História Amor sem classe - Dejavu

Eu não sei senão amar-te, 
Nasci para te querer. 
Ó quem me dera beijar-te, 
E beijar-te até morrer.(Fernando Pessoa) 

Eu acordei pensando que estaria com dor, imaginando meus braços queimados e minha perna costurada. Provavelmente estaria em uma cama de hospital, com as cortinas brancas balançando depois de deixarem uma fresta da janela aberta. Por um momento não sinto nada, somente uma briza fria batendo em mim. Será que estou morta? Mas por que estaria? Nesse momento, já nem lembro o motivo de meus pensamentos. 

Senti estar deitada em algo macio, quem sabe as nuvens do céu sejam tão confortáveis como um dai imaginei. Tudo a minha volta girava e eu ainda me pergunto o porque. Com muita dificuldade, abri os olhos e acordei. 

Eu estava em meu quarto. Olhei em volta, havia deixado a janela aberta noite passada e a brisa fria entrava me fazendo estremecer. Olhei no celular, hoje era sexta e eu tinha perdido a hora da faculdade.  

Me levantei e entrei no banheiro. Lembrei que tive um sonho um tanto estranho, mas não lembro bem o que era. Fiquei ali tentando lembrar já que eu tenho aquela ideia idiota na cabeça de que se eu não lembrar eu vou enfartar e morrer. Saí do banheiro e vesti uma legging preta, uma blusa branca escrito "I'm the shit" em letras pretas e um casaco xadrez por cima e calcei meus all stars de cano longo. 

Subi para o andar de cima e fui ver alguma coisa para comer. Eu queria muito um sorte agora, bem que eu podia ter uma geladeira só com sorvete no meu quarto...Ah e uma parede falsa pra esconde-lo ou algo do tipo. Não encontrei nada, então peguei minha bolsa e entrei no meu carro. Tinha uma cafeteria perto da minha faculdade que eu amava ir. 

Peguei um frapuccino e fiquei sentada no balcão mexendo no celular enquanto conversava com as garotas. Logo pude vir um filhote de demônio do Himalaia entrando ali. Resumindo, Sai. 

Peguei meu café com sorvete, fui até o caixa e paguei tentando sair o mais rápida e discretamente possível. 

Sai: Ino? 

Respira fundo Ino, conte até dez...Ih dejavu. 

Continuei andando em direção a rua quando ouvi uma buzina forte de carro e meu cu fechou na hora. Eu caí no chão quando alguém me empurrou. Te agradeço, meu frappuccino continua inteiro obrigada. 

Ino: SEU IDIOTA, DESGRAÇADO, CEGO. QUASE ME MATA SEU CAVALO CORNO DE PAU PEQUENO. 

***: MOÇA CALMA. PRIMEIRAMENTE VOCÊ QUE TEM QUE OLHAR POR ONDE ANDA. ESTAMOS NO MEIO DE UMA FILMAGEM. 

***: CORTA! 

Ino: ai me desculpe se eu queria caminhar pela rua livremente sem ser parada por...Como é que é? 

***: isso. Estamos gravando um filme aqui. Bom de qualquer forma, me desculpe, os seguranças deviam estar de olho. - disse o ruivo me estendendo a mão para levantar. 

Ino: não...na...não ta tudo bem, eu que peço desculpas, estava distraída. Meu nome é Ino. 

Gaara: prazer Ino, o meu é Gaara. - já ouvi esse nome em algum lugar... 

Sai: Ino você está bem? Aquele cara tentou abusar de você?  

Ino: quase fui atropelada, mas estou saltitando pelos arco-íris e não Sai, ele me salvou ok.  

Sai: mas ele estava em cima de você. Não achei que eu tinha deixado você tão mal a ponto de aceitar qualquer um.  

Ino: nós caímos quando ele me puxou e... Puta que me pariu outro dejavu. Olha Sai vai se ferrar. 

Gaara: ele é o seu namorado? 

Ino: EX. Ex namorado. 

Sai: qual é loira. Tenho certeza que é só eu chamar que você volta correndo pra mim. 

Ino: se ex fosse bom, Deus não mandava amor o próximo. 

Gaara: hahahaha. Adorei você loira. 

Ino: obrigada. - disse tímida. - então você é ator? 

Gaara: sou. Faço o papel principal. 

Ino: nossa, que honra. Qual o nome do filme? 

Gaara: amor sem classe. 

Ino: sobre o que é? 

Gaara: sobre um morador de rua que se apaixona por uma mulher de classe alta depois de salvar a vida dela. Por serem de classes diferentes, eles tem que lutar para ficarem juntos, ainda mais depois que o pai dela a colocar em um casamento arranjado. 

Ino: nossa. Vai ser um filme ótimo, ainda mais com você. 

Gaara: hahaha. Quer conhecer o sete? 

Ino: adoraria. 

Gaara me levou para conhecer tudo ali, desde a equipe até os alojamentos onde ficamos brincando um pouco se é que me entendem. Ah qual é gente, olha esse deus grego aqui comigo, acham que eu vou desperdiçar? Me nego. 

No final da tarde, Gaara me levou pra casa e eu fui correndo ligar para as gurias. As malucas mal me deixaram terminar e quando vi já estavam aqui na porta de casa com vários potes de sorvete. Eu amo essas pessoas que leem meus pensamentos. 

Passei a noite fofocando com elas sobre o ruivo. E pra vocês que acham esse negócio de amor a primeira vista idiota, coisa de criança, uma merda que não existe e se existe termina em merda, por favor, assistam o filme que, no final de tudo, eu fui chamada para fazer o papel da garota principal e devo lhes dizer que atuei muito bem. Teve até unicórnios acreditam? Tinha unicórnio por tudo naquela bagaça e foi a cena que eu mais amei fazer...ta, foi a melhor depois das noites quentes com o Gaara. 

Sabe, acho que no fim das contas, atuar nesse filme acabou unindo eu e o ruivo cada dia mais e juro pra vocês, toda vez que eu gravava eu sentia que já fiz aquilo antes acreditam? Que se fodam se não acreditam, a vida é minha.  

Mas cá entre nós, o título se encaixa perfeitamente no meu relacionamento com o Gaara. Um amor sem essa frescura toda de romantismo, gente melosa ou a garota passando horas pra se aprontar pra sair com o namorado nem cuidar as boas maneiras na rua. Nosso amor ficou sendo assim mesmo, sem início, sem fim, sem rótulos, sem regras, sem padrões e sem classe.