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História Anjo da guarda - Cap 02


Escrita por: MenerusHurt

Capítulo 2 - Cap 02



Um mês havia se passado desde aquela noite de sexta feira, e todas as noites eu ainda tinha pesadelos. Eu estava tentando superar, estava tentando ser agradecida por aquele homem ter aparecido para me ajudar, e estava fazendo possível impossível para me esquecer dos olhos daquele homem repugnante. Algumas vezes eu conseguia me sentir bem. Algumas vezes eu sentia que já tinha me esquecido do ocorrido, e que poderia continuar com minha vida normal. Isso até algum homem passar por mim na calçada, ou alguém me surpreender enquanto eu estava no almoço. Várias vezes aconteceu de outras pessoas tocarem em meu ombro para falar comigo, e eu simplesmente me afastar assustada. Marcela e Catalina tentavam amenizar a situação dizendo que seria difícil superar, e que era totalmente compreensível.

Mas, nem tudo parecia tão ruim. Henrique sentia-se na necessidade de conversar comigo pelo menos uma vez ao dia. Mesmo que eu não soubesse responde-lo ou fazer qualquer outra coisa além de sorrir e balançar a cabeça afirmamente, ele parecia preocupado e era fofa a sua maneira de tentar me deixar melhor, mesmo que fosse elogiando o meu brinco ou algo assim.

A parte ruim além de ter pesadelos e me assustar todas as vezes que um homem se aproximava de mim? Eu estava totalmente travada. Não conseguia mais ler o meu livro ou consertar alguma coisa. Isso deveria ser algo bom. Deveria significar que ele já estava 100% pronto para ser publicado. Mas eu sabia que não era isso. Eu estava bloqueada. Não conseguia mais ler a minha história e sorrir quando o casal enfim se beijava pela primeira vez, ou quando o galã dizia para a protagonista que a amava. Eu não conseguia mais sentir o que minha história deveria transmitir, e talvez isso fosse um dos meusbmaiores problemas.

Consultei um psicólogo por uma semana, mas desisti. Eu não tinha ânimo ou paciência para ficar sentada em sua frente, em silêncio. Ele tentava me fazer falar sobre o trauma, mas eu simplesmente não queria falar sobre isso. Não queria falar para não precisar me lembrar daquela noite. Até que um dia desisti de ir à um psicólogo, e resolvi tentar esquecer sozinha. E continuei tentando...

M-Você não vai acreditar nisso!(exclamou, parando sobre o meu computador.) Sabe a Nancy do segundo andar?

B-Sim.(Respondi sem tirar os olhos do computador.)

M-O livro dela foi publicado! Dá pra acreditar?

B-Aquele que parecia um kamasutra?(Perguntei perplexa.)

M-Sim! Como é que aceitam publicar aquela porcaria? Parece que ela copiou as falas de um filme pornô e montou uma história sobre isso. Onde já se viu você transar com um entregador de pizza só porque os olhos dele eram bonitos? Ela é uma pervertida, isso sim!(Voltei a olhar para o meu computador.)BEla só pode ter dormido com o idiota do Sander. Eu tenho certeza que foi isso!

B-Sander pode ser um idiota, mas nem tanto.(Falei em voz baixa para que ninguém escutasse. Sander era o nosso supervisor, e todas as histórias passavam por ele antes de serem aprovadas ou descartadas. Um homem desprezível que achava que era o centro das atenções apenas por ser o sobrinho do chefe. Ele não merecia o cargo que tinha, e todos já haviam notado isso.)

M-Ela pode ter pagado por isso. Só pode.

B-Bom... De qualquer maneira, parece que ela conseguiu o que queria.(Falei desanimada.)

M-Não acho isso certo. Sabe quem tem o dom de escrever? Você.

B-Eu?

M-Sim! Você escreveria um bom livro para ser publicado, eu tenho certeza! Tem criatividade. Muita, na verdade. Já pensou nisso, Betty?(Olhei para ela e me levantei.)

B-Não, não pensei nisso.

K-Pessoal, um minuto de sua atenção, por favor!(O chefe saiu de sua sala e todos olhamos para ele.) Preciso fazer um comunicado importante.(Droga. Era só o que me faltava. Remanejamento. Como se meus dias já não estivessem difíceis o suficiente, eu ainda teria que lidar com a ansiedade e nervosismo de um remanejamento. E o pior de tudo isso, era que eu ainda estava traumatizada para ir ao bar do Joe e afogar minha ansiedade em cinco garrafas de cerveja.) A partir de hoje teremos algumas mudanças aqui na editora.(Marcela olhou para mim, esperando que a qualquer momento eu começasse com meu ataque de ansiedade, mas até o momento, me mantive firme.) Teremos um novo chefe da edição.(Ótimo. Outro chefe. Era o que precisávamos. É claro, isso foi uma ironia.) Ele trabalhou em diversas editoras, inclusive na Viking.(Houve um murmúrio entre todos. Uma pessoa que havia trabalhado na editora Viking só poderia ser alguém ou muito respeitável ou muito louco para ter trocado de editora.) É filho de um grande amigo meu e de longa data, por isso espero que todos tenham respeito e o recebam bem aqui. Foi de bom grado que ele aceitou trabalhar conosco, e espero que ele fique feliz e satisfeito com o desempenho de todos vocês.

M-Já vi que teremos que puxar o saco dele.(sussurrou e algumas pessoas riram.)

K-E espero também que mantenham a postura. E isso serve para todo mundo.(Manter a postura? O que ele quis dizer com isso?) Essa editora ainda é um lugar de respeito, e apesar dos infelizes problemas que tivemos aqui nos últimos meses...(Ele virou-se para alguns funcionários, e logo entendemos o que ele quis dizer. Várias vezes pegaram alguns funcionários fazendo coisas inadequadas em salas vazias ou nas salas de reuniões.) Espero que não tenhamos esse problema.

M-Uau. Ou ele é uma máquina de sexo ou é o Brad Pitt.(novamente comentou, e dessa vez, eu não consegui prender o riso.)

K-Ele chegará em algumas horas, portanto já estão avisados. Comportem-se, e não me decepcionem.(Assim que o chefe voltou a entrar em sua sala, as pessoas se dispersaram e eu voltei a me sentar.)

M-Acha que ele é bonitão?(perguntou escorando-se em meu computador.)

B-Não sei, e não estou interessada. A única coisa que estou interessada é em saber se ele será como a Pilar, ou como o Sander.

M-Não tem outra opção? Não precisamos de mais um dos dois aqui.

B-Para um discurso como esse, ele só pode ser alguém muito metido ou arrogante.

E-O cara trabalhou para a Vikings. Ele tem todo o direito de ser metido.(Disse Erica, uma de nossas colegas.)

M-Tem razão.(suspirou.) Eu só espero que ele seja ao menos bonito. Esse andar está precisando de um pouco de beleza.

T-Posso dar um jeito nisso.(Teddy passou a mão em seu cabelo e Marce o repreendeu com o olhar assim que ele se afastou.)

M-Argh. Me lembre de nunca mais dormir com ninguém do trabalho.

B-Eu sempre digo isso. E você nunca me escuta.(Respondi indiferente.)

M-É verdade.(sorriu.) Bom... Estávamos falando de livros. Quando vai começar a escrever o seu?(Me levantei impaciente e peguei alguns envelopes sobre minha mesa. Não perdi meu tempo respondendo ela, até porque eu não queria dizer que já tinha um livro, mas que pretendia apaga-lo por não sentir mais o que eu deveria sentir enquanto o lia. Na verdade, desde o ocorrido há um mês, eu não sentia absolutamente nada.)

...

Tédio é a palavra que definiria o meu dia. Eu costumava me empenhar no trabalho. Responder os e-mails que chegavam em minha caixa postal (que na verdade eram muitos), encaminhar ideias de livros para Sander desprezá-las depois, e como um bônus, eu cuidava de sua agenda. Eu não recebia créditos por isso, e ele realmente pensava que era a minha obrigação fazer isso. Mas, eu não era sua assistente, e enquanto ela estava preocupada em se maquiar a cada quinze minutos para que ele reparasse um pouco mais nela, eu cuidava de suas coisas. Marcela sempre dizia que eu não tinha o reconhecimento que merecia ali, e de certa forma eu sabia disso. Mas, ficando tão ocupada, eu me sentia melhor. Menos naquele ultimo mês.

S-Betina, você remarcou a minha reunião?(perguntou ao passar por mim.)

B-Meu nome é Beatriz. E não, eu não fiz isso porque não sou sua assistente. (Respondi um pouco grosseira e ele me olhou assustado.) Senhor.

S-Olha, eu sei que você tem tido muito trabalho durante esses dias, e sei também que ainda está chateada pelo que aconteceu.(Sim, por algum motivo todos da editora souberam sobre o ocorrido, e eu tive que me acostumar com olhares preocupados, curiosos e de pena sobre mim.) Mas eu preciso muito que faça as coisas por mim. Érica não é tão eficiente quanto você, e...

B-Tudo bem.(o interrompi, sem paciência para o seu falso discurso.) Vou remarca-la agora mesmo.

S-Ótimo.(sorriu.) Aproveite e me traga um café.(passou por mim esbarrando em meu ombro. Como eu detestava aquele homem!)

H-Uau, isso foi terrível.(aproximou-se de mim, e de repente meu corpo travou.) Você nem mesmo é assistente dele.(Tentei concordar, mas não consegui produzir uma palavra.) Bom, por sorte eu acabei de comprar esse café.(sorriu, me entregando o copo de café.) Não vai precisar sair para comprar, e nem gastar o seu dinheiro porque sabemos que ele não vai ressarci-la.(Sorri agradecida, pegando o café.) Mas acho que a reunião você vai precisar remarcar.(Balancei a cabeça concordando e ele saiu sorrindo.)

Que burra, Beatriz! Você nem mesmo consegue dizer um "obrigada" digno para ele! Henrique estava sendo um amor naquele ultimo mês, e mesmo que eu soubesse que ele só estava assim depois de saber o que aconteceu comigo, eu deveria ser mais agradecida. Balançando acabeça, segui para a sala de Sander a fim de remarcar sua reunião.

Como sempre, sua mesa estava uma bagunça, mas dessa vez eu não iria arrumá-la. Apenas coloquei o café sobre a mesa e peguei a sua agenda.

P-Sander, eu preciso que... (A porta se abriu, e Pilar me olhou com desdém.) O que está fazendo aqui?

B-Eu... Estava indo remarcar uma reunião para o Sander.

P-E você virou assistente dele?

B-Não, mas...

P-Então saia daqui!(Como eu havia dito, grosseira e arrogante.)

B-Mas eu...

P-Onde está a Erica?(De repente, Erica apareceu apressada, olhando para Pilar.)

E-Estou aqui.

P-Não sabe que deveria estar tomando conta das coisas do seu chefe?

E-Sim, mas...

P-Então o que está esperando?(Erica me olhou e entrou na sala, sussurrando um "obrigada". Ela deveria saber que eu não estava fazendo aquilo para ela, muito menos para Sander. Na verdade, eu não sabia para quem estava fazendo aquilo. Peguei o café sobre a mesa e sai da sala, passando por Pilar. Ela me olhou de cima à baixo e bufou quando me afastei. Pilar era uma mulher jovem e elegante, e era a chefe de criação. Era graças à ela e à difícil maneira de agradá-la que a editora estava entre as melhores da cidade. Pilar não aceitava criar algo para histórias que ela não aprovava, mesmo que tenha passado por diversas pessoas antes dela. Ela fazia questão de ler as histórias antes de aceitar se deveria ou não fazer uma criação para torná-la um livro de sucesso. Por isso ela tinha o que quisesse e quando quisesse, e nem mesmo o chefe tinha poder sobre ela.)

S-Betina!(Revirei os olhos e me virei para Sander, que caminhava em minha direção.) Você remarcou a reunião?

B-Não, e meu nome é Beatriz, e não Betina.

S-Por que não remarcou? Eu pensei que tivesse pedido para...

B-Pilar está te procurando, e ela não me deixou remarcar. Provavelmente sua assistente está fazendo isso.

S-Ótimo. É o meu café?(Antes que eu pudesse responder, ele pegou o café e tomou um gole, cuspindo de volta no copo logo depois.) Isso está horrível! Foi coado com água de privada?

B-Não sei. Pode ser.(Ele me olhou com raiva.)

S-Deixa pra lá!(Balancei a cabeça impaciente, e por pouco não retruquei de uma maneira pior. Eu estava totalmente sem paciência naquele dia, e ele não poderia ficar pior. Ou eu pensava que não poderia. Assim que me virei, pronta para voltar para minha mesa, esbarrei em alguém e o café derramou em seu terno. Abri a boca espantada e quando ergui minha cabeça para ver quem era, minha surpresa foi ainda maior. Era ele. O homem que tinha me salvado naquela noite, e eu jamais me esqueceria do seu rosto.)

K-Beatriz!(O chefe se aproximou e olhou para ele, assustado.) Meu Deus! O que aconteceu?

B-Eu... Eu...(Tentei pedir desculpas, mas não consegui. Estava tão envergonhada e ao mesmo tempo assustada que não consegui produzir nenhuma palavra. Ele olhava para o próprio terno, enquanto tentava limpá-lo com a própria mão. Ele provavelmente estava furioso, já que nem me olhava, mas eu o reconhecia. Eu sabia quem ele era, e devia minha vida à ele. E como o paguei? Derramando café coado com água de privada em seu terno.)

K-Bom... Acho que não preciso apresenta-la ao novo chefe de edição.(olhou para o homem que ainda limpava seu terno.) Armando Mendoza.(Só então ele ergueu a cabeça e olhou para o chefe. Ao virar-se pra mim, pude perceber que ele tinha o mesmo espanto que eu ao vê-lo. Ele me reconheceu, eu tinha certeza disso. Por um segundo pensei que ele fosse dizer que já me conhecia, mas sua feição de surpresa mudou para uma indiferente, que eu não consegui decifrar.)

A-Muito prazer.(disse com certa frieza. Ótimo, Beatriz! Você acabou de deixa-lo irritado. O homem que você devia a sua vida à ele estava encharcado por café, e a culpa é toda sua. E para piorar: ele é o novo chefe de edição.)

B-O prazer é meu.(Falei tensa, forçando um sorriso.) E... Seja bem vindo!(O chefe me olhou e balançou a cabeça envergonhado. Ele não era o único.)


Notas Finais


❤️😘


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