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História Angels Never Die (Jeon Jungkook) - Accidentally in love


Escrita por: SocialArmy

Notas do Autor


Hello~

Eu deveria ter postado isso ontem, mas cheguei tarde em casa, deitei dois min pra ler e desmaiei ^^"
E afinal, hoje é meu aniversário, e o presente é de vocês. (EEEEE!!!)
Sem pressa pra ler, pelamordedeus, não desistam de mim ;-;

Boa leitura <3 ^^

Capítulo 9 - Accidentally in love


Fanfic / Fanfiction Angels Never Die (Jeon Jungkook) - Accidentally in love

Observei muito atentamente todos os desenhos feitos por Jeon e tentei fazer algo parecido com o que via, mas o que resultou de todo o meu esforço e boa vontade foram “cópias” assustadoramente horríveis. Jeon continuava a escrever. De repente a inspiração pareceu cair sob sua cabeça e agora suas mãos não paravam quietas no caderno.

   Esperava verdadeiramente que não o tivesse ofendido ao explodir nas minhas palavras. Antes que eu pudesse me conter, as palavras voaram pela minha boca, quando dei por mim, ele estava lá, parado, me olhando como se o tivesse esbofeteado. Temi nos primeiros segundos de sua reação, me arrependendo por tê-lo talvez insultado. No entanto, ele pareceu aceitar muito bem tudo que falei, o que me deixou ainda mais atônita.

Já se passava da meia noite quando me dei por vencida e desisti dos desenhos.

Afastei o caderno e acenei para Jeon, que levantou a cabeça para me ver.

— Acho que perdi a batalha — Anunciei, fazendo careta na direção do caderno.

Ele entendeu depressa.

— Já está indo embora?

Assenti, já me levantando.

— Fique mais um pouco. Eu queria sua companhia enquanto termino de escrever.

   Para mim ainda era surpreendente o fato de Jungkook estar escrevendo; não que ele não fosse capaz, mas fora uma prática que ele demonstrava certa repulsa e desânimo. Vê-lo tão entretido na escrita como estava agora era como ver um crocodilo sendo vegetariano.

Sorri e voltei a me sentar, observando em silêncio enquanto ele continuava minuciosamente o trabalho.

Alguns segundos se passaram no mais mórbido silêncio, e eu nem percebera que estava admirando as expressões faciais de Jeon sem me preocupar com discrição.

— Sabe — Comecei, tentando puxar assunto. — Quando eu e minha irmã tínhamos pesadelos em meio à madrugada, papai cantava para nós uma música de um dos nossos filmes favoritos de infância.

Ele franziu o rosto de uma forma divertida, sem tirar os olhos do caderno.

— Continue.

— Ele cantava a canção Accidentally in Love.

Ele ergueu o olhar para mim, os olhos levemente arregalados.

Sherk? — Perguntou, fazendo careta.

Dei risada, remexendo o suporte ruidosamente.

— Era um dos meus filmes favoritos. Meus pais faziam companhia a mim e Beth quando assistíamos. Era uma das poucas canções que tiravam nossa atenção do mundo, já que éramos crianças. Quando ele a cantava depois de um pesadelo, ele se dissolvia e eu e Beth cantávamos juntamente com ele.

Ele suspirou, contendo um riso, balançando a cabeça.

— Você é estranha. — Ele murmurou, voltando a atenção pro caderno.

Sorri grande, respirei fundo, fechei os olhos e comecei a cantar.

So she said, "What's the problem, baby?

What's the problem I don't know

Well maybe I'm in love (love)

Think about it every time I think about it

Can't stop thinking about it

 

— Meu Deus! — Ele levantou a cabeça e me observou, definitivamente surpreso.

Respirei fundo mais uma vez.

How much longer will it take to cure this

Just to cure it cause I can't ignore it

If it's love (love)

Makes me wanna turn around and face me

But I don't know nothing about love

  Ele sorriu sem mostrar os dentes, nitidamente se segurando para não rir. Aquilo me deu maior motivação. Levantei, segurei meu suporte com as mãos, e comecei uma valsa desajeitada pelo quarto.

 

Come on, come on

Turn a little faster

Balancei os braços e o suporte na direção dele, pulando.

Come on, come on

The world will follow after

Come on, come on

Because everybody's after loooooooove

  Tentei dar um giro com o suporte enquanto cantava, mas acabei batendo o cotovelo na estante, e uma dor aguda martelou meu cotovelo. Minha cara dolorida desapareceu quando uma risada alta e cheia de humor invadiu o quarto inteiro, fazendo meu peito tremer. Virei para Jeon e vi o que há muito eu ansiava em ver: O sorriso era grande, os dentinhos que outrora só vira por uma fotografia estavam expostos, com ondas sonoras de risadas passando por eles, fazendo os lábios se encolherem mais ainda.

Ele bateu palminhas, rindo da minha situação ridiculamente engraçada.

    Fiz outra careta, a mais feia que eu pudesse ser capaz de fazer, forçando minha voz a cantar um pouco mais, visivelmente cheia de dor. Ele riu mais ainda, observei-o parada, sem perceber que parei. Eu ria abobada. Ele riu, ele riu mesmo!

Ele limpou as lágrimas que caíam dos olhos, massageando a barriga, as risadas cessando forçadamente pela provável dor aguda no estômago.

— Você é louca. Sua família inteira.

— Eu ficava mais ou menos nesse mesmo estado quando ouvia a canção. Agora você entendeu.

   Ele riu de novo e senti um enxame nervoso no estômago. Era gratificante vê-lo sorrir. Tão valioso quanto admirar um diamante. Seu sorriso era ainda mais bonito de perto, pessoalmente, ao vivo e em cores.

— Até que você não canta de todo ruim. — Zombou, o sorriso ainda reinando no rosto.

— Acho que você quis dizer “obrigado, Adira, por me dar um excelente show musical.”

Ele riu sonoro mais uma vez. Eu estava tão feliz que ri com ele.

  A porta se abriu cuidadosamente, mas um tanto apressada. Era a enfermeira negra de cachos, a qual descobri que se chamava Paola. E que descobri que também era enfermeira particular de Jeon e da família.

— Mas que o que estão fazendo?! — ela sibilou entre sussurros — Querem acordar a clínica inteira? Jeon, devia estar descansando! E você... — ela apontou para mim, mas eu já estava saindo.

O suporte cambaleou, escapando pelos meus dedos e eu o peguei quando abri a porta, tendo como último vislumbre de Jeon rindo mais uma vez de mim.

 

 

 

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Jeon Jungkook

 

 

"Ela era um monte de constelações
Brilhantes e ardentes
Mas nem todo mundo sabia ver
Ou só conseguiam vê-la por sua ardência e profundidade,
Ou apenas sua parte brilhante e ofuscante
Tudo nela brilhava e queimava."
 

Bobby arquejou, balançando a cabeça em aprovação.

— Muito bom, Jungkook. Eu não esperava que você fosse mesmo gostar de poesia.

Peguei o caderno quando Bobby me devolvera, virei a página e deslizei a caneta pelo papel áspero.

    Algum tempo se passara desde que Adira me fizera rir de maneira tão inocente e imprevisível. Senti algo no meu íntimo se aquecer quando ri pela primeira vez e tão verdadeiramente. Quis rir mais com ela, quis rir do seu jeito desajeitado, do sorriso tímido mas ao mesmo tempo feliz que ela me lançou quando me viu sorrir.

   Desde meu acidente, parecia totalmente sem fundamento dar um sorriso ou rir de alguma piada ruim que eu ouvia, ou das tentativas falhas de todos ao meu redor em tentar me distrair e fazer com que me sentisse menos incluso diante do mundo e das pessoas. Parecia falso e patético demais. Todavia, ouvir Adira cantar me fez sentir como se eu ainda fosse um homem normal, que estava conversando simplesmente com uma garota bonita, rindo e se divertindo.

   Durante aqueles poucos — mas ao mesmo tempo extensos — segundos em que ela estava cantando, dançando de maneira estranha com o suporte e rodopiando pelo quarto, senti uma felicidade que não sabia mais que existia; que há muito não provava o seu sabor leve e adocicado, borbulhante, lívido e revigorante. Adira deu-me de beber esse elixir poderoso com tão pouco e tanta sinceridade que foi impossível não sorrir para ela e parecer eternamente grato por isso.

   Ela voltara mais vezes ao meu quarto depois daquela noite. Nós conversávamos quase sempre. Eu dava continuação as poesias que agora tornaram-se meu passatempo favorito depois de tê-la por companhia e rir das suas piadas e das histórias cômicas que ela contara de sua infância e da sua família. Ela revelara que os pais eram professores, que a irmã era uma calculadora humana e que queria seguir medicina como carreira profissional. Quando a questionei sobre os motivos de ter desistido, sua voz desapareceu, o rosto assumiu uma expressão de censura e ela pareceu estranhamente incomodada.

— Talvez não fosse a profissão adequada para mim... Acho que qualquer um pode cometer esse erro — Adira deu uma risada sem graça, voltando a atenção para o desenho em que estava trabalhando herculeamente há dias.

Fiquei confuso, encarando-a com o mais desconfiado dos olhares, o que ocasionou ainda mais na censura em sua expressão.

— Você me parece muito apaixonada em medicina para simplesmente descobrir precocemente que não era a profissão certa para você.

Ela pestanejou, os lábios tremendo como se não soubesse o que responder.

Infelizmente, ela não respondeu.

    A cada dia que passava, meu bloco de notas assumia um ar belo e espirituoso de alguém cheio de inspiração. Um “Homem pensador”, como Adira chamava. Todas as noites ela me trazia um desenho novo, cujo eu guardava especialmente dentro de uma caixinha que pedi a Paola que decorasse da maneira mais cálida possível, para guardar todos os seus desenhos. — Desde as falhas, as tentativas um tanto frustradas até o melhor dos seus desenhos, que a cada dia vinham melhorando e ganhando forma. Nos ajudávamos sempre que um precisava de auxílio nas duas artes.

   Os dias passavam e eu parecia cada dia mais encantado com Adira. Sua forma de ver o mundo me deixava inebriado, como um perfume caro que invade suas narinas e bombardeia seu cérebro com uma dor pontuda pelo choque do aroma tão belo e doce. Sua personalidade não era de menos. Adorava vê-la em companhia de Yerin ajudando Menahen a ser capaz de jogar uma partida de damas, ou a escrever. Ajudavam-no até mesmo em questões como tato e paladar; Cheiros; Sons; Sensibilidade. Era de fato gratificante ver Menahen se recuperar com louvor da sua cirurgia e se adaptar ao ambiente tão bem com a ajuda de seus amigos. Até mesmo eu me dispus a ajudá-lo, tendo olhares e exclamações assustadas por recompensa.

   Me sentia mais à vontade em Blackwood, dois anos não foram suficientes para tanto, mas Adira fez o que antes significava uma prisão monstruosa, onde estava rodeado de subordinados e babás contratados pelos meus pais para que me protegessem de ver sol se tornasse um lugar agradável, e o único lugar onde parecia haver pessoas que se importavam de verdade comigo.

   Eu conheço meus defeitos, minhas várias limitações, por isso sou tão prudente com cada passo dado. Penso, repenso, e me torturo por dias, semanas, até meses. Não gostava de ficar vulnerável, porque doía a cada tombo, alguns nos dilaceram e não permitem voltar atrás. Sempre me orgulhara disso, sempre ouvi por anos da minha vida o quão bom esse meu jeito sensato e pé no chão era, mas não concordava mais com isso. Vivi toda minha vida com um pé na frente e o corpo atrás, sempre fui prudente demais. Talvez fosse bom, já me poupara de dores desnecessárias outrora. Em face disto, porém, nunca me permitiu ter uma felicidade plena, me impede de sentir a alegria que era confiar em alguém de olhos fechados, nem que seja por alguns instantes. E Adira me enchia de segurança, no entanto, parecia me faltar coragem para expor o que se agigantava no meu peito.

  Ouvi a voz dela novamente. Ressonante, suave, doce, amorosa. Ergui o olhar para todos reunidos na grande roda de cadeiras, ocupadas por pessoas animadas e sorridentes. Menahen estava no centro das pessoas, cuja a melodia de violão vinha diretamente de suas mãos, que tocavam o instrumento. Ele levou um mês até que conseguisse tocar o instrumento sozinho, e estava radiantemente feliz, um sorriso tão grande que as maçãs do rosto elevavam os óculos escuros. Adira estava sentada não muito longe dele, batendo leves palmas em ritmo da música, acompanhando a voz de Menahen.

   Ela sorria disfarçadamente de longe, e eu aqui, incerto de que aquele riso fosse para mim. Quem sabe nem passasse pela cabeça dela que eu a observava. Guardava cada detalhe dela para recordar depois; o cabelo esvoaçando levemente com as rajadas de vento frio que vinham das janelas abertas, pequenos avisos sussurrados, o sorriso de canto e o olhar enigmático. Comecei a escrever novamente, olhando-a vez o outra. E eu me perguntei se ela gostaria de saber que dessas milhares de página escritas no caderno, é tudo para ela.

— Por que não fala com ela? — A voz de Bobby cortou meus pensamentos. Olhei para ele, sorrindo.

— Ainda com isso?

Ele piscou com uma expressão sinuosa.

Revirei os olhos e voltei para o poema.

— Acha mesmo que ela é para mim? — Perguntei, sem esconder minha curiosidade.

— Claro. Ela é superdivertida e você é o maior chato. Ela te completa.

Não consegui deixar de rir e acabei concordando.

— Está vendo? O Jungkook que eu conheço nunca riria disso, e talvez me mandasse ir plantar coquinhos... Você com certeza foi substituído por um clone.

— Esqueça isso, Bobby. Adira merece mais que um inválido. Já a magoei muito desde que a conheci.

   Parei para refletir sobre como a tratei desde que ela defendeu uma das enfermeiras que cuidava de mim. Ela foi corajosa e enfrentou alguém como eu, que ela nem conhecia. Pensei em todas as vezes em que a tratei mal, que a afastei quando só estava sendo gentil comigo e ser minha amiga. Alguns meses de convivência foram suficientes para me fazer enxergar que ela não era uma qualquer que estava sentindo pena de mim. Não esperava que ela fosse agradável comigo depois de tudo que eu havia feito, mas ela pareceu me perdoar mesmo antes de eu me adiantar a pedir perdão.

— Ela está triste hoje. — Falei mais para mim mesmo do que para Bobby.

   Continuei mirando-a, sem me preocupar se ela perceberia. O olhar dela se deparou com o meu, contemplativo, a determinação nos olhos dela, o queixo erguido da forma como ela sempre fazia quando sua mente estava a mil. Eu havia estudado cada gesto, cada piscadela, cada nuance, toda a linguagem que era Adira em todos os meses que estávamos vivendo ali, juntos.

— Você podia admitir que gosta dela, mas para ela própria.

Revirei os olhos e bufei irritado, ignorando suas balbucias. Bobby riu abertamente, se divertindo com a situação.

    Ele se endireitou no sofá e respirou fundo. Olhei bem para ele. Bobby tem estado mais doente que o normal esses últimos tempos. Ele estava pálido, o que era anormal em vista que ele era dono de uma pele bronzeada e bonita. Os olhos estavam fundos e cansados, Bobby assim como eu, necessitava de algo fora da sua natureza para que fosse possível se locomover; estava por usar um Andador Ortopédico. Estava fraco demais para conseguir andar sozinho, ele violava sem pudor as ordens médicas de permanecer deitado e em repouso, mas ele era ativo demais para ficar dias e dias dentro de um quarto com pensamentos negativos enevoando e putrefando seus pensamentos.

A voz dele estava mais fraca quando voltou:

— O que foi que chamou sua atenção nela em primeiro lugar?

Balancei a cabeça. Que diferença isso fazia?

— Não sei.  — Limpei a boca com a manga da camisa, fingindo desinteresse.

— Deve ter havido alguma coisa.

Alguma coisa. Pensei em quando eu tinha visto sua silhueta parada na porta do meu quarto.

— Talvez fosse a primeira vez em que a vi, e eu...

   Uma lembrança veio à tona. Não. Fora outra coisa. A ousadia. Uma voz exigindo ser ouvida. As mesmas coisas que me deixavam intrigado. Mas nem isso tinha sido o que capturara a minha imaginação. Foi no dia em que ela me pôs no meu lugar. O dia em que uma menina de dezoito anos de idade fora valente o bastante para me dizer que eu não era um nobre rei para menosprezar as pessoas. Uma recusa de proporções épicas, a forma como seus olhos viam tudo. Aquilo havia me cativado.

A valentia dela. O coração dela. O brilho dos olhos.

  Ergui o olhar para Bobby, que me fitou como se pudesse ver as palavras não ditas atrás dos meus olhos, como se eu fosse um cavalo que ele tivesse acabado de forçar a beber de uma suja gamela que eu mesmo tinha feito.

Mal abri a boca para falar quando ouvi a voz de Adira e senti-la puxar a cadeira de rodas, minha visão se chocando abruptamente com a proximidade das pessoas que estão na roda.

   Olhei para ela por cima do ombro, ia protestar mas eu já estava ao lado de Menahen. Adira puxou outra cadeira e sentou do meu lado. Tive vontade de ser carrancudo, mas o sorriso brilhante e os olhos enérgicos de Adira fizeram com que a leve e fina linha de raiva e medo se dissipasse.

— Vamos, cante um pouco. — Ela pediu, sorrindo para mim.

Menahen concordou, e por um instante tive receio de sair e deixá-los ali.

  Eu fiquei parado, pensando no que fazer, quando a voz de Adira ecoou, cantando a mesma música que ela cantara tempo atrás. Menahen começou a tocar e as pessoas ao redor batiam palmas, algumas acompanhando a letra. Vi Bobby fazer esforço para vir até nós e balançar a cabeça ao ritmo musical. Mirei Adira e a observei, sorridente e divertida, sorrindo para Menahen e Yerin que também entrou para cantar. O sorriso dela me trouxe segurança, o sorriso das pessoas me trouxe satisfação. Todos estavam felizes, ainda que muito doentes. Não era isso que Adira iria querer. 

Sorri para ela quando seu olhar se prendeu no meu e acompanhei a letra, observando os lábios dela e pensando no quanto ela ficava radiante quando não estava triste.

 

 

 

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— Resolveu dar uma escapada?

Eu levantei a cabeça, me deparando com um Jungkook com alguns livros no colo.

Tentei sorrir.

— Oi. Estava só querendo... hum... ficar um pouco sozinha — Tentei rir.

Ele me olhou desconfiado, uma ruga gentil entre as sobrancelhas.

— Você está bem?

Pensei alguns instantes antes de responder.

   Eu não sabia se era o último estágio ou não, mas carregar a dor de que não faltava muito para que tudo acabasse tem me deixado sufocada e não consigo mais colocar uma palavrinha para fora. Esse aperto constante é tão forte que parece ter rompido uma barreira do emocional e se tornado físico. Não lembro a última vez em que disse um “estou bem” sincero e genuíno, e sempre que eu minto, uma parte dentro de mim se quebra em mais pedaços que se perdem por todo o meu ser, fazendo com que eu me sinta vazia. Um vazio frio e sôfrego.

   Vejo a vida passar e estou de mãos atadas, sem poder fazer nada. Esses últimos tempos com Jeon e com todos têm me feito pulsar de alegria, e isso significava dor por outro lado. Levantar tem sido insuportável quando lembro que logo não poderei mais fazer isso. Tenho tentado me manter forte e aceitar que as coisas tinham que ser desse jeito, mas estava fora de controle. Eu não conseguia controlar o que se passava dentro de mim. Dizem que chorar faz bem, que alivia, mas eu já não aguentava mais chorar quando meus pais vinham me visitar e me sentia afogar cada vez mais.

Mas eu não podia deixar que isso me abalasse. Nem abalasse os outros ao meu redor.

Pisquei com força para impedir as possíveis lágrimas e fiz que sim com a cabeça.

— Estou bem, sim. É que... Bem, gosto de ficar aqui no jardim. Me faz bem.

Senti que ele não se sentiu seguro com a minha reposta, mas pareceu suficientemente à vontade para mudar de assunto.

— Fiz mais poemas, veja — Ele puxou o bloco de notas debaixo dos livros. — E ah, trouxe esses da biblioteca para você. Achei que fosse gostar. Estou lendo alguns também.

Sorri, pegando um deles da sua mão.

— É mesmo? O que está lendo?

— Ah, nada especial. Você não ia gostar. É só uma historinha de amor, mas estou gostando.

Era bom saber que Jeon estava se distraindo ao invés de perder horas do seu dia deprimido.

— Hum, Sherlock Holmes! — Fiz cara de animada. — Acredita que nunca li nada dele?

Ele me olhou incrédulo.

— Você é muito nefelibata.

— Nefo o quê?

Ele deu risada. A risada de Jungkook parecia fazer tudo valer a pena.

— Nefelibata. Alguém que vive no mundo da lua. — ele corrigiu.

— Aaaah... É, acho que sou isso mesmo.

Peguei alguma das poesias dele e folheei-as, silenciosa.

— Adira?

— Hum?

— Você está tendo outro dia enervantemente calado. O que houve com aquela “falação que chegava a ser vagamente irritante”?

— Desculpe, acho que deve ser efeito colateral de algum remédio.

— Bem, então vamos conversar. O que achou das poesias?

— Ah, belíssimas. Você está ficando cada vez melhor nisso, Jeon. Seja lá a musa inspiradora que você tenha, ela merece meu respeito.

Ele as pegou, com uma satisfação alegre no rosto.

— Escrever é um trabalho solitário, mas poder conversar sobre escrita é sempre inspirador. Você é a única com quem posso falar sobre, já que foi você que me abriu as portas para esse mundo. Tenho que admitir que me sinto imensamente bem quando escrevo. Você tinha razão.

— Bem, enquanto eu ainda estou sofrendo com desenho. — Fiz uma cara tristonha, na tentativa de fazê-lo rir.

Ele fez careta.

— É, você é péssima.

Dei um chute em um dos pedais da sua cadeira, indignada com a falta de consideração, abobada vendo rir.

— Seja um incentivador de pessoas. O mundo já tem críticos demais. — Falei rabugenta.

Ele parou de rir, pedindo desculpas.

— Você pega o jeito.

   Assenti um pouco desanimada. Suspirei olhando para ele. Ele estava lindo, como sempre. O sorriso lhe acrescentou uma beleza ainda mais extravagante, e poder ver esse gesto todos os dias tem sido como um sol descarregando raios solares em um bosque escuro e tenebroso.

— Gostaria de tentar escrever sobre amor... Mas acho que não escreveria tão bem quanto você. Aliás, como você sabe tanto sobre isso?

Ri fraco, desferindo-lhe um olhar de aviso.

— Quer mesmo saber?

Ele repousou as mãos sobre as pernas, uma expressão decidida e teimosa.

— Sou todo ouvidos.

 

 

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 Lembro exatamente do dia em que perdi medo.

    Hoje de manhã acordei e deparei-me com um tapete branco de neve cobrindo nosso jardim. Não chegava a medir três centímetros de espessura, mas, nesta região, um simples grão de poeira faz com que tudo pare enquanto o único trator limpa-neve trabalha para limpar as estradas.

Era natal, o melhor dia do ano.

   À noite, nos reunimos todos na casa dos meus avós para a ceia, mas eu não estava nem um pouco satisfeita. Fiquei em frente à lareira, cutucando com o indicador uma das meias verdes que pendiam dela. Nunca esteve tão frio quanto naquele momento.

— Adira — Ouvi a voz do meu pai, e eu fiquei pior ainda por saber que ele já havia percebido. — Está pensando naquele rapaz de novo?

Mamãe apareceu logo ao lado dele.

— Oh, minha filha, esqueça aquele garoto. Ele não era para você. — As mãos da minha mãe deslizaram pelos meus cabelos escuros, admirando meu rosto.

   Revirei os olhos e ignorei suas palavras. Eu sabia que eles tinham razão, mas esquecer um primeiro amor era tão fácil quando dormir em uma cama flamejante de chamas ardentes e esfomeadas.

Mamãe me deu um sorriso consolador.

— Algumas vezes você vai mergulhar em alguém e de repente, essa pessoa vai lhe dizer que precisa ir. Isso vai te fazer aprender sobre chegadas e partidas. Vai entender que ninguém é obrigado a ficar, e às vezes algumas pessoas só chegam para ficar ao nosso lado por um curto período de tempo. Eu mesma sofri bastante com o primeiro rapaz que namorei, mas veja, conheci o seu pai. Acha mesmo que esse garoto será o único por quem você irá se apaixonar na vida?

   Observei minha mãe com cautela. Conheci um garoto durante o terceiro ano, nos envolvemos e fora algo excitante e completamente inédito. Não soube lidar com nossa remota e precoce separação, e para uma garota que tivera seu primeiro relacionamento, era difícil presumir se me recuperaria rápido.

— Amor é uma coisa que surge com o tempo, filha, que cresce com a convivência. Que suporta tudo, que supera tudo. Mas se não for recíproco, o efeito não logicamente não será o mesmo. Juntamente do amor vem a lealdade, confiança, e acima de tudo, força de vontade.

“Quando entrei na adolescência e comecei a entender algumas coisas que até então não fazia ideia do que era, conheci a paixão. As primeiras paixões trazem desilusões, que aquilo é maravilhoso, até que você dá de cara com a desilusão e vê que não era nada daquilo que você imaginava. Todos nós sofremos desilusões com o decorrer da vida.”

“Algumas pessoas tratam as outras como esses folhetos que recebemos na rua pelas mãos de um panfleteiro, sem ao menos dar o trabalho de ler o conteúdo escrito, antes de descartá-lo na primeira lata de lixo que lhe brotar na sua frente. Isso quando não o amassam e atiram pelo chão. O que não pode deixar é que isso lhe dê um arrastão e lhe deixe caída eternamente. Às vezes, depois de muito cairmos, alçamos vôos mais altos.”

“Qualquer um pode olhar para você, mas é raro encontrar alguém que veja o mesmo mundo que o seu. Não tranque seu coração. Deixe-o livre, você precisará aprender a ser forte e sentir-se confiável o bastante para aprender a voar. Não deixe seus machucados definirem quem você será e o que fará. Aprenda com as mágoas, com os cortes nos joelhos e com os olhos cansados. Isso tudo é uma comédia para os que pensam, e uma tragédia para os que sentem, mas, às vezes, soldados precisam curar-se sozinhos para se tornarem bons soldados.”

 

 

 

 

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— Acho que é isso: crescer e descobrir que nós somos capazes de suportar bem mais do que achávamos.

Jeon parecia estagnado e imerso em pensamentos. Também fora minha reação as palavras tao doces de meus pais.

— Você tem muita sorte.

Sim, eu sabia disso. Sabia também que os pais de Jeon não atendiam ao que ele necessitava, e isso me entristecia em proporções gritantes. Faria qualquer coisa para que ele se sentisse melhor.

— No que está pensando? — Perguntei, apoiando o queixo nas mãos.

Ele fez cara de desinteressado.

— Em lulas.

— Você é sempre arrogante assim?

— Na verdade, este sou eu simpático. — Jeon riu forçadamente. — Não fique mal. Não é natural vê-la em um estado tão deprimido.

— Você também podia dar um sorriso. — Brinquei, tentando ganhar mais um sorriso dele.

Ele balançou a cabeça.

— Meu sorriso não é bonito. — Jeon desviou os olhos de mim, passando a apertar os nós dos dedos que estavam brancos apertando o caderno de poesias.

Ri de incredulidade. Como ele não tinha um sorriso bonito? Levei tal comentário como uma afronta.

— Você diz que não tem o sorriso bonito. — Repeti em tom áspero. — Se você pudesse enxergar ele com os meus olhos, veria que ele é uma das coisas mais lindas que eu já vi. — Respondi com convicção, esperando que a minha indignação ficasse bem clara e palpável.

Ele me fitou, quieto, sem falar nada. Como um lampejo, seu sorriso crispou novamente os lábios e os olhos tinham uma espécie de brilho misterioso.

Senti-me ligeiramente tímida com sua observação e ia levantar, mas Jeon me interrompeu:

— Espere — Sua mão segurou a minha e empurrando meu corpo de volta ao banco, a cadeira de rodas estava na minha frente, seus joelhos tocando e pressionando os meus.

  Fiquei atônita. O rosto de Jeon estava a centímetros do meu, seus olhos, agora tão perto dos meus, me ofereciam uma vasta imensidão escura e enervante. Senti meu estômago congelar, meu coração ameaçou pular pela boca.

Ele continou me olhando, sem dizer nada. Os dedos dele se apertaram em volta da minha mão, e, com a voz levemente trêmula, ele sussurrou:

— Não sabe o quanto estou lutando para te olhar e não sentir absolutamente nada.

   Era algo em sua voz, no tom daquelas palavras, na cadência e melodia quando se formaram em sua língua, a sua presença, a calidez do olhar que parecia transmitir um oceano de possibilidades, o perfume inebriante que agora parecia forte demais e cada centímetro do seu corpo, tão febril que podia sentir o calor emanar dele.

  Como uma corrente elétrica atravessando meu corpo e atingindo meu peito, os lábios de Jeon pressionaram os meus, gentis, firmes e ociosos. Uma descarga que se iniciou com um toque suave, que descarregou imediatamente adrenalina em minhas veias. E eu, viciada incurável de seus relâmpagos, deixei que meu corpo fosse engolido pela tempestade que era Jeon Jungkook. Tudo parecia um clarão, que aconteceu rápido demais, e não sabia se era verdade ou alguma falha sutil da minha imaginação.

  Eu iria lhe confessar o segredo que guardei com tanto zelo durante tanto tempo, mas ele foi meu segredo naquele momento. Uma memória da qual eu jamais seria capaz de me livrar. 


Notas Finais


Me desculpem qualquer Erro <3


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