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História Angel After Death - O despertar de outra vida


Escrita por: pedropaes86

Notas do Autor


Após o acidente, uma nova e inusitada figura aparece no caminho de Angeline.
Boa leitura.

Capítulo 4 - O despertar de outra vida


O amanhecer é sempre incerto. Só a morte não tem jeito nem conserto, como sua própria mãe já dizia. Mais eficientemente do que a vida, apenas a morte para anular todos os planos. Ao menos Angeline não tinha nenhum para o futuro.

Seu corpo soube antes da cabeça o que tinha acontecido. O acidente atraiu uma multidão de curiosos, alguns com expressões estarrecidas e outros mais insensíveis, que já preparavam suas câmeras fotográficas de celular. Apesar do bairro ainda preservar os parques e as ruas com aspectos bucólicos, o som predominante era o de uma cidade envolvida pelo caos, com uma combinação incômoda de buzinas e vozes dissonantes que saiam de todas as direções. Ninguém foi atrás da caminhonete, que se não fosse por aqueles rastros nefastos, era como se nunca tivesse estado ali.

Angeline observava ao seu redor, sem nada conseguir dizer e se manteve em silêncio nos primeiros minutos. Sua última lembrança foi a de um garotinho teimoso prestes a ser atropelado e de sua reação impulsiva, mas as primeiras impressões sobre o que aconteceu depois ainda eram confusas. Tudo havia acontecido tão rápido, que ainda era difícil pensar com clareza. Quebrou seu silêncio com alguma pessoa randômica que passava por ali para saber de algo, mas não teve uma reação de correspondência. Estava desorientada, tentava insistir mas a reação era a mesma, ou seja, nenhuma.

-Ei cara, estou falando com você, não está me vendo?

 Seu monólogo involuntário foi quebrado por uma mulher que apareceu repentinamente, atravessando Angeline como se ela não existisse, fazendo-a se espalhar como poeira cósmica. Com a mesma velocidade que se espalhou, fantasticamente se reconstituiu. A mulher apressadamente corria e dizia Brian! Brian! Meu Deus, saiam da frente, empurrando o restante dos transeuntes que estavam no caminho, sem se preocupar em pedir licença. Chegou até o guri que ainda chorava consternado e o abraçou de forma, que para ambos, era reconfortante.

O estado de espírito de Angeline era de perplexidade. Havia uma grande movimentação a mais ou menos setenta metros de onde estava o garoto. As coisas estavam começando a fazer um mórbido sentido em sua cabeça, mas ainda não queria pensar no pior. Correu na direção do círculo de pessoas que havia se formado, para comprovar aquilo que no fundo já presumia, mas se recusava a acreditar.

O corpo ainda estava quente e retorcido e o sangue vazava pelos ferimentos. O rosto estava coberto pelo grande volume de cabelos ruivos, que como uma ilusão de ótica, parecia crescer conforme o sangue se espalhava.  Alguém cogitou que chamassem uma ambulância, mas não havia o que se fazer. Foi uma morte quase instantânea pela concussão da passagem criminosa do veículo. Angeline se deparava com o seu próprio corpo, sem vida. Recuava, enquanto levava as mãos à cabeça, pasma e boquiaberta.

-Não pode ser...eu estou...

-Morta. Sim, você percebeu rápido.

Inesperadamente, um primeiro sinal de diálogo. A voz desconhecida entrou nos ouvidos de Angeline como um choque, vindo de trás. Com um salto, a garota reagiu simultaneamente com susto e uma postura indagadora. Descobriu que aquela voz pertencia a um homem que aparentava uns vinte e poucos anos, composto de cabelos compridos até as costas, barba grande e mal aparada e uma roupa fora de moda.

-Você pode me ver?

-Oh, sim. Como se ainda fosse viva.

-Então quer dizer que eu realmente...

A voz soou mais baixa, como se falasse com o próprio interior, em um tom que combinava inconformidade com desolação.

-Sim garota. E eu estou aqui por sua causa.

O homem estendeu a mão, na tentativa de parecer cordial e acolhedor. Atordoada, Angeline teve a falsa impressão de que um brilho fraco emanava daquela figura. Mesmo em um momento como aquele, um pensamento súbito e burlesco passou pela sua cabeça.

-Cara, você é tipo Jesus?

-Uau, sério? Essa é a primeira coisa que você me pergunta depois de descobrir a própria morte? Só por causa do meu visual?

 Após aquela quebra de clímax, o estranho que até então não havia se identificado, já parecia estar acostumado com aquela associação divina a respeito de sua aparência. Porém, mais do que isso, a garota, ao olhá-lo de uma forma analítica, reparou que não estava de mãos vazias.  

-Bom, e por essa garrafa de vinho barato que está segurando. Se não for mesmo Jesus, me parece um cosplay bem fiel.

-Hum, desculpe desapontá-la garota, mas não acho que o Messias se daria o trabalho de vir aqui por sua causa. Eu sou apenas um mero ceifador. Meu nome é Castiel.

-Então ceifadores realmente existem? Não era bem o que eu esperava...

-E o que esperava? Um esqueleto com um capuz? Uma garota feliz de kimono e cabelo azul montada em uma vassoura? Um..

-Bem, alguém que não tivesse um cheiro forte de bebida, pelo menos.

O homem não agia como um ébrio exatamente e tampouco se expressava como um. Só parecia meio excêntrico, com a primeira impressão de ser um pouco petulante às vezes, mas inofensivo e em trajes fora do convencional. Mas o cheiro era inquestionável.

-Isso foi meio rude, sabia?

-Oh droga. – Angeline desconversou - Me sinto naquele filme Ghost, só que na vida real.

-Boa analogia. O Patrick Swayze disse algo semelhante, no dia que morreu.

-Nossa, você levou o Patrick Swayze?

-Não exatamente, mas você não acha que isso passou pela cabeça dele?

-Ah, bem, talvez...espere. O garoto. Ele está bem?

-Não se preocupe, não foi o dia dele, graças a você.

Nada que anulasse o aborrecimento de ter uma morte tão precoce e repleta de puro potencial desperdiçado, mas saber que ao menos seu sacrifício não havia sido em vão sem dúvida era um conforto. Angeline sorriu de forma branda. A mãe do garotinho chamado Brian provavelmente aprendeu a preciosa lição de manter-se a uma distância mais segura de seu filho das próximas vezes em que deixa-lo ir para a rua. Mas o sorriso durou por um período muito ínfimo. Seu pensamento voltou drasticamente para a própria situação. O que seria dela agora? Seu ato de altruísmo seria de alguma forma recompensado? haveria um bom lugar pós-morte reservado para a alma de heróis e salvadores? O que seria do seu destino ainda era um mistério, que logo seria revelado. Apenas sentia que as piores reflexões entravam em sua mente como agulhas perfurantes. Não podia ignorar o quanto os últimos momentos em vida haviam sido penosos e cheios de discórdia. O pior de tudo é que agora só tinha a si mesma e nada poderia ser consertado. Sentindo-se sufocada, começou a se afastar, queria ir para o mais longe possível dali. Castiel a acompanhava, ciente de que querendo ou não, ela era sua nova responsabilidade e não podia abandoná-la.

-Preciso de um pouco de ar.

-Ah claro, tome o tempo que precisar.

Ambos se distanciaram dali em uma longa caminhada silenciosa, até chegar ao terraço de um prédio comercial, onde era possível ter uma ampla vista da cidade. Aquele era um dos locais em que Angeline gostava de ir quando matava aula e queria desfrutar apenas da própria companhia. Na entrada do prédio, a garota percebeu que ceifadores podem ser vistos como pessoas normais, no instante em que a garrada de vinho de Castiel foi impedida de entrar por um dos seguranças que ficava na porta. Eu estou tentando parar mesmo foi o que disse para não sair por baixo. A garota nada disse, até chegarem ao topo do edifício. Ambos olhavam contemplativamente para aquela paisagem urbana. As perguntas guardadas até então, começaram a sair.

-Castiel, porque as pessoas podem te ver? Não é como se você estivesse morto também?

-Não, eu não estou vivo como elas, mas também não estou morto como você. Sou um morto-vivo.

-Isso quer dizer que você já foi vivo?

-Sim. Há muito tempo atrás.

-Por que você virou um ceifador? Isso é o que normalmente acontece quando se morre?

-Não com todos. Na verdade isso é bem raro. Apenas poucos são escolhidos para o trabalho de encaminhar as almas.

-E quem escolhe?

-Ninguém sabe. Nem mesmo os nossos superiores. Só sabemos que temos que fazer este trabalho, até que a cota de missões seja encerrada.

-O que acontece quando é encerrada?

-Bem, você se liberta e é substituído por uma alma recém desencarnada, e esta alma passa a ser um morto-vivo. A propósito – fez uma pausa - este é o ponto exato em que eu quero chegar. Há algo que precisa saber.

Mas ao invés de continuar, o ceifador que até então gesticulava bastante, começou a soluçar naquele hiato entre uma informação e outra e pareceu ficar completamente disperso. Logo após, sob efeito de bebida, seus olhos lentamente começaram a fechar. Angeline zangada, começou a sacudi-lo para fazer o homem voltar a si.

 -Ei! Ei! Ei! Tem alguém aí? que belo ceifador foram me arranjar... O que você tem pra me dizer?

 -Oh, desculpe! o vinho pode ter uns efeitos bem estranhos em mim e – disse enquanto pigarreava - Bom, o que tenho pra dizer é que um dos ceifadores já cumpriu a sua cota de encaminhamento de almas. Era aquele homem de chapéu, que estava de olho em você. Logo isso quer dizer que agora temos um novo escolhido. E bem...é pra isso que eu vim atrás de você.

            Aquela última frase. Precisou que Castiel falasse duas vezes para ter certeza de que Angeline não ouviu errado. Mesmo ainda confusa, não precisava de uma perspicácia formidável para seu cérebro rapidamente fazer as associações.

-Espere! você está querendo me dizendo que...

-Sim, é você, Angeline. 



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