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História Anjos Caídos - Me Acorde Quando Isso Acabar


Escrita por: MissQueenBee

Notas do Autor


Eu pensei que não conseguiria atualizar esse capítulo cedo, mas tô aqui!

Não vou me prolongar muito, então vamos de capítulo novo.

Boa leitura, amores ❤️

Capítulo 22 - Me Acorde Quando Isso Acabar


Fanfic / Fanfiction Anjos Caídos - Me Acorde Quando Isso Acabar

Na frieza dos  corredores de um hospital, Hyungwon caminhava apressado, levando consigo toda a tristeza e desolação que o ambiente carregava.

Há cerca de meia hora, ele recebeu uma ligação de Jo dizendo que Hoseok estava no hospital por conta de um acidente no trabalho. Dirigiu como louco pelas ruas  da cidade até chegar aquele lugar e por um momento, deixou de lado toda a história sobre o pianista e a família, para poder apenas cuidar dele.

Em frente ao quarto onde Hoseok estava, Jo conversava com um médico e ao olhar por cima dos ombros do homem, viu Hyungwon se aproximando aflito. Embora, não houvesse uma razão aparente para que o michê não pudesse ouvir a conversa, ele teve a impressão de que quanto mais perto chegava dos dois, menos se ouvia o som de suas vozes.

O médico se virou  para a direção de onde Hyungwon vinha e aquela cena passava qualquer ideia de que o Doutor havia recebido um sinal por parte da assistente para dispersar e embora não quisesse se colocar paranóico, agora que sabia que o pianista também guardava segredos de si, tudo parecia motivo para a venenosa desconfiança.

A pressa em ter notícias de Hoseok, não impediu o michê de reparar no jaleco do médico vindo no sentido oposto e nele se lia So Byul Han, Psiquiatra. Com a cabeça, acompanhou o homem de branco, enquanto se lembrava da fala do senhor Shin, há algumas horas.

Eu não entendia o que motivava essas mudanças repentinas, então o levei a um doutor muito bem recomendado em Gangnam, chamado Han. Ele que deu o diagnóstico de Hoseok.

Voltou os olhos para Jo que o aguardava com um semblante pouco a vontade e parado de frente para ela, perguntou:

— Onde ele está?

— Descansando no quarto.

O michê olhava para a assistente com uma aparência não muito animada e o ambiente parecia carregado.

— Como isso aconteceu?

— Ele...— Jo refletiu. — Ele passou mal antes de uma de suas aulas no Conservatório. Desmaiou e se machucou na queda, mas agora está bem melhor, apesar de ter levado alguns pontos na testa.

Ainda que genuinamente preocupado com isso, era inevitável que todas as dúvidas sobre o seu pianista não viessem a tona naquele momento tão inoportuno e ali, de frente para aquela porta ele considerou não perguntar o que  queria, para seguir mantendo o disfarce para Jo, mas a própria ansiedade o traiu.

— Hoseok teve uma crise?— disparou surpreendendo a assistente.

Ela não tinha certeza sobre o que dizer. Abriu a boca em uma tentativa de responder, mas não sabia como iniciar seu raciocínio e a julgar pela forma como a pergunta foi feita, Hyungwon já tinha as respostas e  buscava apenas a confirmação.

— Uma vez, eu cheguei na casa do Hoseok e ele estava desmaiado no banheiro. — a voz soava grave. — Algo muito parecido com o que aconteceu hoje. Naquela ocasião, quando ele voltou a si, demorou pra me reconhecer, e quando o fez...— se deu um tempo antes de continuar. — ...ele era como outra pessoa.

Jo engoliu seco, ouvindo o relato do michê. Estava claro. Ele sabia sobre tudo.

— Hyungwon…— tentou dizer, antes de ser interrompida.

— Era o Wonho. — olhava para a mulher diante de si. —Agora eu sei que era ele.

Jo conseguiria definir Hyungwon facilmente em duas palavras: mimado e debochado. Contudo, naquele momento, essa seria a primeira vez em que ela o definiria como, maduro e corajoso.

Não conhecia todos os lados do michê, mas parecia satisfeita em ter essa oportunidade agora. Hyungwon se mostrava muito mais do que apenas um playboy privilegiado e estar ali, depois de descobrir sobre a condição real de Hoseok, significava que ele se importava com alguém além dele mesmo.

— Quem eu vou encontrar nesse quarto, Jo? —  perguntou incerto. — Wonho ou Hoseok?

A resposta não veio com a velocidade que o michê esperava, por isso, ele mesmo encostou a mão na maçaneta e respirando fundo, como se precisasse de coragem para aquilo, entrou pela porta do quarto de Hoseok e fechou a mesma atrás de si, antes que Jo pudesse dizer qualquer coisa.

Do lado de fora, a assistente se deixou ficar parada diante da porta, pensando sobre o que aconteceria dentro daquele quarto. Afinal, Hoseok não fora o único que teve o segredo exposto naquele mesmo dia e sobre como esse encontro dos dois terminaria, era impossível de se prever.

*

— Pare aqui na esquina. — Jooheon instruiu o segurança.— O bar do Hyunwoo fica logo ali em frente. Está vendo a placa? — perguntou, recebendo uma afirmativa. — Você pode ficar no bar enquanto eu converso com a Hea.

— Sem problemas.

— Beba alguma coisa.  — sorriu. — Na volta eu dirijo para você descansar. Só não exagere. Você é meu segurança e eu preciso dos seus reflexos intactos.

Taigo sorriu discreto e acompanhou o chefe ao descer do carro. As mãos na cintura, seguravam a arma e ele fazia isso olhando  para todos os lados como uma forma de verificar se o local estava seguro.

Jooheon foi a sua frente. Naquele dia, o gerente se vestia com as roupas sociais que usava na boate. Um terno preto com o paletó aberto e por dentro, uma camisa de listras azuis delicadas e quase que imperceptíveis.

No pescoço, carregava uma correntinha fina de ouro com um crucifixo, que por dentro da camisa, repousava no lado do peito onde a sua tatuagem de tigre ficava e o cabelo cuidadosamente penteado para o lado esquerdo, deixava uma parte da franja caída, lhe dando todo aquele ar poderoso e sedutor que tinha.

As pessoas que passavam por ele na calçada, ao ver a sua postura e o segurança que o acompanhava, viravam o pescoço na tentativa de saber se aquele homem talvez fosse algum artista, mas a verdade era que, qualquer pessoa que pertencesse ao submundo de Seul, ao olhar aquele traficante caminhando na rua, poderia afirmar que Jooheon havia nascido para ocupar o lugar do Papa.

— Eu ainda não acredito que você realmente veio. — Hyunwoo disse um pouco nervoso ao receber o amigo com um abraço.

— Eu sei que não deveria ter decidido isso tão de repente, mas...

— Está tudo bem. Eu fico feliz que tenha decidido conversar e é um alívio não ter que me mentir mais pra minha esposa. — sorriu.— Entre, Hea está na minha sala tão nervosa quanto você. Ela jamais admitiria isso, mas eu sei que sim.

Jooheon respirou fundo, soltando o ar devagar pela boca. Estava tão nervoso que aquele sentimento não conseguia rivalizar com nada do que já tivesse vivido no mundo do crime.

Olhando para o segurança, lhe entregou a arma, não queria que Hea se assustasse com aquilo  preso a sua cintura. Deu duas batidinhas no ombro do amigo e andou em direção aos fundos do bar.

— Você acha que ela vai perdoá-lo? — Taigo perguntou a Hyunwoo.

— Eu não sei. Essa ferida ficou aberta durante tanto tempo que talvez seja tarde para se fechar, mas quem sabe? — respondeu, com um leve pesar.

*

Apenas o som repetitivo das máquinas se ouvia dentro do quarto.  O pianista olhou de soslaio para a porta quando esta se abriu e ao ver de quem se tratava, virou o rosto no mesmo instante para a janela.

— Como está se sentindo?—  Hyungwon perguntou um pouco inseguro.

Nada foi dito. O homem que convalescia naquela cama, ignorava a presença de seu visitante como se ele nada fosse e o chilro de um pássaro que pousou  na janela parecia mais interessante.

Ainda era Hoseok ali. Embora, por muito pouco, Wonho não tivesse voltado a cena outra vez. A queda e o desmaio cortaram aquele princípio de crise, mas o semblante do pianista estava tão rígido agora, que para Hyungwon ainda era difícil saber de quem se tratava.

O pianista focou a atenção para a ave, se concentrando no seu piado e por alguns momentos, aquele canto o hipnotizava, o levando ao menos em pensamento, para longe dali.

— Quando soube que você estava no hospital, eu vim o mais rápido que pude. — pôs a sua mão em cima da do paciente.

Assim que Hoseok sentiu o toque de Hyungwon, retirou a mão debaixo da dele e a colocou por cima do próprio peito.

Aquela reação demonstrava repúdio e assim que percebeu o que acabava de acontecer, o michê olhou para o homem na cama, ainda sem entender a razão de tanta frieza.

— O que está acontecendo? —  perguntou aflito.

Hoseok permanecia com o rosto virado para a janela e se Hyungwon não estivesse vendo demais, poderia jurar que ele chorava.

—  Por que não olha pra mim? — deu a volta na cama e a pergunta trazia uma certa angústia.

— Porque eu estou com nojo de você! — disparou, colérico.

Silêncio.

Apenas o som das máquinas em um apito constante dominava aquele espaço onde os dois se encaravam com o coração dilacerado.

Quando Hoseok se deu conta do que tinha dito e refletiu sobre as duras palavras, já não sabia em quem ela doía mais, nele ou em Hyungwon.

O ambiente pesaroso do momento, permitiu que o pianista ouvisse a respiração de Hyungwon passar de controlada para rápida demais. Ele conseguia ver o peito do outro arfando ao seu lado na cama, sem dizer qualquer palavra.

Os olhos sempre tão vivos e altivos, agora assumiram um tom avermelhado e úmido de quem estava prestes a chorar e por um instante ele cogitou reparar o equívoco daquelas palavras ditas sem pensar, mas não conseguiu. Hyungwon ainda havia o enganado e nada mudaria isso.

— Você é um mentiroso patológico, Hyungwon. — disse abaixando a cabeça. —  Um manipulador como todos na sua família e nesse seu círculo social afetado.

— Por que está me dizendo essas coisas horríveis? —  perguntava baixo e magoado.

— Sua mãe me procurou no Conservatório hoje.

Antes que o pianista continuasse falando, o michê levantou a cabeça, assustado.

— Olha o seu rosto.— levantava na direção dele, a mão que recebia uma intravenosa.— Você sabe exatamente o que ela me contou, não sabe? —  a voz começava a embargar. — Porra...eu ainda tinha uma esperança de que fosse tudo mentira. — pôs as mãos no rosto. — Eu fui idiota demais em pensar que as imagens pudessem ter sido manipuladas por ela apenas para nos separar.

—  Eu posso explicar aquilo. —  a última palavra quase não foi ouvida.

— Eu gostaria de te ver tentar.

Hyungwon emudeceu.

Pela primeira vez o pianista o encarava de fato, mas apesar da oportunidade oferecida, Hyungwon não tinha o que dizer e a sensação de querer se explicar mas não ser capaz de formar qualquer raciocínio, o desesperava.

— Meu Deus...—  Hoseok disse baixo e com pesar. A cabeça balançava em desaprovação e as lágrimas desciam involuntariamente. — Você me fez acreditar que eu tinha alguma importância na sua vida, mas passava os dias comigo para depois foder com estranhos pelas minhas costas. — os batimentos cardíacos aumentaram consideravelmente. — Por que me escolheu pra ser parte desse seu joguinho sujo? Estava entediado com a sua vida de playboy mimado?

— Eu não estou jogando com você, Hoseok. Eu me apaixonei de verdade e não esperava por isso. —  se justificava. — Você é importante pra mim, acredite, por favor. — se aproximou do pianista segurando em seus braços, mas ele se desvencilhou daquele toque o repelindo uma vez mais.

— Que importância você me deu no dia daquele jantar? Onde você estava que não pôde me responder ou atender às minhas ligações?

As mãos de Hyungwon tremeram com a pergunta.

— Estava na boate, certo? Se divertindo com os seus clientes. Se vendendo pra eles, enquanto eu te aguardava em casa, feito um idiota, com flores, presentes e um jantar que se estragou de tanto que te esperei. — chorava outra vez.

— As coisas são um pouco mais complicadas do que parecem. — não conseguia conter as lágrimas enquanto se explicava.— Eu  quis sair disso, eu ainda quero, mas existem muitas pessoas envolvidas, não depende apenas do meu querer.

— E o que você espera de mim? —  perguntava desesperado, chorando em companhia. — Me diz! O que você espera que eu faça de nós dois?!

— Que não desista! Que acredite em mim quando te digo que estou apaixonado. — se aproximou de novo, mas sem o tocar. —  A gente pode recomeçar. Apenas acredite em mim. Acredite em nós dois.

O olhar suplicante de Hyungwon sensibilizava o pianista de alguma forma. O michê se aproximou de Hoseok na cama e ao ser tocado por ele, fechou os olhos, sentindo as lágrimas escorrendo pelo rosto branco, já vermelho de tanto chorar.

Os lábios do mais velho foram tocados de forma suave pelos de Hyungwon, mas embora durante um tempo ele tenha correspondido aquele carinho e sentido o seu coração disparar de paixão como em todas às vezes que faziam isso, naquela vez, as lágrimas vertidas em um choro magoado levou o michê a perceber que seu pianista se esforçava muito para aceitar seu afeto e não era esse tipo de reação que esperava dele.

Os corpos se afastaram por iniciativa do próprio Hyungwon. Ele encarava o pianista e via a agonia que toda aquela situação o submetia. Diferente dele, Hoseok não estava pronto para o perdoar por ter escondido algo na relação. Por isso, aos poucos, ele foi se distanciando de seu amado e se aproximando da porta. Saiu por ela com pressa, convencido de que tudo o que havia com aquele homem, estava acabado de forma definitiva, e essa pressa não lhe fez ouvir quando da cama, Hoseok chamou por ele,  arrependido.

Jo observou a forma como Hyungwon saiu do quarto e passou pela porta atônita, vendo o amigo chorar compulsivamente.

— O que você fez, Hoseok? Contou pra ele o que a mãe te disse?

— Ele mentiu pra mim.

— Ele não mentiu. Ele ocultou uma parte da vida que se você soubesse agora, poderia gerar um problema maior. Talvez, até estivesse pensando em te contar só não sabia como. Isso te lembra alguma coisa?  — perguntava e olhava para o amigo com o olhar perdido para a janela.

Balançando a cabeça em desaprovação, Jo caminhou até a porta do quarto, mas antes que fosse embora se virou e disse:

—  Ele sabe do Wonho. —  o pianista ouviu recebendo a informação com surpresa. —  E poderia ter usado isso contra você se quisesse, mas não o fez. — suspirou. — Não tem moral alguma para condená-lo, Hoseok. E eu cheguei a pensar que seria o Wonho quem estragaria tudo, não você. —  a amiga concluiu com seu jeito direto, saindo em seguida do quarto.

O pianista fechou os olhos voltando a chorar no silêncio do lugar, agora, em companhia apenas de seus próprios pensamentos.

*

Quando Jooheon entrou pela porta da sala de Hyunwoo. Hea estava sentada na cadeira de frente para a mesa, e mesmo com o som da porta se abrindo, ela sequer se mexeu de seu lugar.

Yu-ri, que estava no colo da mãe, com a curiosidade infantil peculiar, se virou e assim que viu o pai, se esforçou para sair dos braços de Hea e correu para a porta chamando o Papai Râni.

Por um instante, Jooheon esqueceu tudo o que foi fazer ali e ajoelhado no chão, abraçava a filha forte como se aquela fosse a última vez que a veria.

— Vocês mentem muito mal. — Hea disse, se levantando da cadeira e se virando para observar Jooheon e a filha aninhados um ao outro. — Se antes eu já desconfiava que Hyunwoo levava Yu-ri para te ver, depois disso, tive a confirmação.

O traficante se levantou com a filha no colo e ela lhe apertava as bochechas com o sorriso fácil e de covinhas idêntico ao pai.

— Como você soube?

— Todas as vezes que Hyunwoo foi para Gangnam, ele voltou com presentes pra Yu-ri. Só podia ser você ou ele tinha uma amante que gostava de agradar a minha filha.

Jooheon sorriu de leve, ciente de que a segunda opção jamais seria cogitada. Hyunwoo era apaixonado por Hea desde sempre e ela tinha total consciência disso.

— Mas ainda que os presentes não te entregassem, Yu-ri sonha com você todas as noites, Jooheon.

O coração do traficante disparou.

— Ela fala o seu nome e te chama a noite inteira. — disse, se apoiando na mesa e cruzando os braços. — Não apenas o seu, às vezes, ela chama um tal de Minhyuk também.

Jooheon sorriu de forma  involuntária.

— Hyunwoo me disse hoje que ele é o seu namorado. — levantou os olhos e encarou o traficante. — Você nunca respeita as leis, não é mesmo?

A sala ficou no mais absoluto silêncio. Apenas as palavrinhas de Yu-ri cantando alguma musiquinha que tinha aprendido recentemente, se ouvia no lugar.

— Eu tentei ficar longe dela, Hea. Você sabe que eu tentei. — se justificava com a menina deitando a cabeça em seu ombro. — Foram três anos longe da minha filha e eu não te culpo por isso. Eu fiz por merecer. Fui irresponsável por dirigir drogado e alcoolizado naquele dia. — dizia, percebendo que os olhos de Hea se enchiam d'água, com a lembrança do acidente. — Mas eu amei a Yu-ri desde o princípio, desde o dia em que você me deu a notícia da gravidez.

— Você não faz ideia do medo que eu senti quando vi o carro se aproximar, Jooheon. — disse quase que sem pensar. — Eu sabia que iria morrer ali e que a minha filha iria perder a chance de viver por causa do pai egoísta que ela tinha. — limpou a lágrima que caiu sem que ela percebesse. — Eu não pude amamentar a minha filha, porque meu leite estava contaminado pelos remédios do tratamento após o acidente.

— Me perdoa. — disse firme. — Eu estou te pedindo desculpas. — recebia silêncio.— Queria ter feito isso há três anos quando lutei com os médicos e o seu pai para te ver, mas eu não pude. — colocou a menina no chão e Yu-ri correu para uma parte da sala para brincar. — Eu não queria limitar a sua relação com a nossa filha e nem ser a causa dos problemas de saúde que ela tem hoje.

Hea se pôs de cabeça baixa sem dizer nada.

— Eu pensei que estava fazendo o certo em correr com vocês para o hospital, porque era eu o pai, não o Hyunwoo. Eu queria que você parasse de sentir as dores e tivesse o cuidado adequado o mais rápido possível. Também estava ansioso para ver o rosto da minha menina e saber com quem ela se pareceria, se comigo ou com você.

— Infelizmente ela parece com você. — disse soltando um riso fraco e aquilo soou para Jooheon como o princípio de uma trégua.

— Eu sei. — sorriu. — Até no temperamento.

— Eu queria uma filha doce e fofa. Ela é fofa, mas com certeza não é doce.

— Não teria como ser. Olhe para nós dois.

E então, eles começaram a rir juntos e naquela hora, mesmo percebendo o que faziam, se olhavam e riam ainda mais. Foi como se tivessem sido transportados para os dias da infância, quando se conheceram, e nesses dias, o riso e as brincadeiras eram sempre assim.

— É verdade. Mas minhas chances de ter uma criança doce e obediente são maiores agora que estou esperando um filho do Hyunwoo. — Hea disse de uma forma tão natural que ao se dar conta, se assustou, olhando para o ex namorado que lhe retribuía com um semblante surpreso. — Por favor, não diga nada. Eu...ainda não contei pra ele. — abaixou a cabeça.

— Ele vai ficar muito feliz. Eu tenho certeza. — disse com um sorriso. — O hyung é um ótimo pai pra Yu-ri, também será para esse novo bebê.

— Eu sei que sim. — olhou para a filha no canto da sala. — Eu vou retirar a queixa contra você, Jooheon. — disse de uma vez.

Os olhos do traficante cresceram de tamanho, mal conseguia acreditar no que ouvia.

— Eu não quero que esse bebê cresça dentro de mim enquanto eu carrego tanto ressentimento por algo que aconteceu há tanto tempo.

— Eu te agradeço, Hea. Isso é muito importante pra mim.

— Nós precisamos sentar e conversar a respeito dos dias em que ela ficará com você e eu vou te deixar a par da rotina dela, como as coisas que ela pode comer e os remédios que ela toma. A Yu-ri normalmente…

E então, a voz de Hea ficou um pouco abafada, porque naquele instante, tudo o que conseguia pensar era que  teria dias para ver a filha e sorria abobalhado, pensando sobre o fato de que agora, aquele suplício havia finalmente terminado.

*

A carreira estava pronta sobre o painel do carro. O michê não pensou muito quando viu as fileiras de pó branco diante dele, apenas inalou tudo aquilo, jogando a cabeça pra trás dando um suspiro longo. Apertava a aba das narinas com o polegar, fungando forte, levando a droga cada vez mais para dentro das vias nasais e os olhos começavam a ficar vermelhos, agora não mais pelo choro.

Hyungwon queria apenas esquecer do que viveu naquele dia onde não havia conseguido dormir por conta de Minhyuk e pelo visto, a noite que viria também passaria em claro, agora por conta de Hoseok.

De forma irresponsável, ligou o carro parado até aquele momento no estacionamento do hospital e dirigiu até em casa, ainda que os reflexos estivessem comprometidos.

Por um milagre, chegou na mansão da família sem causar maiores danos a ele e aos outros que cruzaram o seu caminho na rua. Entrou pela sala, abrindo a porta de repente e a risada falsa e comedida da mãe e suas amigas se ouvia ao longe.

— Que bom ver alguém feliz dentro dessa casa. — Hyungwon surgiu falando alto no meio da sala de visitas onde estava a mãe e suas convidadas. — Uma pena não ser eu.

— Hyungwon, o que pensa que está fazendo? —  a senhora Chae se levantou assustada.

— Conseguiu o que queria. Hoseok terminou comigo, então pode brindar a isso já que por sorte, as suas amigas nunca saberão que o seu filho mais velho é gay. — pôs a mão na boca. — Ops! — fingia surpresa com a presença das amigas da mãe.

As mulheres se levantaram devagar um pouco constrangidas com a cena que Hyungwon, visivelmente drogado, protagonizava.

— Ninguém vai sair daqui! — gritou, assustando o grupo de dondocas.  — Todas vocês vão ouvir o que eu tenho a dizer pra esse monstro que o mundo me obriga a chamar de mãe.

A senhora Chae foi a única que não se sentou. Permanecia em pé, olhando fixo para o filho em uma tentativa de não ser intimidada por ele.  A vergonha lhe enrubesceu o rosto porque nunca antes, Hyungwon havia ido tão longe.

— Você sempre acaba tirando de mim tudo o que me faz feliz. — dizia se aproximando dela. — Destruiu o amor que eu tinha pelo violino me obrigando a ser uma máquina de prêmios e troféus.  Agora, leva embora de forma cruel, a única pessoa que era o meu verdadeiro ponto de apoio no meio desse inferno de vida que você me condenou e permanece me condenando todos os dias. E por quê, mãe? O que eu te fiz pra que você me odiasse tanto?

O rosto de Hyungwon estava vertido em lágrimas. Os cabelos bagunçados, misturado as roupas amassadas e sujas de um dia inteiro de acontecimentos ruins, lhe davam aquela aparência lastimável, tão diferente de como ele normalmente era.

— Todas vocês são um bando de sanguessugas egoístas. —  se virou para as outras. — Nos usam como um investimento financeiro, engravidando de homens ricos, nojentos e infiéis que trocam vocês facilmente por qualquer prostituta da boate onde eu trabalho. — dizia, percebendo no rosto de uma e outra o incômodo que aquela verdade trazia. — E pra conseguir suportar essa frustração, condenam os próprios filhos a viver nesse inferno de ambiente familiar, exigindo de nós um comportamento padrão que nem vocês mesmos, um bando de pais de merda, conseguem manter.

— Hyungwon, você está drogado. Vá para o seu quarto e tome um banho.  

— Você é a pior de todas, mãe. — se voltou para ela. —  É a mais falsa e mais sem caráter dentre todas essas malditas. É capaz de sacrificar os seus próprios filhos para manter a imagem da família perfeita que você não tem, pra agradar pessoas de quem você não gosta.

Todas olharam para a senhora Chae no mesmo instante em que Hyungwon terminou de dizer aquilo. Constrangida, ela evitava olhar para os outras, mantendo a pose característica de sua conduta polida.

— Tire essa máscara, mãe. Todas aqui deveriam tirar as máscaras! — passava os olhos por cada uma. — Vocês sequer se suportam, falam mal uma das outras pelas costas e depois se reúnem em encontros como esse para fingir algum tipo de amizade, apenas por puro interesse e comodismo. Se não podem ser verdadeiras com seus próprios filhos, ao menos sejam com vocês mesmas.

Hyungwon deu as costas, se dirigindo para a porta, deixando para trás o ambiente mais pesado do que quando chegou.

Ao se entreolharem, nenhuma delas ousou comentar nada sobre o que ouviram. Uma a uma se levantou da poltrona e começou a sair do cômodo, sem sequer se despedir da anfitriã e por mais que a senhora Chae as chamasse e pedisse para que ficassem, ela era prontamente ignorada, ficando no fim de tudo. Sozinha em uma imensa sala de estar vazia.



— O que está fazendo, hyung?  — Nam perguntava aflito, ao ver o irmão jogando duas malas em cima da cama.

— Eu tô indo embora dessa casa, Nam. — dizia fungando em um cacoete característico de qualquer pessoa  habituada ao uso de cocaína.

— Não vá, hyung, por favor. — a criança pedia.

— Eu sinto muito, irmãozinho, mas eu preciso ir. Não existe mais o menor clima para eu ficar nessa casa.

— Então me leva embora com você! — o menino correu, abraçando o irmão mais velho por trás. — Não me deixa aqui sozinho com eles, por favor.

Hyungwon ficou parado, curvado sobre a cama onde arrumava as malas e sentia as lágrimas da criança molharem a blusa na parte das costas. Se virou lentamente, segurando a própria emoção, pois já não suportava mais chorar e tinha a impressão de que tinha chegado ao seu limite naquele dia.

— Eu não posso. — sentou na cama para ficar na sua altura. — Não agora. Eu vou pra casa do Minhyuk por essa noite e amanhã procurarei um hotel. Não posso te levar pra um lugar e te deixar nessas condições. Você tem a escola e o Conservatório.

— Eu não quero ficar aqui, hyung. Não sem você. — o abraçou emocionado.

O michê apertou o mais novo contra o seu corpo e chorou junto com ele, frustrando seus planos de não chorar mais naquele dia.

— Me deixe pelo menos arrumar um apartamento, e assim que eu alugar um, você pode vir morar comigo.

— Nós cuidaremos um do outro? — perguntava limpando os olhinhos sofridos.

— Pra sempre. — levantou o mindinho, embora a droga não permitisse que ele conseguisse focar no rosto do irmão e nem ter ideia se estava de fato, fazendo movimentos coerentes.

O mais novo prendeu o seu dedinho no do irmão mais velho em sinal de promessa e após isso, o abraçou novamente.

— Eu vou sentir a sua falta. — disse em um miado.

— Eu prometo que serei rápido em resolver as coisas. E então, eu mesmo virei te buscar. Esteja pronto. — sorriu forçado. — Eu te amo, Nam.

— Eu também te amo. — disse, beijando o rosto do irmão.

Durante o restante do tempo em que teve o irmão mais velho em casa, Nam o ajudou a arrumar as malas, e quando Hyungwon saiu com elas pela casa, a senhora Chae que observava tudo do hall principal da mansão, não se opôs aquela saída.

— Não esquece do que me prometeu. — Nam recomendou na saída, recebendo uma afirmativa do mais velho.

— Não permita que eles destruam você como fizeram comigo. — afagou os cabelos da criança. — Você sempre foi mais inteligente que eu. — sorriu fraco, deixando o irmão na porta.

Nam observou o mais velho colocar as malas no táxi e antes de entrar nele, acenou timidamente para a criança no entrada da mansão.

Olhando para todos os lados, Hyungwon suspirou, recordando os vários momentos que viveu naquele lugar desde a infância. Finalmente deixava o ambiente tóxico de seu lar, apesar de não ser da maneira que queria.

Adoraria ir para a sua própria casa agora, ou ainda para a de Hoseok onde ele estaria o esperando, preparando uma deliciosa refeição para os dois e eles terminariam o dia se amando sob os lençóis da cama do pianista. Era frustrante e desolador constatar que isso não aconteceria, nunca mais.

*

Assim, que ouviu o som da porta se abrir, Minhyuk, que assistia a tv no quarto depois que a irmã se foi, levantou da cama e se apressou até a sala.  Como esperado, lá estava seu amigo, deixando as malas em um canto e voltando para ele os olhos tristes e vermelhos.

— Woonie...— abraçou o outro.

— Ele disse que tem nojo de mim. — falava magoado, chorando nos ombros do amigo.

— Tenho certeza que disse sem pensar. Hoseok só está machucado, assim como você.

— Por que as coisas precisam ser assim, Minnie? — sussurrou.

— Vocês dois precisam de um tempo. — segurou no rosto de Hyungwon. — Deixe ele pensar sobre tudo isso e sobre as coisas injustas que te disse. E você, use esse tempo para organizar as suas ideias e avaliar os próximos passos que precisa dar.

O michê parecia refletir sobre aquelas palavras e sabia que o amigo tinha razão.

— Eu nem tive coragem de dizer a ele sobre o Wonho. Fiquei com medo de piorar o seu estado.

— Então, ainda não conseguiu descobrir se o Hoseok era o cliente daquele dia?

— Ele e Wonho são a mesma pessoa, sobre isso não restam dúvidas. Foi ele que me contratou naquele dia, mas pela reação do Hoseok ao descobrir o que eu faço, ficou claro que ele não sabia sobre a Heaven.

— Então, o Wonho sabia, mas o Hoseok não.

— Exato.— Hyungwon refletiu um tempo antes de olhar para o amigo, sentindo o coração bater forte. — Meu Deus, como eu pude me esquecer disso?

— Do quê?

— A primeira vez que ficamos, foi depois do baile de máscaras em comemoração ao aniversário do Papa.  Ele estava lá na boate, mascarado, mas eu sabia que era ele pelo cheiro. Nós fomos para o apartamento dele e transamos. Eu estava muito bêbado naquele dia e só lembrei de ter acordado com o pianista. Ele também parecia confuso, como se não soubesse como fomos parar ali.

— É possível que o Hoseok não se lembre do que o Wonho faz?

— Eu não sei como isso funciona, nunca li sobre o transtorno. Talvez o Hoseok não tenha lembranças, mas o Wonho, eu acredito que sim.

— Então, o Wonho te conheceu na boate, já que você sempre estava por lá.

— Sim, diferente do Hoseok que me conheceu no restaurante do hotel, outro local que eu também sempre frequentei.  

— Você encontrou as duas personalidades em ambientes diferentes e nas duas situações esse cara se apaixonou por você.  Uau.

— Mas se o Wonho estava apaixonado por mim, por que ele marcaria um programa comigo para depois  negar que era ele o cliente?

—  Eu não sei, meu lado romântico diz que ele fez isso apenas como um pretexto para falar com você, mas que nunca foi a intenção dele ser apenas um cliente. Ele queria mais do que isso. Fora que, se ele realmente se lembra de tudo o que o Hoseok faz, ele soube que Silhouette  foi escrita pra você. Provavelmente não queria te perder para ele.

— Isso é loucura. É ridículo pensar que as duas personalidades competiram por mim.

— Eu acho que tudo é possível. Minha dúvida agora é saber quem se apaixonou por você primeiro, Wonho ou Hoseok?

Hyungwon suspirou lento, abaixando a cabeça.

— Isso não importa mais , Minnie. — disse grave e baixo.— Está tudo acabado agora.

Os amigos se abraçaram uma vez mais, assimilando tudo o que foi dito no último minuto.

Minhyuk levou o outro para o quarto onde Hyungwon tomou um longo banho na suíte como forma de relaxar o corpo. Os dois se deitaram na cama para assistir a tv, embora nenhum dos dois conseguisse, de fato, prestar a devida atenção ao que viam.

Hyungwon que quase pegava no sono, despertou quando em um dos canais, uma mulher loira e alta acompanhada de um homem, surgiu no que parecia ser uma sala de imprensa. No canto inferior da tela, se lia :

Esposa de bilionário francês, desaparecido, quebra o silêncio e fala à imprensa pela primeira vez.

— Minhyuk! — Hyungwon cutucou o amigo que dormia ao seu lado.

Assustado, o michê despertou seguindo os dedos de Hyungwon que apontavam para a tela da tv e ao ler aquela chamada, aumentou o volume na mesma hora.

— Senhora Camille Bastien, quais são as últimas informações a respeito do caso? — um repórter questionou.  

— Infelizmente, meu marido continua desaparecido e ainda não sabemos quais razões levariam alguém a fazer qualquer coisa contra ele. Étienne era um homem bom. — ela abaixou a cabeça se dando um tempo após aquilo.

Minhyuk assistia, sentindo a culpa lhe atingir em cheio.

— Nem ela acredita no que está falando. — Hyungwon disse.  

— De qualquer forma, estamos mais perto de descobrir o que aconteceu. — disse Nicollas, irmão de Étienne, enquanto segurava a mão de Camille.

Os dois se olharam cúmplices para em seguida, voltarem a atenção para a imprensa.

— Essa troca de olhares me pareceu um pouco suspeita, você viu?

— Hyungwon, ele acabou de dizer que está perto de descobrir o que aconteceu e você está preocupado com a troca de olhares entre a mulher do Étienne e o irmão dele?

— Eles estão blefando.

— Como pode ter certeza?

Os dois silenciaram e apenas a voz de Nicollas se ouvia com uma legenda chamativa na parte inferior da tela.

— Os assassinos de Lucien foram encontrados e acreditamos que os dois casos possuem algum tipo de relação.

Os amigos se entreolharam surpresos com a informação passada na entrevista.

— Por favor, nos dê mais informações. — algum repórter dizia ao fundo.

— Sinto muito. Isso é tudo o que podemos dizer, mas em breve todos vocês terão conhecimento.

O homem se levantou, acompanhado da cunhada e juntos, saíram da sala sob os clicks das câmeras fotográficas.

          Em silêncio, Minhyuk respirava de forma quase que irregular, encarando o amigo que também não sabia o que dizer. Quando Hyungwon finalmente pensou em formular um raciocínio, o celular notificou uma mensagem.

— É a recepcionista do hotel. — disse ao mesmo tempo em que abriu a notificação para ler.


Prenderam os assassinos do Lucien.


Acabei de ver na TV. O que mais você sabe?


Estão dizendo aqui no hotel que um dos seguranças estava realmente envolvido nisso. Ele namorava a tal assassina do francês.


Minhyuk se aproximou de Hyungwon e lia a mensagem junto com ele.


Então foi uma mulher que matou o Lucien?


Sim.

E quem é essa mulher?


Eu não conheço ela, mas parece que o nome é Mari-Ah.


Os dois se olharam em sincronia.

— Hyungwon…

A cabeça do michê balançou em negação como se desacreditando do que lia.

— Minhyuk, era essa a razão da fuga. — se dava conta.

— Ela sabe sobre mim e o Étienne. Sabe sobre o meu caso com o Jooheon.

— Aquela maluca vai abrir a boca.

— Que inferno! Esse pesadelo nunca acaba? — perguntava com olhos angustiados.

Hyungwon passou a mão no rosto e com o olhar fixo no amigo, concluiu dizendo:

— Nós seremos descobertos.


*

Aquele talvez fosse o abraço mais gostoso que Jooheon já recebeu da filha. Para ele, ter a liberdade de poder ficar perto dela sem reservas, era como um sonho, mas por agora, precisava voltar para Gangnam.

Com um beijo na bochecha e a promessa de que retornaria no próximo final de semana, Jooheon se despediu da pequena com um aperto incontrolável no peito. Hea sorriu discreta para ele, apertando a sua mão cordialmente, em sinal de paz, deixando as mágoas no lugar onde elas pertenciam, no passado.

Hyunwoo abraçou o amigo, lhe batendo nas costas, completamente satisfeito com a conclusão daquela peleja onde ele ficava no centro, com o árduo trabalho de lidar com o temperamento difícil da esposa e o explosivo do amigo. Ainda havia Yu-ri que era como uma mistura dessas duas personalidades, colocando o pacífico Hyunwoo louco vez ou outra.

Jooheon saiu andando na frente, com Taigo o seguindo logo atrás. O coração disparado sem razão. Concluía que talvez fosse por conta do que acabava de acontecer, mas não tinha total certeza. Antes que chegasse ao carro, ouviu Hyunwoo gritar o nome da filha e se virou de forma instintiva.

A pequena corria para ele com algo na mão e ao ver a filha se aproximar, Jooheon,  abaixou a sua altura abrindo os braços. Aninhada ao peito do pai, Yu-ri fechava os olhos, afundando o rosto em seu peito e o abraçando como se não quisesse o deixar ir. Foi necessário que Hea e Hyunwoo se aproximasse para que ela pudesse se afastar ao menos um pouco do abraço do pai.

— O que está acontecendo com você, filha? — Hea perguntava, pegando a criança no colo.

— Está tudo bem. Eu ainda tenho tempo para mais um abraço. —  sorriu, pegando a filha no colo. — Ei...— apertou o nariz dela. — Eu prometo que volto no final de semana para te buscar. Tudo bem? — a menina confirmou com a cabeça e Jooheon a colocou de volta no chão, após um beijo. — Isso não é um adeus. É um até logo.

A menina estendeu para ele a abelhinha de pelúcia que tinha nas mãos e olhando para Hea e Hyunwoo, Jooheon mostrava que não entendia bem o que a pequena queria.

— Eu acho que ela quer que leve o bichinho com você. —  Hyunwoo disse.

—  Tem certeza, Yu-ri?—  Jooheon perguntou.

Na mesma posição, com os braços estendidos na direção do pai, Yu-ri não dizia nada. Jooheon aceitou a pelúcia, prometendo que guardaria o bichinho para ela e que no próximo final de semana, poderiam brincar juntos com ele no apartamento de Minhyuk. Com isso, a menina pôde voltar para dentro com a mãe, enquanto Hyunwoo acompanhava o amigo até o carro.

— Dirija com cuidado e cuide bem dessa abelhinha. Ela normalmente dorme com ela quando tem medo de alguma coisa. Por isso está tão desgastada. Funciona como um amuleto pra ela, então sinta-se honrado.

— Até a minha filha sabe do quanto eu preciso de proteção.

—  Confie na intuição de Yu-ri. Se ela te deu isso é porque você precisa.

Jooheon ouvia, observando o bichinho e balançou a cabeça com um sorriso.

— Vamos, Taigo. —  disse, assumindo a direção.

Na estrada, a pelúcia ocupou seu lugar no painel do carro, diante de Jooheon.  Os olhinhos grandes e dóceis da abelhinha estavam focados nele, enquanto o mesmo se ocupava em manter a atenção no caminho de volta.

—  Por que Minhyuk não atende o telefone? — resmungava, enquanto o navegador do carro encerrava a ligação sem retorno.  

— Deve estar ansioso para contar a ele sobre a conversa com a Hea. —  Taigo dizia sorridente.

—  Sim, eu sinto como se tivesse tirado um peso das minhas costas e preciso tanto dividir isso com ele.

— Eu imagino.— o segurança respondeu, ouvindo ao longe o som de um carro se aproximando em alta velocidade. —  O que está acontecendo?

Jooheon olhou pelo retrovisor, reagindo ao som do automóvel que crescia de tamanho atrás deles. O veículo passou pelos dois e o grupo de homens a bordo, olhou para dentro do carro encarando a dupla. Fizeram a ultrapassagem e ainda que por um momento parecesse a eles que estes mesmos homens estavam apenas com pressa, quando o grupo chegou um pouco mais a frente, o carro manobrou forçosamente em uma meia volta perfeita, cantando pneu e fechando a estrada para Jooheon que vinha logo atrás.

— Puta que pariu! —  o traficante xingou, freando o carro com urgência. —  Taigo! É uma armadilha.

O segurança tirou da cintura a sua arma, colocou o corpo para fora do carro  e começou a atirar na direção dos homens, enquanto Jooheon olhava para trás dando ré. Os capangas por sua vez, também atiraram de volta , mas por sorte não acertavam. Com a habilidade peculiar de um piloto de fuga, Jooheon também manobrou o seu carro e dirigia na contramão, aumentando a velocidade.

— Que porra é essa?! — Taigo dizia, respirando forte.

— Vai chover bala, pode ter certeza.

Bastou Jooheon dizer isso para que logo atrás, uma rajada de balas fosse disparada contra o dois que tentavam se proteger como podiam. A lataria do carro era atingida e o som daqueles estalos, indicava que o  grupo ficava cada vez mais perto.

— Abaixa! Abaixa! —  Jooheon gritou se esgueirando mais pra baixo, vendo o parabrisas pela metade.

Seu medo de causar um acidente era grande, mas teve sorte em estar sozinho na estrada naquele final de tarde. Assim que  a chuva de tiros cessou, Taigo se colocou novamente para fora e começou a responder com bala o ataque anterior.

— Mira no motorista! Rápido! Eu quero ver esses filhos da puta capotando direto pro inferno. — Jooheon determinou, voltando a seu lugar e pisando mais forte no acelerador.

Conforme ordenado, o segurança fez, sentou na janela, mirando a arma na direção do motorista e disparava. Os projéteis atingiram e quebraram o parabrisas do adversário que perdeu por um momento o controle do veículo. Então, um último disparo foi ouvido.

— É isso, caralho! —  Jooheon gritou em comemoração, olhando pelo retrovisor o veículo de seus inimigos saindo da estrada.

Voltou a atenção para dentro do carro, afim de puxar o segurança para dentro. Afinal, já estava feito. Até que os outros tirassem o motorista morto de dentro do carro e viessem atrás deles, já estariam longe, mas ao olhar para o lado, Taigo estava pendurado na janela e desacordado.

— Taigo!—  o puxou para si com uma única mão, evitando que ele caísse para fora do carro.

O segurança tinha um furo no meio da testa e dele corria o sangue escuro do leal Taigo. Agora, o seu corpo já sem vida, estava jogado de qualquer jeito pelo banco do carona.

—  Meu Deus! Meu Deus! — Jooheon gritou em desespero, sentindo uma vontade imensa de chorar.

Embora estivesse acostumado aquele ambiente de guerra e morte, ver que o segurança havia morrido tentando o proteger, lhe causava uma sensação de tristeza e desolação. Sobretudo, porque ele não percebeu que enquanto comemorava, o último disparo dado, vinha de seus inimigos e contra o seu segurança. Foi aquele único tiro que levou para sempre a vida de Taigo.

Olhando no espelho, percebia que os assassinos voltavam a perseguí-lo. Pisou no acelerador limpando as lágrimas de qualquer jeito com a parte externa da mão. O grupo estava agora próximo demais e ele precisava pará-los antes que o carro emparelhasse com o dele e caso isso acontecesse, ele seria alvejado com uma nova rajada de tiros.

Jooheon estava agora sozinho, lutando pela sua própria sobrevivência e no momento em que disse a Minhyuk mais cedo que iria a Mok Dong, nunca poderia imaginar, que seu dia terminaria assim.

Tirando a arma da cintura e dirigindo com apenas uma única mão, usou a outra que não tinha muita habilidade, para atirar a esmo, conforme via o carro adversário crescer e se aproximar ao seu lado. A falta de atenção que dava a direção, fez o veículo trepidar.

—  Porra!

Ele não conseguiria atirar naquelas condições. Talvez sua única chance fosse fazer uma nova manobra, tão repentina que nem mesmo seus inimigos pudessem esperar, e assim ao menos tentar aumentar a distância que havia entre eles. Seria primordial que, ao passar por eles no sentido contrário, disparasse o quanto pudesse para dentro do carro deles e assim aumentar a quantidade de baixas. Não sabia ao certo, quantos haviam lá dentro, mas isso agora era irrelevante. Ele precisava matar o quanto fosse possível, caso contrário o seu fim, seria como o de Taigo.

Respirou fundo.

Hoje acordei com um aperto no peito. Isso não passa e é curioso porque se parece com aquela sensação que as pessoas têm quando acordam no dia de sua própria morte.

Jooheon se lembrava da mensagem que enviou para Minhyuk na primeira emboscada que sofreu a mando de Woojin.

— Agora eu sequer poderia me despedir de você, meu anjo. —  disse cerrando os dentes e pisando no acelerador.

Se hoje fosse o último dia da minha vida. Eu me lamentaria eternamente por não ter passado ele do seu lado, mas também agradeceria eternamente por você ter me mostrado em vida, como é o paraíso.

— Minhyuk...—  ele dizia com a voz carregada de agonia e os olhos se enchendo de lágrimas.

A imagem de Yu-ri lhe esticando o bracinho com a abelhinha de pelúcia em mãos, lhe invadiu a mente. Olhou para o painel e o brinquedo estava lá, preso no parabrisas. Tomou a abelhinha nas mãos e a beijou.

Você previu isso, filha? — se perguntava em pensamentos. — Previu que talvez esse fosse o último dia da vida do seu pai?

Colocou a pelúcia em cima do corpo de Taigo, sentindo as mãos suarem na direção e com coração disparado no peito, realizou a sua última tentativa de sobrevivência.



Em Gangnam, Minhyuk despertou de um cochilo, gritando o nome de Jooheon. Não bastasse a preocupação que agora tinha com a prisão de Mari-Ah, uma agonia profunda lhe invadia no curto espaço de tempo em que se pegou dormindo após a conversa com Hyungwon.

O amigo que estava na cozinha, correu para o quarto tentando acalmar Minhyuk que chorava compulsivamente, sem qualquer razão aparente, apenas sentindo no peito uma dor forte como se pudesse lhe tirar a vida.

Caiu no chão de joelhos, curvando o corpo em agonia e Hyungwon o abraçava e segurava forte por trás, sem entender o que acontecia, mas a julgar pelas suas reações, era como se Minhyuk tivesse visto o amor de sua vida morrer.



O traficante passou a mão no rosto e virou o carro repentinamente, iniciando parte de seu plano de fuga, mas a intensidade com que empregou força naquilo, o levou a perder o controle total do veículo, de modo que o que tanto desejou ao seus perseguidores, acabava acontecendo agora com ele.

O carro onde Jooheon estava virou completamente, capotando com uma velocidade e violência que assustou inclusive os que estavam a bordo do outro automóvel.

Na primeira volta que o carro deu, Jooheon viu o rosto de Yu-ri.


Não cruze esta linha.


Na segunda, viu Minhyuk.


Nem sequer tente se aproximar dele.


Na terceira, via Woojin.


Ele vai destruir a sua vida, Jooheon.


Estilhaços de vidros lhe cortando o rosto e uma dor lancinante da ferragem lhe atravessando a coxa direita. Jooheon não gritou. Os olhos se fecharam involuntariamente e expirou como se finalmente estivesse encontrando a paz. O carro se arrastou de cabeça pra baixo por alguns metros até parar de vez, e então, todo o sofrimento, toda a tristeza, todo o medo e toda a dor, pareciam finalmente ter chegado ao fim.


Apesar do modo como eu decidi viver a minha vida. Eu ainda terei a chance de nos despedirmos de novo, Minhyuk?






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