História Angel Eyes - DARYL DIXON l livro 1 - Quadragésimo Sétimo Capítulo

ELIZABETH GRIMES:

Nos separamos em pequenos grupos e corremos para fora da casa com toda a nossa atenção na retaguarda. Tomando muito cuidado principalmente com as costas.

Já sabem que estamos aqui. Qualquer movimento sem pensar ou sem a devida atenção é morte.

Há vigias em alguns prédios altos, mas conseguimos passar por alguns pontos cegos para eles. O que não adiantou de muita coisa, porque alguns deles vinham pelo chão e nos viram.

Daryl lança granadas de gás lacrimogêneo causando uma grande nuvem de fumaça para encobrir nossos corpos.

Todos saem correndo e se escondembentre as construções quando somos alvejados por múltiplos disparos. Esses disgraçados têm uma metralhadora?

Encaro boquiaberta na direção que os tiros vêem. Rick estava ao meu lado me cobrindo enquanto descarrego a minha munição naqueles filhos da mãe.

— A gente vai morrer! - falo quase gritando.

— Não vamos não! - responde Rick passando a arma por cima da minha cabeça e atirando em dois soldados que caíram no mesmo instante.

Rick desvia seu olhar para mim e sorri de lado. Metido. Só faltou assoprar a ponta da arma pra ficar perfeito.

— Vamos sair daqui Lizzie. Temos dois pequenos esperando por nós. - ele diz e assinto com a cabeça.

Carl me fez prometer que voltaria inteira para ele e, não estava afim de quebrar essa promessa.

Pego uma granada de pólvora no bolso de Daryl que estava perto de nós e conto com os dedos exatos 5 segundos e depois puxo a trava da arma e jogo contra a barreira de homens que se formou nos encurralando e atiro nela com a última bala que me restava fazendo ela explodir antes que atinja o chão.

Assim que a explosão acontece corremos em direção a brecha que entramos. Sou a primeira a passar e ajudo Glenn e Maggie. Rick passa logo depois, sendo seguido por Oscar.

Fomos correndo em direção a floresta para nos afastar na entrada e nos escondemos entre as árvores. Mas meu desespero aumenta quando não o vejo ali.

Onde diabos Daryl se meteu?

— Rick! - o chamo e ele desvia sua atenção na entrada para mim. — Daryl ainda está lá. - aponto com a cabeça e engulo em seco.

— Ele estava bem atrás de nós agora. - diz Oscar.

— Merle está lá. - digo entre suspiros. — Ele não vai sair e deixar ele... de novo. - olho para Rick que já entende o que estou planejando.

— Sério? Voltar por aquele merda? - vocifera Maggie.

— É o irmão dele Maggie. - suspiro pesadamente.

Recarrego minha arma e a destravo atraindo a atenção de todos com o barulho.

— Não vou deixar você voltar lá sozinha. - diz Rick me impedindo.

— E eu não vou deixar ele lá sozinho. - digo.

— Daryl sabe se cuidar. Vamos aguardar ele aqui, se não sair em meia hora eu vou com você. - argumenta.

— Em meia hora Daryl pode morrer. - falo entre dentes. — Vou entrar agora.

— Vai morrer se entrar lá agora. - diz Oscar e o encaro de cima a baixo.

— Eles podem tentar. - saio caminhando em direção a entrada e Rick me puxa de volta.

— Elizabeth... - o corto.

— Não! Eu não vou ficar aqui sabendo que posso fazer alguma coisa para ajudá-lo. - digo. — Não posso, não estou preparada pra perder outra pessoa. - ele suspira e assente.

— Mas Glenn e Maggie precisam voltar para a prisão. Daryl se separou do grupo e foi atrás do irmão sabendo dos riscos. - diz. — Ele escolheu isso, mas os dois ali não. Eles precisam voltar.

Encaro os dois novamente. Maggie estava deitada nos braços de Glenn que mal se aguentava em pé.

— Tá bem, vamos voltar. - digo com pesar. Minha voz falhou em dizer, mas precisavamos voltar para prisão e em certa parte Rick tinha razão. Daryl escolheu se separar e ir atrás de Merle, Glenn e Maggie não escolheram vir parar aqui.

A cada passo de volta para a prisão foi uma pontada em meu peito. O caminho na estrada com os carros foi ainda pior, pois faltava uma pessoa ali. E sabia que Rick também estava sentindo.

Ajudo Maggie. Rick e Oscar ajudam Glenn a entrar na prisão. Michonne também ficou lá em Woodbury, não imagino onde esteja.

...

Entrar novamente foi a parte mais fácil de se fazer.

Voltamos para Woodbury assim que o sol raiou no horizonte. Ainda estava cansada de ontem, mas minha mente processava no automático, não consegui dormir e minha mente estava desperta demais pensando nas probabilidades de Daryl estar bem, que não consegui descansar.

Minha respiração estava ofegante demais, minhas mãos tremiam um pouco. Estava preocupada demais.

Viemos eu, Rick, Oscar e até mesmo Carol. Confesso que fiquei mordida de ciúme quando ela se ofereceu para vir junto usando o argumento de quê "É o Daryl, temos que ir..." faço um careta em lembrar. Como se eu não fosse vir de qualquer forma.

Assim que passamos pela pequena brecha observamos atentamente a nossa volta.

As ruas estavam vazias. Imaginei que depois de ontem as ruas estariam lotadas de marmanjos equipados de armas até os dentes, mas não há ninguém.

Uma movimentação alta vem de uma direção que seguimos. Talvez por curiosidade, ou até burrice mesmo.

E ao chegar lá, me deparo com um campo cheio de aquibancadas. Mas o mais estranho é que tem uma espécie de gaiola no meio do campo, indo de fora a fora pelo que deveria ser há muito tempo um gramado. Algumas armas brancas presas na grade de ferro e duas portas, uma de cada lado. Alguns zumbis amarrados contra a grade tampavam um pouco a visão de dentro do ângulo que olhavamos.

Parecia uma zona de guerra, horrível.

O chão era marcado com sangue. E o lugar inteiro fedia. As pessoas nas arquibancadas estavam alheias a nossa presença e vibravam por algo que logo entendi...

Merle saiu de uma das portas com as mãos erguidas comemorando a gritaria e torcida. Um babaca. Miro minha arma em sua cabeça. Só seria um tiro, um tiro limpo e rápido... ninguém saberia! Respiro fundo trocando a mira para a outra porta que logo se abriu e saiu alguém por ela. Era ele.

Era Daryl!

E ele estava mal pra caramba. Seu rosto quase desfigurado e ainda mais sujo que o normal.

Minha boca seca e sinto minhas vias arderem ao respirar. Como se até elas entendessem o que se passava agora.

Sinto uma mão de fechar ao redor de meu braço e meu olhar se desvia para a ação. Rick quem tinha as mãos ao meu redor e pedia silenciosamente que eu esperasse, assinto sem nem mesmo precisar que ele diga uma palavra e suspiro pesadamente.

Caminhamos sorrateiramente para trás das arquibancadas e nos escondemos embaixo dela. Sob os pés das pessoas que pulavam e gritavam animados.

Daryl estava com as mãos algemadas, seus cabelos estavam em uma mistura de sujeira, lama e sangue seco. Sua aparência, além de estar naturalmente suja estava coberto com alguns hematomas visíveis em seu rosto. Um corte no lábio, um olho roxo quase totalmente fechado e um corte acima da sobrancelha que ainda liberava um filete denso de sangue.

Meus dedos doíam pela força que apertava a arma em minha mão. Um tiro, era tudo o que eu queria. Apenas um tiro.

Alguns minutos de passaram quando um tipo de apresentador começou a ditar as regras para o tal duelo. Daryl já tinha seus pulsos soltos e tentava se equilibrar em pé.

Quando o tal governador liberou a iniciação do duelo, Merle já estava um facão em mãos e provocava Daryl que se recusou a pegar uma arma e apenas fugia dos zumbis amarrados nas laterais da grade.

Merle bufava de raiva por não ter uma luta de verdade. E conhecendo Daryl ele levaria uma surra, mas não pegaria uma arma naquele momento para atacar seu irmão, independente do que tenha acontecido.

Rick me chama baixinho e saímos do esconderijo da mesma forma que entramos e em um lugar mais protegido, começamos a planejar o próximo passo. Rick também sabia que Daryl não ia durar muito se continuasse sem fazer a mínima questão em se defender.

Nos separamos depois de decidir o que faríamos e meu coração palpitava rapidamente. Não poderia dar errado! Não poderia.

Volto para minha posição entre as arquibancadas e deixo minha arma na mira de Merle. Qualquer atitude suspeita demais dele e bum! Cadáver de Dixon.

Rick e Oscar seguiram para o beco que estávamos antes e Carol foi para o ponto morto começar a festa.

Espero o meu sinal e procuro os guardas próximos com a mira da arma, encontrando os que circulavam por ali perto.

Assim que as granadas de Carol explodem, a fumaça se expalha, tomo muito cuidado para não perder nenhum dos guardas de vista e atiro em cada um deles sem hesitar.

Quando minha localização é entregada por um dos malditos recolho minhas coisas e corro por uma das extremidades das arquibancadas que eram abertas e vou até a gaiola de Daryl.

Atiro contra a fechadura da grade e escancaro a porta e mato os dois zumbis que ainda estavam vivos lá dentro com dois tiros.

Miro em Merle que gargalha e ergue as mãos em rendição.

— Você ainda está viva gatinha?! Isso é bom... - sorri maliciosamente e atiro contra ele mudando a mira apenas alguns centímetros para o lado ou pegaria em seu rosto. — E ainda é atrevida... Ganhou a sorte grande em irmão. - brinca e reviro os olhos.

— Cala a boca Merle. - vocifero. Caminho até Daryl parando ao seu lado e lhe entrego uma pistola que estava no suporta em minha coxa. — Temos que ir. Rick e Oscar não vão conseguir segurar eles por muito tempo. - digo me afastando.

Não ouço seus passos atrás de mim e me viro para ele.

— Você não vem? - questiono.

— Não se Merle não puder ir comigo. - o encaro boquiaberta. — Ele é meu irmão, não vou deixá-lo.

— Ah jura! Por que ele parecia muito empolgado em tentar te matar. - ele só pode estar brincando. — Daryl, voltamos por você, arriscamos por você. E agora temos que ir.

— Não pedi que voltassem por mim! - diz e o encaro chocada.

Foi mais forte que eu. Muito mais. Quando reparei minha mão já tinha ido de encontro contra seu rosto e o estralo do tapa se espalhou pelo lugar que já tinha virado uma bagunça com pessoas correndo para todos os lados e tiros voando de lá e cá.

Minha palma ardia e tenho certeza que o rosto dele mais ainda.

— Ótimo, pois então te deixo para os cachorros na próxima. - digo e saio caminhando. — Vamos logo antes que eu deixe vocês dois aqui dentro no mesmo estado em quê esses merdas. - falo me referindo aos zumbis.

Me esguio entre as colunas do local e vejo que os Dixon's me seguem também. Ótimo, resolvemos esse quesito depois, primeiro sair todos daqui com vida é a prioridade.

Corremos quando vemos o caminho livre e logo encontro Oscar e Rick encostados em um muro atirando contra os soldados dos governadores.

Não tinha visto Carol ainda.

— Carol? - pergunto para Rick.

— Já saiu, temos que ir agora. Não temos munição e nem gente para um confronto pesado. - ele diz e concordo.

Corremos de volta para o beco que entramos e ficamos encurralados por alguns guardas antes que conseguíssemos chegar lá. Minha munição se descarrega em alguns corpos, assim como a dos outros também.

Tivemos que correr para outro beco e esse não possuía nenhuma abertura para fora, a única alternativa era pular por cima.

Sou a primeira a ser empurrada contra o muro e pulo com facilidade com os outros me cobrindo. Fico sentada com a arma em mãos mirando nos guardas mais próximos cobrindo os outros. Merle foi o segundo, Rick, Daryl e então Oscar.

Salto para o outro lado feliz por termos todos conseguido sair. Corremos de volta para a floresta indo para o ponto de encontro com a Carol, mas paramos antes que chegassemos lá.

Oscar caiu.

Literalmente.

Corro até ele virando seu corpo pra cima e vejo um buraco de bala em seu peito, com seu sangue manchando toda a sua camiseta branca.

— Oscar? - o chamo. — Ei? - bato em seu rosto para que mantenha os olhos abertos. — Não durma, mantenha os olhos abertos.

Não tinha buraco de saída e a bala estava alojada em seu peito.

Olho para Rick que apenas abaixa a cabeça em silêncio. Não podíamos fazer nada por ele. Não ali no meio da floresta e fugindo de muitos soldados armados até os dentes. Não naquele momento, e isso me doeu o coração.

Me sento frustada no chão coberto de lama da floresta. Oscar ainda respirava com dificuldade. Seus olhos abertos arregalados.

Apenas quando deu seu último suspiro eu soltei sua mão apenas para fechar seus olhos. Eu não tinha deixado cair nem mesmo uma lágrima.

— Eu sinto muito. - sussurro antes de me afastar por completo de seu corpo. — Vamos deixar ele aqui? - pergunto para ninguém em específico.

— Não. - é tudo o que Rick responde antes de vir até mim. — Mas não podemos parar agora, vão vir atrás de nós. - responde e concordo.

Com um pouco de dificuldade arrasto o corpo de Oscar para perto de uma árvore grande e coloco ele encostado nela.

O cubro com alguns galhos de folhas secas e procuro por um zumbi ao redor. Encontro o alvo um pouco mais afastado de onde estamos e vou até ele.

Dou um golpe certeiro em sua cabeça e o arrasto até onde Oscar estava e abro um rasgo em sua barriga, expondo todos os seus órgãos e tripas podres.

Mergulho minhas mãos na imundície e passo na roupa de Oscar, sujando sua roupa com sangue podre de zumbi, afim de manter todos os outros longe do corpo dele até pudermos voltar para buscá-lo.

Algumas das tripas do zumbi, coloquei sobre os galhos secos para intensificar o mal cheiro. Cobri o rosto do recém falecido com uma camisa florida encardida que o zumbi vestia, cortei um pedaço dela - da parte aparentemente mais limpa - e coloquei cuidadosamente sobre seu rosto.

— Lizzie, temos que ir. - diz Rick.

Não digo nada e apenas volto a caminhar para o ponto de encontro e os outros me seguem em silêncio.