1. Spirit Fanfics >
  2. Andarilha. >
  3. Capítulo Único - Em uma cidade sem nome.

História Andarilha. - Capítulo Único - Em uma cidade sem nome.


Escrita por: Marguaery

Notas do Autor


Uma one-shot sobre um dos meus desejos mais profundos: Sair por aí sem me preocupar com nada e sem ter contato com quase ninguém. Simplesmente vagar até encontrar um lugar a que pertença.

Espero que a leitura agrade!

Capítulo 1 - Capítulo Único - Em uma cidade sem nome.


 

Ela gostava de olhar para seus coturnos pretos enquanto andava. Na noite escura, em uma cidade que não conseguia lembrar o nome, Mel amava a sensação de pisar em poças de águas e sujar seus sapatos. A bolsa sacudindo de um lado para o outro nos seus ombros não lhe incomodava, nem o tilintar de seu chaveiro, muito menos a leve garoa que começava. Os fones estavam perfeitamente encaixados em suas orelhas, a música perfeita havia acabado de começar e ela podia relaxar escorada em um guarda-corpo de cimento enquanto olhava o rio.

O cenário seria digno de uma foto, o contraste dos postes que eram bem antigos com as lâmpadas de última tecnologia que iluminavam a rua. O céu estava escuro, mas Mel conseguia imaginar com clareza as estrelas perdidas em algum lugar entre o universo e a atmosfera de seu planeta. Ela se considerava uma garota bem criativa, e repetia que este era uma das suas poucas qualidades.

A alguns metros de si havia um grupo de jovens de sua idade rindo e bebendo, e um dos garotos lhe encarava profundamente, como se pudesse ler sua mente naquele exato momento e estivesse se divertindo com o que percebia. Talvez se estivesse ouvindo outra música ela iria até ele, mas naquele momento só queria devorar o que via pela frente e aproveitar a imensa sensação de liberdade que lhe invadia.

Se quisesse podia jogar a mochila ao lado e dar um mergulho no rio no meio da noite. Não havia nada precioso nas suas coisas além do seu livro favorito, mas até mesmo ele poderia ser substituído. Poderia andar até o grupo de amigos e beber com eles, passeando pelas ruas da cidade pequena toda a noite. Poderia andar até o misterioso garoto e beijá-lo, simplesmente permitindo que ele fizesse tudo que desejasse com ela.

Já havia ligado para os pais dizendo que estava bem e que não, não voltaria esta semana para casa e não, não sabia qual cidade iria a seguir ou quando comeria uma refeição decente. Sim, suas roupas estavam limpas e ela havia conseguido uma outra troca reserva. Seus coturnos ainda não estavam machucando seus pés e ela não precisava de mais dinheiro. Ela também os amava, estava bem e feliz. E reafirmou pela 10° vez que voltaria antes das aulas da faculdade recomeçarem.

Depois de duas semanas sem falar com seus amigos se sentia levemente solitária, mas seus novos amigos eram tão interessantes quanto os antigos. Desde o senhor da loja de doces que tinha um filho estudando no exterior e que chorava de saudades até a adorável garotinha de sete anos que havia explicado a Mel que os pais dela lhe amavam e que ela deveria voltar para eles.

Ainda é cedo” repetia uma voz masculina nos seus ouvidos e ela balançava levemente a cabeça, concordando com todas as palavras dele. Ainda tinha tantas coisas a fazer, tanto a descobrir. Havia acabado de chegar aquela cidadezinha sem nome e um sorriso estampava seu rosto pensando nos lugares para olhar, para fotografar ou simplesmente parar para ler.

- Ela também estava perdida. – Ela conseguiu ouvir depois de pausar a música, notando que o garoto se aproximava. Aquele verso era um de seus preferidos e ele havia acertado o tempo perfeito para repeti-los. Algo nessa ação lhe despertou o interesse e seus olhos encontraram as amêndoas que enfeitavam o rosto dele. – E por isso se agarrava a mim também. – Ele deu um sorriso de lado ao notar que era observado. O conteúdo da garrafa de cerveja balançava em sua mão, mas ela estava quase cheia. – Juro que não leio mentes. Sua música só estava alta.

- Algumas músicas merecem serem ouvidas nessa altura. – Ela sorriu, os lábios avermelhados pelo seu batom preferido que estava quase chegando ao fim.

- Certamente. – Ele bebeu um pouco de sua cerveja. – E algumas pessoas merecem serem descobertas. Você parecia tão misteriosa que não pude te deixar em paz. É uma cidade bem pequena, sabe?

- Descobri assim que notei as duas pessoas no ônibus e o tamanho da rodoviária. – Ela riu de si mesmo. Os cabelos do garoto eram encaracolados, mas ela não conseguia definir se eram loiros ou castanho-claros. – No momento eu sou a garota perdida da música. Uma andarilha procurando pelo seu destino. “Pelo menos até minhas aulas começarem” quis completar, mas algumas coisas poderiam ser guardadas para si.

- No momento eu só quero estar aqui, sempre ao seu lado.

- Então você realmente conhece a música. Achei que fosse apenas uma tática para se aproximar de garotas misteriosas que vagam por aí com fones de ouvido com músicas no máximo.

- É uma boa tática, tentarei repeti-la mais vezes. – Foi a vez dele rir, admirado com a fala dela. – A menina misteriosa tem um nome?

- As pessoas me chamam de Mel.

- E você tem um lugar para dormir, doce Mel?

- Péssimo trocadilho. – Ela revirou os olhos. – E eu já ia resolver esse problema.

- Depois que encarasse o rio por horas a fio apenas para descobrir que os hotéis fecham as 23h?

- Algo assim. Acho que tenho sorte que um misterioso garoto veio até mim avisar 20 minutos antes disso acontecer, ou o meu cobertor acabaria sendo o céu.

- Você não iria querer dormir na rua por aqui. Acordaria como um picolé. Se quiser, o misterioso garoto pode te levar a um dos hotéis.

- Talvez eu aceite se ele me disser o nome dele. – Ela colocou as mãos na cintura. – Minha mãe sempre me ensinou a não confiar em estranhos, e eu sou muito obediente.

- Diga a sua mãe que sou muito confiável. – Ele mostrou uma chave grande. – As pessoas me chamam de Alexandre. Aceita uma carona?

- É claro.

Sua mãe havia lhe dito a nunca conversar com estranhos, e muito menos a aceitar carona de moto deles. Sua sorte era que ela não estava ali e nunca saberia do que Mel havia feito. Além disso, ela não tinha razões para reclamar enquanto suas mãos rodeavam o abdome que parecia definido por baixo de suas mãos e seu nariz absorvia o aroma levemente amadeirado que vinha do garoto.

Ela poderia se considerar uma garota extremamente sortuda apenas por não ter sido levada para um canto qualquer e esquartejada. Em poucos minutos Alexandre parou na frente de um hotel e ajudou Mel a sair da moto.

- Só uma mochila mesmo? – Ele perguntou como se quisesse prolongar a conversa. De acordo com o relógio de pulso dela ainda tinham 12 minutos para conversar.

- Sou uma pessoa prática. Um par de roupas, meu batom, meu livro preferido e algumas barrinhas de cereal é tudo que preciso.

- Talvez um celular?

- Ainda uso orelhões. – Um leve sorriso adornou sua face. – O celular ficou em casa, debaixo do meu travesseiro.

- Entendo.

- Mas não é como se eu tivesse esquecido o número dele. Embora eu acredito que eu vá demorar um pouco para responder alguma coisa.

- Eu não me importo. – Ele sorriu e pouco minutos depois o número de Mel estava gravado sob o contato Menina Misteriosa.

- Acho que isso é um adeus? – Ele comentou notando que o homem do hotel ameaçava fechar as portas.

- Eu diria um até logo. Vou ficar na cidade por alguns dias, e considerando que só conheço você é uma boa ideia ter uma companhia confiável. – Mel começou a se retirar, indo para a porta do hotel.

- Como vou te encontrar? – Ele gritou do outro lado da rua.

- Você me encontrou hoje, não foi? – Ela deu um riso alto. – Use a mágica de ler mentes para me encontrar amanhã!

Era tarde demais para responder, ela já estava lá dentro conversando com o funcionário. A moto vermelha parecia vazia sem a garota para abraçar seu corpo e ele só sabia seu nome e uma das músicas que ela gostava. Mas mesmo assim Alexandre estava feliz. Era uma cidade pequena e ele conhecia poucas garotas. Nenhuma como ela, e isto lhe encantava. Ele a encontraria novamente, tinha certeza. A garota de coturnos e bolsa com chaveiros barulhentos.

Mel ainda sorria enquanto se jogava na cama e tacava seus sapatos longe. Ela gostava de conhecer pessoas, gostava de descobrir personalidades e admirar o desconhecido. Ela não tinha rumo e apesar de assustador, dizer isso era maravilhoso. Nada lhe prendia. E graças a isso, ela podia conhecer garotos como aquele dos olhos de amêndoas. Seu nome? Já tinha esquecido. Seus olhos se fechavam mais rapidamente do que desejava.

Mas estava tudo bem por enquanto. Ela estava feliz por estar ali, por mais distante que fosse do seu lar confortável e imutável. Gostava de ter duas trocas de roupas, seu batom, seu livro preferido, algumas barrinhas de cereal, uma bolsa velha, seus coturnos e um papel com um número de telefone. Não, seus coturnos não estavam machucando seus pés ainda e ela ainda não precisava de mais dinheiro. Amava seus pais e logo voltaria para faculdade. Ela estava bem, e feliz.

Simplesmente feliz por estar ali.


Notas Finais


Alguém se identificou? Eu amei escrever isso, pois por alguns momentos eu pude ser a Mel... E, sinceramente? Foi uma sensação maravilhosa de liberdade!

Agradeço por lerem, e peço que se gostaram, por favor comentem! Sempre aceito críticas, sugestões e elogios!
Obrigada e até a próxima!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...