrapalhada às vezes... – Disse ao me recompor do coramento.

- Ah não. Não precisa se desculpar, e também é culpa minha. Eu estava meio distraído. – Ele diz passando a mão em sua cabeça. Ele olha para o caderno em meus braços, e ao vê-lo pergunta se eu estava desenhando. Responde que sim, mas que não era nada de mais, só mais alguns rabiscos do ambiente onde estávamos.

Ele pediu para ver, já com as mãos estendidas. Eu o entreguei, mesmo sem o desenho estar completo. E ele começou a folhear as folhas, até que parou em uma página qualquer onde eu tinha desenhado um piano marrom. Ele olhou para o canto direito da página e perguntou:

- Seu nome é Gabriela?

- Sim.

- Espera você é aquela famosa Gabriela desenhista? A do 1º ano A? – Ele pergunta surpreso.

- Sim, sou eu. Mas não diria “famosa”, já que meus desenhos são vistos apenas por algumas pessoas... – E eu tímida como sempre, ou quase sempre, tentei explicar para ele isso sobre a “famosa Gabriela desenhista”. - ... e normalmente eu assino como “prettygarden_”, assim fica mais “comercial”. – Fico a rir.

- Nossa! Eu gosto desse apelido, assim como eu gostei de você.

Nesse momento eu parei. Só agradeci e disse que também havia gostado dele, que também agradeceu e sorriu. Eu vi que ele continuava a olhar para o desenho do piano. Ele olhava e ficado calado. Até que quebrou o silêncio:

- É.. Você pode fazer um retrato meu?

- Posso! Mas já aviso que não vai ficar tão bom assim, porque não tenho todos os materiais necessários para um bom retrato assim, mas vamos tentar! – Tiro uns lápis do meu estojo e mais algumas coisinhas. Peguei o caderno que estava com ele, abri em uma folha limpa e sugerir que nos sentássemos. Feito isso comecei o retrato do garoto.

Depois de já ter feito um esboço do que iria fazer, comecei a passar a imagem dele para a folha em branco. Com um tempinho, as linhas foram se conectando e criando a mesma imagem do garoto que estava à minha frente. Ele me olhava sem desviar se quer uma vez o olhar. Para não deixar um clima muito estranho de vários olhares, comecei a fazer algumas perguntas, começando do básico que era o seu nome. Ele estudava na outra turma que viera com a minha, e disse que sempre escutou falarem de mim pelos desenhos, mas que nunca imaginara que fosse uma menina tão legal a qual ele teve oportunidade. Um tempo se passou e começamos a conversar e nos encontrar como colegas de escola.

Ele parecia ser uma pessoa normal, um garoto bom, um novo colega de escola, apenas mais um humano qualquer que eu encontrara na vida. Mas depois desse dia tudo mudou! Com o tempo, ele se tornou uma pessoa tão especial quanto a Lara para mim. Até que chegamos no dia que ele se declarou para mim e agora estamos aqui: separados pelo mundo, em lugares totalmente diferentes. E tudo isso, da distância e tais, está a acontecer por causa da família do Yoongi que não aceitou muito o fato de que seu filho estava a namorar uma brasileira, o que fugia quase totalmente da tradição de sua família que é coreana. A mãe dele tinha já se acostumado, mas cobrava muito da minha parte para saber um pouco da cultura deles, mas o seu pai ainda não aceitou como ele desejava.

Por causa de seus pais, o Yoongi teve que voltar para Daegu para ajuda-los, mas também há mais um motivo para que ele tenha voltado sem avisar sobre tudo o que estava ocorrendo. Tanto que tivemos que dar um tempo em nossa convivência à distância. Mas o que será que ele ainda me esconde?

Já confusa depois de todos os pensamentos que estava tendo naquela hora, resolvi com a Lara que era melhor resolvermos isso amanhã com mais calma depois que a gente se encontrasse com meus pais no aeroporto. E mais cansada do que nunca, mais rápido que um chama da vela ao vento, apaguei!