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História Anne with an e- continuação da série - Assim é o nosso amor


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Olá, pessoal. Este capítulo ficou bem emocional, pois retrata bem o período tenso que Anne e Gilbert estão passando, e como isso tem de certa forma afetado o relacionamento de ambos. Para quem não sabe, a pré-eclâmpsia é uma doença muito séria que afeta muitas mulheres no Brasil, e pode inclusive levar a mãe e o feto à morte, por isso a preocupação de Gilbert não é exagerada como muitos podem pensar. Eu não quis dar uma explicação muito extensa sobre a doença no capítulo anterior, para que a leitura não ficasse muito cansativa com termos médicos complicados, por isso apenas a mencionei de leve.
Eu quero dedicar esse capítulo a uma leitora muito especial que me contou que teve o mesmo problema de Anne oito anos atrás. Eu não vou mencionar o nome dela, pois não sei se ela gostaria que o nome dela fosse exposto aqui,e Graças a Deus, seu bebê nasceu saudável e depois de um grande sufoco, ela também se recuperou.. E quero também dedicar esse capítulo a todas as minhas leitoras que comentam todas as semanas o desenrolar da história, e também para aquelas que não gostam de comentar, mas estão aqui todas as semanas , torcendo por esse casal tão lindo. A todas o meu muito obrigada. Vocês são demais. Desculpem-me os erros ortográficos, assim que puder eu vou corrigi-los. Beijos, Rosana.

Capítulo 121 - Assim é o nosso amor


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - Assim é o nosso amor

GILBERT

Dois dias haviam se passado, e o que deveria ser um dia animador para Gilbert e Anne, se tornou de certa forma apreensivo. Era o primeiro dia do ano letivo na faculdade, e Gilbert já se preocupava com o fato de Anne ficar longe dele por algumas horas, sem que ele pudesse observar-lhe todos os movimentos, ver como os próprios olhos como ela estava se sentindo, pois ele sabia bem que não adiantava lhe perguntar, que ela acabaria não lhe dizendo a verdade somente para poupá-lo de qualquer tensão a respeito de sua saúde, e era nessa hora que ele percebia o quanto eram parecidos de muitas formas.

Ele não podia dizer que não faria a mesma coisa se fosse ele a sofrer de alguma enfermidade, pois havia aquela necessidade de protegerem um ao outro de qualquer preocupação adicional que pudessem ter. Não era certo, e já haviam conversado sobre isso muitas vezes, mas isso continuava a acontecer, e parecia que nenhum dos dois conseguia mudar essa característica de sua personalidade.

O amor que sentiam parecia que exigia isso deles. Era como se precisassem que um ou o outro fosse poupado para que tivessem forças para seguir em frente. Por isso, naquela manhã, enquanto Anne se esforçava para sair da cama e parecer mais saudável do que realmente estava ele se preocupou, mas tentou não deixar que ela percebesse, ou o que deveria ser um dia normal acabaria se tornando um drama que nenhum dos dois desejava.

Ela passara os dois últimos dois dias de repouso e parecia um pouco mais corada do que estivera até então, seus olhos estavam muito claros naquele dia, o que fez Gilbert pensar em um céu sem nuvens, ao mesmo tempo que sorria para si mesmo ao pensar em como Anne o transformara em um bobo romântico, pois sempre que olhava para ela agora tudo no que pensava era poesia, e Gilbert nunca fora assim no passado. Mas, ele realmente não se importava se alguém o chamasse dessa maneira, pois tanta beleza na mesa do café da manhã tinha que ser venerada e descrita de alguma forma, e por que não da maneira que ela mais gostava?

Um olhar estranho dela para o prato que ele preparara diante de si, chamou sua atenção e o arrancou de seu devaneio.

- O que foi, Anne? Está tão ruim assim?

- Não, só achei o gosto estranho. - ela disse comendo mais uma garfada de sua panqueca corajosamente, mas, estava óbvio para Gilbert que ela não estava apreciando nem um pouco.

- Você sabe que tudo o que comer precisa ter pouco sódio, então, é compreensível que o sabor não seja exatamente igual ao que você está acostumada. - ele explicou, sentindo-se mal por ela, ao pensar que Anne teria que passar um bom tempo se alimentando daquela maneira.

- Eu sei. Não estou reclamando. Só estranhei um pouco, mas juro que vou me acostumar. - ela disse, sorrindo-lhe tristemente, e Gilbert sentiu aquele aperto familiar em seu peito que não o abandonara mais desde que soubera do problema de Anne.

- Vai ser por pouco tempo amor. Agora não falta tanto para Rilla nascer. - ele acariciou a bochecha dela com o dorso das mãos, e Anne beijou-lhe os dedos ao responder.

- Você entende que estou fazendo tudo isso pela nossa bebê, não é?

- Eu sei. - ele concordou, não querendo voltar aquele assunto dolorido, mas Anne o fez pensar nele mesmo assim.

- Eu não quero que sofra com o que pode vir a acontecer. Quero que tenha fé, e que acredite que eu vou te dar nossa filha sã e salva. - Gilbert sentiu as lágrimas subirem aos olhos ao ver aquela determinação que ela vinha demonstrando nos últimos dias mais forte do que antes. Eu queria ter essa força que ela tinha dentro de si, e essa crença de que nada abalaria o amor e a família que estavam desejando construir, mas as lembranças de um passado não tão longínquo assim, não deixava Gilbert sossegar, e era por isso que ele preferia não falar sobre o assunto.

- Anne, será que não podemos mudar de assunto? Eu te apoio em sua decisão, mas não quero ter que falar disso todo o tempo. Desculpe-me, meu amor, mas, espero que entenda o quanto está sendo difícil para mim levar tudo isso adiante. - ele baixou os olhos para a própria xícara de café, e ficou observando o líquido escuro sem realmente ter vontade de tomá-lo.

- Perdoe -me, querido. Não quis aborrecê-lo.- ela pareceu triste, e Gilbert se xingou pela própria insensibilidade de não pensar no quanto tudo aquilo estava sendo difícil para ela também, pois ele podia estar sofrendo com a possibilidade de perde-la ou a Rilla, mas, era ela que estava carregando uma barriga de grávida de seis meses, sofrendo todas as alterações em seu corpo, e tendo que tomar remédios e comer comida sem sabor para controlar a doença que se desenvolvera em seu corpo naquele período. Então, de quem seria a carga maior naquela situação? Arrependido do que dissera antes, ele respondeu:

- Você não me incomoda nunca. Eu não te tratei como devia agora a pouco. Prometo que vou tentar ser mais otimista e mais compreensível com tudo o que nós estamos passando. - Anne segurou a mão dele, e apertando-a entre as suas, ela disse:

- Não quero que finja ser uma coisa que não é, e que também esconda seus sentimentos de mim. Eu te amo demais para pedir-lhe qualquer coisa mais do que já pedi. Quero que esteja junto comigo nessa batalha, mas que não sinta vergonha de fraquejar. Você é apenas humano, meu amor, não exija demais de si mesmo. - Gilbert não soube o que dizer. Como Anne podia ser tão maravilhosa quando estava passando pela pior fase de sua vida? Será que ele merecia mesmo aquela mulher incrível? Por mais que já soubesse do valor daquele espírito nobre, esse momento o qual estavam vivenciando juntos estava abrindo seus olhos para uma nova porta da alma dela. Como ele nunca percebera que aquela garota linda que lhe dera a honra de torná-la sua esposa era como um anjo na terra?

Ela viera para sua vida para torná-la mágica e especial, e havia tanto que ele queria fazer por ela naquele instante, mas, não estava em suas mãos livrá-la da dor, das privações, do mal que a cercava a cada segundo agora. Tudo o que tinha para oferecer era o seu amor, mas, por que parecia que não bastava mais amá-la tanto quanto amava, se dependia de um milagre que ele próprio não podia realizar?

Ele levantou o olhar e disse com a voz também triste:

- Queria poder fazer mais por você

- O que está dizendo, meu amor? Você já de se doou demais para mim, seu apoio é tudo o que preciso agora. Não conseguiria passar por tudo isso sem você. - ela se levantou e como de costume sentou-se no colo dele como sempre fazia quando havia uma conversa importante rolando entre eles. Era como um ritual que desenvolveram com a convivência e que os aproximava mais quando estavam enfrentando um problema sério como naquele momento.

- Às vezes eu me pergunto o que adianta eu estar estudando medicina se não posso salvar você? - os olhos dele lacrimejaram ao dizer isso, e Anne sentindo sua emoção encostou sua testa na dele e respondeu:

- Nunca mais diga isso. Você vai ser um médico maravilhoso, e Rilla vai ter muito orgulho do pai dela.

- E o que vai importar se você não estiver mais aqui? - ele disse abraçando Anne apertado como vinha fazendo todos aqueles dias, não querendo pensar naquilo que como um espírito maligno envenenando sua alma.

- Não deve pensar assim, Gilbert. - Anne disse acariciando seus cabelos.

- Desculpa, mas tenho um passado com isso nada feliz. - Gilbert respondeu, pensando em sua mãe.

- Mas, tem outro passado que te diz o contrário disso. Você ainda se lembra do caso da Mary?

- Eu me lembro, mas, quase a perdemos também. - Gilbert disse, olhando Anne nos olhos.

- Mas ela se recuperou, e está vivendo uma vida feliz com Sebastian e Shirley. - Anne disse com uma confiança que Gilbert não sentia em si mesmo. Se ele não fosse um homem da ciência, talvez fosse mais fácil acreditar no que Anne lhe dizia, mas tantas estatísticas negativas em casos assim, não permitiam que ele fosse mais otimista do que tentava ser. Porém não queria minar a animação de Anne com seu desespero. Rilla já era um ser humano quase completo, ele também queria que ela nascesse, pois não conseguia conceber a ideia do contrário. No entanto, algo lhe dizia que por mais que amasse a filha, nunca se recuperaria se perdesse Anne por isso. Ela era seu sopro de vida, e não saberia viver sem ela. Por isso, seu lado egoísta exigia que tivesse as duas perfeitas e inteiras em seus braços.

- Anne, você não acha que deveria contar a Marilla e Matthew do seu estado? - ele já sabia a resposta que ela daria, mas estava feliz por pensar em algo que os ajudasse a mudar de assunto, pois aquela conversa já estava ficando deprimente demais para ele.

- Não. Eles iriam se preocupar, e Matthew já não é tão jovem, e seu coração é fraco para aguentar algo assim. Não quero que ele fique doente por minha causa. - Gilbert a olhou admirado e disse:

- Você se preocupa mais com as pessoas ao seu redor do que consigo mesma. - era para ter soado como um elogio, mas não pode evitar uma pontada de ressentimento na própria voz, mas que Anne não percebeu ou ignorou para não criar um caso maior em torno disso.

- Eu me sinto feliz em cuidar de quem eu amo. - ela respondeu beijando-o nos lábios. - Acho melhor nos vestimos para a faculdade. Não quero chegar atrasada no primeiro dia. - ela se levantou e juntos foram para o quarto.

Gilbert se vestiu primeiro que ela, e por isso, ele foi até a sala para reunir o material que ambos levariam para a faculdade. Como Anne estava demorando, ele voltou ao quarto para ver o que estava acontecendo. Assim que entrou, ele a viu sentada na frente da penteadeira e perguntou:

- Está pronta?

- Quase. Estou tentando fazer uma trança em meus cabelos, mas não consigo - ela respondeu com um sorriso:

- Deixa que eu faço isso para você. - Gilbert respondeu, ficando atrás de Anne e trançando os cabelos dela com uma habilidade que fez Anne olhá-lo surpresa e antes que ela perguntasse, ele respondeu:

- Eu tive um bom tempo de treino observando você fazer isso muitas vezes. Pronto, eu terminei.

- Ficou perfeito. - Anne respondeu continuando a olhá-lo pelo espelho.

- O que foi? - Gilbert perguntou com um meio sorriso.

- Eu queria te agradecer por ser tão bom para mim. - Gilbert sentiu sua garganta se apertar ao pensar que queria ser bem mais que apenas um marido bom, mas, ficou calado, pois não confiava em si mesmo para falar com firmeza naquele momento.

Eles foram para a faculdade de carro, pois apesar de Anne precisar fazer exercícios, a caminhada até a faculdade seria um pouco demais para ela naquele momento. Ele estacionou o carro, e ajudou Anne a sair dele, e abraçado com ela, Gilbert a levou até a porta da sala dela.

- Aqui estão os seus remédios, e o lanche que preparei para você. - Ele disse entregando a ela uma maletinha com tudo que ela precisava dentro.

- Obrigada. Você é incrível. - Anne disse beijando-o com carinho.

- Você vai ficar bem? - Gilbert perguntou, beijando-a no topo da cabeça e odiando se separar dela.

- Vou sim. E você? - ele pensou em responder que não, que nunca ficaria bem longe dela, mas respondeu, tentando parecer convincente.

- Vou ficar muito bem. Te vejo no intervalo

- Sim. - ela respondeu entrando na sala de aula

Gilbert deu dois passos e parou no meio do corredor, olhando para a porta da sala de Anne sem conseguir se mover. Foi quando sentiu um toque em seu ombro, e viu que era Jonas que lhe disse:

- Vamos, amigo. A aula vai começar. E assim Gilbert o seguiu sentindo como se deixasse uma parte importante sua para trás.

 

ANNE

 

Assim que Anne entrou na sala, suas amigas se aproximaram encantadas com sua barriga e também sua aliança de casamento. Enquanto Anne contava tudo sobre a cerimônia e lua de mel, ela percebia o quanto estava com saudades das aulas e da faculdade. Ela estava feliz por estar de volta, e sentia em seu coração que até sua formatura ali era seu lugar, e prometeu que pelo tempo que sua gravidez permitisse, ela aproveitaria cada segundo sem perder o foco. A única coisa que a estava entristecendo era saber que não poderia mais trabalhar na monitoria, algo que também amava de todo o coração, porém, ela escolhera Rilla, então, teria que abrir mão de alguma coisa em nome de sua filha.

Sharon também estava lá quando Anne chegou, e assim que a algazarra em torno da ruivinha terminou, ela perguntou com o cenho preocupado:

- Tudo bem com você?

- Sim. - Anne respondeu agradecida por aquela preocupação

- Se sentir qualquer coisa, conta comigo. Estou bem aqui a seu lado. - a amiga disse abraçando Anne com carinho.

- Obrigada. - Anne disse, e sem querer toda aquela atenção que estava recebendo de Sharon a fez pensar em Gilbert. Será que ele também teria alguém para desabafar se caso precisasse? Anne andava bem preocupada com ele, pois, por mais que seu marido fizesse de conta que estava tudo bem, ela sabia que não estava. A não ser pela conversa que tiveram aquela manhã, ele não falava muito sobre o assunto de sua gravidez. De repente, o assunto que mais o deixava feliz tinha se tornado um tabu entre eles, como se Gilbert tivesse medo de que qualquer palavra que dissesse, pudesse causar um mal maior ainda em toda aquela situação.

Os dois dias em que ela tivera que ficar de repouso, ele cuidara dela melhor que ninguém, não deixando que Anne fizesse qualquer esforço que pudesse colocar em risco sua recuperação. Ele preparava toda a comida, media sua pressão três vezes ao dia, e se certificava de que ela tomasse toda a medicação prescrita pelo médico dela. No entanto, com todo esse cuidado e atenção, a única coisa que ele não fazia era tocar nela. Gilbert a beijava às vezes, mas, evitava qualquer situação que pudesse levá-los a algo mais, e isso deixava Anne entristecida, pois ela sentia falta dele, do seu toque e de sua maneira apaixonada de amá-la. E isso não era pelos prazeres do sexo, porque não era isso que importava para ela, e sim como ela sentia que ele era dela, como ele deixava ser amor aflorar, e fazê-la sentir que faziam parte um do outro.

Mas, Anne também sabia que Gilbert estava enfrentando conflitos internos, Era o seu passado brigando com seu presente, lhe trazendo de volta um fantasma tão temido por ele, colocando em xeque suas crenças, sua capacidade de lutar e acreditar que sairia vencedor mais uma vez. Ela o ouvira chorando por trás de portas fechadas, com soluços baixos e doídos enquanto perguntava para o nada “Por que?”, o que a fizera desejar entrar lá e consolá-lo, mas, Gilbert não aceitaria bem essa sua atitude, se recriminando depois por não se mostrar mais forte quando ela precisava dele. Uma outra noite, quando ele pensava que ela estava dormindo, Anne escutou-o dizer baixinho, ao mesmo tempo em que acariciava seus cabelos:

- Eu queria tanto te ajudar a matar mais esse dragão, mas, dessa vez sou fraco demais para fazê-lo.

O coração dela pareceu encolher de tamanho com aquelas palavras, e ela quase abriu os olhos para contestar o que ele dissera, mas, se manteve de olhos fechados, respeitando aquele momento de desabafo de Gilbert. Contudo dentro de sua cabeça, ela não parava de pensar que não cabia a ele matar mais nenhum dragão por ela, pois aquela luta solitária era dela contra seu corpo fraco que a desafiava a provar que merecia a benção da maternidade.

Anne sabia que Gilbert estava tentando, mesmo com tudo  se mostrando contra a sua vontade. Não devia ser fácil para ele vê-la naquela situação, quando a poucos dias ainda estavam em lua de mel comemorando seu futuro juntos, agora tudo se tornara um borrão, enquanto esperavam que o tempo seguisse seu curso natural e toda aquela fase tensa passasse de vez. Anne queria que tudo fosse mais fácil para Gilbert lidar, porque vê-lo sofrer por ela era mais do que poderia suportar,

- Anne, está tudo bem? - Sharon perguntou de repente.

- Sim, por que?

- Você está chorando. - Anne passou as mãos pelo rosto, e notou espantada que estava todo molhado, Envergonhada, pois várias pessoas da sala a olhavam admiradas, ela respondeu:

- São os homônimo de grávida que me deixam mais sensível.

- Tem certeza, Sra. Blythe? Não quer sair e tomar um pouco de água? - seu professor de literatura estrangeira perguntou solícito.

- Não professor. Eu estou bem. Desculpe-me interferir na sua aula.

- Não foi nada. Vamos continuar então.

Anne respirou fundo, e tentou se concentrar no que seu professor estava dizendo, mas, a cada segundo, ela checava a hora, pois queria que o intervalo chegasse logo, e ela pudesse se reunir a Gilbert, pois de repente, estar com ele era mais importante que tudo. Ela tomou seu remédio no horário indicado, e nem precisou sair da sala, pois Gilbert até se lembrara de colocar uma garrafinha de água para ela, fazendo-a sorrir com ternura. Ele não se esquecia de nada nunca.

Quando o intervalo tão desejado chegou, Anne caminhou para o refeitório a procura de Gilbert, e ele já estava na porta esperando por ela.

- Eu demorei? - ela perguntou tocando o rosto dele.

- Não, eu é que estava ansioso para te ver. Está tudo bem com você? - ele deslizou as mãos pelos cabelos dela, e Anne respondeu:

- Estou bem, não se preocupe.

- Tomou os seus remédios?

- Sim. - ela respondeu balançando a cabeça para preocupação excessiva dele, mas, não disse nada que chamasse a atenção dele para esse fato.

- Quer ir para o nosso lugar especial? - ele perguntou.

- Quero sim. Gosto de ficar sozinha com você. - ela disse segurando na mão dele.

Logo estavam sentados embaixo da árvore deles. Gilbert fez Anne se sentar em seu colo, e a observou comer todo o lanche que ele havia preparado de manhã, e depois apenas ficaram juntos fazendo carinho um no outro enquanto Gilbert dizia:

- O laboratório me deu um mês de licença para cuidar de você. - Anne o olhou surpresa e disse:

- Você sabe que não precisa, Gilbert.

- Precisa sim, e eu quero fazer isso. - ele disse teimosamente.

- Você ama seu trabalho, e não serei eu a te afastar dele.- Anne disse séria.

- Mas, se você ficar sozinha quem vai cuidar de você?

- Eu acho que sou grandinha o suficiente para cuidar de mim mesma. Eu não sou dependente de você a esse ponto. - ela se sentou muito ereta no colo de Gilbert, e ele notando sua rigidez, colocou suas mãos no ombro dela e disse:

- Anne, eu só quero o seu bem. Não precisa ficar brava desse jeito.

- Então não me sufoque assim.- ela disse olhando dentro dos olhos castanhos. - Dessa maneira, você está me tratando como se eu fosse uma inválida, e odeio me sentir assim.

- Querida, me perdoe, eu não fazia ideia. - ele tentou se desculpar, mas, Anne estava se sentindo tocada demais por tantos acontecimentos dos últimos dias para dar ouvidos ao que ele acabara de dizer.

- Por que está tentando fazer tudo isso parecer pior do que realmente é? Quer que eu me sinta culpada pela minha decisão? - seus olhos se encheram de lágrimas, e ela viu a culpa estampada no rosto de Gilbert, e por isso, tentou se controlar, mas, infelizmente não estava conseguindo.

- Não é nada disso, amor. Por favor, não chora. - ele enxugava as lagrimas dela, mas, outras logo começavam a rolar sem controle, e Anne percebeu que ele estava ficando nervoso com sua crise momentânea, e perguntou:

- Por que não me diz o que realmente está pensando ou sentindo? Eu nunca te tive tão perto de mim, mas tão longe. Você sabe que não me quebro fácil, Gilbert. Quantas vezes ainda vou ter que te provar que sou forte o bastante para aceitar e aguentar os baques da vida? Me proteger assim não em ajuda em nada. - ela baixou a cabeça porque não conseguia mais encará-lo sem sentir seu coração se partir. Ela sabia que ele estava sofrendo, mas não porque ele lhe contara pessoalmente, mas, sim porque o ouvira por trás das portas. Anne não queria que ele se escondesse dela, ela queria que ele deixasse as portas abertas de sua alma para que ela pudesse enxergar o que havia mais além, pois, aquela falsa calma que ele tentava demonstrar a deixava magoada, era como se ele a deixasse de fora, tendo que andar pé ante pé, e tentar descobrir como se fosse um ladrão na noite o que ele sentia secretamente. Ela não ia confrontá-lo com o que sabia, porque não queria que ele pensasse que ela andara espionando, pois tudo o que desejava era que ele compartilhasse com ela seus sofrimento assim como ela nunca escondia o que estava sentindo dele. Parecia que havia dois Gilberts um antes de sua doença, e outro depois dela, e esse segundo Gilbert não estava lhe agradando de forma nenhuma.

- Anne, eu te amo, Por favor, não fique assim. Eu queria apenas cuidar de você, mas, se não é o que deseja, eu posso pedir para cancelarem a licença. - ele levantou seu queixo com o polegar.

- Eu não me importo que cuide de mim, só não quero que pare de fazer as coisas que gosta para se dedicar integralmente a mim. Eu quero o mínimo de normalidade em nossas vidas com tudo isso que está acontecendo. Mas, talvez seja pedir demais para você, eu entendo que é difícil. - Gilbert a trouxe para seu peito e respondeu:

- Nada do que me pedir é demais para mim, Anne. Eu faço qualquer coisa por você, sabe disso. - Anne  se agarrou ao pescoço dele e disse baixinho:

- Eu só quero você perto de mim de novo como sempre foi. - ela disse quase como uma súplica.

- Eu estou aqui como sempre estive. - e então ele desceu os lábios sobre os dela, roçando-os devagar a princípio, e depois tomando posse da boca dela. Suas línguas se encontraram, e Anne aprofundou o beijo o quanto pôde, sentindo Gilbert segui-la cegamente no que estavam fazendo, mas, quando ela subiu as mãos pelo peito dele sobre a camisa, alcançando o primeiro botão, desejando sentir nem que fosse por um segundo o calor da pele dele, Gilbert a afastou dele devagar, dizendo;

- Acho melhor voltarmos. Nosso intervalo está quase acabando. – ele a fez se levantar, fazendo o mesmo logo em seguida, e a encaminhando de volta para o refeitório, deixando Anne profundamente magoada e frustrada por ele fugir de um momento íntimo entre os dois. Anne não aceitava que ficassem assim tão distantes. Ela precisava dele não só para lhe dar apoio, cuidar dela, ou saber se estava bem. Ela precisava do que tinham antes, daquele amor avassalador que a fazia ferver por dentro, que a deixava tão feliz, e a fazia se sentir tão mulher.

Da maneira como Gilbert estava conduzindo as coisas, parecia que ela estava tão doente que não podia ser tocada ou se quebraria. E aquilo não era verdade. Apesar de sua gravidez complicada, ela ainda tinha desejos, uma paixão imensa que queimava por ele desde o princípio, e ia dar um jeito de recuperar isso, e fazer Gilbert compreender que o que tinham juntos era maravilhoso demais para ser relegado ao segundo plano. Com pensamentos mais otimistas, ela voltou para sala de aula com um sorriso no rosto, e mais feliz do que quando chegara ali naquela manhã, e assim conseguiu se concentrar melhor em todo o conteúdo que tinha pela frente para estudar naquele dia.

 

GILBERT E ANNE

 

Aos poucos, Anne e Gilbert foram se adaptando à nova rotina de antes. A única diferença era que a doença de Anne exigia uma atenção e cuidado com sua gravidez que antes não existia.

Gilbert voltou para o laboratório, mas por vontade de Anne do que sua própria, mas, ele a fez prometer que aceitaria uma enfermeira como companhia que ele contratasse caso o problema dela se agravasse, e a ruivinha aceitou, mais para deixá-lo tranquilo do que por realmente concordar com o pedido.
Ela sabia o quanto tudo aquilo estava abalando o marido, e entendia que ele estava agindo de maneira a deixá-la mais confortável com a situação, e a si mesmo mais tranquilo por não estar com ela vinte quatro horas por dia.

Ele continuava a manter uma distância física dela, que magoava Anne, e mais ainda porque ele incluira Rilla naquele seu afastamento. Ele não falava mais com ela como antes, e nas poucas vezes que o fazia, parecia estar sentindo uma dor interna, ao invés de ter o sorriso costumeiro de antes que se tornava maior quando sua menininha respondia ao toque dele na barriga de Anne.
O que a ruivinha estava longe de saber era o quanto essa distância que estava tentando manter de sua esposa não fora algo calculado previamente, e sim uma necessidade de manter sua sanidade intacta.

Ele já fazia um bom trabalho brigando com seus pensamentos, sofrendo com as incertezas do dia se amanhã. Ele também estava sentindo a falta física de Anne, e seu contato diário.com Rilla, mas era algo que via como necessário por mais que isso lhe doesse profundamente. A distância de Anne se devia ao fato de que por amá-la tanto, não conseguiria nunca deixar de tocá-la, e ele tinha um medo tremendo de machucá-la de alguma forma, ou fazer-lhe algum mal irreparável

Em sua cabeça confusa e preocupada com tantos acontecimentos, se manter longe de Anne era a melhor coisa a se fazer diante das circunstâncias. Ele não percebia que com essa atitude apenas deixava o coração da ruivinha mais triste e carente, o que a machucava muito mais do que se ele permitisse que as coisas entre os dois fluísse como antes. A sua distância de Rilla era outro assunto complicado, pois apesar de amar sua princesinha de todo o coração, Gilbert não queria se apegar mais do que já tinha se apegado, e como nunca lidara bem com as perdas pessoais, tinha medo de perder a única coisa na vida que amava tanto quanto amava Anne.

Talvez estivesse sendo pessimista demais, o que era pouco comum em alguém que sempre levara seu otimismo tão a sério, e que nunca deixara Anne desistir de nada, mas, que naquele momento sentia-se completamente fragilizado, mesmo que tentasse com todas as forças esconder esse seu lado pouco aflorado em outras situações. Não podia se dar ao luxo de vacilar, e muito menos pensar em suas próprias necessidades e carências, pois como sempre de sentia responsável por toda situação, sem pensar que eram necessário duas pessoas para que uma nova vida fosse criada, e que Anne tivera participação ativa naquilo tudo.

Esses pensamentos também o faziam se sentir culpado, pois era como se estivesse renegando a própria filha, como Anne lhe dissera outro dia, era como se não quisesse que ela nascesse e não era isso que ele sentia. Sua confusão de sentimentos só aumentava nesse momento, então, ele decidiu simplesmente não pensar mais, ou procurar razões ou explicações para tudo que estava acontecendo, e tentar ajudar Anne e sua bebê da melhor forma que podia. Seu cansaço era visível, pois Anne sabia bem que ele não andava dormindo e que fingia uma normalidade que não estava sentindo, e por mais que tentasse ignorar ela não conseguia, e se sentia responsável pela infelicidade de Gilbert também.

E assim, ambos iam vivendo suas vidas juntas e ao mesmo tempo separadas, cada um com seu sofrimento e dores internas. Mas, o amor, o item mais importante, continuava intacto, e nunca seria diferente, era apenas necessário que voltassem a caminhar de mãos dadas para entenderem que o sol nascia e se punha no mesmo lugar, dando a certeza à humanidade que nunca lhes faltaria calor, e assim também era o amor bem cultivado e sentido, pois renasceria no coração dos amantes a cada dia mais forte e duradouro.

As aulas na faculdade já estavam a todo vapor, e como não estava mais trabalhando na monitoria, e tendo as tardes livres para si mesma, Anne aproveitava para estudar, cuidar das tarefas mais leves da casa, pois Gilbert a tinha proibido de fazer qualquer esforço desnecessário, e arrumava quarto de Rilla, pois queria que quando a bebê nascesse tudo estivesse limpo e arejado para recebê-la assim que chegasse da maternidade. Era lá que também lia seus livros favoritos em voz alta, como se sua filhinha pudesse ouvir e compreender cada palavra. Gilbert nunca participava desses momentos. Primeiro porque ele nunca estava em casa a essa hora, e segundo porque Anne fez desses instantes algo apenas seu e de Rilla, e para serem apreciados e compartilhados apenas pelas duas.

Ela esperava que sua garotinha tivesse a mesma paixão que ela pela leitura, e quem sabe também não poderia abraçar o magistério como sua profissão do coração? Era lógico que ela também poderia ter a mesma vocação que o pai, que também era uma profissão linda, mas, uma coisa era certa. Rilla teria muitas oportunidades na vida, bem mais que a mãe dela, e não importava qual caminho escolhesse, desde que fosse feliz e se sentisse realizada.

Nessas horas, muitas lágrimas escorriam pelo rosto de Anne, pois ela se perguntava se estaria ali para ver sua pequenina desabrochar, se tornar mulher, se apaixonar, se casar e ter seus próprios filhos? Ela queria acreditar que sim, por isso, não se permitia ir muito além com seus pensamentos, para não desencadear um áurea negativa que não faria nenhum bem as duas. Sua garotinha dependia dela para ficar bem, e por isso, a ruivinha tentava cultivar pensamentos bons para que nada viesse a atrapalhar o desenvolvimento de sua gravidez.

Ela andava se sentindo bem, estava seguindo à risca as recomendações do médico, sua pressão estava controlada, fazia boas caminhadas com Gilbert no fim de tarde depois que ele voltava do trabalho, seu sono também era tranquilo, e a única coisa que ainda a deixava de certa forma deprimida era o seu relacionamento com Gilbert. Não que estivesse ruim, pois ele continuava sendo carinhoso, dedicado e preocupado com ela em todos os sentidos, mas havia uma certa reserva em seu marido que ela não conseguia derrubar. Ela vinha tentando de todas as formas, mas, Gilbert não colaborava, ignorando seus esforços de voltarem a se aproximar, assim, ela acabava se cansando, e deixava as coisas simplesmente acontecerem. Anne sentia falta do sorriso dele, pois agora Gilbert raramente sorria, parecia ter assumido de novo aquela postura séria e rosto sisudo daquela vez em que ele pensara que ela tentara se matar. Mais uma vez eles estavam remando contra a corrente, em meio ao turbilhão de emoções explodindo dentro dos dois.

Por que tanto amor tinha que ter um preço a ser pago? Pois, pelo que se lembrava, tanto ela quanto Gilbert já tinham pago todos os dividendos para terem o direito de se amarem sem barreiras, ou obstáculos, e no entanto parecia que eles continuavam a serem construídos pela vida em uma tentativa de separá-los, mas, Anne tinha como convicção que por mais distantes que pudessem estar fisicamente, seus corações sempre seriam apenas um, e sempre se pertenceriam.

Aquela manhã de sexta-feira foi diferente das que tiveram desde então. Ele se levantaram mais tarde, pois Anne teria sua primeira consulta com o Dr. Miller depois de sua crise de pressão alta, e tanto ela como Gilbert estavam tensos com o resultado de seus últimos exames. Por isso, não iriam à faculdade naquele dia, pois o compromisso que tinham com o médico era muito importante e poderia demorar mais do que o esperado. Assim, eles se sentaram à mesa para tomarem café, e Gilbert notando o silêncio de Anne, perguntou:

- Está preocupada?

- Um pouco. - ela disse tomando seu leite devagar,

- Tudo vai ficar bem. Eu vou estar lá com você. - ele disse de maneira suave, segurando sua mão, e Anne tentou sorrir para tranquilizá-lo também, pois, bem podia imaginar que Gilbert estava tão nervoso quanto ela.

- Eu sei. Temos feito tudo certo, e seguindo todas as prescrições médica. Espero apenas que meu corpo não falhe mais uma vez. - ela disse tristonha.

- Querida, não fale assim. Você não tem um corpo falho. Essas coisas acontecem sem explicação. Quantas mulheres saudáveis acabam desenvolvendo esse problema, e jamais pensaram que isso poderia acontecer? Eu sei como pensa e se sente, mas, eu juro que não vou te abandonar nunca. - o olhar dele era doce, mas, Anne não pôde deixar de sentir seus olhos se encherem de lágrimas ao pensar que ele não tinha noção da metade das coisas que ela vinha sentindo ou pensando, mas, não queria deixar o clima ainda mais quente por isso disse apenas:

- Não, você não sabe. Mas, isso não é assunto para ser tratado no café da manhã. - ela respondeu encerrando o assunto, mas Gilbert pareceu intrigado com sua resposta e por isso perguntou:

- O que está tentando me dizer, Anne? - Gilbert pareceu mais tenso e preocupado que antes e Anne se recriminou por ter tocado naquele assunto. Gilbert não merecia nenhuma mágoa da sua parte, ela estava fazendo o melhor que podia dentro de suas limitações emocionais. Talvez não acertasse sempre, mas, assim como ela estava tentando passar por aquele furacão da melhor forma possível, preservando-se o quanto podia, para reunir forças e continuar lutando. Por isso, ela simplesmente disse:

- Não é nada, acho que tem razão, estou nervosa. Vou me sentir melhor quando voltarmos da consulta,- Gilbert apenas assentiu, parecendo pensativo por um momento, enquanto terminavam o café e saíam finalmente do apartamento rumo ao consultório do médico de Anne.

O consultório estava vazio dessa vez e havia apenas uma outra grávida que como Anne estava acompanhada do marido. Gilbert ficou o tempo todo calado, enquanto Anne se entretinha com uma revista até que seu nome foi chamado pela recepcionista. O Dr. Miller os recebeu como das outras vezes com seu jeito simpático e afável, e fez milhares de perguntas a Anne enquanto a examinava minunciosamente sempre acompanhado dos olhos preocupados de Gilbert. Anne gostava do jeito do médico, porque além de ser um profissional sério, ele nunca deixava de esclarecer qualquer dúvida sua, era franco, sincero, e nunca usava de meias palavras para dizer a ela o que quer que fosse, e era disso que ela precisava, de franqueza em primeiro lugar.

- Bem, Anne. Devo dizer que estou muito satisfeito com o desenvolvimento de sua gravidez. - ele disse ao terminar o exame. - Sua pressão está normal, sua alimentação está super balanceada, assim como os seus batimentos cardíacos e os da bebê estão ótimos. Se continuar assim, as chances de ter um parto aos nove meses são grandes. Além do mais, você e Gilbert podem voltar a ter uma vida de casal normal, desde que tomem certos cuidados. - Tais palavras deixaram Anne bastante animada, mas, ao olhar para Gilbert não notou nenhuma mudança em suas feições, e este fato a fez suspirar desanimada.

Eles saíram do consultório em silêncio, e enquanto Gilbert dirigia para casa, ela se perdia em meio aos seus pensamentos, tentando organizá-los um a um para poder conversar com Gilbert mais tarde.

- Anne, você quer sorvete? - Gilbert perguntou assim que passaram perto de uma sorveteria popular no centro de Nova Iorque.

- O que? - ela perguntou, pois não tinha ouvido o que ele dissera.

- Eu perguntei se quer sorvete. - ele repetiu sem olhar para ela.

- Pode ser.

- Sabor chocolate ou morango?

- Tanto faz.- ela respondeu com desinteresse, aceitando apenas para não aborrecer Gilbert, cuja preocupação naquele momento era apenas em agradá-la.

Quando chegaram no apartamento, o rapaz disse a ela que faria o almoço, assim, ela poderia descansar um pouco mais. Assim que tudo ficou pronto, eles comeram juntos, conversando apenas de amenidades sem tocar no assunto da consulta. Uma hora depois, Gilbert havia se vestido, e antes de sair para o trabalho, ele se aproximou de Anne que estava deitada no sofá lendo um livro e perguntou:

- Vai ficar bem sem mim?

- Sim. Estou ótima, pode ir sem se preocupar. - ela respondeu, dando-lhe um sorriso forçado, enquanto ele a beijava de leve nos lábios e saía do apartamento.

Sentindo-se nitidamente desanimada com a atitude do marido que sequer fora carinhoso com ela, Anne passou o resto do dia deitada no sofá, sem ânimo para fazer qualquer coisa que não fosse ler ou dormir, e quando Gilbert retornou às cinco da tarde, a encontrou no mesmo lugar.  O rapaz não disse nada, embora o leve franzido em uma testa desmentia sua aparente calma quando se aproximou dela e perguntou:

- Amor, tudo bem?

- Sim. Só estou me sentido cansada.

- Quer que eu te leve para o quarto? - Anne ia recusar, mas, estava com saudades daquele tipo de proximidade com Gilbert, por isso, ela balançou a cabeça concordando. Quando ele a pegou em seus braços fortes, ela suspirou baixinho, deitando sua cabeça no ombro dele, sentindo o cheiro de sua colônia favorita. Gilbert a colocou na cama devagar, acariciou seus cabelos e disse:

 - Eu vou tomar banho. Daqui a pouco eu venho te fazer companhia.

- Está bem. - ela concordou, acompanhando-o com o olhar até que ele sumiu de seu campo de visão. Suspirando, ela voltou a ler seu livro enquanto esperava que Gilbert retornasse, e pudessem por fim conversar sobre o que tinha acontecido na consulta.

Demorou exatamente quinze minutos para que ele se banhasse e voltasse para o quarto. Ele tinha os cabelos molhados, e usava apenas uma bermuda, deixando seu dorso nu à vista dos olhos de Anne, que depois de tantos dias sem tocá-lo, ficava pensando no quanto seu marido era maldoso por tentá-la daquela maneira. Ela esperou que ele começasse a conversa que precisavam ter, mas, Gilbert apenas se deitou a seu lado com o braço direito dobrado debaixo da cabeça, de olhos fechados como se meditasse. Impaciente, Anne decidiu não esperar mais, pois se ele não tomava uma atitude, ela o faria.

Ela estendeu a mão e tocou o abdómen dele, sentindo com prazer a firmeza da pele. Gilbert abriu os olhos no mesmo segundo, e a encarou, se afastando dela e se sentando na cama.

- Anne, por favor. Você sabe o que penso disso.

- Não, eu não sei, por que não me diz? Ou melhor por que não me explica por quanto tempo pretende ignorar sua esposa? - Gilbert fechou os olhos, tentando se recompor. Será que ela não entendia o quanto aquilo também era difícil para ele?

- Vamos mesmo ter que discutir por conta disso? - ele perguntou assim que abriu os olhos e a encarou de novo.

- Eu não quero discutir, Gilbert. Eu só quero entender por que de uma hora para outra parece que a ideia de me tocar se tornou insuportável? - a voz dela soou mais alterada do que pretendia, mas, a mágoa que estava sentindo era tão grande que não conseguiu se controlar.

- Amor, eu pensei que você tivesse entendido. - ele pegou a mão dela nas suas, não desejando ver a tristeza naqueles olhos azuis oceano que eram sua maior alegria pela manhã.

- Como posso entender alguma coisa se você não me explica com clareza?

- A sua condição é delicada, sabe disso. - ela o olhou nos olhos e respondeu:

- O Dr. Miller disse que nós podemos se tomássemos cuidado.

- Eu tenho pavor de te machucar ou te causar algum mal irreparável. - ele disse, balançando a cabeça como se o mero pensamento lhe desse agonia.

- Sabe o que pode me machucar, Gilbert? É você não me amar. É me tratar como se eu fosse uma doente inválida que não merece nada mais que seus cuidados diários, mas sem carinho ou qualquer afeição. – ela se aproximou mais dele, e continuou a falar; - Será que não entende que sinto sua falta? Será que não vê o quanto me magoa quando não me toca? E eu não estou falando de sexo, porque como você me disse uma vez, o sexo não é o que importa, mas o amor sim. Por isso, eu sinto falta do seu amor se materializando sobre minha pele por meio dos carinhos que só você sabe me dar. É dessa conexão que preciso, de te sentir em mim como se fôssemos um, porque quando eu sinto que me ama, nada mais importa, eu posso atravessar um deserto inteiro se eu sentir sua força em mim, pois eu posso sobreviver a qualquer coisa, mas, nunca viver sem você. - as lágrimas corriam soltas e ela abaixou a cabeça, até que sentiu Gilbert a puxando para seu peito e dizer:

- Eu te amo, Anne. Não duvide disso nunca.

- Eu não duvido, só sinto esse amor distante demais de mim agora. Só me responde uma coisa, e eu prometo não insistir mais se sua resposta for negativa.

- O que quiser- ele respondeu, e assim ela disse:

- Você não me deseja mais?- Gilbert sorriu diante da pergunta, pois durante o namoro e casamento de ambos, ela lhe fizera essa pergunta inúmeras vezes,  e sempre em momentos em que eles passavam por algum tipo de tensão, e se admirava muito que ela ainda não soubesse da resposta, sem que ele tivesse que dizê-la. Porém, ele também sabia que ela se convenceria apenas de uma maneira. Assim, ele pegou o queixo dela com o polegar e trouxe o rosto dela para mais perto do seu, colidindo seus lábios com os dela sem muito cuidado, porque sabia que era assim que ela gostava que ele a beijasse, com impetuosidade, quase com fúria, como se pudessem fundir seus lábios por meio de beijos ardentes e extremamente intensos. Eles desgrudaram os lábios após alguns segundos, e Anne distribuiu uma fileira de beijos pelo pescoço de Gilbert enquanto ele lhe abria a blusa com facilidade, se apossando dos seios dela com carinho que a faziam perder quase completamente o bom senso. A saia dela foi arrancada, e enquanto Gilbert tirava sua calcinha também, ele ia deixando beijos quentes por todas as partes descobertas que estavam ao seu alcance, deixando Anne gloriosamente nua entre os lençóis da cama onde estavam.  Completamente excitada, ela o empurrou, fazendo Gilbert se deitar na cama, enquanto ela retirava a bermuda dele com a habilidade adquirida durante o tempo que estavam juntos, deixando-o exatamente como veio ao mundo, um verdadeiro Adão vindo direto do paraíso para fazer todos os desejos dela. Ela o enlouqueceu com seus dedos, e seus lábios que agora conheciam cada parte sensível do corpo masculino.

Assim, eles se tocaram de muitas formas, deixando que seu amor falasse mais alto e matasse a saudade de todos aqueles dias que ambos sentiram um do outro, Nesse momento foi que Anne percebeu que Gilbert também sentia falta desses instantes com ela, onde sempre se encontravam um no outro, recuperavam sua identidade perdida, e sabiam exatamente para onde estavam indo. Era isso que cada toque significava para eles, mais do que o prazer ou o desejo sentido, ou paixão que elevava a temperatura de seus corpos, era como voar nas asas da borboleta mais colorida, ou alcançar o topo do Everest e sentir o poder da vida em suas mãos. Sentir o calor do sol aquecendo a pele de manhã, ou sentir o perfume da flor mais perfeita do jardim e saber que ali estava a essência que regia cada um de seus sentidos juntos, entrelaçados na dança de um amor que nunca teria fim, e sempre se repetiria enquanto vivessem naquele mundo juntos.

Quando ficou difícil de resistir o apelo de seus corpos, Gilbert fez Anne se sentar em seu colo e a possui devagar, assim como controlou seus movimentos ao máximo, pois ainda tinha certo receio, por conta da doença dela. Anne não se importou que demorassem mais para chegarem ao auge de tudo, porque assim aqueles momentos preciosos poderiam ser prolongados ao máximo. No momento final, quando o auge do desejo os alcançou, mais uma vez entrelaçaram seus dedos, para mostrarem um ao outro que estavam juntos naquele momento sublime e perfeito.

Segundos depois, ela ainda estava abraçada a Gilbert, recuperando seu fôlego enquanto ele sussurrava em seu ouvido:

- Ainda duvida do quanto desejo você, Sra. Blythe? - e Anne apenas sorriu singelamente, pois também sentira falta de ouvir Gilbert chamá-la assim.

A madrugada os encontrou sentados na varanda, com Anne no colo de Gilbert feito duas crianças lambuzadas de sorvete. E naquela hora tardia onde apenas a lua brilhava no céu sem a presença de nenhuma estrela, Anne olhou para Gilbert e sentiu pela primeira vez em semanas, que por mais desvios que fizessem, distâncias que vencessem, enquanto estivessem juntos naquela vida tudo ficaria bem.

 


Notas Finais


O que acharam? Beijos


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