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História Anne with an e- continuação da série - Entre a razão e o coração


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Olá.Espero que gostem do sexto capítulo. Só tenho a acrescentar que o poema que o Gilbert dá para Anne é de minha autoria. tenham uma boa leitura.

Capítulo 6 - Entre a razão e o coração


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - Entre a razão e o coração

Capítulo 6

Entre a Razão e o Coração

ANNE

 

Era primavera finalmente! O céu cinzento se fora dando lugar a um sol radiante e cores por todos os lados. O jardim de Marilla estava magnífico, pois havia diversas variedades de rosas que além de perfumadas deixavam a frente da casa mais alegre e bonita.

Anne adorava a primavera, se sentia tão livre como se pudesse flutuar, deixava de lado as pesadas roupas de inverno para trajar vestidos mais leves e elegantes. Nessa manhã, por exemplo, ela vestia um vestido branco sem mangas, com babados azuis, e na cabeça usava um chapéu também branco que combinava com o vestido, deixando sua figura pequenina mais alongada e graciosa. Ela parou num canteiro de rosas vermelhas, aspirou o perfume e pensou:” Que aroma maravilhoso!” Depois se lembrou da hora, não queria chegar atrasada na escola, por isso, se despediu de Marilla dizendo:

- Marilla, estou indo para escola.

- Tudo bem Anne. Te espero para o chá das quatro horas.- respondeu Marilla.

Assim, Anne se pôs a caminho da escola, tomando o cuidado de mudar o seu trajeto, pois não queria encontrar Gilbert, o que fatalmente aconteceria se fizesse o caminho da floresta. Em um lampejo rápido a imagem dele lhe veio a  cabeça, e ela tratou logo de apagá-la de sua mente. Fazia semanas que não falava com ele, embora o visse todos os dias na sala de aula. Gilbert prometera que lhe daria tempo para pensar e cumprira, mas isso não impedia que Anne sentisse sua presença a todo momento. Ele não se aproximava dela, mas seus olhos não a largavam, a seguiam por todos os lados, e Anne não sabia se sentia feliz ou incomodada com isso, mas de qualquer forma evitava qualquer contato, pois mesmo distante Gilbert lhe tirava a calma.

Encontrou Diana no pátio da escola e a amiga estava radiante.

- Que felicidade toda é essa, Diana?- quis saber Anne intrigada.

- Falei com Jerry ontem, e ele me convidou para um sorvete.

- E como foi? Vocês se divertiram?- Anne quis saber.

- Sim, nos divertimos muito. Combinamos de sair juntos de novo no fim de semana. .- disse Diana toda alegre-

- E o que sua mãe pensa disso tudo?

- Ela ainda não sabe. Decidi que não vou contar por enquanto. Você sabe como ela é. Está sempre me aborrecendo com sua conversa de mulher de sociedade e sua insistência de me levar a Paris. - Diana revirou os olhos.

- Fico feliz que você e o Jerry estejam se dando bem, mas tome cuidado com sua mãe e com a Josie. - cochichou Anne baixinho no ouvido de Diana

Nesse momento, como em um passo de mágica Josie surgiu com Ruby a tiracolo, e foi logo dizendo:

- E aí, ruiva. Qual é a fofoca do dia?

- Quem disse que estamos fofocando?- disse Anne, já se preparando para discutir com a loira. “Que garota insuportável’”!

- Você e Diana quando se juntam é fofoca na certa. - disse Josie rindo.

- Será que você não está falando de si mesma?- perguntou ela com fingida inocência.

- O que quer dizer com isso?- perguntou Josie.

- Quero dizer que a única fofoqueira por aqui é você. - respondeu Anne, já dando sinais de que começava a se estressar com a menina.

- Eu não faço fofoca, ruiva. Eu só conto aquilo que as pessoas não têm coragem de falar..

- Aumenta um ponto, é o que quer dizer. - falou Anne com raiva.

- Você é mesmo esquentadinha, hein, ruiva. - falou Josie provocando Anne.

- Quer parar de me chamar de ruiva, meu nome é Anne.

- Mas acho que ruiva te representa melhor. - contestou Josie.

- Josie, quer parar de alfinetar Anne. - disse Diana.

- Deixa para lá, Diana. Essa garota adora ser desagradável. Ou melhor, desagradável deveria ser o nome dela, pois lhe cai muito bem. - disse Anne, olhando para Diana.

Josie ficou morrendo de raiva, mas não disse nada, pois não soube como rebater o comentário de Anne. Prometeu a si mesma que a faria pagar pelo desaforo.

Nisso já era hora do almoço e assim que a professora os dispensou para lancharem, Anne foi até seu armário para pegar seu almoço. Deu um passo para trás e quando se virou, tropeçou em Gilbert que estava bem atrás dela e derrubou tudo no chão. “Maldição! Tinha que ser esse garoto.” - pensou Anne, com raiva.

- Me desculpe Anne, mas foi você que tropeçou em mim. - disse o garoto.

- Nunca olha por onde anda Blythe? Acho que vou ter que te dar um par de óculos porque está sempre se esbarrando em mim. - disse isso e se abaixou para pegar suas frutas que rolaram soltas pelo chão.

- Me deixe ajudá-la – disse Gilbert, se abaixando ao mesmo tempo  que ela. Mas não foi uma manobra feliz, pois Anne perdeu o equilíbrio e teria caído em cima dele se o menino não segurasse em sua cintura. E ficaram se olhando, esquecendo  de onde estavam. Foi quando Anne ouviu a voz cínica de Josie dizendo.

- Ora, ora. O que temos aqui. Ruby, venha ver que cena adorável.

No mesmo instante, Anne foi arrancada de seu transe, e disse quebrando seu breve interlúdio com Gilbert:

- Você é mesmo desajeitado, Blythe.

- Eu é que sou desajeitado? Você tropeça em mim e eu é que sou desajeitado? Você adora jogar a culpa de tudo nas minhas costas, não é?- retrucou Gilbert, irritado com as palavras de Anne.

- Nossa Blythe. Quanta sensibilidade!  Que bicho te mordeu?- perguntou Josie, se divertindo com a cena.

- Cala boca, Josie. - Anne e Gilbert falaram ao mesmo tempo, Aí, Anne se levantou depressa e foi em direção ao pátio da escola, onde Diana a esperava, sem olhar nenhuma vez para trás, embora dentro de seu peito, o coração batesse descontrolado. Definitivamente Gilbert Blythe não fazia nenhum bem para sua saúde emocional.  Anne não notou que ao longe Ruby a olhava de maneira estranha, se tivesse percebido teria ficado preocupada.

Assim que a hora do lanche terminou, a aula iniciou novamente com a matéria que Anne detestava: geometria. Não conseguia entender nada sobre aquela disciplina, pois por mais que estudasse era péssima aluna. Olhou para Diana desanimada e disse:

- Quem inventou essa matéria com certeza usou um código grego, pois nunca vou aprender essa baboseira.

- Calma Anne. Também não é fácil para mim, mas não pode ser tão impossível assim de compreender essa matéria.

- Por que não chama o Gilbert para te ajudar? Tenho certeza de que ele não se importaria. Vocês pareciam tão íntimos antes do lanche. Não é, Ruby?- disse Josie com um tom maldoso na voz. enquanto Ruby não dizia nada.

- Josie, você realmente tirou o dia para me encher. Qual é o seu problema? – perguntou Anne, cansada das implicâncias da garota.

- Não tenho nenhum problema. Já que você não se decide, vou te dar uma ajudinha. Hey, Blythe, a Anne precisa de ajuda com geometria, por que não vem aqui oferecer seus valiosos préstimos?

A sala inteira olhou para Anne com curiosidade, e ela se sentiu enrubescer de vergonha. “Vou matar essa garota. Como se atreve a fazer isso comigo? Ela quer ver o circo pegar fogo. Olha só a cara da Ruby.”- pensou Anne com raiva mortal de Josie. Mas o mal já estava feito. Para seu desespero, Gilbert veio para perto dela e se sentou ao seu lado, enquanto explicava a matéria para ela e Diana. Anne evitava olhar para ele, mas ás vezes sem querer seus olhos se encontravam, embora aquilo a perturbasse, a menina fingia se concentrar na tarefa à sua frente .Mas a voz dele em vez de ajudá-la a distraía. Tinha um timbre rouco que a fazia se lembrar das ondas quebrando na praia, era como se asas de borboleta farfalhassem ao redor dela. Como seria bom ouvi-lo sussurrando palavras de amor em seus ouvidos, e se isso acontecesse qual seria a sensação? “Anne, você está ficando louca, sua estúpida. Desde quando você deu para sonhar acordada com Gilbert Blythe?”- ela se repreendeu mentalmente. De repente alguém falava com ela, e Anne nem percebeu. Foi necessário que Diana a sacudisse de leve para ela perceber que Gilbert já tinha terminado sua explicação e olhava para ela divertido.

- Anne, você está bem? Parece que estava em outro mundo. - disse Diana. - O Gilbert te perguntou três vezes se você tinha entendido o resultado desse problema, e você ficou olhando para o nada como se estivesse em transe.

- Ah, claro. Entendi sim. - disse Anne. “Mentirosa, você nem prestou atenção em uma palavra do que ele disse. Isto ‘é, você prestou atenção demais nele, mas não era a matéria que ele estava explicando que estava em sua mente”- disse aquela voz interior que a deixava louca.

- Tem certeza, Anne?- perguntou Gilbert, parecendo ainda se divertir com seu embaraço, como se soubesse por onde andara os pensamentos dela.

- Olha só para ela. Tá na cara que não entendeu nada. Acho que cabeça de ruiva não cabe raciocínio para geometria. - ironizou Josie.

“Eu com certeza vou matar essa garota loira. Vou pular no pescoço dela e acabar com esse risinho nojento. Ah, por que não tenho uma lousa por perto?”

- Bem, os meus préstimos foram satisfatórios? - perguntou Gilbert para Anne.

- Acho que foram mais do que suficiente. - ela respondeu.

- Estou sempre à disposição. Se tiver mais um dragão que precise ser morto é só me avisar. - falou Gilbert, se levantando com um sorriso que fez Anne respirar fundo.

- Espere sentado, Blythe. - disse dando as costas para ele.

- De nada, Anne. - disse Gilbert ainda rindo.

Anne balançou a cabeça inconformada. Dera a maior bandeira, e deixara Gilbert se divertir a suas custas. Aquilo estava ficando cada vez pior. Por que aquela aula desastrosa não acabava nunca?

Enfim quando o dia na escola terminou, voltou para casa com Diana, evitando ao máximo falar sobre todos os incidentes daquele dia. A amiga também parecia distraída, então não conversaram muito.

Anne chegou em casa calada e Marilla acostumada com sua habitual agitação,perguntou

- Tudo bem, Anne?

- Ah, meu dia foi péssimo Marilla, obrigada por perguntar. - disse Anne, sentando-se a mesa com cara amarrada.

- O que aconteceu para te deixar com esse mau humor?

- Ah, Marilla. Acho que não devia ter saído da cama hoje. Minha vida é uma tragédia shakespeariana. Acho que devia escrever uma peça sobre isso.

- Não seja exagerada, criança. Amanhã estará melhor. Por que não se anima? Seu aniversário está chegando, e eu já comecei os preparativos para sua festa. - disse Marilla sorrindo.

- Ah é? Obrigada por seu empenho, Marilla. - disse a ruivinha, não mostrando muito interesse, e perguntou logo em seguida:

- Já esteve apaixonada, Marilla?

- Que conversa é essa, menina?- disse Marilla constrangida.

- É só curiosidade. Já esteve apaixonada ou não?- insistiu ela.

- Talvez na minha juventude eu tenha tido algum interesse por rapazes, mas não durou muito tempo, porque minha mãe faleceu quando eu tinha 14 anos e sendo a única filha mulher da família, tive que assumir todos os afazeres da casa, sobrando muito pouco tempo para romances.

- Nossa, Marilla, que trágico! Não se arrepende de nunca ter se casado?

- Sinceramente não penso muito nisso. Mas, chega dessa conversa. Por que tanta curiosidade? Está interessada em alguém?- perguntou Marilla desconfiada.

- Eu? Claro que não. Mesmo porque do jeito que sou desajeitada acho muito difícil alguém se interessar por mim. Eu daria uma péssima esposa, Marilla. - concluiu Anne.

- Veremos no futuro. Mas, mudando de assunto. Chequei a lista de convidados, e acrescentei mais uma pessoa que acho que você esqueceu  de anotar o nome.

- Ah, é? Acho que estava distraída então. E quem é a pessoa que esqueci?  Quis saber Anne.

- Gilbert Blythe. Convidei-o esta manhã.

- O que? Você convidou Gilbert Blythe para o meu aniversário sem me consultar?- Anne ficou lívida com a notícia, não acreditando que Marilla tinha feito isso com ela. O universo parece que conspirava contra ela condenando-a a danação eterna. Gilbert Blythe em seu aniversário seria o pior de todos os pesadelos que já tivera em sua curta vida. Especialmente porque Ruby estaria lá, e evitá-lo a noite inteira iria deixá-la esgotada. Parece que não adiantava o quanto fugisse dele, mudasse de direção ou caminho, sempre o encontrava no final da linha.

- Qual é o problema, Anne? Achei que eram amigos, especialmente depois que ele te salvou daquele incêndio. Era o mínimo que eu podia fazer para agradecê-lo.

- Eu já o agradeci. E só para você saber, não somos amigos. Nunca fomos amigos e nunca seremos amigos.- disse a menina, enfatizando cada palavra.

- Ora, Anne. Por que não? Ele é um menino de ouro.

- Ah, um menino de ouro que sempre dá um jeito de se divertir às minhas custas. - disse Anne muito zangada.

_ Tenho certeza que está exagerando de novo. Gilbert não é assim, o conheço desde criança e nunca o vi ser indelicado com ninguém. - falou Marilla.

- Ah, já entendi que temos mais uma fã de Gilbert Blythe nesta casa.

- Olha como fala comigo, menina. Não me desrespeite.

- Desculpe Marilla. Não quis ser mal educada. Vou para o meu quarto. Falamos sobre isso depois. - e saiu deixando Marilla sozinha com seus pensamentos.

Anne andava estranha naqueles dias, parecia mais quieta do que o normal, e Marilla não entendia por que. Primeiro não quis uma grande festa para o seu aniversário, preferindo só um jantar para poucos amigos, agora vinha com aquela conversa sobre amor. Será que estava apaixonada? Quem seria o felizardo ou azarado? Porque com aquele gênio não seria nada fácil aturar Anne. Achava a garota muito nova para pensar neste assunto, mas um dia isso fatalmente aconteceria e esperava que a pessoa que Anne escolhesse soubesse onde estava se metendo.

 

 

GILBERT

 

Gilbert ouviu Bash falando consigo mesmo sozinho e rindo à toa. O que será que tinha acontecido para deixá-lo tão feliz?

- Hey, Bash. Que bicho te mordeu? Dá para ouvir sua voz lá do meu quarto. - disse Gilbert.

- É primavera, meu amigo. Primavera. Agora sim vou começar a viver. Aquele frio horrível foi embora, e posso andar por aí sem ficar tremendo feito gelatina. Ah, como eu amo o sol! - Bash estava tão contente que fez Gilbert rir.

- Que bom. Assim não terei mais que ouvir suas reclamações constantes. Já estava na hora de você sair um pouco de casa.

- Por que você acha que acordei tão cedo? Vou conhecer os arredores e me misturar. Você já está indo para a escola?

- Sim, já estou saindo. - respondeu Gilbert.

- Boa aula, e dê lembranças à sua ruivinha. - brincou Bash.

Gilbert não respondeu, só fechou a cara e saiu de casa. Anne. Só de pensar nela ficava inquieto. Fazia tanto tempo que não se falavam. Ele sabia que ia encontrá-la na escola, porém, não poderia falar com ela, pois tinha prometido que não a incomodaria até que estivesse pronta para conversarem, mas Gilbert não pensou o quanto seria difícil cumprir aquela promessa. Vê-la e não poder se aproximar o estava enlouquecendo.

Esperava que ela não demorasse uma eternidade para entender seus sentimentos, caso contrário ele teria que tomar alguma atitude, bem pensada é claro, pois quando se tratava de Anne qualquer passo em falso colocaria tudo a perder.

Ele a viu falando com Diana e sem perceber a seguiu até onde estava o armário dos alunos. Não teve a intenção de parar atrás dela, mas quando viu a menina já se virava tropeçando nele, e tratando-o com sua costumeira acidez. Ele tentou remediar a situação, ao se abaixar para ajudá-la a recuperar suas frutas que tinham caído no chão, mas parece que suas boas intenções tinham sortido o efeito contrário, pois Anne se desequilibrara e quase que ambos foram parar também no chão e por uma fração de segundo se olharam e se perderam um no outro. Tudo o que Gilbert conseguira sentir fora o perfume dos cabelos dela que tinham crescido bastante, e agora tinham pequenos cachos que emolduravam o seu rosto. Então, ouviram a voz de Josie debochando da situação em que se encontravam, e Anne imediatamente se separou dele, acusando-o de deixá-la naquele estado. Gilbert ficara irritado com o que ela dissera, mas não foram as palavras dela que o enfureceram e sim a falta de Anne que o deixara desnorteado.

Depois de dias sem nenhum contato, ela estava ali em seus braços novamente, mas aquele momento lindo foi estragado por Josie cujo principal prazer parecia ser zombar de todos. Gilbert odiou Josie por isso, embora tenha se recriminado por este motivo mais tarde. Mas parece que a sorte estava a seu favor, pois teve aquele momento da aula na qual Anne e Diana precisaram de sua explicação para  geometria e pôde finalmente  ficar perto dela de novo.  Neste momento Gilbert percebeu que a ruivinha tentava não olhar para ele, parecendo muito tensa, e por fim quando a aula terminou, não tinha nenhuma ideia do que se passava na cabeça dela. Tentara ainda falar algo divertido a fim de fazer Anne se descontrair um pouco, mas sua tentativa não surtira nenhum efeito. Assim, Anne fora embora em companhia de Diana, não deixando nenhuma pista para ele de quando finalmente conversariam.

Gilbert também foi para casa, tentando não se sentir terrivelmente deprimido. Não sabia que amar alguém era tão dolorido, especialmente alguém como Anne Shirley Cuthbert. Ela era voluntariosa demais, orgulhosa demais, e tão teimosa que era quase impossível derrubar a redoma de proteção que ela construía envolta dela mesma. Mas Gilbert não desistia fácil e ia mostrar para Anne que também sabia ser tão teimoso ou mais do que ela. Eles iam conversar de qualquer jeito.

Assim que chegou em casa, Bash veio ao seu encontro todo animado.

- Blythe, a Sra. Cuthbert veio até aqui te fazer uma visita. Achei-a muito simpática.

- Você quer dizer a Sra Marilla de Green Gables?- perguntou Gilbert interessado.

- Sim.

- O que ela queria?

- Te convidar para o jantar de aniversário de dezesseis  anos de Anne. Vai ser amanhã à noite.

- Foi muita gentileza da parte dela em me fazer o convite. - disse Gilbert disfarçando sua satisfação.

- Vai dizer só isso?- falou Sebastian inconformado.

- O que queria que eu dissesse?- perguntou Gilbert divertido.

- Queria que desses pulos de alegria, soltasse fogos de artifício, que cantasse aquelas suas canções inglesas idiotas. - disse Sebastian dramático.

- E por que eu faria isso?

- Ora, rapaz. Você vai ver a garota de seus sonhos.

- Bash. Você diz tanta besteira, devia arrumar uma namorada, assim ia parar de tentar encontrar uma para mim. - disse Gilbert, rindo. Deixou o amigo resmungando sozinho e foi fazer suas tarefas da escola. Não queria que Bash percebesse o quanto ele ficara feliz com o convite de Marilla para o jantar de aniversário de Anne. Que presente daria a ela? Livros? Sabia que ela adorava ler, mas livros não pareciam um presente apropriado para a ocasião. Flores?Não, era singelo demais. Ele queria algo que a fizesse se lembrar dele, queria que tivesse um significado para ambos, mas o que seria? Pensou mais um pouco e então sorriu. Ele sabia exatamente o que dar a Anne, e era o presente perfeito.

 

 

                                GILBERT e ANNE

 

Anne estava em frente ao espelho e checou sua aparência pela enésima vez. Seus cabelos tinham crescido um pouco naquelas últimas semanas, então usava presilhas de prata que ganhara de Matthew  para prender uma mecha de cada lado da cabeça. O vestido que Marilla lhe fizera era de um azul turquesa, a cor favorita de Anne. Tinha mangas bufantes e decote discreto que lhe dava certo ar de sofisticação.  A única joia que usava era brincos de pérola que Diana a tinha presenteado aquela manhã, o rosto estava corado e os olhos brilhantes.

- Não seja tola Anne. É só um jantar de aniversário e não um grande acontecimento- ralhou consigo mesma baixinho. Mas continuou se olhando no espelho, ajeitando os cabelos nervosamente e alisando a saia do vestido. Foi aí que ouviu só voz interior dizendo: “Todo esse esmero com a aparência não seria por que Gilbert Blythe está lá embaixo esperando por você?”

 - Pare de ser ridícula – se repreendeu novamente- Quem disse que ele está esperando por mim?

- Falando sozinha, Anne?- ouviu Diana perguntar.

- Estava só pensando em voz alta. - disse Anne simplesmente.

- Anne, você está magnífica!- exclamou Diana admirada.

- Que escolha interessante de palavras, Diana Barry. Parece que você tem imaginação afinal. - disse Anne divertida.

- Estou aprendendo com você a usar a minha criatividade- falou Diana sorrindo.

-Todo mundo já chegou? – perguntou Anne, querendo na verdade saber de Gilbert.

- Creio que sim. A única pessoa que não vi ainda foi o Gilbert. A Marilla disse que o convidou.

-Sim, Marilla teve o mau gosto de convidá-lo. - disse Anne, disfarçando seu desapontamento. ”Como você é cínica, Anne. Admita logo que você estava louca para vê-lo neste jantar”- Cale a boca sua voz petulante e me deixe em paz! -pensou a menina irritada.

- Vamos descer ou Marilla mandará um batalhão atrás da gente. Ela odeia atrasos. - pegou na mão de Diana e desceram as escadas. Quando estava no penúltimo degrau voltou sua atenção para a porta, e lá estava Gilbert olhando para ela encantado. Seu coração se aqueceu de um jeito que ela não pôde deixar de sorrir para ele, mas logo tratou de disfarçar ao avistar Ruby observando-a.

Gilbert estava sem palavras.  Quando viu Anne descendo as escadas seu coração parou de bater por um momento, e ele não conseguia acreditar no quanto ela estava incrível naquele vestido azul turquesa. E se perguntou quantas vezes e de quantas formas podia se apaixonar por alguém? Pois tinha a clara impressão de que cada vez que via Anne se apaixonava por ela de uma maneira diferente. Não havia ninguém como ela em todo o mundo. Anne Shirley era um ser único e ele a amava, não tinha nenhuma dúvida sobre isso.

Assim que Anne apareceu Marilla chamou todos para a mesa para que assim começasse a servir o jantar. Quando todos se sentaram, Anne percebeu que Gilbert escolhera uma cadeira bem de frente com a dela, e de repente se sentiu tensa, pois sabia que desta forma não conseguiria fugir dos olhares dele a noite toda. “Ai, Meu Deus. Olha só para ele. Parece um verdadeiro príncipe encantado. Tudo em Gilbert Blythe é perfeito demais.” Anne Shirley, se contenha! Quer que a Ruby perceba a sua deslealdade com ela”?– disse a si mesma nervosa.,e  observou  que  a menina fitava Gilbert com adoração. Essa noite ia ser um pesadelo..

Gilbert esperava o momento certo para falar com Anne e lhe entregar o presente. Esperava que ela gostasse, pois significava muito para ele. Enquanto jantavam ele tentou conversar com outras pessoas que estavam sentadas ao lado dele, mas estava achando difícil controlar a ansiedade. Precisava falar com Anne, será que não teriam nenhuma oportunidade de ficarem a sós? Se perguntou vendo-a rodeada de amigas.

A oportunidade se apresentou alguns minutos depois quando o jantar terminou e a sobremesa for servida. Os convidados começaram a deixar a mesa, e Matthew com alguns amigos, resolveram animar a festa tocando algumas músicas com suas gaitas e flautas. Anne se dirigiu à cozinha e Gilbert a seguiu, apressadamente.

- Anne, será que podemos conversar por um minuto?- disse ele, um tanto nervoso.

- Não sei se é uma boa Idea. - respondeu Anne, tentando escapar da presença de Gilbert.

- Por favor, Anne. É importante. Prometo que não vou tomar muito de seu tempo. - insistiu Gilbert, ansioso.

- Está bem. Vamos conversar na varanda onde teremos mais privacidade. - disse Anne, ainda mais nervosa que ele. “Está louca, Anne? Ficar sozinha com Gilbert?” Vai se jogar na toca do leão?”- Ah, aquela maldita voz”. Se cale estúpida! - ordenou Anne.

Assim que saíram, Gilbert colocou a mão no bolso e tirou uma caixinha delicada, entregando para a menina.

- O que é isso, Gilbert?- perguntou Anne espantada.

- É meu presente de aniversário para você. Por favor, abra. Espero que goste. - disse ele, olhando-a intensamente.

Anne desviou o olhar do rosto dele por um segundo,, e abriu com todo o cuidado a linda caixinha que ele lhe dera. Dentro havia uma pulseira de prata com pedras azuis, ricamente decoradas que se pareciam com lágrimas perfeitas.

- Gilbert, que coisa mais linda. Eu não sei o que dizer. - falou Anne completamente encantada pelo presente e pelo garoto parado ali, na sua frente.

- Era da minha mãe. Meu pai deu para ela quando se casaram. Ele me entregou antes de falecer, dizendo que eu deveria dá-la para alguém especial. - contou Gilbert com a voz suave- Essas pedras me fazem lembrar de seus olhos.

Anne se sentiu derreter por dentro como se tivesse se aproximado demais do sol. Queria falar, mas a sua voz morreu na garganta no instante em que Gilbert enlaçou sua cintura, e a trouxe para mais perto. Quis resistir, mas desistiu. Nada a impediria de beijar Gilbert Blythe naquele momento.

O beijo foi tudo o que ela esperava e até mais. Seus corpos encaixados em uma cadência perfeita, as bocas coladas como se não fossem mais se separar.

Gilbert não conseguia se lembrar de como era sua vida antes de Anne chegar. Ela era o seu sol. Estar com ela era tudo o que queria, Anne fora feita para ele e nunca mais a deixaria partir.

Anne nunca imaginou ser beijada assim. Era como se jogar contra uma onda gigante no mar e se deixar levar por ela,sentindo-se completamente livre. Parecia ser tão certo estar ali com ele. Que se danasse seu bom senso!

Se separaram com relutância, e Gilbert segurou no queixo dela e disse:

- Anne, você é a garota mais incrível que já conheci. Desde a primeira vez que te vi sabia que havia algo em você que a tornava especial.

- Gilbert, eu... - ele a interrompeu dizendo:

- Me deixe terminar. O que eu sinto por você nunca senti por ninguém. Você chegou de repente e abalou todo o meu mundo. É divertida, inteligente, e é a única garota que consegue me desafiar no jogo de soletrar. - disse divertido e vendo-a sorrir continuou. - Eu sei que não começamos bem, e que depois fiquei longe por um bom tempo, mas você sempre esteve comigo em todos os momentos e não existe ninguém neste mundo que me emociona como você.

Deus! O que ela deveria dizer? Se sentia do mesmo jeito, mesmo que negasse para si mesma. Aquele garoto a deixava sem palavras, e era maravilhoso demais para ser dela. Ela não o merecia. E ainda existia a Ruby. Seu senso de amizade era tão grande que Anne preferia morrer a magoar sua amiga. Olhou para o Gilbert e falou:

- Gilbert, é lindo tudo que me disse, mas eu não posso ficar com você.

- Por que não, Anne? Não adianta me dizer que não sente nada por mim, pois não vou acreditar. Posso perceber seus sentimentos quando me beija ou olha para mim. Você tem olhos muito expressivos, sabia?- brincou ele, acariciando o rosto dela.

- Não vou negar que tem algo entre a gente, mas eu não consigo falar disso agora, estou muito confusa com tudo isso. Preciso pensar mais um pouco. - implorou Anne angustiada.

- Tudo bem, Anne. Prometi que não ia pressioná-la. Vou esperar até que esteja pronta para me deixar entrar na sua vida. - a abraçou com carinho e depois entregou a ela um envelope.

- Gilbert você está me deixando encabulada com tantos presentes. - disse Anne sem graça.

- Não precisa se sentir assim. É só um poema que escrevi para você. Quero que leia quando estiver sozinha. Bem, acho que está na hora de eu ir para casa. A gente se fala na escola, ok?- se despediu dela com um beijo no rosto, esperando ardentemente que se suas palavras não a tivessem convencido, que pelo menos o poema a ajudasse a acreditar nele.

Depois que ele se foi Anne tentou dar atenção à suas amigas e os outros convidados, mas estava difícil de se  concentrar na festa após ter ouvido todas aquelas  palavras incríveis de Gilbert. Se sentiu aliviada quando a  festa acabou,e foi direto para seu quarto sem ao menos dizer boa noite a Marilla ou Matthew.

Quando ficou sozinha abriu o envelope que Gilbert tinha dado a ela. Dentro dele tinha um papel todo decorado dobrado. Abriu-o e identificou a caligrafia forte de Gilbert que dizia:

 

“Que segredos ela esconde

No azul daquele olhar?

Quantos mistérios, quantos desejos.

Revelados à luz do luar?

Ela é o meu sul e o meu norte,

Minha doce inspiração.

Ela é a musa dos meus sonhos,

E única dona do meu coração.”

                                     Gilbert.

 

Lágrimas de alegria encheram os olhos de Anne. Será que Gilbert queria dizer que a amava com aquele poema? Precisava falar com ele agora, não se importava que fosse tarde. Precisava dizer a ele que também o amava.

Saiu de casa escondida, tentando não fazer nenhum ruído, pois se Marilla descobrisse ela ficaria de castigo o resto da vida. Foi mentalmente repassando o que diria a Gilbert, como diria e o que faria. Ria sozinha pensando em tudo o que conversaram.

Quando chegou perto da casa de Gilbert, notou que as luzes estavam acesas. Firmou melhor o olhar e viu que ele estava na varanda falando com alguém. Anne foi se aproximando devagar, mas estacou de repente quando percebeu quem estava com ele. Ruby falava Gilbert, suas mãozinhas pequenas agarradas no braço dele, e para o desespero de Anne, ela deu um passo e o beijou.

Anne não conseguiu acreditar em seus olhos. Registrou apenas Gilbert segurando na cintura de Ruby. Seu coração se partiu em mil pedaços, ela balançou a cabeça e fechou os olhos com força como se assim pudesse apagar aquela imagem terrível. Precisava sair dali ou morreria de angústia, deu um passo para trás e escorregou fazendo barulho. Viu quando Gilbert levantou a cabeça e olhou para ela, fazendo com que sua humilhação fosse completa. Virou-se e começou a correr em direção a Green Gables, chorando desesperada.

Em um só dia tinha ido do paraíso ao inferno ,e agora sentia como se seu mundo estivesse em chamas. Gilbert Blythe era um cretino! Ele a fizera acreditar que era importante para ele e que seu afeto era sincero, mas Anne estava enganada. “burra, burra, burra”, dizia sem parar a si mesma. Como pudera sequer pensar que ele a amava? Será que já não tinha aprendido que ninguém jamais ia querê-la de verdade?

Anne sentia como se seu príncipe encantado tivesse se transformado em um sapo, ou será que fora ela que depois de ter passado o momento de ilusão tinha se tornado a órfã feia de novo? Nunca mais acreditaria em uma só palavra que aquele garoto lhe dissesse.

Chegou a Green Gables, e se enfiou na cama de vestido e tudo. Só queria dormir e não mais sentir aquela dor terrível em seu coração. Foi neste instante que descobriu que odiava Gilbert Blythe na mesma proporção em que o amava.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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