História Andare avanti - Capítulo 5

Acordei no meio da madrugada um pouco confuso, até me lembrar de onde eu estava. Giorno dormia abraçado a mim, todo encolhido e com o rosto em paz.

Não consegui evitar um sorriso ao ver aquela carinha tão linda encostada no meu peito. Fiquei pensando o que nossos companheiros diriam se descobrissem que, no passado daquele homem que sempre mantinha a postura altiva e determinada, havia um garotinho machucado pelos traumas do passado e que tentava viver de cabeça erguida.

Beijei a testa dele e o vi se mexer de leve, buscando se aproximar ainda mais, como se não estivéssemos próximos o suficiente. A cama era meio estreita, mas nossos corpos se encaixaram tão direitinho que eu me senti completamente renovado só de ter passado aquelas poucas horas ali com ele.

Só que, apesar de não querer deixá-lo ali sozinho, eu estava doido pra ir ao banheiro e isso não podia esperar. Tentei me afastar dele sem acordá-lo e soube que não tinha dado certo quando vi aqueles enormes olhos verdes me encarando, meio sonolentos.

- Foi mal, Giorno... Não queria te acordar...

- Mista...

Ele estendeu sua mão e segurou a minha, tentando me impedir de sair. Senti meu peito apertar, nunca pensei que veria aquele novato sabichão com uma cara tão triste.

- Ei, fica calmo... Eu não vou embora, só tô apertado pra fazer xixi... Não posso fazer isso aqui, né?

Giorno ainda não parecia muito acordado, então não sei se ele entendeu o que eu disse. Ele afrouxou o aperto na minha mão e fechou os olhos de novo, caindo no sono em seguida, com os lábios meio abertos.

Me inclinei e beijei sua boca pequena, que formou um sorriso assim que me afastei.

- Eu já venho, GioGio... Se depender de mim, você nunca mais vai ficar sozinho.

Saí do quarto com o coração apertado, determinado a mijar o mais rápido possível. Eu não podia deixar que aquela escuridão tomasse o Giorno de mim, então resolvi que curaria seu coração aos poucos... e que daria um jeito no desgraçado que roubou seu sorriso.

XxX

- Ah, Mista... Como o Giorno está?

Bucciarati me surpreendeu assim que saí do quarto e eu tinha certeza que minha bochecha devia estar roxa de vergonha.

- B-b-bom, ele está melhor, eu acho... Err...

Nosso capo me encarou com um sorrisinho meio sacana, que me dizia que ele sabia de tudo.

- Ai, ai... Eu sabia, Mista.

- S-s-sabia o quê?

- Que você não ia conseguir se segurar... Bem que estranhei quando Giorno disse que achava que você estava gostando da Trish...

De novo esse papo... Pelo visto, todo mundo tinha entendido errado.

- Cara, eu não gosto dela. Não assim, pelo menos. Só fiquei com dó, ela achou que poderia descobrir algo sobre a família e acabou que quase foi morta pelo próprio pai. Mas foi bom você ter tocado no assunto...

- Como assim?

- Ah, é que toda hora ela ficava esbarrando em mim quando estávamos no trem e tal. Eu comentei com o Giorno e ele ficou bravo, falou que não era médico... Acha que ela tá com algum problema?

Bucciarati riu do mesmo jeito que ele fazia quando Narancia errava alguma conta.

- Mista... A Trish não tem problema nenhum, ela está interessada em você.

- Hein? Em mim?

- Sim, ela me contou hoje, mas eu disse que provavelmente você já gostava de outra pessoa... e pelo visto acertei, não foi...?

Senti meu rosto esquentar e abaixei a cabeça. Era difícil admitir essas coisas pra alguém.

- É, eu gosto do Giorno. E quero protegê-lo.

- Giorno não precisa de proteção, Mista. Ele sabe muito bem se defender sozinho.

Aquilo não era bem verdade. Giorno sabia se virar nas batalhas, mas...

- Olha, não é bem assim. Ele pode ser muito bom de luta e ter um stand foda, mas... ele já te contou como foi a infância dele?

- Bom, não tivemos muito tempo para conversar sobre essas coisas, Mista... Conheço a história do Giorno tanto quanto você.

Mordi o lábio pensando se devia ou não contar, mas Bucciarati era o nosso capo, não podíamos ter segredos para ele.

- Bucciarati, o Giorno tem várias marcas de maus-tratos no corpo. São antigas, mas sei que elas doem nele de outra forma. Eu já te tinha te contado, ele fala durante a noite, tem pesadelos chamando a mãe, é de cortar o coração. Ele me contou que apanhava do padrasto, eu quero matar aquele desgraçado e não vou pensar duas vezes se o maldito aparecer na minha frente.

Percebi que a expressão dele se alterou quando mencionei aquela parte da infância de Giorno. Os olhos de Bucciarati se encheram de uma fúria contida, como em todas as vezes em que ele se revoltava quando descobria que algum de seus subordinados estava envolvido com drogas.

- Será que não tem como você descobrir quem é esse filho da puta? Sei lá, ele pode sofrer um... acidente.

Os lábios de Bucciarati se contorceram em algo que lembrava muito um sorriso. Senti que ele concordava comigo, mas tínhamos que fazer aquilo de um jeito inteligente; ninguém poderia saber.

- Não vamos nos precipitar, Mista. Vou tentar descobrir o que puder, mas acho que não vamos poder contar com a ajuda do Giorno. Ele não deve querer revirar esse assunto.

- Isso é, ele disse que é coisa do passado. Mas eu não consigo deixar pra lá, que doente faz isso com um bambino? Os pais devem proteger seus filhos, não fazer essas coisas.

Bucciarati sorriu e acariciou minha cabeça, mesmo sendo um pouco mais baixo do que eu.

- Você tem razão, mas... nem sempre é o que acontece. As coisas que as pessoas são capazes de fazer me assustam...

De repente, me lembrei que estava apertado e que tinha deixado Giorno sozinho.

- Ih, foi mal, Bucciarati! Eu tava indo no banheiro, preciso dar uma mijada e voltar logo pro Giorno...

- Hu, hu... Vai lá, cuide dele direitinho, Mista. Depois pensamos nesse assunto que você trouxe à tona.

XxX

Voltei o mais rápido que pude para o quarto e vi Giorno ainda adormecido, mas com a expressão um pouco tensa.

- Uh...

- Shh... Calma, GioGio... Eu tô aqui.

Voltei para baixo dos lençóis e o abracei apertado, sentindo o cheiro adocicado daqueles cabelos loiros tomar conta do meu nariz. Giorno me abraçou de volta e se ajeitou em meu peito, a expressão se suavizando num instante.

Aquilo era engraçado, parecia até que já nos conhecíamos há muito tempo. Senti que nós dois estávamos conectados por algo muito maior, como se nosso encontro não tivesse sido por acaso.

Beijei seus cabelos e comecei a tentar desembaraçá-los usando meus dedos, devagar para não acordá-lo. Seu rosto pálido e sua boca rosada me chamavam, mas eu precisava deixá-lo descansar. Aquela semana tinha sido complicada para todos nós, mas talvez as coisas começassem a melhorar a partir de agora.

Pensando bem, se a Passione não tinha mais chefe, nada impedia Bucciarati de assumir a vaga. Ele já era o capo, talvez não fosse tão difícil passar pra próxima etapa. Eu não levava jeito pra pensar nessas coisas complicadas, mas o Giorno poderia me ajudar. Decidi que falaria com ele sobre isso, mas sem comentar a respeito de seu padrasto.

Parecia uma ótima ideia, então deixei esse assunto de lado por alguns instantes e voltei a me concentrar em Giorno. Eu estava meio sem sono, então fiquei encarando seu rosto adormecido. Era difícil de acreditar que tínhamos feito sexo, Giorno parecia não se interessar por esse tipo de coisa, como se fosse algo sem importância diante de seu sonho.

Me lembrei de quando nos conhecemos e de tudo que passamos até chegarmos àquele momento. Das suas palavras de motivação e de como ele sempre sabia o que dizer em todas as situações... Era engraçado pensar que, no passado, aquele novato destemido e impiedoso tinha sido um garotinho assustado, que morria de medo do escuro e não gostava de ficar sozinho.

- Ah, Giorno... Será que um dia você vai confiar totalmente em mim...? - Acariciei seu rosto com cuidado, enquanto observava seu peito subindo e descendo, numa respiração tranquila - Eu prometo que nunca vou te decepcionar, pode ficar sossegado.

- Mista...?

Droga! Eu devia saber que ele ia acabar acordando desse jeito, mas era difícil manter minhas mãos longe dele.

- Volte a dormir, Giorno... Ainda é de madrugada...

- E você...?

- Eu vou dormir também, é que não consigo parar de olhar pra você...

- Por quê...?

- Eu não sei. Nunca tinha me sentido assim, é novidade pra mim também.

Giorno sorriu, os olhos ainda pesados de sono.

- Mista... Eu não sei como vai ser de agora em diante, mas... Não quero que o que fizemos hoje acabe aqui. Eu gosto de você.

Tsc... Quem consegue resistir a algo assim? Abracei ele apertado, sentindo aqueles braços finos envolverem meu corpo.

- Eu também gosto de você, Giorno. Acho que desde o primeiro dia que te vi, todo pomposo do lado do Bucciarati. Achei o máximo quando você fingiu que bebeu o mijo do Abbacchio... E as Pistols também se deram bem com você logo de cara. Então não vamos ficar pensando muito, a gente fica como sempre esteve. Juntos.

- Gosto quando você resolve as coisas do seu jeito simples...

- Não curto nada complicado, Giorno. Agora volta a dormir, dá pra ver que você ainda tá morrendo de sono.

Giorno sorriu e me abraçou de novo, dormindo logo depois, vencido pelo cansaço. Beijei sua testa e, antes de cair no sono, pensei no que eu deveria fazer pra ver aquele sorriso mais vezes.