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História An Extraordinary Love - Um Caminho sem Volta


Escrita por: Jules_Lucena

Notas do Autor


Muito boa noite, suas lindas e lindos!

Estou passando (Mari), apenas para agradecer a cada um que me desejou melhoras! Já estou aqui, firme e forte!
A gente enverga, mas não quebra! :)

Desejamos uma leitura deliciosa a todos vocês!

Capítulo 18 - Um Caminho sem Volta


Na tela do computador, o cursor piscava no topo de uma página em branco, aberta no intuito de que um artigo tomasse vida, porém, lá estava ele... prestes a ser iniciado há mais de uma hora.

Sobre a mesa de centro da pequena sala do loft, um prato com um croissant quase inteiro repousava ao lado de uma caneca de café gelado, evidenciando que tal refeição mal havia sido degustada.

No quarto, os lençóis em perfeito caos em cima da cama, denunciavam o palco de um sono conturbado ou que talvez nem mesmo tenha existido. Ela não poderia realmente saber.

Por fim, a penumbra da pouca luz do dia que passava pelas frestas das cortinas por todo o lugar, completava aquele cenário de agonia e de uma latente angústia, definindo com exata perfeição o estado de espírito daquela mulher. Cos estava deitada no chão sobre o pequeno tapete; o olhar vagava perdido, contemplando o vazio. O silêncio daquele ambiente nada tinha a ver com a ensurdecedora confusão que compunha seus pensamentos e sentimentos. Ela não conseguia calá-los.

Já fazia algum – muito - tempo que Cosima se via tentando compreender tudo que havia vivido nessa última semana... Todos os eventos inusitados, as emoções desconhecidas e muito perturbadoras, seu destempero e todo aquele impetuoso caos, atingindo o seu ápice na noite anterior, potencializado por tudo que a presença dela desencadeava.

Estava perdendo o senso de realidade? A noção de quem era? Não conseguia atribuir nenhuma lógica ao que experimentara, não por uma, mas por duas vezes na noite anterior. Aquilo não podia ter acontecido, mas aconteceu... Ela sentiu. Repassava todo o ocorrido desde o momento em que seus olhos encontraram os olhos de sua Professora ainda na boate, até o inexplicável – e surreal -  orgasmo vivido em seu banheiro.

Cos suspirou com força, fechando os olhos com evidente frustração pela milésima vez, desde o momento em que se deu conta do aconteceu em seu box.

“Você só pode estar enlouquecendo, Niehaus!”

Mas, então, como explicar a inconcebível certeza de ter estado com ela? De ter sido acolhida em seus firmes braços? Tocada por sua suave pele? Beijada por sua deliciosa boca? Hipnotizada pela doçura de sua voz?

Como explicar, ter e não ter estado com alguém ao mesmo tempo?

Foi real demais! Porém, impossível na mesma proporção.

Cosima cruzou os braços, fechando no peito o seu casaco marrom tão adorado, tentando se abraçar, se proporcionar algum conforto e segurança, buscando alguma lógica em meio a total desordem que a dominava e a corroía por dentro. Inconscientemente, se apertava e se abraçava com ainda mais força, na tentativa de constatar que ela era real, que ela estava mesmo ali, em seu apartamento.

A muito que já havia assumido para si mesma a intensa – e um tanto enlouquecedora - atração sexual que sentia por sua orientadora, entoando como um poderoso mantra que, apesar das implicações éticas e de todo o contexto que as cercava, aquele tipo de situação ou de um possível envolvimento não era nada demais, não merecendo aquela agonia desmedida. Porém, a cada instante e cada novo momento em que pensava sobre seus sentimentos, assustava-se ainda mais com suas conclusões, tentando afastá-las de sua cabeça a todo custo, porém, sem muito sucesso.

Considerava-se uma pessoa racional e com inteligência acima da média para se deixar levar por devaneios apaixonados e impossíveis, então, como explicar a maneira surreal como se sentia sempre que estava na presença de Delphine? Ou pior, como explicar essa vontade quase insuportável de estar com ela?

Ainda assim, o que a estava assustando assombrosamente, era o fato de ter a clareza e total certeza em sentir Delphine não apenas diante dela, mas dentro dela, como se ela mergulhasse nas profundezas de seu íntimo e ocupasse cada mínimo pedacinho, desnudando-a por inteiro.

Ela estava em todo lugar... Cosima a sentia por sob a pele, por trás dos olhos, implícita em suas palavras, bagunçando e enlouquecendo seus pensamentos, sua cabeça... Mas, não era só isso. Tão veloz quanto um feixe de luz que percorre a galáxia, Cosima também havia mergulhado no íntimo de Delphine, mesmo que tenha sido por uma única fração de segundo... Mas, esteve lá... Esteve nela, dentro dela! E não conseguia se lembrar de jamais ter vivenciado nada, nem de longe, semelhante àquela conexão estabelecida ali, entre elas. Não era capaz de se lembrar de ter sentido nada minimamente parecido com a sensação de tocá-la daquela forma, tão profundamente.

O som abafado do vibrar de seu celular a incomodou mais uma vez. Era a terceira vez que sua namorada ligava e, pela terceira vez, fora deliberadamente ignorada. Cosima não tinha a menor vontade de falar com ela e sentia raiva de si mesma por aquilo, porém, simplesmente não conseguia evitar.

“Shay não merece nada disso!” Repetia mentalmente e de forma incansável, sempre que via o nome dela piscar na tela. Mas, Shay era última pessoa na face da Terra com quem Cosima queria ou precisava conversar naquele momento. Recriminava-se por isso, já que ela deveria ser a pessoa com quem iria dividir suas agonias e preocupações, porém, como falar para ela que o seu bom senso vinha sendo violentamente assombrado por outra mulher? E não... Não qualquer mulher! Era ela...! ‘’Droga!’

Sentiu uma vontade quase incontrolável de saber se aquela completa loucura também a havia afetado. Queria confrontá-la e inquiri-la sobre o que aquilo tudo significava; precisava urgentemente de alguma explicação e precisava urgentemente de algo que fizesse um mínimo de sentido. Precisava urgentemente, enlouquecidamente e desesperadamente dela.

Sentou-se exasperada, sem saber se cruzava ou esticava as penas, balançando-as de forma frenética, quase como uma criança emburrada quando não consegue aquilo que quer.  – Inferno...!  - Balbuciou, baixou demais para ter certeza de que havia de fato falado alguma coisa. Detestava se sentir assim.

Num salto, se pôs de pé e recomeçou a andar – freneticamente - pelo pequeno espaço de sua sala, tentando se controlar, tentando imprimir algum sentido naquela insanidade, porém, falhava miseravelmente toda maldita vez que fechava os olhos e via a imagem do rosto molhado de Delphine, bem diante dela, impossivelmente lindo e de tirar o fôlego, lhe causando arrepios que pareciam alcançar sua alma, acelerando seu coração e descompassando seus batimentos. ‘’Respira, Niehaus... Respira.’’

Como se ainda fosse preciso mais, lembrar que passaria a vê-la com demasiada frequência nos próximos dias só aumentava ainda mais o estranho desconforto e provocava uma absurda ansiedade.

Queria e não queria estar com ela!

Ansiava e temia a si mesma na presença dela!

Porém, acima de tudo, necessitava desesperadamente estar com ela!

 

*****

 

- Você já está começando a me dar nos nervos, Delphine! Pelo amor de Ártemis, sente-se! – Helena praticamente suplicava diante de uma Delphine inquieta e estranhamente perturbada. A visão de sua chefe daquele jeito, claramente atordoada e agitada, verdadeiramente a assustou, já que ninguém, nem mesmo o ordinário do Lamartine, conseguia desconcertar ou abalar o autocontrole de sua amiga daquela forma. Todavia, parecia que alguém não apenas tinha achado, mas também, atingindo o limite de Delphine Cormier. Será que haviam conseguido alcançar o topo daquela fortaleza? Ou pior... Perfurá-la?

Completamente atenta aos movimentos da Grande Mestra da poderosa Ordem do Labrys, Helena sentiu um estranho pesar em seu íntimo. Assistia à inquietação de Delphine com um receio antes nunca sentido e, mediante a essa nova e nada confortável sensação, constatou que a urgência em descobrir mais e absolutamente tudo sobre Cosima, havia aumentando exponencialmente.

Pensou em ligar para Stella Gibson, porém, as poucas horas que haviam transcorrido desde a última ligação que fizera, lhe diziam que sua comparsa não possuía nenhuma nova informação para ela, ainda mais por se tratar de um domingo. Então, decidiu concentrar sua resignação e focar em Delphine, que continuava a perambular com um olhar distante, balbuciando frases inaudíveis e palavras soltas, desconexas. Helena se questionava o que possivelmente teria acontecido na noite anterior para que Delphine agisse daquela forma. Que diabo tinha acontecido?

Os seguranças da boate e a própria Adele haviam relatado o ocorrido, fazendo com que Helena sentisse uma impetuosa raiva de si mesma por não ter insistido mais em acompanha-la, ou até mesmo, ter ido escondida, afinal de contas, aquela era a sua função. Não, sua missão de vida. Proteger Delphine era razão pela qual Helena respirava, e assim seria até a última batida de seu coração.

- Del... – O tom de voz era baixo, porém, convicto. - Você não vai mesmo me contar o que aconteceu ontem à noite? – Indagou com firmeza. A loira a encarou intensamente e, naquele olhar um tanto quanto perdido, Helena detectou um traço de dúvida.

Delphine não conseguia raciocinar com a devida clareza e até mesmo, evitava pensar nas implicações da experiência que havia vivenciado com Cosima, inclusive, não desejando verbaliza-la, exatamente pela vã tentativa de não lhe atribuir força. Entretanto, ela sabia que todo aquele silencio não passava de um desesperado esforço para se enganar, uma vez que tinha a total consciência de que aquela poderosa conexão entre elas havia se iniciado e se estabelecido, irreversivelmente. Tinha plena clareza daquilo, mas percebeu que a sua orientanda não e, naquele momento, foi inevitável não pensar nela, no quão perdida e confusa ela deveria estar, para não falar terrivelmente assustada e pior... Delphine tinha uma cristalina ciência de que estava se colocando numa posição de completa vulnerabilidade, uma posição que a muito não ocupava. Sabia com sufocante certeza que, se de fato Cosima tivesse sido enviada por Lamartine, seria muito difícil – impossível - de suportar. A mera menção à essa possibilidade fez seu estômago embrulhar... não podia ser possível.

Sabia que precisava reerguer suas defesas, conjurar os bloqueios e remontar a armadura que a protegia, impedindo que aquele poder que Cosima parecia ter sobre ela provocasse um grande estrago... um gigantesco e irreversível estrago. Ainda assim, por mais que evitasse pensar no que aquela conexão e o quão vulnerável ficava em relação a ela realmente poderia significar, aquela ideia já havia sido tatuada dentro dela. Helena a arrancou do transe.

- Outra coisa, Delphine... pelo que me foi relatado, você se expôs demais. Estava em público! – O tom de voz era carregado de uma repreensão, explicitamente misturada com uma nítida preocupação.

- Eu sei, Helena! Eu sei! –  Del finalmente falou, jogando-se em seu sofá, visivelmente exasperada. – Porém, foi mais forte do que eu... - Confusão era a principal nuance que imperava em seu semblante. – Quando eu vi aqueles homens agarrando-a... Tratando-a daquele jeito, eu... Eu... perdi a noção!  – Bufou, gesticulando debilmente com a voz já adquirindo um tom mais baixo.

– E... Quando eu vi o que aqueles imundos tinham em mente para ela eu fiquei cega, Helena! Simplesmente e totalmente cega... – Finalmente confessou, com a raiva pulsando entre dentes. – Precisei de todo o meu autocontrole para não acabar com aqueles dois ali mesmo. – Helena a encarava bastante apreensiva. A medida que os dias se passavam, ela via sua amiga cada vez mais vulnerável e exposta diante dessa nova mulher. Cosima apareceu na vida de Delphine e a virou de cabeça para baixo. ‘’Será que...’’  Foi inevitável pensar no que aquilo poderia realmente significar.

Lembrou-se de toda a história que ouvira sobre a Ordem e o obscuro passado de Delphine.

“Ela a espera a tempo demais...” “Ninguém jamais poderá imaginar o que Delphine passou e continua passando, Helena!” As palavras de Siobhan reverberavam em sua mente, levando-a a se questionar se toda a loucura que estava acontecendo na vida de sua amiga, não seria o início do fim de toda aquela história. A segurança a encarou ainda mais profundamente... Não sabia exatamente o que pensar daquela possibilidade.

- O que vai fazer? – Helena indagou à Delphine, que tinha o celular em mãos e o encarava, pensativa. – Você não... Não vai ligar para ela, não é? - Delphine repousou os olhos e respirou profundamente, um segundo antes de voltar a encará-la.

- Se eu disser que é a única coisa que eu quero nesse momento, você me daria um soco bem no meio da cara? – Riu com leveza e alguma coisa mais... Pesar, talvez. Helena deixou um meio sorriso escapar.

- Vontade não me falta e eu certamente tentaria, mesmo sabendo que eu só conseguiria se você permitisse. – Reconheceu sua “inferioridade” diante daquela poderosa mulher, que outrora sempre lhe pareceu inatingível, porém, nos últimos dias, fraquejava e se perdia.

Delphine contemplava o nome de Cosima na tela do celular. Alternava o seu foco entre o aparelho em mãos e a mulher a sua frente. ‘’Inferno!’’ O que ela deveria fazer? Repousou os olhos com cautela, na esperança de que um vislumbre de clareza irrompesse em sua mente. Em meio a toda a tormenta que acontecia dentro dela, a única certeza que possuía era a de que precisava estar com ela... Precisa estar ao lado de Cosima.

 

******

 

O característico som de uma vídeo-chamada trouxe Cosima de volta à realidade, fazendo-a sentar-se diante da tela, encarando o nome que piscava ali. Cogitou se estaria em condições de atender aquela ligação, mas, sabia que precisava externar aquilo com alguém e, com toda a certeza do mundo, a pessoa do outro lado da tela poderia ajuda-la nisso. Pelo menos, assim ela pensava. Respirou fundo e aceitou a chamada.

- Hey Cos, sua linda! Como você está? – A alegre saudação de Amanita proporcionou a ela um caloroso alento.

- Saudades de você, Cos! Sentimos muito a sua falta. – Nomi também a cumprimentou, estava logo ao lado de sua companheira.

- Gente, vocês não sabem como é bom ver vocês... É maravilhoso ver um rosto amigo! – Cos falou, agradecendo-as e estampando um doce e sincero sorriso, mas que não fora suficiente para camuflar seu atual estado de espírito.

- Cos...? O que está havendo? O que você tem? –  Amanita franziu o cenho e seu tom de voz havia mudado. Cosima desviou o olhar da câmera, olhando para os lados e para o teto, suspirando de maneira pesada e visivelmente frustrada. Ajeitou-se em seu sofá já quase se deitando, colocando o computador sobre o colo. Nomi e Amanita se entreolharam um segundo antes da morena continuar. – E nem pense em dizer que não é nada, está ouvindo?  Eu lhe conheço melhor do que você mesma. – Alertou, resoluta e decidida.

E era verdade! Se conheciam desde a época de colégio, quando ainda eram crianças. A amizade entre elas foi praticamente instantânea e Cosima ousava dizer que Amanita era realmente a pessoa que melhor a conhecia, sendo sua confidente para absolutamente todas as horas e momentos... Entretanto, pela primeira vez, não sabia se seria capaz de desabafar aquela loucura toda com a amiga, e isso não se devia à presença de Nomi ali, pelo contrário. Cos a havia adorado desde que a conheceu há alguns anos atrás, quando tiveram um breve e intenso envolvimento, porém, acabando em amizade mesmo. Uma sincera e cúmplice amizade.

Seu receio era mais pelo teor altamente impossível daquilo que estava passando, vivenciando, experimentando. Era tudo surreal demais e, nem ela mesma conseguia verbalizar nada daquilo, muito menos seria capaz contar para outra pessoa. Ainda assim, sabia que precisava fazê-lo, sentia que sufocaria se não externasse àquela insanidade.

- Ei... a Shay está preocupada com você... – Amanita falou, deixando que a preocupação quase transbordasse em seu olhar.

MERDA! Cosima realmente não estava nem um pouco a fim de falar sobre ela naquele momento. Não seria nem justo.

- Ela disse que não consegue falar com você desde ontem a tarde e que já te ligou algumas vezes... - Amanita foi diminuindo o tom de voz assim percebeu a visível mudança no semblante de Cos.

 – O que foi que você aprontou, dona Cosima? – Soltou, aproximando-se da tela na tentativa de vê-la mais de perto, analisando as reações da amiga. Cosima só conseguiu bufar, levando as mãos à testa e esfregando-as freneticamente; depois, gesticulando-as no ar, abrindo e fechando a boca sem conseguir articular uma única frase sequer. – Estou esperando!

- Nita, eu... Eu... Ai, merda.. Eu tô muito fodida! – Deixou os braços caírem violentamente sobre sua barriga. – E não no sentido interessante da coisa! – Tentou brincar com a desgraça que era aquilo tudo. Amanita, sua melhor amiga e a conhecendo como ninguém, sabia que não adiantava pressioná-la. Cosima não funcionava daquele jeito e, eventualmente, ela sempre acabava contando tudo.

- Meninas, se vocês quiserem, eu posso deixá-las a sós. – Nomi se prontificou, querendo facilitar a vida de uma angustiada Cosima.

- Não precisa, Nomi. – Cos rapidamente emendou. – Sei que Nita lhe contaria tudo de qualquer jeito. – A amiga assentiu com a cabeça, esboçando um meio sorriso. – E eu preciso de toda a possível ajuda que minhas amigas possam me dar! – Nomi a encarou com doçura, devolvendo-lhe um sorriso acolhedor.

- Estamos aqui por você, Cos... Sempre! – Amanita afirmou com ternura, apenas para ratificar o que Cosima já sabia. Cos estava realmente grata pela presença virtual das amigas naquele momento, já que, assim que permitiu que sua mente se concentrasse naquela maluquice toda, sentiu o nó em sua garganta subir rapidamente, apertando-a.

- Eu... Eu acho que estou enlouquecendo! –  Cos falou rapidamente. Nomi e Amanita se entreolharam, porém, aguardaram que a amiga prosseguisse. – Perdendo completamente o juízo, a noção... Tudo! – Tampou o rosto com as mãos, apertando os olhos.

- E, quem é ela? – A morena perguntou pausadamente, mas, resoluta. Cosima arregalou os olhos, encarando-a de baixo para cima e fingindo um exagerado ultraje. Ela era tão obvia assim?

- Eu... ér... Okay, vamos logo com isso. O nome dela é Delphine... – Estremeceu ao mencionar o nome. - É francesa e tem o cabelo mais incrivelmente maravilhoso que alguém possa ter! O corpo mais absurdo e insanamente sexy e rosto? Foi simplesmente esculpido pelas Deusas! Uma voz e um cheiro que simplesmente destroem o meu raciocínio e a mente mais insuportavelmente brilhante que vocês possam imaginar! – Vomitou todas as palavras em enxurrada, com os olhos fechados e suspirando pesadamente.

- Puta que pariu, Niehaus! Você tá apaixonada por essa mulher?! – Amanita muito mais afirmava do que de fato, perguntava. Cos não foi capaz de responder.

- Hey... Espera um pouco...! Essa Delphine não é a sua orientadora? – Assustou-se Nomi, olhando para sua namorada que também estava completamente boquiaberta. Cos fechou os olhos com força diante do insight da amiga.

- Está na vibe das mulheres mais velhas agora, amiga? – Amanita brincou divertidamente na tentativa de descontrair o peso daquela revelação, porém, cessou as brincadeiras no mesmo instante, vendo que Cosima não havia entrado nela.

- Não! O pior é que não, Nita! Se muito, ela deve ser uns 4 anos a mais velha que eu, acredita? – Suspirou desgostosa.

- Nossa, sério?! Então, ela deve ser algum tipo de gênio, com certeza! – Constatou a loira. A voz era um misto de assombro e expectativa. - Qual é mesmo o sobrenome dela?

- Cormier... – Cosima soltou num tom de reverência.

“Delphine Marie Cormier, professora PhD em Antropologia e História e em mais três áreas relacionadas, referência mundial nos estudos de abordagem de gênero...blá, blá, blá...” Nomi lia em seu computador o que havia acabado de pesquisar sobre ela. “...Ganhadora de três Prêmios Kludge... Consultora da ONU Mulher... e...PUTA QUE PARIU, COSIMA!” Soltou no susto.

- Que mulher é essa, amiga? – Amanita comentou visivelmente abalada, soltando um alto assovio assim viu uma foto de Delphine, indicada por Nomi. A loira virou a tela de seu computador em direção à Cos, que logo reconheceu a imagem mostrada pela amiga. Era a mesma que a havia feito alucinar há alguns dias atrás.

– Tem certeza de que essa é a sua orientadora? A mesma que deveria ser uma senhorinha velha e rabugenta, visto a vastidão de títulos e prêmios? – Nomi surpreendeu-se.

- Exatamente! Eu também mal acreditei quando a vi...  E vocês não tem dimensão de como ela é pessoalmente. Eu... – Cos apertou os olhos, inspirando com força. – Eu não consigo definir com palavras... A latente e escancarada sensualidade... O magnetismo absurdo e quase sufocante... É quase como se ela... se fizesse presente em absolutamente todos os sentidos... – Cosima mexeu nos cabelos, perturbada por verbalizar, mesmo que de jeito simples, a maneira como sua orientadora a afetava. - Ela ocupa todos os espaços, atrai todas as atenções e literalmente, fode com a minha cabeça! – Bufou, revirando os olhos!

- Só fode com a sua cabeça mesmo? – Amanita brincou, perdendo a noção do perigo! – Ai! - Protestou após ganhar uma cotovelada de sua namorada. Ambas riram, porém, novamente aquele clima não atingiu Cosima. – Cos... ? - Assumiu um tom mais sério.

- Oi? NÃO, né?! Pelo amor, gente! – Respondeu de súbito, fechando a cara!

- Hum... menos mal, né?? Afinal, a senhorita tem namorada e... – Amanita lembrava aquele fato.

- Se bem que... – Cosima riu timidamente, interrompendo o raciocínio da amiga.

- Se bem que O QUE, Cosima Niehaus? – A morena falou em tom de ameaça, aproximando-se ainda mais da tela do computador.

- Nada! Esquece! – Cos falou, empurrando o computador para o lado e se levantando apressadamente, como se quisesse fugir dos olhares inquisidores de suas amigas.

- Volte aqui, mocinha! Hey, Cos! – Ambas a chamaram, entretanto, Cosima voltou a andar de um lado para o outro, ansiosa e um tanto descontrolada! Foi até a cozinha e bebeu um pouco de água, porém, não era aquele tipo de sede que sentia. Da mesinha de centro, as amigas viam pelo monitor a angustia que Cosima emanava. Amanita sabia que Cos tinha algo importante e sério para compartilhar, já que a agonia que fluía dela era impressionantemente palpável, quase dando para ser sentida do outro lado da tela.

- Vocês vão me achar louca! – Respirou fundo, levando uma das mãos à testa. – Mas... – Nova hesitação. – Ontem eu tive o melhor orgasmo de toda a minha vida com ela, só que... ELA NÃO ESTAVA AQUI! – Soltou o final apressadamente, já se abaixando e quase escondendo-se por trás do sofá, ficando apenas com os olhos aparecendo enquanto encarava suas amigas, que a olhavam com olhares confusos e um tanto desconfiados.

- Tá...! Me deixa ver se eu entendi. – Nita falou. – Você está nos dizendo que tem se masturbado pensando em sua orientadora? – Indagou, tentando segurar o riso – É só isso, Cos? – Não se conteve, liberando a gargalhada.

- AHHHH! – Cos gritou, já se pondo novamente de pé! – Vocês não entendem! Que merda!

- Cos, não tem nada demais nisso. – Nomi usou seu melhor tom tranquilizador. – Embora não seja lá muito legal você se tocar pensando em outra que não a sua namorada, mas... Ainda assim, não é grande coisa, certo? Certamente é só uma forte atração e um compreensível fascínio... Afinal de contas, estamos falando de uma Deusa. – Reconheceu a loira, sendo a vez dessa receber uma cotovelada de ciúmes. Olhou para Amanita fingindo ultraje e, logo depois, deu um leve beijo na bochecha dela para fazer as pazes. Cos revirou os olhos.

- Gente! Vocês não entendem. Eu mesma não entendo! Sei que parece loucura, mas.. foi real demais... intenso e delicioso demais! – Suspirou com nítida frustração.

– Eu juro pra vocês que eu a senti bem aqui! Ela estava comigo...  Sei que é maluco e absurdo, mas eu a SENTI de verdade, em mim... Ela estava dentro de mim, completamente onipresente, em todos os sentidos possíveis e imagináveis. – Tentava explicar enquanto gesticulava violentamente com as mãos.

– Ela estava literalmente dentro da minha cabeça, falando comigo, me provocando, me enlouquecendo... Puta que pariu! – As palavras saiam feito uma poderosa avalanche! Na boca, o gosto amargo da loucura que era aquilo tudo. - ... Sabe o que é pior? – Perguntou de forma retórica, nem esperando as amigas incrédulas e chocadas responderem. – Eu estava ... Era como se eu também estivesse dentro dela. Como se... se... Eu pudesse sentir o que ela sentia, exatamente tudo que ela sentia... Senti-la dessa forma me deixou em transe! Louca, hipnotizada... AHHH, INFERNO! – Voltou a praguejar contra o nada, desiludida e totalmente aborrecida.

A loira e a morena encaravam a amiga, estarrecidas e inteiramente boquiabertas com aquele relato, trocando olhares confusos e preocupados. O que Cosima estava querendo dizer com aquilo tudo? Ela ainda andava de um lado para o outro, em polvorosa com aquela loucura.

- Humm.. Na verdade, eu já li algo sobre isso. Sobre pessoas que conseguem estabelecer uma conexão tão intensa que, mesmo sem estarem no mesmo ambiente, sentem como se estivessem.... Se visualizam, se tocam, coisas assim. – Rebateu Nomi, pensativa e reflexiva.  – Embora, eu nunca tenho visto nada a respeito de transar por telepatia! – Brincou, incapaz de se conter.

- Cos! Você realmente tá na merda, muuuito na merda! – Constatou a linda e exótica morena.

- Muito obrigada, Nita! Estou me sentindo ótima depois da sua brilhante constatação! – Ironizou, revirado os olhos e fazendo a amiga rir. – Essa mulher não sai da minha cabeça, dos meus pensamentos.... Ela não sai de dentro de mim. – Infinitos segundos se passaram e a atmosfera do lugar se modificou, como se todo o ambiente fosse impactado com o real significado daquelas palavras. Cos tomou coragem e prosseguiu.

- Tenho ignorado as ligações da Shay porque eu não sei o que dizer a ela. – Indicou o celular que segurava em uma das mãos e que mostrava quatro ligações perdidas. - Isso seria uma traição? – Perguntou apenas para verbalizar a autêntica dúvida, não querendo a resposta, de fato. – Eu... Eu realmente sei que não deveria, mas, eu não consigo evitar... penso em Delphine a porra do tempo todo! E essa vontade louca de estar com ela? E ao mesmo tempo, um estranho medo de estar na presença dela...! – Cosima seguia com as comportas abertas, confessando quase que para ela mesmo, tudo que a atormentava, externando a angústia que a consumia.

– É uma droga! A sensação que eu tenho é como se eu precisasse dela para me sentir inte...- A vibração de seu celular a sobressaltou e, assim que encarou o visor, sentiu sua cabeça girar e quase explodir quando constatou quem é que estava ligando. Contornou o sofá, sentando-se diante do computador e virando o aparelho para que suas amigas enxergassem o nome que piscava na tela do celular.

- Caralho, Cosima! Vocês estão mesmo conectadas. – Sobressaltou-se uma estarrecida Amanita.

- Você não vai atender? – Nomi questionou após a quarta vibração do aparelho. Cosima alternava seu olhar do celular em mãos para a imagem das amigas totalmente incrédulas. Não conseguia ter o discernimento nem a clareza do pensar, sentindo o turbilhão dos mais inexplicáveis sentimentos dominarem-na por completo. Quando tomou coragem para atender a ligação, o aparelho parou de tocar. Olhou para as amigas com os olhos arregalados e, antes mesmo que pudesse voltar a raciocinar com alguma lógica e bom senso, já estava retornando a ligação. Ao contrário da inércia dela, a ligação foi atendida ao primeiro toque.

- Alô, Cos... Srta Niehaus! – Cosima sentiu-se derreter, se arrepiando com a iminência de seu nome quase pronunciado pela voz dela... A mais hipnotizante e deliciosa voz que já ouviu em toda a sua existência. Perdida naquele devaneio, não foi capaz de responder à saudação de sua orientadora. – Estou a atrapalhando em algo? – Estranhou o traço de ansiedade evidente no tom dela, porém, estava tão atordoada que continuava petrificada, totalmente boquiaberta enquanto encarava as amigas, que já aparentavam estar aflitas.

- Fala alguma coisa!

- Responde, mulher!

Disseram simultaneamente e um pouco mais alto do que deveriam!

Delphine engoliu em seco, não entendendo a reação de seu corpo. - Hum... vejo que têm companhia, falo com você outra hor...

- NÃO! – Cos a interrompeu bruscamente, assustando-se consigo mesma e fazendo suas amigas rirem de seu escancarado nervosismo. – Ér... Estou numa vídeo-chamada com umas amigas da Califórnia. – Fez uma careta para as duas, que continuavam rindo com a inusitada situação.

- Não quero atrapalhá-la... é.. – Del pigarreou! O que estava acontecendo? - Até porque, não era nada de urgente. – Uma estranha pausa de fez, porém, Delphine precisava continuar. – Eu... Na verdade, liguei apenas para saber se você estava bem, após o desagradável infortúnio de ontem, em minha boate. – Aos poucos, Cosima percebeu a segurança sendo retomada na imponente -  e sedutora - voz de sua professora.

- É... Acho que estou bem, sim! – Respondeu com voz ainda trêmula. – Foi um susto e tanto, mas tudo terminou bem. ‘’Graças a você, inclusive.’’ –  Cos ainda era assistida pelas amigas, que a observavam atentas, transbordando expectativa.

- Fico feliz que esteja bem e lamento muitíssimo que esse tipo de coisa tenha acontecido em meu estabelecimento. – Delphine era resoluta e solene. – Não posso desfazer todo o constrangimento pelo qual a Senhorita passou, mas, se serve de consolo, tomei as devidas medidas para evitar que situações como aquela voltem a acontecer.

Um breve silêncio se estabeleceu entre elas até o momento desconcertante em que as duas, ao mesmo tempo, tentaram por três vezes seguidas retomar a conversa, provocando as estrondosas gargalhadas de Nomi e Amanita, fazendo Cosima revirar os olhos e obrigando-a despedir-se silenciosamente delas, fechando a tela do notebook.

Nenhuma das duas pareciam ter a coragem de abordar qualquer outro assunto ou acontecimento da noite anterior.

 

******

 

Do outro lado da linha, Delphine também tinha público para aquela ligação. Helena a encarava com dureza e reprovação nos escuros olhos castanhos. Aquela repreensão tola já começa a irritar Delphine - profundamente.

- Pode continuar, Srta. Niehaus. – Enfim, pôs ordem naquela ligação enquanto se dirigia para a grande janela da sala de seu apartamento, oferecendo às costas à uma Helena colérica e exasperada.

- Eu realmente não sei de onde aqueles homens saíram, nem mesmo o porquê cismaram comigo. – Comentou inocentemente, demonstrando uma autêntica confusão em relação à grotesca atitude dos dois idiotas.

“Talvez, por que você estivesse fodidamente linda e insanamente sexy ontem à noite, Senhorita Niehaus ” Delphine sorriu com o insolente pensamento.

- Infelizmente, o machismo ainda é uma realidade latente. Existem homens que se acham no direito sobre qualquer mulher, independente das circunstâncias. – Continuou.

- Isso é extremamente irritante e igualmente ridículo! Como se precisássemos da companhia deles para nos divertirmos ou para sermos valorizadas. – Cosima prosseguia totalmente engajada. - Graças as Deusas, eu prefiro às mulheres! – Delphine riu, deliciando-se com a afirmação de sua orientanda. Sobressaltou-se brevemente com a intensidade com que a porta de seu apartamento havia sido fechada, virando-se apenas para constatar que Helena havia saído e, pela força desferida, tinha embora nada satisfeita. Del revirou os olhos e deu de ombros, voltando toda a atenção para ela.

- De fato, Senhorita Niehaus...  – Delphine baixou e acentuou o tom de voz propositalmente ao dizer o nome dela. - As mulheres são o nosso prazer e a nossa perdição. – Concluiu um tanto despretensiosa, embora intimamente, estivesse obviamente falando de sua aluna, sentindo-se queimar por dentro com o riso levemente envergonhado dela.

- De toda forma eu... Eu sinto que ainda não a agradeci como deveria... – Cosima temia o rumo que aquela conversa poderia tomar, mas, ainda assim, sabia que aquele era um caminho que, uma vez adentrado, não teria mais volta. Ela precisava tentar.  - ... Por você ter literalmente se materializado e me resgatado, então, muitíssimo obrigada... Delphine.

Delphine fechou os olhos e entreabriu os lábios, extasiada com o som daquela voz pronunciando seu nome daquele jeito. A sensação era simplesmente inexplicável e indescritível.

Decida a ir mais além, lá estava Cosima, perigosamente rompendo aquela barreira de formalidade, ultrapassando a mera relação ‘’Professor-Aluno’’, ansiando por alguma concreta intimidade entre elas.

O silêncio dela não parecia ser um bom sinal. “Será que fui longe demais!?” “É cedo demais para isso!? Que merda, Niehaus! Por que você é tão id...”

- Você não precisa me agradecer... Cosima. – Cos havia esquecido de que era preciso respirar, estremecendo ao ouvir seu nome fluir pelos lábios dela. O sorriso que dançava em seu rosto era absolutamente fascinante, provocado pela reciprocidade daquela mulher inigualável.

Sim, aquele limite fora definitivamente derrubado por elas. 

Estavam mergulhando juntas, num caminho ansiado e completamente sem volta.



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