1. Spirit Fanfics >
  2. Anne with an e- continuação da série >
  3. A esperança que nos une

História Anne with an e- continuação da série - A esperança que nos une


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Olá, queridos leitores. Espero que gostem deste capítulo. tentei fazê-lo um pouco mais leve que os anteriores, mas não com menos emoção ou sentimento.Espero pelos comentários que sempre me ajudam ater ânimo para continuar a escrever.
Muito obrigada, beijos. Rosana.

Capítulo 67 - A esperança que nos une


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - A esperança que nos une

 

ANNE

Era uma manhã de sexta-feira ensolarada que nada tinha de comum, porque era o dia em que Diana Barry faria sua primeira prova do vestido de noiva. O casamento seria dali a um mês, e a garota estava uma pilha de nervos, porque queria que tudo fosse perfeito como vinha sonhando desde que Jerry a pedira em noivado, e até o momento não sabia bem como tudo ocorreria, apesar dos preparativos já estarem todos prontos e os detalhes do casamento terem sido revisados milhares de vezes por ela e seu noivo, e ainda assim temia que algum desastre de última hora colocasse tudo em risco. Era por isso que Anne estava no quarto da noiva naquele momento, para impedir que a menina enlouquecesse e por tabela deixasse o noivo mais nervoso que ela.

Anne estava feliz em poder ajudar, pois além de adorar esses tipos de preparativos, também a ajudava a distrair seus pensamentos que ainda a faziam cair em uma tristeza profunda, levando-a por caminhos sombrios e estado de espírito depressivo. Ela estava tentando lidar melhor com suas oscilações de humor, e a culpa que sentia dia e noite também diminuíra, embora não pudesse dizer que estivesse completamente livre dela. Não chorava mais tanto quanto antes, e estava aprendendo com Gilbert a ser mais otimista, e pensar no futuro dos dois com mais leveza. Mas, havia momentos que a pegavam desprevenida e sucumbia de novo as armadilhas do seu coração. Ela sabia que Gilbert também sofria, mas o pesar dele era menor, porque ela sentira na pele o que fora a agonia dos primeiros dias de seu aborto espontâneo, e ele o vivenciara apenas pelas palavras dela, e assim mesmo Anne não lhe contara exatamente como acontecera, porque não queria que ele passasse pelo mesmo desespero que ela tinha passado.

Mas apesar de tudo, ela não poderia dizer que estaria ali naquele momento ajudando sua melhor amiga com os preparativos finais do que seria o dia mais importante de sua vida se não fosse por Gilbert. Seu noivo lhe dava apoio incondicional, e nos piores momentos era nele que pensava para não deixar que aquela dor arrasasse com o resto de sua vida. O amor, carinho e cuidado de Gilbert eram o remédio para as emoções inconstante que teimavam em comandar seu corpo. Anne sabia que tinha que lutar contra elas, e na maior parte das vezes conseguia, mas em certos momentos algum fato ou palavra desencadeava as lembranças que ela tentava diariamente esquecer.

No outro fim de semana, Gilbert a tinha convidado para passar a tarde em sua fazenda, pois Mary queria muito revê-la. Desde que Gilbert tinha recobrado a memória elas não se viam, e Mary estava com saudades de sua jovem amiga. Aquela ausência tinha sido proposital, Anne não quisera encontrar a mulher de Sebastian antes, pois ela se lembrava do rosto da moça dando-lhe a notícia da perda do seu bebê, e Anne tinha medo que se a visse todas as lembranças ruins daquele dia voltariam, e ela não conseguiria mais esquecê-las. Porém, daquela vez não teria como evitar aquela visita, caso contrário, Mary poderia ficar ofendida, e a última coisa que queria era magoá-la por causa de sua neurose.

Chegara em companhia de Gilbert na fazenda para o jantar sentindo-se um pouco apreensiva, mas bastou olhar para o rosto bondoso e simpático de Mary para se sentir acolhida, e o medo de seu coração desaparecer. Passara uma noite ótima, conversando com Sebastian e Mary sobre vários assuntos animadamente. Mas então, Shirley que estava em seu berço acordara e Sebastian foi buscá-la, e a trouxe até a cozinha para que ela pudesse ser alimentada pela mãe. Assim, quando ele aparecera com a menina nos braços, Shirley em sua inocência mais pura estendera os bracinhos para Anne. A ruivinha sentiu-se paralisar no mesmo instante, e olhou para Gilbert sem saber o que fazer. Mas, ele estava falando com Mary e não percebeu sua aflição. Anne então decidira pegar a menina no colo, e ficou embalando-a em seu braços, enquanto sua mente traiçoeira que dizia que era para ser o seu bebê ali e não Shirley. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela deixou escapar um soluço estrangulado, fazendo Gilbert finalmente perceber o que estava acontecendo. Ele tirou a menina com cuidado dos braços de Anne, embora ela não quisesse largá-la, entregou-a a Mary que olhava a cena assustada, e abraçou Anne com força tentando fazê-la se acalmar.

Depois de alguns segundos ela parara de chorar, e disse baixinho:

- Me desculpe pela cena. Não quis embaraçar você.

- Você não me embaraçou querida. Eu te amo, fique tranquila. – Gilbert disse olhando-a nos olhos, e ali Anne viu sinceridade e preocupação por ela.

- Acha que assustei Shirley? - Anne disse se sentindo melhor.

- Não, ela me parece muito bem no colo de Mary. – Gilbert disse enquanto Anne seguia o seu olhar. Mary estava dando mamadeira para a garotinha, e Anne nunca sentiu tanta vontade de amamentar um bebê como naquele momento. Era um ato tão lindo de conexão entre mãe e filho, era uma linguagem única que não tinha participação de ninguém mais. Era compartilhar seu coração e amor com um anjo divino, e receber de volta aquele olhar de adoração que Shirley lançava para Mary naquele instante. Anne daria tudo para ter um único momento como aquele, mas lhe fora negando, e ela pensou com o coração pesado que nenhuma mãe deveria passar pelo o que ela estava passando. Um tempo depois ela se despediu de Sebastian e Mary que a abraçou, e a convidou para voltar outras vezes.

Quando Gilbert a deixou em Green Gables, ela o abraçou forte, e depois se deram um longo beijo onde havia tantos sentimentos e significados juntos que fez Anne suspirar.

- Você está bem? – Gilbert perguntou com a mão em sua cintura.

- Sim, estou bem. - Anne respondeu ajeitando uma mecha de cabelo dele que tinha escapado de sua boina.

- Quer que eu fique com você?

- Não precisa meu amor. Vou ficar bem, prometo. - Anne disse sorrindo.

- Sabe que virei correndo se precisar de mim, não é?

- Eu sei. - Ela disse abraçando-o pelo pescoço.

- Eu amo você, Anne. Você não faz ideia de como eu queria te ajudar.

- Você me ajuda com seu amor. – Anne disse olhando-o com ternura. Eles se beijaram de novo e Gilbert foi embora, enquanto Anne o viu sumir na escuridão, pensando na sorte que tinha por ter aquele homem tão incrível a seu lado.

- O que acha, Anne? - a voz de Diana a trouxe ao presente. Anne olhou encantada para o vestido branco de Diana que era longo e tinha uma calda. Não tinha mangas, e ia justo do busto até metade das pernas da garota, e que se abria em uma fenda discreta na frente. O véu era longo também e era preso por uma tiara estilo princesa cheia de cristais.

- Você está maravilhosa, Diana- Anne disse admirando a figura da amiga naquele vestido que favorecia todas as suas curvas, deixando-a com um corpo escultural.

- Tem certeza? Não fiquei gorda nele? - Diana perguntou insegura, analisando sua própria figura no espelho.

- Diana, você está linda. Jerry vai adorar com certeza. - Anne garantiu sorrindo.

-Logo precisaremos escolher um vestido de noiva para você. – Diana disse ainda analisando os últimos detalhes do vestido.

- Não se preocupe com isso. - Anne disse se sentindo desconfortável.

- Como assim não devo me preocupar? - Diana olhou para Anne com seriedade. - Você sempre me disse que a parte mais importante dos preparativos de um casamento era o vestido. O que mudou? - Anne baixou a cabeça e pensou na pergunta da amiga. Tanta coisa havia mudado dentro dela, principalmente. Ela ainda queria muito ser a Sra. Blythe, mas com menos ansiedade que antes. Isso não queria dizer que amava Gilbert menos, seu amor só crescia ainda mais agora que tinham se aproximado tanto por conta dos últimos acontecimentos.

Em seu coração podia enxergar uma vida inteira ao lado de Gilbert, mas sua cabeça lhe dizia que não devia. Havia algo totalmente errado com ela que não conseguia confessar a ninguém. Não queria sobrecarregar Gilbert com isso, por essa razão, guardava apenas para si mesma os pensamentos que rondavam sua mente. E naquele momento em que Diana a confrontava com aquilo, Anne escondeu aquele pensamento dela também e apenas respondeu:

- Não sei. Talvez eu ainda não me sinta preparada para me casar. – Aquilo soou tão absurdo dentro do quarto de Diana, que a garota morena olhou para Anne de um jeito estranho:

-Você enlouqueceu, Anne? O que está dizendo? Você está preparada para casar com Gilbert desde que ele voltou para Avonlea do Pacífico. Tem alguma coisa acontecendo que não estou sabendo? - Anne não respondeu, e Diana continuou - Me ajude a tirar o vestido, e depois vamos conversar. - Anne suspirou baixinho.  Não queria falar sobre aquilo, mas acabara de se colocar em uma situação da qual não conseguiria escapar, pois Diana não permitiria que encerrassem aquela conversa por ali.

Diana acabou de tirar o vestido de noiva, e colocou-o de volta na caixa, guardando-a no armário, vestiu-se em seguida e sentou -se na cama de frente para Anne.

- Quero que me conte porque mudou de ideia em relação ao seu casamento com Gilbert. Não o ama mais?

- Eu o amo com todo o meu coração. -Anne disse sustentando o olhar de Diana.

- Então, não entendo, Anne. Me diga qual é o problema? Quem sabe eu não possa te ajudar. - Diana se aproximou mais da amiga, tentando conseguir um contato visual maior com ela.

- Você não pode me ajudar. – Anne respondeu olhando pela janela, e fixando seu olhar em algum ponto lá fora.

- Se você não me contar, nunca saberemos. - Diana insistiu, e Anne vendo no olhar da amiga sua imensa compaixão por ela, sentiu seu coração ceder, e sua vontade de esconder o que se passava em seu íntimo se reduziu a um único olhar triste da menina, enquanto ela colocava em palavras o que a vinha angustiando.

- Eu não posso me casar com Gilbert, Diana.  A Anne que ele conheceu não existe mais. Estou quebrada por dentro, e não sei como encontrar meu caminho de volta sem me afogar. O Gilbert merece uma mulher completa, e não alguém como eu que nem sabe de onde veio, e ainda por cima está ferido demais para dar a ele o que tanto deseja. - Diana ouviu Anne dizer tudo aquilo e seu coração doeu como nunca antes pela amiga.  Como não percebera que ela estava se sentindo dessa maneira? Ela entendia que a perda do bebê fora muito difícil para ela, e que a incerteza de ter filhos também a tinha abalado Mas, havia algo mais ali que ela não conseguia identificar, um sentimento negativo que se escondia no íntimo de Anne que silenciosamente a estava destruindo. Que amiga estava sendo para ela? Como a deixara afundar desse jeito?

- Querida, o que está dizendo não tem fundamento. O amor de Gilbert por você é tão grande que não existe nada no mundo que ele não faria por você. – Diana disse tentando encontrar algo par a dizer que fizesse Anne entender que ela continuava sendo a mesma garota maravilhosa de antes, um pouco mais sofrida, um pouco mais magoada, mas continuava sendo a mesma para todos que a amavam.

- É isso que não quero, Diana. Não desejo que Gilbert sacrifique tudo por mim. Eu quero que ele seja feliz com alguém que possa dar tudo o que ele merece.

- E você acha que ele seria feliz sem você, Anne? Gilbert jamais desistiria de você por nada nessa vida, quero que isso fique bem claro em sua cabeça.  O amor que ele sente por você supera qualquer coisa, e ele vai lutar por isso até sangrar. Então, pare de pensar que ele merece alguém melhor do que você, quando todos nós sabemos que única mulher que ele quer é você. – Anne olhou para a amiga com os olhos úmidos e disse:

- Eu sei, só estou confusa. - Diana ia dizer mais alguma coisa, mas então, alguém bateu na porta e interrompeu a conversa de ambas.

Diana se apressou em atendê-la, e ficou espantada ao ver Gilbert ali.

- Desculpem-me em atrapalhar a conversa de vocês, mas eu vim fazer um convite.

- É mesmo? - Diana ergueu a sobrancelha surpresa.

- Sim. Eu estava conversando com o Jerry, e ele me disse que não quer uma despedida de solteiro, então sugeri que fizéssemos um sarau em minha casa amanhã à noite, o que acha? Vamos fazer agora, pois todo mundo volta para a faculdade na própria semana, e perto do casamento vai ficar difícil reunir todo mundo.

- Que ótima ideia, Gilbert. Mas, vamos precisar de um piano.

- Claro, Vai ser providenciado, não se preocupe. Vai ser legal ter todos os nossos amigos reunidos de novo para relaxar depois de tudo. - Ele olhou para Anne que sorriu de leve para ele.

- Então, está bem. Nos reunimos em sua casa amanhã à noite. Vou adorar tocar de novo, faz tempo que não pratico. - Diana disse animada.

- Sim. Pronta para ir para casa? - Gilbert perguntou olhando carinhosamente para Anne.

- Sim. Podemos ir agora. - Anne disse se despedindo de Diana com um beijo no rosto, e depois pegou na mão de Gilbert, e foram para casa a pé naquele dia.

Enquanto caminhavam até Green Gables, Anne notou que Gilbert a olhava a todo momento, e parecia querer dizer-lhe algo, mas ele ficou em silêncio por todo o tempo que durou a caminhada, e Anne também decidiu não dizer nada, porque queria desfrutar um pouco mais daquela paz tão rara que sentia dentro de si por estar de mãos dadas com Gilbert, como nos velhos tempos.

Quando estavam em frente da porta de entrada da casa, Gilbert estendeu a mão, e tocou o rosto dela, se demorando em cada detalhe desde a testa até o queixo de Anne. A ruivinha não entendeu aquele gesto repentino, mas o apreciou assim   mesmo, porque era bom demais sentir o toque de Gilbert contra a   pele do seu rosto.

- Você sabe que faço qualquer coisa por você, não é? - Gilbert disse suavemente.

- Eu sei. - ela nunca duvidaria daquilo.

- Então, você também deve saber que fazer você feliz é minha prioridade, e que meu amor por você vai sempre prevalecer acima de tudo.

- Eu sei, Gilbert, mas, porque está me dizendo isso?

- Para ter certeza que nunca vai se esquecer disso nem em seus piores momentos.

- Seria impossível esquecer algo assim, quando o mesmo sentimento vive dentro de mim. - ele a beijou com sua paixão costumeira, mas, Anne percebeu que ele parecia mais contido, como se tivesse medo do que aconteceria se se deixassem levar pelo que sentiam. Então, ele se afastou, olhando-a com carinho mais uma vez e disse:

- Promete que vai ficar bem?

- Prometo. - Anne respondeu ainda sem entender porque Gilbert estava agindo daquela maneira.

- Nos vemos amanhã no sarau. Até amanhã, meu amor.

- Até amanhã. Obrigada por fazer isso por Jerry e Diana. - Gilbert assentiu, beijou-a na testa e partiu.

 E enquanto entrava em casa, Anne pensou que nunca realmente entenderia aquele mistério que era Gilbert Blythe.

 

 

GILBERT

 

Gilbert e Jerry estavam sentados na sala de Diana, e o noivo dela parecia tão nervoso que chegava a dar pena. O casamento seria apenas dali a um mês, mas Jerry já parecia estar a ponto de ter um ataque do coração só de pensar no que o esperava.

Gilbert tentou conversar com ele, para ver se o rapaz desabafava, mas depois de receber cinco monossílabos como respostas para suas perguntas, Gilbert desistiu, ficando em silêncio e perguntando a si mesmo se quando o seu casamento com Anne estivesse próximo, ele também se sentiria assim.

O problema era que agora nem tinha mais certeza de quando seria seu casamento, pois Anne sequer tocava no assunto. Antes, Gilbert tinha certeza de que se casariam assim que ele se formasse como médico, mas não poderia dizer que seria mesmo assim. Sua noiva parecia não estar mais interessada naquele assunto, e se fechava em um mutismo absoluto se Gilbert insistisse em falar sobre isso.

Ele andava muito preocupado com Anne. A depressão dela não parecia estar melhorando, apesar dela disfarçar muito bem, Gilbert aprendera a entender os sinais, mesmo quando ela fingia sorrir, ou estar animada demais com alguma coisa, pois o os olhos dela não eram os mesmos, o brilho deles era menos intenso, e ela caía em dolorosos silêncios que realmente o deixavam nervoso. Se pelo menos ela falasse, ou colocasse para fora toda a sua mágoa, mas, ela se limitava a simplesmente desviar o olhar quando se sentia pressionada, ou quando não queria falar sobre o assunto que mais a atormentava.

Gilbert já fizera de tudo, já tentara de tudo, mas, durante aquelas semanas que foram passando devagar, o comportamento de Anne não mudara muito, ela estava mais retraída, e menos falante, parecia preferir ficar mais sozinha, e se irritava com lugares cheios de gente. Não queria sair de casa, e o máximo que Gilbert conseguia dela era ir até sua fazenda, que nem sempre se mostrava muito satisfatório. Ela não deixara de cuidar de sua aparência, o que seria comum em depressão pós-traumática, mas, Gilbert desconfiava que isso não ocorria, porque talvez essa fosse a única maneira que Anne encontrara de manter sua dignidade intacta, se arrumar todos os dias depois que saía da cama a impedia de se perder de si mesma, e de entrar em um processo de alienação grave.

Doía-lhe vê-la assim, doía-lhe saber que a enfermidade que ela tinha estava em sua alma e não em seu físico, e fazer Anne perceber isso não seria fácil, porque ela não deixava que Gilbert se aproximasse demais da verdade, ela fugia, se escondia e se fechava, e de repente, Gilbert se deu conta de que ele não podia ajudá-la, Anne precisava de um tipo de auxílio que ele por mais que a amasse não conseguiria lhe dar. Gilbert não era um estudioso das enfermidades da mente, e também não era grande conhecedor das doenças que afetavam a alma de alguém que tivesse passado por algum tipo de tragédia, tudo o que ele sabia a respeito era o que já lera ou fora ministrado em algumas aulas de psicologia que tivera na faculdade no primeiro semestre. Gilbert gostaria de ter tido mais tempo de se aprofundar mais neste assunto, pois assim saberia exatamente o que fazer para ajudar Anne.

Ele tinha que convencê-la a procurar ajuda profissional, pois aqueles sentimentos que estavam se avolumando dentro dela não desapareceriam e nem se resolveriam sozinhos. Gilbert já tinha esgotado seu estoque de tentativas, agora teria que admitir que o que Anne mais precisava era de um terapeuta.

O que lhe dera mais certeza sobre isso fora um episódio que ocorrera em sua fazenda na semana anterior. Gilbert tinha levado Anne para ver Mary, pois a mulher de Sebastian lhe pedira que fizesse isso. No princípio, Anne ofereceu certa resistência ao fazer essa visita, mas, logo mudara de ideia e tudo parecia correr muito bem até que Sebastian apareceu na cozinha com Shirley. Gilbert não prestara atenção neste ponto, pois estava conversando com Mary, mas então, ele ouvira o soluço de Anne e virou-se rapidamente para ver a causa, e entendeu o que estava acontecendo no instante em que vira Shirley no colo dela.  Ele correra para ela, e a abraçara se xingando mentalmente por não ter ficado atento ao que estava acontecendo bem debaixo do seu nariz.

Anne soluçara por alguns minutos em seus braços, e não dava indícios de que iria parar tão cedo. Mas, surpreendentemente, Anne lutara contra a sua crise e dissera um tanto quanto constrangida:

- Me desculpe pela cena. Não quis embaraçar você. – Gilbert sentiu uma dor aguda ao ouvir aquilo, e pensou que até mesmo quando sofria, Anne queria se desculpar, como se fosse motivo de vergonha ter se recordado do que lhe acontecera. Por isso, ele respondeu de forma que ela entendesse que ele não a culpava de nada:

- Você não me embaraçou querida. Eu te amo, fique tranquila. - Gilbert disse e ainda ouviu-a perguntar:

- Acha que assustei Shirley? -  ele olhou para a menininha que era inocente demais para perceber o que tinha acontecido com Anne, e respondeu.

- Não, ela me parece muito bem no colo de Mary.

Então ele viu o olhar de Anne cair sobre Mary amamentando Shirley e seu rosto mudar para um sofrimento tão explicito, que o fez perceber que aquilo estava ficando sério. Gilbert achou apesar da gravidade de tudo que acontecera, Anne superaria logo, pois ele conhecia sua força interior para superar os obstáculos que a vida lhe impunha, porém daquela vez ela estava frágil demais e precisava mais do que o apoio que ele tinha a lhe dar.

Gilbert a levara para casa de coração apertado, pois era assim que se sentia agora toda vez que tinha que se separar dela.  Parecia que a estava abandonando, e aquela sensação perdurava até que ela sorria, e Gilbert sentia que as coisas tinham boas chance de melhorar, pois nem tudo estava perdido se Anne ainda conseguia sorrir mesmo que não fosse um sorriso tão feliz assim.

Já em Green Gables ele lhe perguntara se ela estava bem, tentando ler nas entrelinhas seu estado de espirito. Como sempre, Anne respondera que estava, e declinou a oferta de Gilbert para ficar um pouco mais com ela. Então Gilbert quisera assegurar que ele estaria ali se ela precisasse dizendo:

 - Sabe que virei correndo se precisar de mim, não é? – e Anne respondera que sabia.

- Eu amo você, Anne. Você não faz ideia de como eu queria te ajudar. - ela tocara seu rosto e respondera:

- Você me ajuda com seu amor. – foi impossível não beijá-la, e Gilbert desejou com todas as forças que naquele beijo tivesse amor bastante para curá-la de sua dor.

Ele fora para casa com tantos pensamentos na cabeça, e continuou refletindo sobre tudo aquilo até na hora de dormir. Estava na hora de tomar alguma providência. Anne não podia mais se torturar daquele jeito, Gilbert encontraria ajuda para ela nem que fosse até o fim do mundo.

- Aceita um café, Gilbert? – Jerry falou deixando Gilbert surpreso por estar ouvindo finalmente a voz do rapaz.

- Claro.  Uma xícara de café seria ótimo agora. - Gilbert disse com simpatia.

Gilbert achou que a conversa entre eles evoluiria após aquele momento, enquanto tomavam o café servido por Jerry, mas o rapaz voltou a ficar em silêncio, então, Gilbert fez uma pergunta tentando puxar assunto:

- E o que vai fazer para sua despedida de solteiro, Jerry?

 - Não desejo uma despedida de solteiro de fato. - Jerry respondeu um tanto tímido.

- Está pensando em algo especial, então?

- Não. – Jerry respondeu simplesmente. E Gilbert pensou um pouco sobre aquilo, E assim teve uma ideia.

- Eu acho vou te fazer um convite, e aí você me diz se concorda. – Jerry abanou a cabeça assentindo

- Que tal se fizéssemos um sarau em minha casa amanhã à noite? Sei que está cedo ainda, mas é que a maioria de nós estará na faculdade na próxima semana, e ficará difícil depois termos tempo para organizar algo bacana. -. Gilbert disse já se animando com a ideia.

- Bom, se a Diana concordar, acho que não tem problema. – Jerry disse.

- Vou falar com ela, então, pois não temos tempo a perder. - Gilbert disse, subindo as escadas em direção ao quarto da garota.

Quando se aproximou da porta, ouviu vozes conversando. A porta do quarto de Diana não oferecia muita privacidade, por isso, ele conseguia ouvir sobre o que ela e Anne falavam. De repente, a voz de Diana se sobressaiu e o que ela disse a Anne fez Gilbert prender a respiração.

- Quero que me conte porque mudou de ideia em relação ao seu casamento com Gilbert. Não o ama mais? - O coração de Gilbert falhou uma batida nesse ponto, enquanto esperava pela resposta de Anne, ao mesmo tempo em que se sentia mal por estar escutando a conversa delas atrás da porta, mesmo não sendo intencional.

- Eu o amo com todo o meu coração. - Gilbert suspirou aliviado pelo resposta que Anne dera, que era sobre o que também ele vinha se perguntando intimamente. 

A voz de Diana se fez ouvir novamente, fazendo Gilbert prestar bastante atenção no que ela dizia.

- Então, não entendo, Anne. Me diga qual é o problema? Quem sabe eu não possa te ajudar.

- Você não pode me ajudar. – essa nova resposta de Anne fez Gilbert prestar ainda mais atenção no que elas diziam. Ele sabia que era errado estar ali, era como se estivesse invadindo a privacidade das duas meninas, mas sua curiosidade e necessidade de respostas foram aguçadas, e ele precisava ouvir aquela conversa até o fim.

- Se você não me contar, nunca saberemos. - Diana insistia no assunto, e Gilbert esperou ansiosamente pelo que Anne diria a seguir.

- Eu não posso me casar com Gilbert, Diana.  A Anne que ele conheceu não existe mais. Estou quebrada por dentro, e não sei como encontrar meu caminho de volta sem me afogar. O Gilbert merece uma mulher completa, e não alguém como eu que nem sabe de onde veio, e ainda por cima está ferido demais para dar a ele o que tanto deseja.

Gilbert sentiu seu alívio momentâneo pela resposta anterior de Anne desaparecer. Então, era assim que ela se sentia? Como uma peça descartável na vida dele? Já tinham falado sobre isso, mas, pelo jeito não a convencera. O que mais ele teria que fazer para que Anne voltasse a ver a vida através de seus óculos cor de rosa? O que mais ele teria que dizer para que ela entendesse que não havia chance nenhuma de ele deixá-la.

Diana falou novamente e desta vez parecia traduzir em palavras os pensamentos de Gilbert naquele momento:

- Querida, o que está dizendo não tem fundamento. O amor de Gilbert por você é tão grande que não existe nada no mundo que ele não faria por você. – A resposta de Anne veio rápida, e com ela uma flecha certeira para magoar ainda mais o coração de Gilbert.

- É isso que não quero, Diana. Não desejo que Gilbert sacrifique tudo por mim. Eu quero que ele seja feliz com alguém que possa dar tudo a ele -  Ele quis gritar para Anne parar de dizer aquilo tudo. Gilbert queria gritar para que ela ouvisse que seu amor por ela nunca tinha sido um sacrifício, e que tudo o que fizera e ainda faria por ela seria tão pouco, pela imensa bênção que ela era em sua vida, e que não se arrependia de nada que vivera com ela. Anne era o seu sol, sua primavera, seu sopro de vida.  Nada poderia substituí-la em seu coração. Mas, ficou calado, porque ali ele era um intruso, e não podia revelar que estava ouvindo cada palavra do que estavam dizendo.

Mais uma vez, Diana foi sua voz silenciada dentro de sua cabeça, e o que ela disse a Anne fez Gilbert se emocionar.

- E você acha que ele seria feliz sem você? Anne, Gilbert jamais desistiria de você por nada nessa vida, quero que isso fique bem claro em sua cabeça.  O amor que ele sente por você supera qualquer coisa, e ele vai lutar por isso até sangrar. Então, pare de pensar que ele merece alguém melhor do que você, quando todos nós sabemos que a única mulher que ele quer é você. – a voz de Anne foi só um sussurro, mas ele entendeu quando ela disse:

- Eu sei, só estou confusa. - Gilbert sentiu que já era hora de interromper a conversa e colocar em prática o que exatamente viera fazer ali.

Ele bateu na porta, e Diana o atendeu prontamente, e ele disfarçou o impacto das palavras de Anne com seu melhor sorriso, e contou a Diana sobre sua ideia do sarau. Ela gostou imensamente, e apenas acrescentou que precisariam de um piano, e Gilbert lhe assegurou que seria providenciado.

- Vai ser legal ter todos os nossos amigos juntos para relaxar depois de tudo. - e ele olhou de um jeito significativo para Anne, esperando que ela entendesse o sentido de suas palavras.

Diana então confirmou que ela e Jerry estariam no sarau no dia seguinte. Em seguida, Gilbert perguntou a Anne se ela estava pronta para ir para casa e a garota concordou, se despedindo da amiga rapidamente.

Foram para casa caminhando pela floresta. Tudo parecia tão suave e tranquilo contrastando imensamente com o estado de espírito tumultuado de Gilbert que pensava com seus botões, não permitindo que Anne participasse de suas reflexões.

Quando foi que tudo deixara de ter aquela simplicidade de ele e Anne caminharem de mãos dadas sem se preocuparem com mais nada a não ser a companhia um do outro? Quando foi que a vida deixara de ser tão doce e de repente, adquirir aquele gosto amargo em sua boca? Mas apesar dos pesares, ele tinha que agradecer por ele e Anne continuarem firmes no caminho um do outro, mesmo que em certos momentos tivessem que fazer uma pausa. E não importava com o seria, se outras tempestades viriam, ele nunca abandonaria aquele barco, e nunca deixaria que a mulher do seu lado se afogasse sozinha

- Você sabe que faço qualquer coisa por você, não é? – Ele disse isso olhando fundo nos olhos dela. Queria que Anne sentisse segurança no que ele estava dizendo.

- Eu sei. - ela disse de forma doce.

- Então, você também deve saber que fazer você feliz é minha prioridade, e que meu amor por você vai sempre prevalecer acima de tudo. - ele mergulhou no azul dos olhos dela novamente, pois naquele instante estava mais uma vez entregando a Anne seu coração.

- Eu sei, Gilbert, mas, porque está me dizendo isso? – Anne disse parecendo intrigada pelas palavras dele.

- Para ter certeza que nunca vai se esquecer disso nem nos seus piores momentos.

- Seria impossível esquecer algo assim, quando o mesmo sentimento vive dentro de mim. - ele a beijou com sua paixão costumeira, mas teve o cuidado de não deixar que fosse longe demais, pois não queria que Anne se sentisse pressionada a ceder. Ele estava tentando ir devagar, como no início do namoro deles, mas às vezes ficava difícil, principalmente porque já sabia de cor o gosto da pele dela. Assim que se afastaram, Gilbert a fez prometer que ficaria bem, e Anne garantiu que ficaria. Depois se despediram, prometendo se encontrarem no sarau na casa de Gilbert no dia seguinte.

Enquanto ia para casa, Gilbert começou a pensar que queria preparar algo especial para Anne no dia seguinte. Ainda estava impactado pelo que ouvira da conversa entre ela e Diana. Ele ia fazê-la compreender de uma vez por todas que mesmo que ela fugisse dele, ou se escondesse em outro continente ele a encontraria, porque suas almas estavam unidas por um laço que tempo nenhum iria desfazer.

 

GILBERT E ANNE

 

Gilbert olhou ao seu redor satisfeito. Estava tudo pronto para o sarau daquela noite. Ele convidara alguns amigos do tempo de escola, e alguns deles prometeram trazer seus próprios instrumentos.  Muddy aparecera com um piano aquela manhã, dizendo que era de sua avó e que a boa senhora o tinha emprestado para o sarau, e Gilbert ficara feliz por conseguir cumprir a promessa que fizera a Diana que iria arrumar um piano para aquela noite.

Mary o ajudara com a comida, e Sebastian com a arrumação da casa, e eles passaram o dia todo entretidos com os preparativos. Agora que tudo parecia estar sobre controle, Gilbert apenas teria que esperar que os primeiros convidados chegassem. E eles não demoraram a começar a aparecer, e cada um que passava pela porta de entrada, era servido com uma bebida por Gilbert ou Sebastian, e agraciado com as delícias da culinária de Mary.

Gilbert estava ansioso pela chegada de Anne, que já estava demorando mais do que ele conseguia esperar, e quando Gilbert estava quase cogitando a possibilidade de ir buscá-la em Green Gables, ela chegou com Diana e Jerry, Muddy e Josie.

E como valera a pena todo o seu nervosismo. Anne estava maravilhosa em um vestido preto que realçava a cor ruiva de seus cabelos soltos pelas costas, e fazia sua pele brilhar como pérolas ao luar. Ela usava apenas um colar com um pingente em formato de coração, seu anel de noivado e brincos minúsculos combinando com o pingente. Gilbert a olhava encantado e se sentia tão apaixonado quanto a primeira vez que a tinha visto anos antes. Ela veio em sua direção, caminhando devagar e sorriu quando notou o olhar de admiração de seu noivo sobre ela. Ao se aproximar de Gilbert, ela estendeu sua mão e ele a levou as lábios, fazendo Anne ter um arrepio involuntário ao sentir o calor do beijo dele em sua palma.

- Não sei como te dizer o quanto está linda. Eu estava ansioso para você chegar, mas confesso que valeu a pena a espera.

- Eu também não posso negar que meu noivo é o homem mais atraente desta festa. - Anne disse, observando a camisa azul marinho de Gilbert, calças pretas, e o cabelo cacheado caindo em sua testa dando-lhe um charme extra.

Ele lhe deixava sem ar somente por olhá-la daquele jeito, e Anne desconfiava que mesmo que passassem cem anos, ela se sentiria atraída pelo magnetismo de Gilbert do mesmo jeito. Ele lhe sorriu meio de lado, e depois a guiou para dentro da festa, com suas mãos espalmadas nas costas dela protetoramente, seguidos por seus outros quatro amigos que o seguiram alegremente.

Assim, o sarau começou, e cada pessoa que tinha levado seu instrumento musical fez sua apresentação como desejava. Algumas pessoa declamaram poemas, outras apenas cantaram ao som do piano que Diana tocava com a habilidade de um profissional. Anne olhou para a amiga com orgulho ao ouvi-la tocar a Nona Sinfonia de Beethoven com tanta beleza, que pensou que era mesmo uma pena que ela não tivesse seguido a carreira artística, mas, ela tinha feito sua escolha e parecia bem alegre ao lado de Jerry. Ela desejava que ambos fossem imensamente felizes.

No meio do sarau, Gilbert pediu uma pausa, foi até no meio da sala com seu violão e disse que cantaria uma música especial para alguém muito especial também, e todos os olhares se concentraram em Anne que corou ao se ver o centro das atenções. Então, ele começou a cantar com sua voz forte e melodiosa, que sempre surpreendia Anne em momentos assim. Ele fixou seu olhar nela como se não existisse mais ninguém no recinto, e cantou:

 

Eu sempre acreditei que amar fosse difícil,

Mas não amar você foi impossível para mim.

E quando me perco nesses seus olhos feito oceano,

É que descubro que esse amor nunca terá fim.

Refrão

Você torna todas as coisas possíveis,

Especialmente quando segura em minha mão,

Você é todos os sentimentos reunidos

Você é a única dona do meu coração.

 

Se eu pudesse te daria todas as estrelas,

E transformaria cada uma delas em uma canção.

Se eu pudesse realizaria todos os seus desejos,

E te mostraria o tamanho da minha paixão.

 

Você é meu sonho se tornando realidade,

Você é a rosa mais perfeita do meu jardim,

Você é a emoção mais sincera, e verdadeira

Te quero para sempre viva dentro de mim

Refrão

Você torna todas as coisas possíveis,

Especialmente quando segura em minha mão,

Você é todos os sentimentos reunidos

Você é a única dona do meu coração.

Anne sentiu a força das palavras de Gilbert como se elas dançassem pelo ar, e se instalassem definitivamente em seu coração. Enquanto ele era aplaudido e recebia muitos pedidos de bis, Anne somente conseguia pensar em quantas maneiras ela o amava, e nunca poderia se libertar de um sentimento que sempre a arrastaria para ele, não importava para onde fosse. Nunca conseguiria fugir, e nunca desejaria ficar tão longe de Gilbert que não pudesse mais se perder naquele sorriso. E   mesmo quando dizia que deveria deixá-lo ir, porque não se sentia suficiente mulher para ele, seu coração lhe alertava que não havia meio termo para o amor. Anne se condenara a seguir Gilbert até além do horizonte, no momento em que se deixara seduzir pelo seus olhos castanhos, e agora não poderia nunca se afastar dele sem que deixasse uma parte de si mesma para trás.

Gilbert se aproximou dela, pousando sua mão na cintura dela.

- O que achou da música?           - Seus olhos mostravam a expectativa de saber se ela tinha entendido a mensagem que tentara passar a ela.

- Acho que você é um perfeito poeta, Sr. Blythe. Anda desperdiçando seu talento em aulas de anatomia. – ela disse sorridente, e Gilbert pensou no quanto Anne ficava ainda mais adorável, quando olhava para ele como agora sem a sombra de dor em seus olhos.

- Eu fui sincero em cada palavra.

- Eu sei que foi, e te agradeço por me amar dessa maneira, Gilbert.

- Anne, não precisa me agradecer por isso, basta apenas que fique do meu lado e nunca vá embora. - Anne segurou o rosto dele entre as mãos e disse:

- Eu não vou. Eu prometo. - depois o beijou com uma doçura que Gilbert não sentia nela há muito tempo. Havia uma promessa ali, porém mais do que isso, havia um elo entre seus corações, suas vidas se tornaram uma quando começaram a viver pelo mesmo sonho, e Gilbert somente temia que Anne desistisse de tudo por medo de continuar a seguir com ele naquela estrada que construíram para si mesmos, ele não suportaria perdê-la e nem viver sem ela.

O sarau continuou até tarde da noite, e quando o último convidado partiu, Gilbert procurou por Anne e não a encontrou na sala onde a havia deixado. A intuição o levou até seu quarto, e prendeu a respiração quando viu que ela segurava o envelope do exame nas mãos. Ela ficou assim por alguns minutos como se estivesse decidindo o que fazer, mas, então ela desistiu e o colocou de volta na gaveta. Gilbert reprimiu um suspiro de frustração, e entrou no quarto como se não tivesse presenciado nada. Ele rodeou a cintura dela e disse:

- Está cansada?

- Um pouco.

- Quer ir para casa? - ele acariciou a bochecha dela com o polegar.

- Não, quero passar a noite aqui, você se importa?

- Claro que não. - ele pensou por um segundo e disse:- Anne, eu queria dizer uma coisa para você, mas não quero que pense que estou te forçando a fazer algo que não deseja.

- Pode dizer. - ela disse sorrindo.

- Eu tenho observado você nos últimos dias, e tenho visto seus olhos ficarem cada vez mais tristes e você se afastar cada vez mais de todos que te amam, inclusive de mim. Você desistiu da faculdade que é a coisa pela qual mais lutou par conquistar, não sorri mais e vive perdida em um silêncio que me preocupa. Não adianta dizer que estou errado, porque você sabe que não estou. - Anne baixou a cabeça e deixou que ele terminasse, porque não conseguiria dizer nada naquele momento a não ser ouvir as palavras de Gilbert que estavam cheias de uma verdade dolorida.

- Eu tenho tentado de ajudar, e realmente achei que meu amor seria suficiente para curar a sua mágoa, mas agora vejo que não é. Eu posso te abraçar quando chora, segurar em sua mão quando não consegue caminhar pelos próprios pés, eu posso cuidar de você a cada passo do caminho, e impedir que caia ou que se machuque, mas não posso arrancar essa tristeza de dentro de você que é como um fantasma te engolindo viva. Por isso, eu pensei que talvez você precise de ajuda profissional. - Anne levantou a cabeça espantada e perguntou sem entender:

- O que está dizendo, Gilbert?

- Eu disse que você precisa tratar seu lado emocional, e somente um terapeuta pode fazer isso. - ele disse com voz firme.

- Acha que estou tão mal assim? - Anne perguntou com os olhos fixos no rosto dele.

- Você está profundamente magoada e precisa se livrar disso. Você se lembra do que aconteceu outro dia, quando pegou Shirley no colo? - Anne balançou a cabeça concordando. - Foi isso que me mostrou que você precisa de um tipo de ajuda que não posso te dar. Prometa-me apenas que vai pensar no assunto, e se decidir que é o que deseja fazer, me diga. Conheço um profissional muito competente nesta área que é o tio de Dora. Ele é especialista em traumas como o seu, e acredito que vai poder te dar o suporte que precisa para voltar a ser minha Anne de antes. - Gilbert disse beijando-lhe os cabelos.

- Está bem, prometo que vou pensar no assunto. - Anne disse colocando a cabeça em seu ombro.

- Muito bem, agora chega de conversa. Vou te levar até o quarto de hospede, assim poderá descansar com tranquilidade. – Ela assentiu e Gilbert a levou pela mão até o quarto que lhe fora destinado, e deu-lhe um beijo suave encerrando a noite.

- Boa noite, querida.

- Boa noite, meu amor.

Anne tirou o vestido, colocou uma camisola que encontrou no armário, escovou os dentes e resolveu dormir. Ao olhar para aquela cama enorme, ela sentiu-se tão solitária, e ao deitar-se nela puxando as cobertas até o pescoço o sentimento de solidão aumentou. Ela jogou as cobertas do lado, e foi até o quarto de Gilbert, pois não estava gostando nem um pouco de dormir sozinha.

Anne bateu na porta, mas Gilbert não veio recebê-la, então, quando ia bater pela segunda vez, percebeu que a porta estava aberta. Ela entrou no quarto, e ouviu o barulho do chuveiro, e logo, entendeu que Gilbert estava tomando banho. Por essa razão, ela se sentou a cama e esperou por ele.

Gilbert não demorou a aparecer, e Anne não conseguiu deixar de notar os cabelos úmidos, o peito nu, e os shorts que ele usava para dormir em estações mais quentes.

- Anne, o que está fazendo aqui? - ele perguntou, tentando fugir dos olhos dela sobre ele, sem saber o que ela tinha em mente.

- Não consigo dormir. - ela respondeu se levantando.

- Está com insônia? – Gilbert perguntou com o rosto preocupado.

- Não, eu sinto falta de você. - a resposta dela deixou Gilbert em estado de alerta, ainda mais porque ela se aproximou e ficou de frente para ele, seus corpos quase se tocando

- Anne, por favor, não me olhe assim.- Gilbert disse tentando controlar seus impulsos que já o empurravam para ela.

- Gilbert, eu sei que tenho me afastado toda vez que você tentado um contato mais íntimo comigo. Por favor, amor, perdoe-me, eu nem mesma sei o que está errado comigo para agir assim.- Gilbert a puxou para ele, e Anne sentiu o aroma suave do sabonete que ele usara para tomar banho.

- Amor, eu realmente não me importo que eu ainda tenha que esperar por você. Nosso amor não se baseia apenas em sexo. - Gilbert disse beijando-a no rosto.

- Mas, eu me importo. Eu sinto tanto sua falta que meu corpo chega a doer. Eu sei que a culpa é só minha pela nossa distância, mas será que não podemos recomeçar?  Um passo de cada vez, como antes? Quero tanto que volte a me amar, Gilbert, daquela mesma maneira que sempre foi capaz de me fazer sentir tão completa e feliz como mulher. Será que não podemos tentar? Por favor.

- Eu também sinto sua falta, Anne, mais do que um dia irá saber.  Eu quero tê-la nos meus braços de novo, e sentir que somos apenas um só espírito e um só corpo, mas eu sei também que ainda não está preparada para isso, sua alma está magoada e isso se reflete em outras coisas também. Quer tentar mesmo assim?

- Sim, eu quero. - ela disse, e diminuiu a distância entre eles, se agarrando no pescoço de Gilbert, e beijando-o cheia de desejo. Imediatamente Gilbert sentiu a brasa ardente de sua paixão por Anne começar a se expandir até que beijos não eram mais suficientes, e o que ele necessitava era de outra coisa. Ele descolou os lábios dos dela por um momento e disse baixinho em seu ouvido, causando-lhe arrepios.

- Me peça para parar quando achar que não pode continuar. - Anne assentiu e ele a carregou para cama. Suas mãos a acariciando sobre a camisola, dando-lhe tempo para se acostumar de novo com seu toque, antes de alcançar-lhe a pele nua. Anne suspirou e enroscou suas pernas no meio das dele, e o movimento fez com que a camisola subisse um pouco, revelando suas coxas nuas atraindo inevitavelmente o olhar de Gilbert. Ele subiu a mão devagar em uma tortura alucinante para Anne, e quando alcançou seu ventre, seus quadris começaram a se movimentar de leve, deixando Gilbert alucinado por ela. Eram sentimentos novos e antigos se misturando e se reconstruindo, era o amor entre eles tão forte quanto antes, e tão cheio de promessas verdadeiras. As mãos de Gilbert chegaram até os seios dela arrancando suspiros dos lábios de Anne, tão deliciosos aos ouvidos dele.

Anne beijou todo o rosto de Gilbert e tocou a boca dele com a sua, mordiscando lhe o lábio inferior. As mãos dela se espalmaram nos músculos das costas dele, acariciando-lhe os ombros fortes e a nuca onde enterrou suas mãos nos cabelos escuros. Gilbert sentia a mulher em seus braços vibrando a cada carícia, compartilhando com ele muito mais que seu corpo, ela compartilhava sua alma e seu coração. Era sua Anne revivendo em seus braços, e deixando vir a toda sua essência de mulher adormecida por todos aqueles meses. Gilbert alcançou as laterais da calcinha dela, e fez um movimento para deslizá-la para baixo, mas Anne colocou as mãos suavemente em seu peito, e ele entendeu que era hora de parar.

- Você está bem? - ele perguntou acariciando-lhe o rosto com ternura.

- Sim, eu só...Me desculpe. - Anne disse sorrindo tristemente.

- Não se desculpe meu amor. Eu te entendo. Um passo de cada vez, se lembra? - Anne balançou a cabeça e ele a abraçou por um longo tempo. Depois, perguntou:

- Acha que consegue dormir agora?

- Posso dormir aqui com você?

_ Sim. Sinto muita falta de ter você em meus braços enquanto durmo. - Gilbert disse trazendo-a para ele

- E eu sinto falta de ter seu corpo enroscado no meu quando acordo de manhã. - Anne confessou.

-Então, fique comigo esta noite, e te prometo que ainda estarei aqui de manhã quando acordar. - ele disse beijando-lhe a testa.

Assim, eles adormeceram, como nos velhos tempos onde a madrugada era a única testemunha de seus sorrisos cúmplices, e de sua alegria tão palpável. Havia muito a se conquistar, a voltar a sentir, a se perdoar, mas, pelo menos naquele instante, e naquela noite, eles pertenciam apenas aos seus sonhos, e pela primeira vez em meses. Gilbert sentiu que tudo ficaria bem.

 

-

 

 

-

 


Notas Finais


Tenham uma boa leitura. beijos.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...