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História Amostra Humana. - Três.


Escrita por: Korrah

Notas do Autor


NO CAPÍTULO ANTERIOR:

"[...] O depositaram no banco estofado da entrada, manchando o lugar. O rapaz o virou, analisando-o cautelosamente.

- Já estava ferido. Por dentro. - concluiu, olhando o tronco que começava a apresentar sinais de infecção – Só piorou. Bandagens simples e medicações comuns não irão salvá-lo.
- Ele vai morrer? - a garota ergueu as sobrancelhas.
- Não sei. - foi sincero. - A nave tem um tanque de regeneração, mas estou certo de que não temos os medicamentos necessários pra tratá-lo. E precisamos sair daqui o quanto antes... provavelmente aqueles dois não são os únicos a saber sobre nós.

Escolhas eram difíceis. Mas ela precisava persistir...

- Não custa nada tentar. Ele é perverso. Mas está vivo. Não pode deixá-lo assim...

Já fora difícil convencer Kakaroto a levá-lo, então implorou mentalmente pra que ele cedesse mais facilmente daquela vez. E Vegeta ouvia-a com a típica desconfiança. Ainda era incapaz de acreditar que um segunda classe salvara sua pele... era patético.
Kakaroto resmungou para Bulma, sem acreditar no que estava prestes a fazer. Voltou com a maleta de primeiros socorros, tirando uma injeção de lá.

- O que é isso?
- Morfina. Quer tentar ou não?

E ela acenou, mais satisfeita. "

Capítulo 25 - Três.



- Está acabando.

O saiyajin mais jovem disse, ao jogar mais um refil vazio no chão.

- Que tipo de pessoa prepara uma nave de fuga com pouca medicação?
- O tipo que espera que dez refis sejam suficientes pra meses, porque olha, é bem mais que o necessário.

Bulma rolou os olhos com a resposta de Kakaroto e encarou o tanque de regeneração do qual Vegeta era tratado em seguida. Tirando um ou dois arranhões, as escoriações estavam praticamente curadas. Eram em horas como aquela que ela se dava conta do quão a Terra era atrasada se comparada com toda aquela tecnologia.
E enquanto ela estava distraída, seu parceiro lia as analises que a máquina registrara do corpo um pouco mais cedo.

- Apesar de ter resistido ao remédio no começo, o organismo acabou reagindo bem. - acenou convicto.
- Essas coisas fazem milagres, não?.- e a garota enfim se aproximou impressionada. - Dias atrás ele estava tão machucado... achei que seria uma longa recuperação.
- Tudo depende da situação.

Depois que Kakaroto sedou Vegeta, sua única salvação seria aquele tanque. Claro que com a falta de recursos para ferimentos graves como os dele a previsão de tratamento deveria ser mais demorada, mas aquele homem era persistente. Felizmente... ou não.

- Então o risco de morte pode finalmente ser descartado? - Bulma indagou.

Aquele era um debate do qual eles discutiam constantemente.

- Por enquanto, sim. Mas não seja otimista. Lembre-se que na nossa condição tudo é imprevisível... e principalmente, que tudo seria muito mais fácil se Vegeta morresse.

Era uma tremenda verdade, por mais que Bulma preferisse acreditar que não. Ela ainda não sabia definir se ter Vegeta por perto era algo bom ou ruim. Na verdade, ultimamente ela andava se questionando muito a respeito dele e isso era bizarro. Apesar de Kakaroto lembrar todo instante que salvá-lo foi uma decisão idiota, ela se sentia horrível só de se imaginar deixando o saiyajin pra trás. Seria compaixão por outro ser? Talvez... mas ela sabia que jamais faria o mesmo por Broly ou Nappa, por exemplo. E sempre que sua mente tentava a convencer de que com Vegeta era bem diferente, sua consciência a travava com um só pensamento: “Ele também quer te matar.” Ainda assim, mais cedo ou mais tarde, ela sabia que se auto sabotaria novamente com mais questionamentos confusos.


Depois Bulma foi até a cabine descansar um pouco. A cabine era de Vegeta na verdade, mas ele não estava em seu melhor estado para reivindicar seus direitos. Kakaroto optou por continuar dormindo no sofá embaixo do loft, perto da mesa e mini cozinha. Cavalheirismo? Quem sabe. Mas ela tinha quase certeza de que ele tomou aquela decisão só porque o sofá era estofado e a cama não.
A cabine não era grande e nem tinha tanta mobília, mas era reservada. Um lugar ótimo para ficar sozinho. Havia apenas uma cama e um armário preso a parede. Ela sabia que Vegeta tinha a nave a pouco tempo e não possuía grandes pertences... mas encontrou alguns equipamentos e armas. Provavelmente, brindes de Bojack.
Apesar da moça saber que não era apropriado mexer nas coisas dos outros, o tédio a fez rever alguns conceitos. A vida espacial não tinha lá tanta emoção como ela acreditava quando era pequena.
Deitou-se sobre a cama por fim, usando os braços de apoio para a cabeça.
Durante aqueles segundos de silêncio, sua mente a traiu, trazendo todos os seus problemas à tona e isso a deixou incomodada. Se sentia tão incapacitada e exausta ultimamente. Mais cedo ou mais tarde ela sabia que tudo explodiria em suas mãos e a faria surtar... mas agora, tudo o que precisava era de uma ocupação que a fizesse pensar menos na realidade, nem que fosse por poucas horas.
O sono era seu melhor refúgio.


Por outro lado, diferente de Bulma, Kakaroto preenchia seus dias com treinamentos. Antigamente, quando se avaliava através do scooter e os resultados não o capacitavam como um guerreiro forte, sua maior ocupação se mantinha em livros e descobertas. O que pelo visto, não voltaria a acontecer tão cedo dali pra frente. Já estava na terceira série de uma sessão de abdominais, suando como um porco. Seu físico estava mais enferrujado do que imaginou. Daquela vez, porém, não tinha motivos para se decepcionar tão cedo. Afinal, agora tinha uma visão totalmente diferente.

É verdade que ele ainda não fazia ideia de como chamar aquilo e até mesmo dar uma explicação razoável sobre, mas de alguma forma, quando estava em perigo seu instinto de sobrevivência canonizava uma energia descomunal da qual ele não sabia que tinha. E o que o deixava mais intrigado é que algo assim devia ser impossível. Cada ser nascia com uma quantidade exata de energia e seria essa energia que o classificaria para cumprir algum papel na sociedade.
Ou pelo menos era nisso que eram treinados para acreditar...
Se tinha aprendido algo valioso em vida era que a ausência de evidências não significava a evidência da ausência. Era um homem questionador, vivia por aquilo...

- … setenta e três, setenta e quatro... - sussurrava.

E um apito no painel de controle interrompeu sua contagem. Relaxou o corpo e o esparramou sobre o chão frio, ofegante. Maldita hora para receber notificações...
Não demorou para conferir o que era.

- Detritos. - leu em voz alta.

Não que ele ou Bulma tivessem um destino a ir tão cedo, mas agora que ele e Vegeta eram inimigos fugitivos do império seria mais sensato se manter longe das colônias e aliados fortes. Kakaroto não tinha pensado em um lugar específico, por enquanto só queria sair do quadrante próximo da capital e da central. Ainda assim, aquela chuva de meteoros o pegou desprevenido...

- Intensidade e velocidade.

As informações foram aparecendo na tela. Cerca de vinte à trinta meteoritos por hora durante a passagem da nave chegaria a atingi-los, mas não seria nada demais.

- Ativar escudo superficial.

E o comando foi acionado rapidamente. O rapaz queria evitar arranhões. Quem sabe o cuidado que estava tendo com a nave não resultaria em pelo menos um aperto de mão assim que Vegeta os abandonasse no primeiro pedaço de terra quando acordasse...


- Bom apetite. - o rapaz andou até a mesa de centro, com dois pratos e depositou um a frente de Bulma.
- Ah não... - ela olhou desanimada pra sopa verde. Aparentemente, o único alimento disponível em viagens espaciais. - Sério, ninguém nunca pensou em reclamar sobre a comida no sindicato interestelar?
- Não é bem uma escolha. - sentou-se de frente a ela - Viagens no espaço afetam o organismo. Soldados que viajam demais precisam de uma dieta balanceada pra se manter sem afetar seu desempenho. A sopa tem todas as proteínas e vitaminas necessárias para um dia e não deixa seu intestino desacostumado.
- Okay. Mas eles podiam melhorar o sabor. - a moça ergueu a colher, e deixou o líquido escorrer sobre o prato. Era bem aguado...
- Ah, tudo bem. Depois de um tempo você acaba se acostumando. - ele deu de ombros. - Sem contar que não desregula seu intestino. E acredite, diarreias espaciais não são muito confortáveis. - disse como se entendesse bem do assunto.

Um breve silencio estabeleceu-se.

- Ai saco. Não acredito que acabei de falar sobre merda com você.
- Nem eu. - e ela riu. Não demorou pra ele sorrir em negação também.

Trivialidades eram boas pra matar as horas, quase confortantes de certo modo. Ela sabia que havia tomado a decisão certa ao perdoar Kakaroto...

- Esses barulhos são realmente irritantes. - comentou pouco depois, se referindo aos meteoritos batendo na carcaça da nave.

Era parecido com uma chuva de granizo, só que infinita. Já fazia algumas horas que o som persistia.

- São apenas sons. Se ignorar vai parar de ouvir.
- Fica difícil ignorar ás coisas quando se tem um tirano atrás de você.
- Tecnicamente ele está atrás do Vegeta. Nós somos mais a escória.
- Bom ponto... - acenou pensativa.

Foi um jantar calmo no fim das contas.
Calmaria que infelizmente não se estenderia pelas próximas horas...



(...)

Era importante ressaltar o estado de Vegeta-sei.
Desde que o príncipe fora acusado de traição e condenado à morte, tudo começou a desalinhar. Os negócios do planeta despencaram, perderam aliados poderosos e agora eram mal vistos universo à fora. Podia-se dizer que estavam entrando em colapso aos poucos...
E toda a conjunção dos fatos era questionável aos olhos do rei. Ele levava em conta o que haviam conseguido conquistar, tanto em espécie quanto em território. Assim que tomaram o planeta Plant, em questão de décadas já eram um dos maiores impérios tendo um exército invejável. A aliança com Freeza só os expandiu no mercado... e agora estavam desmoronando na desgraça, repentinamente.
Era até como se estivessem amaldiçoados.

Mas o que o rei ainda não sabia era que aquela “maldição” não vinha exatamente de uma praga rogada. Na verdade era muito simples, o problema estava diante dos olhos de todos, e ainda assim ninguém parecia esperto o bastante para enxergar. Freeza havia plantado a discórdia, e até então, ela estava sendo cultivada com sucesso. Era trabalho de Nappa cuidar do resto... e era por isso que ele estava no planeta natal aquele dia, à companhia de Turles e Broly.

O pátio do castelo era público, logo, o comércio acontecia ali. De dia a movimentação era maior, o que explicava a infinidade de saiyajins. Os adultos pareciam ocupados em comprar e trabalhar, enquanto as crianças brincavam de luta nos campos abertos. Turles estava entediado, sentado sobre a fonte principal, atento ao redor.

- Queria entender porque Nappa trouxe a gente. Estamos sem fazer nada há meia hora. - aborreceu-se.
- Você talvez...

E Broly parecia mais focado em olhar para as mulheres. Fazia tanto tempo desde que havia tido a chance de se distrair da vida militar. Esse comentário fez o outro soldado rolar os olhos. Olhou em seguida para a estátua entre o centro da escadaria, que levava ao interior castelo. Uma réplica gigante de rei Vegeta, com Vegeta-sei sobre a palma de sua mão.

- Esse cara tem um ego enorme. - disse fazendo uma negação.

Mas já estava só, afinal, Broly tinha coisas mais interessantes para fazer do que ouvir os murmúrios do parceiro.


(…)

Um forte abalo jogou Kakaroto do sofá ao chão de repente, o despertando. Ergueu-se alarmado, assim que viu o painel de controle dando erro e piscando.

- Merda! - passou a subir ás escadas do loft correndo.

De longe pode ver o motor do escudo perfurado, soltando faíscas. Começou a digitar vários comandos no teclado, tentando descobrir o estado do campo de proteção. Logo Bulma estava acordada também, correndo escadaria acima.

- O que foi isso?! Fui arremessada da cama!

Haviam várias possibilidades, mas a rachadura no motor o fazia crer que só havia uma explicação sensata.

- Acho que alguém nos atingiu. Transmita a visão do lado de fora, de todos os ângulos.

A garota se pôs a mexer, tentando não ceder a pressão facilmente. Jogou a visão das câmeras no visor computadorizado e logo Kakaroto se mantinha atento a cada detalhe escuro do lado de fora, caçando algo do qual ela não fazia ideia...

- Ali. - tocou em um ponto da tela.

Ela estreitou os olhos, e enfim se deu conta de que não havia apenas escuridão a sua espreita. Era outra nave. Talvez um pouco menor que a de Vegeta, mas com arpões afiados.

- Eu sabia que tinha algo errado. Nenhum meteoro numa quilometragem dessas destruiria o motor desse jeito...
- Quem nos seguiria até aqui?!

Era uma boa questão. Kakaroto preferiu não tirar conclusões precipitadas antes de agir.

- Cace qualquer emblema.

Durante alguns segundos ambas espécies se puseram a tentar encontrar qualquer sinal de que não estavam lidando com a elite. Foi difícil com a quantidade de meteoros à frente. Kakaroto se viu sem escolhas e precisou desviar da rota por alguns segundos, e a nave continuou a segui-los.

- Na lateral! - Bulma aproximou a câmera, desfocada com a movimentação.

Kakaroto observou, concluindo depressa o que era. A formação de círculos vetoriais era inconfundível.

- Saqueadores. Provavelmente foram atraídos pelos meteoros. - e não demorou para a garota entender a linha de raciocínio.
- Vieram atrás de minérios... -engoliu em seco, arqueando as sobrancelhas. - … e nos acharam por acaso. O que imagino, ser muita sorte.
- Exato.

Sem que tivesse tempo de processar a conclusão, o arpão os atingiu por trás, causando outro solavanco e perfurando a carcaça. O gancho ficou fincado. Bulma gritou em meio ao nervosismo.

- Os desgraçados não vão nos deixar em paz até dar um jeito de parar a nave. Querem arrancar a porta de saída. - se irritou, enfim pegando o cursor de navegação. - Segure-se firme.

O saiyajin aumentou a velocidade , numa tentativa de partir a corrente que os interligava aos saqueadores. A azulada quase caiu para trás. Como esperado, o inimigo freou e isso fez com que as duas naves não fossem nem para frente e nem para trás, quase como numa competição de cabo de guerra. Depois ela continuou indo para a frente, presa.

- Está louco?! - a garota surtou por um instante. - Mesmo se o fundo rachar e afrouxar o gancho, nosso oxigênio vai vazar .
- Eu teria ficado mais tranquilo se tivesse começado essa frase com um “Na melhor das hipóteses.” - o rapaz continuou seguindo em frente, hora ou outra desviando de meteoros cada vez maiores.

O som de vigas entortando começaram a deixar Bulma afligida, sempre de olho nos saqueadores insistentes. Kakaroto pareceu notar.

-Você confia em mim, não confia? - a distraiu, tendo uma ideia arriscada em mente.
- Sinceramente... tem sido difícil agora. - fez uma negação, se agarrando ao banco.
- Então só me ouça. Tem um traje especial à sua esquerda. Vista. Vai ficar meio frio aqui...

Por mais que ela quisesse continuar agarrada ao banco, ela depositou suas últimas esperanças no rapaz e se locomoveu o mais rápido que pode até o armário do qual havia se referido. Lá dentro havia uma espécie de traje de borracha, meio largo e bem resistente. Quando o tecido entrou em contato com o formato de seu corpo, se modelou perfeitamente. Prendeu o capacete em seguida.

- Agora se prende nesse banco. - foi a última coisa que Kakaroto instruiu.

Foi só Bulma terminar de se prender que ele reduziu a velocidade de um segundo pro outro, quase matando os propulsores. Isso os fez serem puxados bruscamente para trás. A traseira colidiu com a frente dos saqueadores, a destruindo.

- É a nossa chance!

E ele puxou a alavanca das válvulas em um só puxão, acionando os propulsores a todo vapor e arrancando o gancho do arpão. A corrente foi partida, sendo levada espaço a fora com a falta de gravidade. Pena que não tiveram tempo de comemorar o bastante, afinal, o ar começou a ser sugado pelo espaço. Kakaroto colocou uma máscara de emergência, seguindo à dianteira.

- Eles estão se reparando automaticamente. - Bulma avisou, observando através das câmeras. - Precisa despistá-los.
- Segura!

E ele simplesmente saltou da cadeira, ativando o cursor do lado dela.

- O que?!

Era um ato impulsivo e homicida jogar uma nave em fuga nas mãos de uma menina que nunca havia viajado em espaço aberto. E sim, ele sabia que era loucura. Mas também não podia deixar todo o oxigênio vazando atrás de si. O gelo já começava a cobrir as laterais da porta aos poucos. Se não fosse rápido a friagem poderia corroer todo o metal e deixá-lo frágil como um pedaço de vidro... ou pior, ele poderia morrer.

- … tá bom. - Bulma segurou as pontas do volante, claramente nervosa, vendo que seu companheiro não voltaria para ajudá-la. - Deve ser como dirigir um carro. - e ela moveu a direção para a direita e a nave foi para a esquerda. - Okay - acenou. - Um carro inglês talvez.

Ouviu Kakaroto jogando a máquina de solda ao chão e empilhando uma quantidade significativa de metal.

- Só mais um pouco...

Disparos começaram a atingi-los. Os saqueadores tinham naves bem mais preparadas, aquilo ficou claro, o que dificultou ás coisas. O impacto acabava tirando a estabilidade da gravidade deles.
Bulma jogou a nave pro lado depois de um disparo muito próximo do propulsor lateral, desequilibrando Kakaroto.

- Você quase decepou minha mão! - o homem gritou indignado, com a máquina de solda ligada.
- Desculpe... - ela cerrou os olhos.

Com custo, o buraco começou a ser reparado pra valer. Mas o que mais deixava a terráquea preocupada era ver as notificações em vermelho do motor do escudo, que estava chegando a seu fim. Maldita hora para parar de funcionar...
Kakaroto começava a soldar a segunda placa, sentindo a ponta dos dedos ficarem dormentes. De qualquer forma, precisava ignorar o frio por enquanto.

- E lá se vai a câmera traseira... - sussurrou, quando as imagens dos inimigos atrás desapareceram. Agora ela teria de apostar na sorte.

Mas felizmente, Kakaroto havia feito um trabalho ligeiro.
Ele praticamente se jogou sobre o cursor e os colocou em hipervelocidade, enfim, despistando os saqueadores e se distanciando o suficiente. Foram tão rápidos que por um instante a moça até jurou que haviam passado por um buraco de minhoca.
Aos poucos, o saiyajin foi reduzindo a força dos propulsores restantes até alcançar a velocidade baixa, costumeira. Bulma ofegou, encostando-se sobre ás costas do banco e desprendendo-se.

- … Por que você não usou isso antes?! - fez questão de perguntar.
- E-estamos sem escudos. Se eu usasse a-aquela velocidade entre uma chuva de meteoros seria como se colocar em frente a um ti-tiroteio.

E só então ela se deu conta de que Kakaroto estava tremendo, pálido como um morto. A imagem dos fundos congelado a fez entender a situação depressa.

- Está muito frio... - averiguou ao tocar em sua testa. - Vou procurar alguma manta e preparar algo quente. Tente não fazer esforço por enquanto...
- N-não precisa falar duas vezes.

Bulma se ergueu levemente bamba. Ela ainda não fazia ideia de quando ia se acostumar com aquela vida perigosa. De qualquer forma, precisava manter-se equilibrada e impedir que o saiyajin mais jovem morresse de hipotermia.
E quando ela estava pronta para procurar algo que aquecesse o homem, finalmente se deu conta de que também havia água vazando por entre a fresta da porta da enfermaria. Correu até lá, e quando entrou, viu que o tubo do filtro estava desconectado e que Vegeta estava sem oxigênio há oito minutos.

- Cacete...

(…)

Kakaroto estava envolto em uma manta forrada, perto do forno bebendo sopa. Estava se sentindo melhor, apesar de ainda estar tendo calafrios. Bulma não estava muito longe, sentada de joelhos e com a expressão dura.

- Onde deixou ele? - perguntou.
- Na cabine. - ela suspirou. - Ele está vivo, está respirando... mas ainda está inconsciente. Eu o teria colocado de volta ao tanque imediatamente, mas a máquina precisa repor a água e não sei como reconfigurar o tubo do filtro. Tem uma codificação distinta...

Kakaroto acenou, dando mais um gole na sopa.

- Se está respirando significa que pelo menos não teve morte cerebral. - limpou o canto da boca. - Basta esperar algumas horas pra descobrir se ele vai acordar. Esse cara tem mesmo muita sorte...
- Se chama isso de sorte... - ela se escorou numa bancada, mais exausta do que nunca. - Acredite, essa é uma grande notícia se comparada ao estado da nave. Estamos sem escudos, perdemos oxigênio, os propulsores estão falhando... mal posso esperar para dar de frente com os próximos inimigos.
- Kakaroto! - ela o repreendeu. - Ele pode morrer. Não se sente mal?
- Ah, desculpe. Eu fico inconveniente e sarcástico quando fico diante de preocupações maiores... - zombou, fazendo uma negação.

Ele podia ao menos fingir que se importava, mas ela não o julgou. Ele só queria se livrar de problemas. Talvez fosse a coisa certa a se fazer...
E para Kakaroto, toda aquela proteção e zelo que Bulma andava tendo com o estado de Vegeta o deixava cheio de perguntas. Resolveu ser direto.

- Por que se importa tanto? - isso a fez abrir mais os olhos. - Ele desejou sua morte várias vezes... inclusive, chegou bem perto de realizar esse objetivo.

Ela sabia que ele tocaria naquele assunto. Ela não devia tê-lo dado detalhes sobre sua experiência de fuga com Vegeta. Realmente não queria tocar sobre naquele assunto tão cedo. E antes que ela dissesse um “a”, Kakaroto acabou sendo mais rápido.

- Essa não é uma daquelas atrações doentias né? - perguntou de sobrancelhas erguidas. - Porque se for... vocês humanos são muito estranhos.
- O que? Não! - negou depressa, achando a situação toda absurda. - Ainda não consigo explicar com palavras... mas não é nada disso.
- Hum... - soltou de maneira sugestiva, dando outro gole de sopa.

Ela enfim irou-se, cruzando os braços. No entanto, algo veio a mente.

- É uma sensação parecida como a que tive no dia da fuga, quando você apareceu.- cerrou os olhos, como se estivesse vivendo aquele dia de novo. - Uma mistura de medo e adrenalina... mas ao mesmo tempo simpatia.

Por um momento ela observou a luz do forno, que aquecia toda aquela área. Como se aquecesse suas lembranças também...

- Eu estava com tanto ódio de você... e ainda assim o deixei vir comigo. Porque apesar de tudo, eu sabia que você era só mais uma vítima da circunstância. Não podia culpá-lo por isso. - enquanto a conversa ia ficando profunda, Kakaroto não conseguia deixar de olhá-la. - O que estou sentindo por Vegeta agora é parecido com isso... mas tem algo a mais. E eu não consigo compreender esse “mais”.

O rapaz soltou o ar, ajeitando a manta.

- Okay, eu entendo partes. - disse depois. - Mas ainda acho Vegeta uma ameaça e dificilmente vou confiar nele. É evidente que se ele não estivesse por perto estaríamos mais seguros...

Ela olhou para baixo, mordendo o lábio. Era possível que ela estivesse enlouquecendo. O que era justificável, afinal, quem ficaria normal com uma rotina daquelas? Pelo menos, Kakaroto não era um bruto o tempo todo.

- Por outro lado, se te deixa mais aliviada, vou dar meu melhor pra deixá-lo recuperado. Satisfeita?

Ela acenou em gratidão, de fato, mais aliviada.

- E também porque quero olhar pra você no fim e dizer: “Eu avisei”, quando ele acordar e nos assassinar por termos destruído a nave.

No fim ela sorriu.

(…)

- Até que enfim. - Rei Vegeta falou, assim que ás portas da sala do trono foram abertas para a passagem de Nappa.

O corredor extenso de colunas que se seguia da porta até próximo do trono impedia a passagem da luz, dando um aspecto sombrio a sala. O lugar perfeito para cometer um assassinato a qualquer instante com alguém saltando das sombras e arrancando sua cabeça de repente, como já vira o rei fazendo em algumas ocasiões. Mas estava seguro quanto aquilo, por enquanto.

- A elite do império não nos deu muito sossego rei Vegeta. - se reverenciou.
- Imagino. - e o homem se ajeitou no trono, segurando seus braços de pedra com força. - Já tem notícias do meu filho?
-Circulam boatos de que foi visto em Kanassa, mas suponho que o senhor já esteja ciente disso.

O rei bufou. Então ainda não havia nada novo.

- A elite acredita que os soldados da galáxia estejam envolvidos nisso. Acharam os corpos de dois membros importantes perto das montanhas...
- Ouvi algo a respeito.
- Fica difícil entender o porque deles estarem envolvidos nisso. - Nappa comentou. - Mas minha teoria é de que príncipe Vegeta foi atrás deles. Bojack certamente não teria interesse na recompensa pela captura. Seria burrice dá-lo de bandeja assim.

O rei acenou, no entanto, com a mente distante.
Havia dias desde que uma ideia se fixara em sua cabeça. Uma ideia perigosa que poderia arriscar toda a reputação de seu planeta e manchar ainda mais seu nome. Mas apesar disso, ele estava perto de considerá-la. Quando deu por si, a voz já havia saído...

- Você sabe o quanto zelo pela reputação e crescimento deste lugar. Honro nossas tradições e enalteço nossa cultura sempre... - começou devagar, e Nappa arqueou a sobrancelha. - Meu filho é o exemplo personificado dessa cultura. Nasceu forte e cresceu perante essas tradições, tornando-se um dos guerreiros mais poderosos desde a infância. Acredito fielmente que seja o saiyajin mais próximo de ser o escolhido a encarnar um deus.
- Senhor...
- E sim, estou ciente de sua personalidade sádica. Já ouvi comentários sobre suas... táticas em batalha. - precisou pensar em uma palavra menos intensa que “crueldade”. - Mas eu o conheço...

Nappa ficava mais sério a cada palavra.

- Meu filho não seria burro o bastante de trair Freeza sem mais nem menos. Pode ser orgulhoso, narcisista... mas não impulsivo. Não é assim que ele age.
- O que o senhor está querendo dizer?
- Que tudo é uma falcatrua do império. - surpreendeu a Nappa com a linha de raciocínio. - Acho que estão querendo nos derrubar...

Não era comum para o rei pensar nas supostas conspirações ao seu redor. E apesar da surpresa, o saiyajin careca ficou satisfeito com o rumo dos acontecimentos.

- E por que está me dizendo isso rei Vegeta? Não serei de utilidade para o senhor agora.
- Será. - acenou com convicção. - Você comanda nossa elite. Vou precisar de provas que fortaleçam minhas dúvidas... e só assim terei motivos para tomar uma providência. - se virou para o soldado enfim, fazendo sua capa esvoaçar levemente para o lado. - Por hora, é sua obrigação me dizer tudo respeito dos planos da elite.

Não era bem um pedido. O saiyajin se curvou.

- Certo. Voltarei assim que puder meu rei.

Assim que Nappa pode dá-lo ás costas acabou sorrindo inconscientemente.
Aquela era só mais uma peça de um quebra-cabeça complexo que se seguiria dali pra frente...
(...)

O único objetivo de Kakaroto no momento era atravessar o quadrante e se infiltrar em colônias menores do império, para ficar livre de ataques surpresas a cada segundo. No entanto, o último ataque acabou adiando esses planos. O que explicava a ida deles a Freeza 448.

- Quais as chances de sermos detidos assim que pousarmos? - Bulma olhava a órbita do planeta.
- No nosso caso é difícil saber por quem: a elite ou os próprios habitantes.

Mais cedo o rapaz havia comentado que tal planeta sofria rebeliões constantemente. Havia uma verdadeira divisão de facções.
Eles teriam de achar um esconderijo muito bom para sua estadia. Aquele conserto já levaria o tempo que eles não tinham, então já haviam combinado que iam reparar somente ás coisas mais importantes por enquanto.

Bulma ficou admirada com a quantidade de formações rochosas por todo o planeta, acima de uma imensidão infinita de um oceano arroxeado. Também havia inúmeros pontos brilhantes entre todas aquelas montanhas, o que a fez crer que era a civilização. Era muito bonito de olhar...
E de repente, de horizontal, a nave começou a descer em vertical levemente. Havia um cânion profundo logo abaixo, do tipo que causava calafrios em quem tivesse medo de altura. A luz natural que invadia a frente do visor foi sumindo. Kakaroto pousou em uma encosta, enfim, achando o abrigo perfeito. Ela mal conseguia acreditar que estavam em terra firme...
Eles ficariam alguns dias por ali.

- Precisamos de um exaustor em bom estado, para o propulsor lateral. - Bulma ditava uma sequência de reposições, das quais o sistema da nave listara depois de uma análise. - Um gabinete e uma placa nova para o motor do escudo e uma reposição de oxigênio.
- Quero ver onde vou carregar tudo isso... - o rapaz resmungou, amarrando sua bota.
- Podemos começar pelo exaustor. - Bulma tentou ser mais prática. - Sei que vou tirar a tarefa de letra. E enquanto eu me concentrar no propulsor você pode reconfigurar o software do escudo. Pensamos no oxigênio depois...

Era sensato. Kakaroto acenou de acordo e se ergueu, agora, pronto para dar seu sermão. Bulma já rolou os olhos em deboche, como uma garota mimada.

- Não ouse sair desse buraco, sob hipótese nenhuma. Fique de olho aos redores em alerta com a aparição de estranhos, e principalmente... - apontou para a cabine. - Naquela homem. Ele provavelmente é a coisa mais perigosa por perto. Certifique-se de deixá-lo trancado.

Bulma ouviu tudo silenciosamente, no fundo irritada com o tamanho de desconfiança que Kakaroto depositava em si. É verdade que ela já cometera alguns erros, mas não era pra tanto. Mas o assunto sobre Vegeta a fez colocar um item a mais na lista de coisas que deviam adquirir.

- Não esqueça de trazer remédios fortes. Precisamos do tanque de qualquer forma. - e também, porque se Vegeta não acordasse, seria pra lá que ele iria...

O rapaz não disse nada. Abriu a porta e num voo solo atravessou o cânion.

- Atenção. - disse ainda, antes de sumir de sua vista.

Cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.


Depois de uma hora. Bulma estava sentada sobre a rampa de saída da nave, naquela encosta vazia e silenciosa de um cânion longo. Frestas da luz do Sol vazavam por entre as fendas do topo e iluminavam alguns pontos, dando um ar menos sombrio ao ambiente.
A gata malhada estava deitada de bruços, batendo as patas sobre a mão da garota, preguiçosa.

- Puff, ele está demorando muito... - reclamou, pensando alto.

A gata parou de brincar, erguendo-se e se esfregando ao redor da garota. Passou uma mão no bichano e olhou para trás de si automaticamente, como quem procurava qualquer coisa para fazer, mas não havia nada no interior da nave. Só tédio. Soprou a franja e se levantou num pulo enfim, afastando o animal.

- Bem... - colocou uma mão no queixo. -Que eu me lembre, não existe nenhuma restrição ao redor da nave. Acho que não tem nenhum problema em olhar para baixo um pouquinho... - sussurrou, como se fosse algo completamente inapropriado.

E a gata apenas a encarou. Geralmente suas ideias a colocavam em enrascada, mas tinha certeza que tudo ia dar daquela vez. Ia ser só uma espiada sobre um abismo tentador... nada demais.
Pegou uma pedra próxima, de olho em tanta escuridão. Quando estava perto o bastante da fenda, jogou o pedaço de rocha, atenta ao barulho. Demorou alguns segundos até que ela conseguisse ouvi-la espatifando. Soltou um “Uau”, realmente surpresa com aquele nível de profundidade. Um frio na barriga repentino tomou conta de seu corpo, e ela estranhou. Nunca teve medo de altura antes...

- É, acho que vamos estar seguros aqui. - concluiu. - Ninguém ia querer vir para um lugar assustador desses, certo Pixel?

É verdade que Bulma achou que seria melhor se a gata tivesse um nome. Ela mesmo sabia o quão ruim era não ter um nome...

- Não lembro de nada parecido assim na Terra.

Seus olhos se perderam sobre o abismo mais um pouco, ainda admirada com tanta fundura. Até parecia que chegava ao outro lado do planeta.
E cada vez mais que sua mente se distanciava da realidade e ela se perdia na escuridão lá embaixo, todos esses pensamentos foram interrompidos bruscamente quando alguém a empurrou em direção ao buraco. Foi como se todos os seus órgãos subissem para a boca...
Quando ela virou o rosto para trás, para descobrir quem havia provocado sua morte iminente, ela tinha quase certeza de que veria o rosto de Vegeta. Seguido de um: “Eu te disse”. Felizmente, ela estava enganada...

Foi puxada de volta para o chão, caindo sentada sobre a areia e os pedregulhos. Olhou para Kakaroto ofegante, com o coração a mil.

- Chama isso de atenção? - o rapaz a provocou, com uma sobrancelha erguida. Tudo o que ela conseguiu sentir após o pânico, foi um ódio profundo.
- Seu desgraçado! - jogou um punhado de pedrinhas sobre o homem, que desviou facilmente.
- Espero que sirva de lição. Agora venha me ajudar, temos muito a fazer. - se retirou, arregaçando as mangas de sua roupa Kanassana, entre os olhares de fúria da garota.

Era difícil admitir, mas Kakaroto tinha razão. Ela precisava estar mais ligada aos perigos aos redores dali pra frente. No entanto, Bulma preferiu juntar sua pouca dignidade e fingir que fora apenas um incidente do dia a dia.
Começou a arrumar o propulsor naquela mesma tarde...

(…)

A medida que os dias foram passando, a terráquea e o saiyajin acabaram montando uma rotina. Provavelmente para não ficarem parados o tempo todo depois de arrumar a nave. O conserto estava quase ao fim, finalmente. Kakaroto não podia estar mais contente com os resultados.
Por outro lado, Vegeta estava pronto para voltar ao tanque. Apesar de ainda não ter acordado, tudo indicava que seu corpo não havia sofrido nenhum dano permanente e que em breve despertaria. As novas medicações vieram bem a calhar...

E venturosamente, aquele breve teria seu fim logo.
Bulma e Kakaroto trocaram tarefas aquele dia: enquanto ele cuidaria dos restos de comida, ela deveria cuidar do “paciente”.
Era bem simples. Ela só devia programar o tanque para purificar a água usada e monitorar o processo enquanto o filtro – já arrumado - fazia todo o trabalho.
Recostou-se a bancada próxima do equipamento, observando todo o líquido sendo sugado pelos tubos do processador. Os cabelos de Vegeta abaixavam e ficavam desgrenhados de um jeito desleixado à medida que a água ia esvaindo. Acabou sorrindo sem acreditar. O monstro do qual tanto sentiu medo estava mais indefeso que Pixel, de um jeito quase inacreditável...
Cruzou os braços, olhando para baixo. Justamente naqueles dias, literalmente perto de um abismo, ela havia pensado muito sobre tudo e se sentia enfim mais relaxada.
Em tão pouco tempo sua vida virou de cabeça pra baixo. Tudo o que ela considerava importante sumiu de repente, e ela precisou aprender a viver sob uma perspectiva da qual ela jamais seria Bulma Briefs novamente. É verdade que o universo ainda era estranho aos seus olhos, mas precisaria aguentar firme. Claro, não significava que ela havia simplesmente cedido ao conformismo, mas sim, aprendido a lidar com ele.
Assim como Kakaroto lidava a vida toda e assim como Vegeta, que entendia perfeitamente o conceito de mudanças drásticas. Igual a ela...

- É. Acho que somos parecidos. - sussurrou por fim, mais consolada por ter chegado a seu resultado sobre ele.

E ela seguiria o ritmo da tarde, um pouco mais tranquila... Se Vegeta não tivesse abrido os olhos e quase a matado de susto. Quando deu por si já estava por cima da bancada, o olhando quase como uma assombração. A água do tanque começou a se esvaziar imediatamente. O apito de encerramento soou levemente, antes de elevar a porta de vidro. Vegeta olhou aos redores, atordoado...

- Ah meu Deus. Você está vivo? - a garota não conseguiu pensar em nada melhor para se dizer.

Ele só notou a presença da garota aí, o que refrescou sua memória. Tirou a máscara de oxigênio, puxando o ar por conta própria.

- … é claro. - - disse rouco.

Por um instante ela pensou em ajudá-lo, afinal seu corpo não ia estar acostumado com seu peso, no entanto, não demorou para que Kakaroto entrasse na enfermaria. O apito fora alto o suficiente. Vegeta o encarou de cima em baixo, recordando também da última vez em que esteve consciente perto dele. Se remexeu, incomodado com a gravidade.

- Quanto tempo fiquei assim? - passou a mão no rosto.
- Quase três semanas. - a resposta o deixou perplexo. Mas bem... agora era tarde demais para reclamar. Bufou e começou a arrancar os eletros do peito.
- … e o que aconteceu nesse tempo? - voltou a questionar.

Kakaroto e Bulma se entreolharam, e foi aí que o príncipe deserdado soube que tinha perdido muita coisa. Eles decidiram se explicar desde o início, o que só acabou deixando o saiyajin furioso com o rumo dos acontecimentos.
Aquela altura Vegeta já estava de pé, provavelmente se preparando para assassiná-los na primeira oportunidade. A visão de sua nave em um estado deplorável quase o fez considerar a ideia.

- Vocês são dois imbecis. - fez uma negação, indignado.
- Ei, demos um duro danado pra essa coisa voar de novo. Não despreze nosso esforço... - e foi a vez de Bulma se indignar, e de repente, sentir falta de quando ele ainda estava inconsciente. - Você ao menos faz ideia do quanto nós nos arriscamos só pra salvar a sua pele? Acredite, esteve perto da morte muitas vezes durante esses dias.

Por um instante ela viu um misto de hesitação e desconfiança nos olhos de Vegeta. Ele não podia negar que não havia recebido ajuda... e ela estava contanto muito com isso. Mas aquele hesitar passou rápido...

- Não me interessa. - cerrou a expressão. - Vocês tem menos de duas horas para se retirar, do contrário, acabo com vocês.

E ele simplesmente voltou para dentro, sem olhar para trás. Bulma tencionou o maxilar, vendo seu esforço indo por água a baixo...

- ...Eu avisei. - e Kakaroto disse ao seu lado.


Com Vegeta nunca havia muito diálogo.
A azulada colocava Pixel mais uma vez na gaiola, soltando uma boa quantidade de ar dos pulmões. Por mais que simpatizasse com Vegeta, ele era um cretino e isso era uma pena. Kakaroto se concentrava mais em pegar suprimentos para a viagem. Precisava economizar em prismas, ainda mais com a quantidade que havia gastado para o conserto. Desde o início a nave não era deles, então não fazia sentido ele cobrar por aquilo... teria sido mais esperto arrumar outra.

- O de sempre? - Bulma perguntou baixo.
- Se com isso quer se referir a camuflagem, sim.

Vegeta estava sentado sobre o a cadeira em frente ao cursor, de olho no nada. Para falar a verdade, com mil questionamentos na cabeça...
Aqueles idiotas só o atrapalhavam. Eram como uma sarna irritante. Mas seria hipocrisia de sua parte dizer que não eram de nenhuma utilidade... juntos, eles já haviam se livrado de situações extremas. Bufou.
Kakaroto jogou uma mochila nas costas, parando de frente a rampa de saída com Bulma.

- Acho que é isso.

A garota olhou atrás de si, e percebeu que Vegeta não mudaria de ideia. Talvez estivesse enganada a seu respeito...

- Vamos.

Kakaroto não soube o por quê, mas decidiu prolongar aquela despedida. Pela primeira vez, indignado.

- Quer saber uma coisa Vegeta? Você é um cuzão. - Bulma ergueu uma sobrancelha quando ele começou a falar. - Nós tínhamos vários motivos pra deixá-lo pra trás em Kanassa, e agora você está aqui, há milhares de quilômetros do seu tumulo. - bufou. - Você é um ingrato. Não me surpreende saber que foi traído. Parece que é um dom seu afastar todos que se importam de verdade...

O silêncio foi sepulcral. O rapaz cerrou as sobrancelhas e se virou pronto pra sair, satisfeito por ter dito o que estava preso em sua garganta. Bulma apertou a gaiola, prestes a acompanhar os passos do companheiro... e a rampa começou a fechar repentinamente, os prendendo lá dentro. Pararam, e enfim, voltaram os olhos sobre o loft.
Vegeta estava descendo as escadas com os braços para trás, fitando-os minuciosamente. Só parou de andar quando estava perto o bastante, vendo suas expressões repletas de interrogações. E finalmente, sentindo-se estúpido por estar prestes a tomar a decisão que mudaria toda a sua vida dali pra frente.
Não havia mais motivos para desconfiar tanto daquelas figuras... não depois de ter passado três semanas inconsciente com eles.

- Regra número um: estão sob minhas ordens. Regra número dois: A decisão final sempre será a minha.

Os dois seres continuavam a observá-lo sem fazer comentários, ainda processando o que estava dizendo.

- E regra número três...

Olhou diretamente para Kakaroto, se locomovendo até ele. Sem que o rapaz esperasse, levou um soco forte no alto do estômago, salivando e caindo de joelhos.

- É melhor nunca mais me tratar com tanta insolência de novo.

Quando ele voltou a subir ás escadas, Bulma ainda estava confusa com os novos acontecimentos, sem saber o que fazer à seguir. O que durou pouco tempo, afinal Vegeta voltou a falar.

- Estão esperando o que pra limpar essa bagunça? Quero zarpar ainda hoje.

E ás coisas fizeram sentido.
Eles definitivamente eram uma equipe. Sorriu para Kakaroto, que continuava agonizando e rangendo os dentes.

- Ele ainda vai nos matar... - reclamou, sem ceder.
- Talvez... mas não agora.

Pixel foi solta. Dessa vez, sem pressa para ser presa de novo.
A jornada enfim começava...

 


Notas Finais


YEEEAY! Até que enfim eles estão juntos pra valer.
Eu gostei muito de escrever esse capítulo, quando dei por mim já tinha escrito mais de 20 páginas. É aquele tipo de capítulo que reflete mais em sensações do que diálogos e ação.
Espero que tenham gostado, e me desculpem qualquer erro passado despercebido. Eu sempre me empolgo na hora de postar e deixo algumas coisas passarem.

Se tiver alguma opinião ou dúvida sobre os novos acontecimentos, deixe nos comentários. Eu sempre estou respondendo.
Beijos e bom fim de semana <3


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