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História Amor, Suicídio, Automutilação, Contos e etc... - Carta de um Velho ao Mundo


Escrita por: Pingo_Pou

Notas do Autor


Hello boys and girls

Capítulo 11 - Carta de um Velho ao Mundo


Fanfic / Fanfiction Amor, Suicídio, Automutilação, Contos e etc... - Carta de um Velho ao Mundo

Quando você ler estas palavras provavelmente já terei morrido. É tão simples perceber a inutilidade das palavras quando “morte” tem apenas cinco letras e acaba com tudo. O que eu deixo para trás não sei dizer. Deixo a certeza de que fiquei sempre aquém do que pude ser. Fui sempre quase o que quis ser, e provavelmente foi isso, apenas isso, o que realmente desejei ser.

À vida nunca pedi muito e ela me deu tanto. Quando eu era pequeno acreditava no Papai Noel, na felicidade eterna, nos casais que ficavam juntos para sempre. Hoje acredito ainda mais. As rugas tiram muita coisa mas nunca tiram o amor, se um dia você tiver dúvida sobre o que realmente importa na vida pense nisso e chegará a uma conclusão. Se ficar algo de mim neste mundo será o amor que dei e recebi, nada mais.

Por vezes custa estar vivo. Muitas vezes parece que não há saída, que o que dói nunca vai parar de doer. Mas passa. Passa sempre. Fica um pedacinho que nos impede, aqui e ali, alguns movimentos. Mas o que nos bloqueia passa sempre. Haja uma mulher para amar e o mundo continua. A minha mulher é o que a vida me deu, e foi ela que me deu tudo o que a vida me deu.

Nunca lamentei as lágrimas que chorei, os acidentes que me fizeram recomeçar. O tempo serve para recomeçar, pouco mais. A mudança é o que me mantém vivo, tenho vindo a aprender. A cabeça já não é o que era, o corpo já não é o que era, deve ser a isso que chamam velhice, eu sei. Há um corpo que cai e nós aqui por dentro sempre a nos levantar, sempre mais altos. A idade nos eleva tudo menos o corpo. Tudo cede menos o que amamos. O que profundamente amamos.

Amo profundamente quem me faz rir. O senhor das piadas da televisão, Deus o guarde, a senhora do açougue e os seus palavrões que nem me atrevo a pensar, e os que amo. Amar é rir profundamente.

Já me amputaram de pessoas. A morte de quem faz parte do nosso mundo é um pedaço que se vai. Estou com muito menos do que aquilo que já tive mas ainda consigo andar. Viver é mais que tudo conseguir arranjar membros suficientes para, por mais amputações que a vida nos traga, conseguirmos nos mexer. A memória serve tanto para sofrer como para viver. É lá, na memória, que vivo os melhores e os piores momentos da minha vida. É por isso que tento, todos os dias, construir novas memórias, inventar mais momentos para lembrar. O que fica da vida são os momentos que nos lembram de nós.

Restam-me poucos dias por aqui, isso é certo. Tento não os contar, passar por eles sem me lembrar do que falta. Acredito que ainda vou cruzar com a euforia algumas vezes, por mais que as doenças apertem e a incapacidade triture. Sou uma máquina de luta contra a insuficiência. Agarro-me ao toque da minha mulher como se me agarrasse ao que me impede de morrer. E nunca morro. No fundo, como eu te dizia no começo destas linhas que já vão longas (os velhos têm essa mania de falar demais, de contar demais, de saber demais, mas ninguém quer saber dos velhos até que chega à velhice e aí são os outros que não querem saber de quem não quer saber dos velhos, mas eu não me incomodo, a lei da vida é também a lei da morte, fiquei sabendo há muito), quando você ler estas palavras provavelmente já terei morrido. Mas você não. Tente fazer disso uma vantagem.

Até já. E siga.


Notas Finais


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