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História An Extraordinary Love - Amor Maldito


Escrita por: Jules_Lucena

Notas do Autor


Boa noite a tod@s.
Antes de tudo eu gostaria de começar me desculpando pelo sumiço e o não retorno aos comentários maravilhosos que vocês deixaram no ultimo capítulo. Minha semana foi bem atribulada e por muito pouco eu não iria conseguir postar o capítulo dessa semana. Mas, cá estou eu, nos minutos finais postando. E isso nos leva ao segundo pedido de desculpas, que é sobre o tamanho desse capítulo. Está um pouco menor que os anteriores, mas espero que dentro do mesmo nível. Isso me leva a pedir mais desculpas por possíveis erros que tenham passado, tive pouquíssimo tempo para as correções. Portanto, peço que me deem esse retorno que dessa vez irei responder todos!

Uma ótima leitura.
Xeros

Capítulo 50 - Amor Maldito


Nem as mais delirantes das ideias ou a mais mirabolante das mentes conseguiria projetar aquilo que Delphine parecia lhe sugerir. A cabeça de Cosima latejava deixando-a atordoada com o que estava cogitando em sua mente.

- Cosima... – A loura se aproximava dela, mas algo a impelia para trás, como se uma força invisível às afastassem. E deixou-se dominar pela negação que lhe obrigava a buscar socorro em sua tão costumeira razão.

Sabia e sentia que havia ido muito além do que jamais havia ido, se permitindo aceitar o que toda aquela situação lhe sugeria e inclusive estava pronta para aceitar a sua condição. A de que partilhava algo muito forte e intimo com alguém do passado. Alguém que viveu há mais de trezentos. Um outro alguém completamente diferente dela e ao mesmo tempo com tanta coisa em comum. E não poderia recriminar-se por isso, pois tudo o que vivenciou ao logo dos últimos meses só corroboravam aquela absurda, mas cada vez mais possível realidade.

Contudo, o que Delphine estava insinuando era loucura demais, até mesmo mediante tudo de sobre-humano que estava experimentando. Era demais para a sua cabeça que estava envolta num verdadeiro caos.

- Isso é impossível... – Repetiu pela terceira vez sentindo uma crescente vontade de correr, fugir e tentar situar suas ideias. Continuou a caminhar para trás, sentindo o ar entrar em seus pulmões com dificuldade, enquanto uma crescente pressão pulsava em suas têmporas. O suor gelado que escorria por suas costas não poderia jamais ter a ver com a temperatura, uma vez que essa ainda trazia os últimos ventos do inverno. Somado a todo esse mal-estar, suas pernas começaram a lhe trair e num passo mais longo para trás topou em uma pedra que havia ali lhe roubando o equilíbrio.

- COSIMA! – O desespero na voz estridente de Delphine foi a ultima coisa que a morena percebeu antes de mergulhar na mais profunda das escuridões.

 

 ______

 

As chamas vivas encandeavam seus olhos, forçando-a a usar as mãos para tentar tapar aquela luminosidade e que pudesse enxergar melhor e tentasse compreender onde estava e o que acontecia ali.

Um ambiente caótico e angustiante lhe fazia experimentar um sofrimento nunca antes vivenciado em sua pouca existência. Procurou caminhar, desviando das pessoas que pareciam se acotovelar em um misto de êxtase e terror. Aos poucos os sons estridentes de vozes em euforia começaram a chegar aos ouvidos dela e então esforçou-se para ver melhor. Deu pequenos saltos, mas a sua baixa estatura não lhe ajudava muito. Preferiu insistir em forçar a passagem era como se as pessoas não percebessem ou nem estivessem lhe vendo, atingiu a primeira fileira daquela multidão.

Levou ambas as mãos ao rosto, tapando a boca e o nariz mediante da horrenda cena que estava servindo de espetáculo para uma pequena multidão. O cheiro de carne queimada lhe embrulhava o estômago e o grito de pura agonia, lhe arrancavam lágrimas de compaixão e ira.

Ela estava diante de uma vibrante fogueira cujo calor ela não conseguia sentir. Olhou estarrecida para todas as pessoas ali e caminhou em direção ao centro daquela praça. Precisava desesperadamente saber o que acontecia ali e quando postou-se bem a frente da fogueira a viu. Uma jovem mulher ruiva agonizava em meio às chamas que consumia a pele dela, ceifando fragmentos de vida a cada lambida de fogo.

- Parem com isso! – Ela gritou com todas as forças de seu diminuto corpo e correu desajeitadamente, parando de frente a um grupo de homens que vestiam roupas iguais. Longas túnicas negras e marrons com capuzes pontudos e máscaras que lembravam animais. Eram verdadeiras imagens assustadoras, e que lançaram uma mensagem aterradora para seu coração. Aproximou-se e começou a tentar chamar a atenção deles, mas também pareciam não perceber a presença dela ali, levando-a a desistir daquela ideia e tentar ajudar a moça de alguma maneira.

Tentou várias vezes se aproximar do fogo, mas o calor era tremendo e a claridade lhe doía os olhos, mesmo assim não desistiu. Avistou uma fonte de água onde alguns cavalos bebiam e foi até lá. Olhou por todos os lados, mas  na busca por algum recipiente que pudesse armazenar alguma água, mesmo que não fosso o suficiente, mas ela sabia que precisava tentar. Precisava fazer algo. Avistou cestos de madeira e palha que guardavam tecidos e palha. Esvaziou dois deles, mas não tinha a força necessária para levar ambos ao mesmo tempo.

Com extrema dificuldade, agarrou-se com o menor dos cestos que mal continham a água que escorria pelas frestas e lhe encharcava todo o vestido. Chegou o mais perto suportável do fogo e lançou poucas gotas que nem se quer chegaram às chamas, sendo evaporadas muito antes. Novos gritos de agonia lhe doíam o juízo.

- Aguente firme! – Ela gritou desesperada, levando ambas as mãos a cabeça. Foi então que ouviu aquela voz assustadora, que era estranha e familiar ao mesmo tempo.

- Tragam-na! – Ela procurou o dono daquele som horrendo e viu um dos homens retirar sua máscara e expor sua face extremamente clara e de cabelos vermelhos, muito parecidos com o da mulher que agonizava em meio às chamas.

Quando ela pensou que aquele caos não poderia piorar, ela ouviu a mais pura definição de desespero e ira. Um gutural grito, que trazia misturados nele dor, pavor e ódio. Contudo, o que mais lhe chamou a atenção foi o fato daquela voz lhe ser tão conhecida.

- Delphine... – Sussurrou estarrecida. Procurou por ela, mas as pessoas se amontoavam em sua frente, atrapalhando sua visão. Conseguiu apenas ter um vislumbre dos cabelos loiros se sobressaindo no topo das cabeças de quem estava ali. Novamente esforçou-se e quando finalmente a viu, teve a certeza de que era ela mesma, e sentiu-se dilacerar por dentro. Novamente a ouviu em puro desespero assim que parou diante dela.

- COSIMA! – A surpresa ao ouvir aquele nome lhe atingiu, fazendo sua cabeça girar muito rápido e todo o cenário onde estava mudou radicalmente. O que parecia ser um tempo muito antigo, deu lugar a um movimentado pavilhão diante de uma escadaria que dava acesso a um prédio moderno onde muitas pessoas iam e vinham.

A ouviu novamente!

- COSIMA! NÃO! – Subiu as escadas apressadamente, tropeçando e engatinhando, como se se movesse em câmera lenta. E a medida que vencia cada degrau, a atmosfera daquele ambiente mudava. A luz do sol se tornava opaca, como se um véu vermelho coral o cobrisse e assim que chegou ao topo da escada viu a cena que conseguiu lhe apavorar ainda mais que a anterior, da mulher em chamas. Pois estava diante daquela que conhecia tão pouco e a quem já amava.

Ajoelhou-se ao lado dela e com suas pequenas mãos lhe tocou a face gelada e fitou os belos olhos verdes já sem vida sob as lentes de vidro.

As vozes começaram a parece cada vez mais distantes, e como se seu corpo fosse erguido do chão ela foi se afastando daquela cena e antes de abandonar aquele lugar, conseguiu ver o que acabara de acontecer.

Sua amada Delphine estava debruçada sobre o corpo de Cosima em meio a uma grande poça de sangue.

- Cosima morreu... – Sussurou e esse sussurro foi adquirindo cada vez mais poder, convertendo-se num assustador grito.

- COSIMA MORREU! – Gritou mais uma vez assim que pareceu despertar do mais terrível dos pesadelos. Focou seus olhos e sentiu seu corpo ser chacoalhado, e a imagem desfocada da mulher sobre si foi se firmando permitindo que fosse reconhecida.

- Manu? – Siobhan a balançou um pouco na tentativa de despertá-la de um perturbador pesadelo. – Acorde criança. – Acariciou o rosto da pequena menina e percebeu que ele estava coberto de suor e ela estava com a pele bem mais quente do que deveria. – Vamos Manu, acorde!

- Sra S... – Ela desse cocegando os olhos. – O que... Onde estou? – Assustou-se. – A Cosima! Delphine! – O tom de desespero em sua infantil voz alertou Siobhan.

- O que foi criança? Me diga o que você sonhou. – Demandou. Embora esse não fosse o tratamento mais comum a se ter com uma criança que despertara de um pesadelo, S sabia muito bem que aquela menina não era nada comum e que aquele não havia sido um simples pesadelo.

- A Cosima Sra S... Ela... – Lágrimas alcançaram os redondos olhos azuis. – Vai morrer e a Delphine vai sofrer! – Jogou-se nos braços da mulher, abafando os soluços contra o peito dela. Siobhan e apertou gentilmente, mas estranhou a forma relaxada que o corpinho de Manu adquiriu e quando e afastou de seu peito, percebeu que a criança não estava mais acordada, porém também não dormia. Havia desmaiado.

- Pelas deusas! Manu?! – Desesperou-se como poucas vezes em sua vida. - Preciso falar com a Delphine!

 

______

 

Cosima abriu os olhos com dificuldade mediante a sensação pesada que lhe obrigava a permanecer deitada e lhe dizia que o melhor era permanecer ali mesmo, deitada, com os olhos fechados, buscando exilio em si mesma. Mas sabia que não poderia se esconder por muito tempo da loucura na qual a sua vida estava se tornando. Abriu novamente os olhos e dessa vez insistiu e forçou a visão. A luz controlada do ambiente lhe dizia que não estava mais ao ar livre e um cheiro característico incomodou seu olfato.

Olhou ao seu redor e percebeu que não estava mais no quarto de Delphine, nem tão pouco no castelo, porém reconhecia aquele lugar, pois já estivera ali antes.

- Finalmente acordou! – Uma conhecida voz chamou sua atenção.

- Sra. Cormier? – Cosima esforçou-se para se sentar, mas foi impedida por Genevieve.

- Calma minha querida. Você precisa repousar, pois bateu a cabeça de jeito dessa vez. – A mulher a informou, o que fez com que Cosima levasse a mão até a testa que estava com um pequeno, mas significativo curativo, além de bastante dolorido.

- O que aconteceu comigo? E... – Varreu o quarto com os olhos. – Onde está a Delphine. – Exasperou-se e tentou novamente se sentar e dessa vez Genevieve não conseguiu mais contê-la.

- Ela não está aqui. – Foi a resposta lacônica que recebeu. Pensou em dar uma resposta malcriada devido ao seu humor complicado daquele momento, mas respirou fundo e insistiu.

- E onde ela está?

- Aconteceu uma emergência da Ordem. – Nova resposta vaga, contudo dessa vez a angustia voltou a se instalar em seu coração. – Sra. Cormier, por favor, poderias ser mais específica? – Quase bufou e fez uma careta devido ao latejar de sua cabeça.

- Siobhan ligou para ela ha algumas horas informando que... – A mulher ponderou até onde deveria prosseguir naquela informação, pois ela mesma não sabia muito, uma vez que Delphine estava bastante consternada e apreensiva, mas optou por não falar muita coisa. Esse é o jeito dela. – A menina Manu está muito doente. – Disse com pesar.

- Manu? O que ela tem? – Foi açoitada por uma preocupação muito maior do que poderia imaginar. Havia simpatizado com a criança de imediato e sabia que a pequena é muito importante para Delphine.

- Ainda não sei ao certo, mas a Siobhan disse que a menina teve uma convulsão e parece estar em coma. – Genevieve foi direta ao compartilhar o que sabia.

- E... Delphine foi para a Dublin, certo? – Perguntou o que já presumia.

- Sim... Mas não sem relutar muito. – A mulher tentou justificar a ausência incomoda da sua Mestra. – Ela ficou muito preocupada com você Cosima e ficou bastante chateada com a ideia de deixa-la aqui no hospital, mas só o fez porque eu garanti que não sairia de perto de você e a manteria informada sobre o seu estado. Inclusive devo ligar para ela contado que já acordaste.

Cosima pensou em responder algo, mas calou-se. Sabia que não deveria sentir-se daquela forma, mas era mais forte do que ela. Estava realmente chateada com o fato de Delphine não estar ali para continuarem aquela esdruxula conversa que estava caminhando para o inimaginável.

Assistiu Genevieve insistir na ligação, e apenas na terceira tentativa ela obteve sucesso.

- Alô, Delphine! Sem problemas... Sim, Cosima acabou de acordar... Os resultados dos exames dela não mostraram nada preocupante... – A morena observava atenta a conversa e começava a se incomodar com o fato de Delphine não pedir para falar com ela. – Apenas levou alguns pontos no corte na testa. – Uma cada vez mais impaciente Cosima acenou para Genevieve e gesticulou que queria falar com ela. A mulher aparentou bastante desconforto com aquela situação. – E a criança? – Levantou uma mão indicando que a outra aguardasse. – Certo... Podes me enviar os exames que repasso para o nosso Pediatra... – Cosima estava sendo realmente ignorada. – Tudo bem, ficarei no aguardo e... Delphine, por favor, não nos deixe sem notícias. Até mais minha filha. – Desligou o aparelho.

- Genevieve!? Eu queria ter falado com ela! – Havia um incomum tom de raiva e até desrespeito na voz dela.

- Bom Cosima... – A mulher recolheu a pasta com os resultados dos exames dela. – Você precisa repousar por essa noite e se alimentar devidamente. – Vais passar a noite aqui apenas para observação e amanhã poderás ir para casa. – A mulher mais velha fez questão de ignorar o tom de cobrança e olhar incrédulo de sua paciente. – E tens visitas. – Abriu a porta e deixou Marc entrar. – Os deixarei a sós, com licença. – E saiu, deixando para trás uma boquiaberta Cosima.

- Cos... Você está melhor menina? Qual o seu problema com a gravidade? – Tentou brincar para suavizar o clima, pois sabia que algo muito ruim estava acontecendo. - Cosima? – Insistiu em chamar a atenção da amiga.

- Oi Marc... – Respondeu com um filete de voz, não sendo feliz em esconder seu estado emocional. O rapaz assustou-se com o que via no rosto da mulher recostada na cama.

- O que senhora tem com hospitais hein? – Forçou mais um pouco, contudo não obteve o resultado desejado, pois não recebeu nem um olhar de Cosima, que fitava as mãos, totalmente cabisbaixa. - Cos? – Sentou-se na beirada da cama. Assim que sentiu a proximidade do amigo, desabou num choro doído e sofrido. O homem a recebeu num abraço apertado e decidiu respeitar o tempo da amiga, deixando-a extravasar o que quer que a estivesse machucando.

Cosima não teve pressa alguma, apenas precisava colocar para fora aquele nó que estava comprimindo seu peito. Uma terrível sensação se instalara dentro dela contrastando com a felicidade que vivera nos últimos dias ao lado de Delphine e lendo o diário de Melanie. Voltou a pensar nas conclusões que ousou ter com aquela leitura, nos caminhos tortuosos que traziam um incomodo sentido, mesmo parecendo tudo absurdo demais e indo contra tudo o que acreditava. Eram teorias tão absurdas que nem se quer tinha coragem de externa-las verbalmente.

Ali, no abraço acolhedor do amigo, se permitiu sofrer com a confusão em sua mente e com uma terrível sensação de que estava prestes a sofrer ainda mais. E tudo isso foi potencializado pelo fato de Delphine não estar ali de aparentemente não querer falar com ela ao telefone. Estaria fugindo? A evitando? Imediatamente se repreendeu daqueles pensamentos. Certamente Delphine deveria estar bastante sobrecarregada com ela e a pequena Manu sendo hospitalizadas ao mesmo tempo e no caso da menina, parecia ser bem mais sério que o seu.

Pensou na criança doce, encantadora e peculiar que conhecera e que cativou seu coração instantaneamente. Lembrou do delicado desenho que ela fez para ela e também de tudo o que a menina lhe disse e lhe mostrou. Tudo isso só dava subsídios às mais inexplicáveis conclusões que vinha tendo. Porém, aquela que dilacerou com toda a razão e lógica e que a levaram aquele hospital era demais. Até mesmo para o mundo místico da Ordem do Labrys.

Em seu íntimo desejava fortemente em reencontrar Delphine e que essa lhe disse que tudo não passava de uma confusão da sua fértil imaginação. Agarrou-se a essa ideia como a um salva-vidas em meio a um vasto oceano e procurou se recompor um pouco.

- Obrigada por estar aqui meu amigo. – Conseguiu dizer enquanto se afastava um pouco.

- Obrigado nada... A srta me deve algumas explicações. – A mulher o encarou com receio, mordendo o lábio inferior.

 - Se eu lhe disser que estou mais perdida do que nunca? – Não era exatamente uma mentira.

- Bom, alguém precisa se achar, pois desde que o Louis surtou parece que tudo desmoronou. – Iniciou – Ele está trancado em sua casa, não atende telefone ou deixa ninguém entrar. No velório da Reitora Duncan você saiu como se estivesse fugindo de algo e agora isso – Abriu os braços indicando o quarto de hospital.

- Meu amigo... – Hesitou por alguns instantes assim que algo passou por sua mente. Louis, alguém muito próximo a ela e a Delphine se mostrou sendo um tipo de traidor e espião e isso levantava dúvidas sobre qualquer pessoa próxima a elas, inclusive o próprio homem diante de si. Decidiu ser cautelosa. – Tudo o que eu posso lhe dizer é que... é melhor não saberes o que está acontecendo. Acredite em mim, a ignorância pode ser doce. – Sorriu sem vontade. Ele franziu a testa e abriu a boca algumas vezes para protestar, mas apequenas perguntou.

- E onde está a Professora Cormier?

 

______

 

O repetido som do bipe do pequeno coração de Manu pulsando ditava o ritmo de seus pensamentos. Parada de pé ao lado da cama, Delphine estava em plena confusão. Os olhos perdidos e a expressão pesada compunham o seu estado.

- Os médicos não tem ideia do que ela tem. – S parou ao lado dela e acariciou o bracinho de Manu. Delphine olhou aquele carinho e depois encarou S após um longo suspiro. Mordeu o lábio com certa força e em seguida fechou os olhos. Sabia em seu intimo que Siobhan estava incomodada demais e que aquilo não tinha só a ver com a condição de Manu. Afastou-se e caminhou pelo quarto do hospital, parando diante da janela.

- Vamos Siobhan... O que é? – Disse de uma vez só, virando e sentando-se no batente da janela. A mulher mais velha ficou visivelmente tensa e enfiou ambas as mãos no bolso do casaco que vestia. – Alguma coisa deixou a menina desse jeito e ambas sabemos que foi por isso que você exigiu a minha presença aqui.

- Ela teve um sonho... – Não teve a coragem de encara-la, o que alertou Delphine. Jamais havia visto Siobhan Sadler titubear diante dela. Era a única pessoa que parecia não ter medo ou se deixar intimidar por ela.

- Um sonho levou Manu ao coma? – Questionou, já temendo o que estava por vir.

- Você sabe o que ela é não é mesmo? – Manteve-se de costas, agora afagando o rosto da menina que permanecia misteriosamente desacordada.

Delphine, de alguma forma antevia que sua presença ali tinha a ver com a singular habilidade da pequena Manu de prever o futuro e se Siobhan exigiu a presença dela ali mesmo sabendo que estava num momento crucial ao lado de Cosima, não deveria ser algo simples e sentiu um calafrio descer por suas costas. Inevitavelmente lembrou-se de sua avó Celeste, que também era uma pitonisa e teve a terrível previsão de sua própria morte e, por mais que Emanuelle tivesse feito de tudo para impedir o destino de sua vó, ele se cumpriu da pior maneira imaginável. Levou ambas as mãos a testa e sacudiu os cachos.

- O que ela viu Siobhan? – Foi direto ao ponto, pois só poderia ser algo assim, uma vez que sabia o quão desgastante era a manifestação daquele temível dom. S baixou a cabeça e respirou com denotada apreensão, pois ela sabia que o que contaria a Delphine iria abalá-la de uma forma que nem mesmo ela poderia prever nem antever qual seria a reação de sua Mestra. Virou-se e caminhou até ela, sentindo uma dificuldade nunca antes experimentada por ela e então decidiu deixar sua mente aberta, desejou em seu intimo que sua Mestra e amiga lê-se em sua mente o que ela não queria, mas precisava dizer-lhe, contudo sabia que Delphine lhe prometera que jamais faria aquilo com ela. Nunca desejou tanto que uma promessa fosse quebrada. Suspirou mais uma vez.

- Foi em um sonho... – Iniciou sua fala explicando o que ambas sabiam ser o ritual da pequena pitonisa de manifestar seu dom. – Ela... Disse que viu a Cosima... – A loura arregalou os olhos ao ouvir o que já presumia, mas que desejava estar enganada... – Que a Cosima... – A voz de Siobhan começou a embargar e sua expressão de derrota lançou a mensagem mais assustadora que Delphine poderia imaginar.

- Não! – A Mestra negou com um movimento de cabeça e completamente consternada e desesperada. Afastou Siobhan e foi até a cama da menina debruçando-se sobre ela em plena agonia. Segurou-lhe o rostinho entre as mãos e encostou sua testa na dela, cerrando os olhos.

“Vamos Manu... Me mostra o que você viu!” Tentou estabelecer aquela conexão que também possuía com a criança, mas não obteve resposta, tudo o que via era uma escuridão densa e profunda. “Por favor Manu!” Suplicou em silêncio e como se alguém acionasse um interruptor de luz em um quarto escuro, um clarão alaranjado incandesceu sua mente e como se fosse uma enxurrada de visões, vislumbrou tudo.

O poder das visões da pequena menina atingiram Delphine e trouxeram a tona sensações que ela se esforçara para esquecer e estremeceu por completa, sentindo como se suas forças lhe estivessem sendo drenadas e viajou há centenas de anos no passado, ao pior momento de sua vida e sentiu o amargo gosto da dor mais dilacerante que provou. Ficou estarrecida em ver aquela cena na mente daquela criança que tinha como ter acesso aquilo e percebeu que o poder parecia ser imensurável. Temeu! Contudo, o que mais lhe afligiu não foi a visão do pior dia que vivera, mas o vislumbre do certamente poderia ser o pior momento que ainda iria viver. A morte de sua amada alma gêmea! A morte de Cosima.

“Delphine?” A vozinha da menina chegou a sua mente.

- Delphine, é você? – Dessa vez ela verbalizou com palavras, trazendo a mulher de volta. Abriu seus olhos e assim que afastou um pouco seu rosto se deparou com os grandes e redondos olhos azuis lhe observando. – Você tá chorando? – A mulher possuía uma expressão de dor e de tristeza, não se esforçando em nada para esconder o tomento que vivia. Acabara de ver o seu maior medo se concretizando e, por mais que desejasse se iludir e achar que o destino poderia ser mudado, sabia o quão certeiras eram aquelas visões, pois conviveu com ultima grande Pitonisa da Ordem. Não conseguia dizer nada, apenas foi dando vazão a dor que comprimia seu peito e transbordava em lágrimas cada vez mais copiosas. – Me desculpe Del! – A pequena esforçou-se e a abraçou, puxando-a contra si.

A mulher soluçava derrotada diante da iminência de sua pior dor. Aquela já tão conhecida e que quase lhe custou a sua vida e agora estava prestes a passar por aquele inferno novamente.

- Delphine... Por favor! – Siobhan tocou seus ombros, tentando reconforta-la de alguma forma, mas sabia que não havia muito que poderia fazer, até porque também estava extremamente comovida pelo estado de sua amiga. – Precisas se acalmar! – Sentou-se e recostou sua testa nas costas dela.

- Sra S, o que foi que eu fiz para a Delphine ficar assim? – A vozinha da pequena Manu se fez ouvir em meio ás lágrimas da mulher sobre si.

- Você não fez nada Manu. – Não foi Siobhan que respondeu. A loura forçou o um pouco e tentou se recompor.

- Mas você tá chorando! Desculpa Del... Eu não devia ter sonhado com isso. – Deu leves tapadas na própria cabeça.

- Ei ei... Pare com isso! – Delphine a impediu de continuar. – Você pode ter salvo a vida da Cosima. – A menina franziu a testa e olhou para Siobhan que tinha a mesma expressão de dúvida, mas assim que Delphine se ergueu e a fitou com o canto de olho, a mulher mais velha começou a compreender o que ela tinha em mente. Assustou-se ao ver a sombra negra pairar sobre os abatidos olhos verdes escuros. -      O que importa agora é que você está bem! – Afastou uma mecha de cabelo da menina e lhe beijou a testa. – Você nos deixou preocupadas criança.

- Desculpa Del... Mas é que... Dói demais! – Levou as mãos à cabeça, a apertando. – E eu só quero dormir depois que tenho esses sonhos. – Mas eu não quero mais... Machuca! – Tinha a voz chorosa.

- Não se preocupe Manu... Vamos cuidar de você e lhe ajudar com eles. – S procurou tranquilizar a menina. – Mas agora descanse um pouco. – Disse após ver um bocejo dado por ela.

- Tá... Mas é que eu tô com muita fome! – Arrancou um discreto sorriso de Delphine que se levantou.

Ficou em silêncio observando Siobhan ajudar a pequena menina a se alimentar e tentava conciliar a avalanche de emoções e pensamentos que lhe deixavam em completo caos. Demorou seu olhar em Manu e permitiu que a impressão que sempre teve ao lado dela ganhasse cada vez mais força. E ter um vislumbre das visões que assombraram aquela criança, só reforçava essa ideia.

Não havia como ela ter aquelas visões do passado sem que, de alguma forma, ela as tenha vivenciado. Focou nos expressivos e vividos olhos azuis e, pela primeira vez os detalhou com cuidado, percebendo a intensidade e a força deles que não combinavam com alguém de tão pouca idade e finalmente os reconheceu e foi inevitável não se deixar preencher pela emoção.

“Você também voltou pra mim!” Pensou consigo e derrubou mais algumas lágrimas. Sua amada mãe, aquela poderosa alma e que sempre lhe protegeu havia retornado para sua vida e assim como há centenas de anos atrás, ela também estava protegendo a Cosima. Cerrou os olhos ao voltar a pensar em sua amada amaldiçoada. Não conseguia evitar o desespero e a dor que pesava em seu peito sempre que deixava a visão dela ensanguentada em seus braços. Certamente com a vida ceifada graças a ela.

Sabia, embora evitasse ao máximo aquele pensamento, que Cosima sempre esteve em risco justamente por ser quem é e por amá-la. E o destino dela estava diretamente ligado a Delphine, que relutava em aceitar o inevitável.

- Me diga o que quer que eu faça e o farei! – Siobhan se aproximou, falando baixo, para que a menina, que estava sendo examinada por uma médica, não ouvisse. Delphine a olhou com os ombros arriados, denotando a iminente derrota.

- Como ela está? – Delphine desviou da pergunta de S e questionou a médica.

- Bom, confesso que ainda não sabemos o que causou essa inconsciência da Manu, mas os exames dela estão perfeitos, com nenhuma alteração. Sendo assim... – Conferiu mais uma vez o prontuário da criança. – Ela já pode receber alta amanhã pela manhã. – Piscou um olho para ela, que animou-se e depois fez birra cruzando os bracinhos, achando que iria embora naquele instante.

- Não se preocupe Manu, eu dormirei com você! – Delphine disse, causando um gigantesco sorriso na menina que bateu palminhas e já passou em sua mente quais as animações que assistiria com ela. – Mas antes eu preciso conversar algo com a S. Vamos tomar um café e já voltamos ok? – Piscou um olho para ela e saiu do quarto acompanhada pela outra mulher. Já no corredor, arriou sentada num sofá da sala de espera, inclinando a cabeça para trás, levando as mãos ao rosto.

- Quer que eu pegue o seu café? – S a questionou.

- Ela morrerá por minha causa S! – Disse secamente após retirar as mãos do rosto, revelando o pavor e o pesar que fizeram abrigo em seu lindíssimo rosto. Siobhan arrepiou-se com aquela afirmação, mas sabia da previsão que a menina havia tido e de que Delphine conseguira vê-la também.

- Não deixaremos que isso aconteça! – Sentou-se ao lado dela, lhe segurando as mãos, tentando passar alguma segurança. – Vamos redobrar a segurança dela e tomar todas as medidas possíveis para evitar que qualquer pessoa chegue perto dela. – Continuou imprimindo força em suas palavras. – Até porque estamos cada vez mais próximas do fim da maldição. Afinal ela já esta findando as memórias da Melanie e acredito que deva ter percebido muita coisa.

- Ela já terminou! – Disse ainda com a cabeça encostada no sofá. S arregalou os olhos e deixou a esperança dar as caras.

- Ótimo! E?

- Ela já ligou todos os pontos... – Siobhan ouvia, mas não entendia a pouca empolgação de sua Mestra.  – Mas, não recebeu bem a possibilidade de quem eu sou. Ela estar no hospital, nesse exato momento, só mostra isso.

- Mas é mesmo cabeça dura essa menina! – Siobhan bufou!

- Não podemos culpa-la S! Nenhuma de vocês aceitou de imediato a verdade sobre mim e sobre a Ordem. E ela é ainda mais cética, o que só dificulta tudo ainda mais. – Apoiou os braços da testa e fechou os olhos. 

- Então o que você quer fazer? – Delphine sabia a resposta aquele questionamento, mas odiava o que sabia que precisaria fazer.

- A vida dela está em minhas mãos... Depende de mim e. – Suspirou.

- Exatamente! Nós temos uma chance agora. Aquela menina nos deu essa oportunidade de mudar o que está para acontecer. – Apontou para a porta do quarto.

- Sim... Podemos mudar essa previsão. Mas só existe uma maneira de fazermos isso. – Os verdes olhos voltaram a ficar marejados e de imediato Siobhan compreendeu qual era o plano de sua Mestra.

- Não Delphine! Nós cuidaremos dela. De vocês duas. – Insistiu.

- Siobhan... Agradeço a boa intenção, mas infelizmente você não conhece essas previsões. Elas só podem ser acessadas por uma pitonisa porque irão acontecer. É a certeza do praticamente inevitável. – Estava visivelmente derrotada. – E é meu dever protegê-la, eu fiz essa promessa há mais de trezentos anos e falhei. Não posso vê-la morrer novamente S... Eu não aguentaria.

- Mas Delphine...

- Não S! Acredite, é tudo que eu menos quero, mas tenho de fazer! – As palavras que saiam de sua boca, pareciam navalhas lhe cortando a alma. –Mas... – Apoiou os antebraços nos joelhos e baixou a cabeça já sendo dilacerada pela dor da perda. -Tenho de me afastar da Cosima!

 

______

 

- Pronto! A srta, está entregue! – Marc fechou a porta do apartamento de Cosima assim que entraram.

- Obrigada meu amigo. – Sentou-se em seu sofá, lembrando que havia deixado suas coisas na casa de Delphine, inclusive seu telefone.  – Mas não precisas ficar aqui a noite. Já disse que estou bem melhor e que certamente irei dormir a noite toda graças aos analgésicos que me deram. – Não quis ser indelicada, mas queria mesmo ficar sozinha para mergulhar na amargura sem precisar ter de explicar maiores detalhes ao rapaz.

Tinha quase total certeza de que ele era inocente e que não tinha nada a ver com O Martelo e o Lamartine. Pensou no Louis e de como gostaria de falar com o amigo, mas sabia que na manhã seguinte poderia ter uma chance, pois teriam aula juntos com a Delphine.

Só em pensar nela, um amargo gosto subia-lhe pela garganta e um aperto comprimia seu coração. Ainda não havia compreendido porque ela não quisera falar com ela mais cedo e isso estava lhe incomodando demais. Detestava, mas sua cabeça criava inúmeras teorias e a maioria delas eram bem ruins. Será que Delphine a estava evitando? Seria por causa da sua reação a loucura sugerida pela leitura daquele diário?

- E quando vais me explicar aquele carro preto e aquelas duas modelos lhe seguindo o tempo todo? – Marc olhava pela janela, se referindo ao veiculo que estava parado do outro lado da rua, em frente ao edifício de Delphine. Cosima o olhou surpresa, mas teve de concordar que as suas seguranças não era nem um pouco discreta e sabia que aquilo era proposital, para mostrar a quem quer que quisesse se aproximar dela, que havia um esquema para protege-la. Contudo, não fazia ideia de como explicar aquilo para o inteligente amigo.

- São seguranças que a Delphine designou para tomar conta de mim. – Não mentiu. O rapaz virou-se para a amiga e arregalou os olhos com denotada incredulidade.

- Mas porque você precisaria de seguranças?

- Marc... – Cogitou o que deveria ou não dizer. – Eu adoraria poder lhe contar tudo, mas infelizmente não posso e peço que confie em mim e não insista. – O rapaz cruzou os braços e esboçou algum protesto, mas calou-se.

- Se é assim que você deseja. – Estava visivelmente chateado. – Mas eu sei que isso tem a ver com o estado do Louis e, de alguma maneira, a sua pesquisa de pós-doc. – Ele era esperto demais. Cosima apenas baixou os olhos suspirando e dando de ombros.

 - Me desculpe! – Foi tudo o que conseguiu dizer. Ele a olhou de cima a baixo e caminhou até a porta.

- Se é assim que desejas... Bom, procure descansar um pouco. Nos vemos amanhã na universidade. – Saiu antes mesmo que ela pudesse lhe dizer algo. Ele havia realmente ficado magoado com a falta de confiança dela, mas apenas se permitiu lamentar momentaneamente, pois já havia coisas demais para processar em sua tumultuada mente.

Abriu e fechou a geladeira várias vezes pensando no que iria comer, mas não estava realmente disposta a fazer nada, e se contentou com uma maçã que era devorada enquanto se despia e seguia para seu quarto. Ouviu algumas batidas na porta e pensou que seria Marc retornado para insistir na conversa. Vestindo apenas seu conjunto de calcinha e sutiã a abriu e , para sua surpresa, era uma das seguranças que não demonstrou desconforto algum com a visão de Cosima seminua, mas essa corou de imediato, tratando de se esconder atrás da porta.

- Com licença srta. Niehaus, mas aqui estão suas coisas. – Ela indicou as malas e a bolsa de mão de Cosima.

- Ah sim obrigada. – Agradeceu nervosamente e com certa hesitação, permitiu que a mulher entrasse em seu apartamento para deixar suas coisas.

- A srta Cormier nos mandou lhe trazer! – A moça disse cordialmente, o que causou uma estranha sensação nela. – Tem algo mais que a srta deseja ou que posso fazer? – Se fez prestativa.

- Ah não... Tudo bem! Eu pretendo dormir cedo e só devo sair amanhã pela manhã. Obrigada. – Agradeceu. – Inclusive podem ir para casa, embora eu saiba que não é assim que funciona. – Disse antes que a mulher lhe contradissesse. Ela sorriu e com um aceno de cabeça se despediu e saiu do apartamento.

Cosima olhou para suas coisas e focou em sua bolsa de mãos. Foi até ela e sacou seu celular de lá. Percebeu que o mesmo estava descarregado e procurou o carregador em meio a bagunça de sua mala. O achou e conectou o aparelho. Esperava que o mesmo fosse ligado e que nele houvessem várias ligações ou mensagens de Delphine.

Para sua frustração, havia apenas algumas mensagens dos demais semideuses e de Amanita. Não se deu ao trabalho de ler nenhuma delas, lançando o telefone sobre o balcão da cozinha.

“Onde você está Delphine?” Questionou silenciosamente e cogitou ligar para ela, mas o orgulho era um de seus defeitos, e estava magoada pelo fato dela não querer falar com ela, nem tão pouco demonstrar interesse nem com uma mísera mensagem. Sentiu o latejar de sua cabeça e percebeu que estava na hora de tomar a medicação que fora prescrita para ela.

Decidiu tomar um banho rápido e sob o chuveiro se permitiu chorar, sem saber ao certo o real motivo daquelas lágrimas. Estava se sentindo completamente perdida, pois se deixou levar por aquela história, foi verdadeiramente tocada pela narrativa apaixonada de Melanie se envolvendo ao ponto de cogitar uma ligação espiritual com ela. Riu daquele pensamento, mesmo sabendo bem em seu intimo que aquilo era a verdade.

Vestiu um outro pijama de flanela que lhe fora dado por sua mãe e foi engatinhando pela cama, já sentindo os efeitos do poderoso analgésico que tomara. Torceu muito para que o seu sono fosse tranquilo e não mais permeado por sonhos – ou memórias – perturbadores. Precisava desesperadamente falar com Delphine, mas não deu o braço a torcer e não ligou para ela. Decidiu esperar para conversar com ela na aula do dia seguinte e ai sim iria confrontá-la.

 

______

 

Para o seu azar a sua noite foi bastante inquieta, com sonhos confusos com o seu passado e tudo o que lera. Mas também sonhou com o presente, como seus amigos na América, inclusive com Shay. Acordou com uma estranha vontade de falar com a ex-namorada, mas riu daquele rompante, pois mesmo tendo um termino maduro com ela, sabia que muito provavelmente a outra não iria querer falar com ela por um bom tempo.

Levantou-se, fingindo que não estava muito ansiosa para ver seu celular, mas não conseguiu evitar e foi até ele tão somente para ter sua frustração aumentada. Não havia nenhum sinal de Delphine e aquele silêncio dela a estava enervando. Será que a mulher não estava nem um pouco preocupada com ela? Afinal de contas fora hospitalizada. Experimentou o terrível gosto da frustração.

Tomou um banho rápido e optou com tomar café da manhã na padaria de sempre. Vestiu uma calça estampada e uma blusa de alças sob o casaco vinho. Calçou suas botas de salto baixo e prendeu o cabelo de qualquer maneira em um coque. Quando saiu de seu apartamento viu o carro de suas seguranças do outro lado da rua.

- Bom dia srta. Niehaus! – Uma mulher negra a cumprimentou. Percebeu que eram outras duas, presumindo que as da noite foram rendidas por essas.

- Bom dia!

- Vejo que esta indo para a Universidade. Podemos leva-la. – Ofereceu. Cosima preferia ir caminhando, mas pensou que seria um tanto quanto estranho ela caminhando com um carro ao seu lado, lhe escoltando.

- Tudo bem, mas antes eu preciso passar na padaria para tomar café. Vocês já tomaram? – E as convidou para comer com ela. Aproveitou para saber mais sobre o que era o Exercito de Ártemis e ficou encantada com tudo o que ouvia e como a irmandade feminina era poderosa e salva vidas. A própria Amanda Guerra, que era uma das suas seguranças daquela manhã, era uma brasileira que fora salva do tráfico humano quando ainda era adolescente e hoje se destacava em missões que colocavam fim em situações como as que vivenciou.

Terminaram o café da manhã sob uma clima até mesmo agradável e as moças pareciam mais descontraídas e riam com Cosima. Era o seu poder de cativar as pessoas em plena ação. Chegaram à universidade em cima da hora, até devido ao atraso da refeição e assim que entraram no estacionamento do Bloco A, Cosima avistou seu grupo de amigos. Marc, René, Amélia e Sophie acenaram para ela assim que a viram descer do carro. Se despediu de suas seguranças e elas avisaram que estariam por ali por perto.

Caminhou em direção até os amigos que lhe olhavam com ar de curiosidade.

- Cos quem era aquela deusa de ébano que estava com você? – Amélia a questionou lhe fazendo olhar em direção ao carro que se afastava um pouco e desviou para Marc que permanecia com a expressão fechada.

- Ei, onde você foi ontem que não participou do velório da reitora Duncan? – Sophie se intrometeu na conversa.

- Eh... Tive um imprevisto. – Disse forçadamente. Todos a olharam demonstrando que não estavam aceitando aquela explicação, mas antes que alguém pudesse dizer algo uma voz feminina as alertou.

- Olá! Bom dia a todos! – Era Gracie, a secretária de Delphine. Todos retribuíram a saudação. – Gostaria de lhes informar que a aula de hoje com a professora Cormier foi cancelada. – Cosima sentiu uma seta gelada em seu estômago.

- Mas por quê? – Cosima não controlou sua ansiedade nem tão pouco sua frustração.

- Ela apenas me disse que teve uma questão pessoal para resolver e que em breve entraria em contato para marcar uma reposição. – A moça disse com um leve sorriso nos lábios e em seguida se despediu cordialmente. Todos os semideuses se voltaram para Cosima, esperando que a amiga tivesse uma resposta acerca da orientadora deles, mas viram que a mulher estava tão surpresa quanto eles.

- Ei, alguém tem notícias do Louis? – René atropelou a conversa e atraiu a atenção de todos.

- Aquele que vem ali? – Amélia apontou para o rapaz que acabou de estacionar seu carro na área reservada para estudantes e visitantes. Cosima ficou um pouco mais tranquila, pois pelo menos com ele iria poder conversar, já que quem mais queria ainda estava longe. Na verdade, a sensação era essa mesmo, de um estranho e inesperado afastamento. Suspirou diante daquela sensação. Ela e os outros quatro Semideuses ainda estavam no topo da escadaria.

- Louis... Acho melhor dar meia-volta, pois não teremos aula hoje! – Sophie quase gritou entre as mãos que ladeavam sua boca. Essa informação fez o homem parar e encarar os amigos, se demorando em Cosima. – Aproveita para economizar a grana do estacionamento. – Brincou novamente arrancando algumas risadas dos demais.

Nesse instante, ao longe um estridente som de pneus cantando se fez ouvir ainda no pouco movimentando espaço de estacionamento. Todos ali procuraram a origem do som e avistaram uma SUV invadindo com tudo, ignorando as marcações pintadas no asfalto.

Do alto da escadaria, Cosima percebeu que aquilo não poderia significar algo bom, muito pelo contrário. Por alguns instantes, pensou se tratar do carro de suas seguranças, mas a medida que ele se aproximava ela percebia que não era o mesmo veículo e que não diminuía a velocidade e mal desviava de alguns dos carros que já estavam estacionados. Ela olhou para os lados e enfiou sua mão no bolso, planejando ligar para as mulheres que lhe serviam de segurança, mas antes mesmo de tocar no aparelho, outro carro também entrou em seu campo de visão. Esse sim ela reconheceu, contudo não ficou nem um pouco aliviada, pois o primeiro carro já estava perigosamente perto e em uma fração de segundos, o vidro do carona baixou até a metade e a luz do Sol fez com que o cano metálico de uma arma cintilasse. Engoliu em seco e ainda teve tempo de olhar para os amigos pouco antes de ouvir os três tiros secos.

- NÃO! – Todos os Semideuses gritaram juntos diante da horrenda ação que se desenrolava bem diante de seus olhos.

 

           



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