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História Ano 2033 - Part:2 - De volta a estrada


Escrita por: MarceloFSBranco

Notas do Autor


Essa historia pode conter;
== Violência detalhada, Suicídio, Uso de drogas e Álcool, Sexo explicito, Nudez e Abuso sexual ==

Capítulo 6 - De volta a estrada


Fanfic / Fanfiction Ano 2033 - Part:2 - De volta a estrada

De volta a estrada

13-09-2033

            Não devia passar das sete da manhã quando acordei. Os primeiros e fracos raios de sol atravessavam as janelas quebradas a quase três metros de altura.

Me levantei e caminhei por todo o espaço, ainda me sentia fraco, mas bem menos fraco do que estava no dia anterior e menos ainda que o antes deste. Estava me recuperando muito bem com a ajuda de Ivy que vinha passando uma pomada na região do meu pescoço, o que ajudava a cicatrizar muito mais rápido aquela ferida. Ainda sentia um pequeno desconforto ao comer, mas aquilo não passaria assim tão rápido e mesmo que eu não me acostumasse com aquilo, apenas podia agradecer o fato de poder estar comendo.

Andei até as armas que estava sobre a mesa de alumínio próximo a um dos cantos do galpão, e as admirei enquanto recordava os ensinamentos de meu pai. Nunca gostei de armas, nunca me interessei por elas como meu pai e fazia um esforço imenso para agrada-lo. Mas a verdade é que até o dia da sua morte, pegar em uma arma era quase tão grave a um pecado. Não que eu fosse religioso, muito pelo contrário, mesmo que minha mãe fosse uma cristã, fui influenciado pelo meu pai a ser cético em relação a tudo aquilo, mas pegar em armas fazia-me sentir o quanto aquilo era errado e tirar a vida de alguém era a pior coisa que eu poderia fazer em vida.

E ali estava eu, passando a ponta de meus dedos sobre o metal frio dos rifles e escopetas sobre a mesa a tentar lembrar o número de pessoas que eu já havia tirado a vida desde que havia saído de dentro daquele bunker a cerca de quarenta dias.

— Sente saudades? — Perguntou Aleyna a me observar.

Não havia notado que já havia acordado o que me fez assustar um pouco com sua voz a cortar meus pensamentos.

— Muito pelo contrário. — Digo olhando para ela por um segundo. Agarrei no rifle e o puxei para mim, meu dedo indicador estendido sobre o aro de proteção do gatilho, a mira ótica a apontar diretamente para um dos tijolos de cor escura que criava um bolor esverdeado na parede do galpão. O metal frio a encostar em meu rosto enquanto olho pelo scopo o tijolo como se aquele fosse meu alvo. — Sempre detestei armas, meu pai insistia para que eu treinasse tiro e pratiquei por anos para o agradar, até sua morte, quando descobri o que estava por vir e passei a treinar para que eu conseguisse de alguma forma sobreviver e sua morte não tivesse sido em vão.

Abaixo o rifle e volto a olha-la.

— Sempre pensei que tirar uma vida era o pior dos crimes. E eu tirei uma dezena de vidas em menos de trinta dias, se eu fosse uma pessoa religiosa acreditaria que eu estaria condenado ao inferno quando morresse, mas por algum motivo, quando eu estava inconsciente ouvi uma música, eu parecia estar a boiar no mar e uma música cristã de mais de setenta anos dominava minha cabeça. E eu não sei o que isso quer dizer.

— Que música? — Pergunta ela.

Explico sobre a música de Peggy March tentando não me esquecer de nada, do som do mar, das gaivotas, da água calma e do céu que mudava de cor lentamente mesmo que eu não sentisse que o tempo estava se passando.

— Você viu mais alguém? — Perguntou ela.

— Deus? Não. — Respondo.

— Lembra da última vez que tenha ouvido essa música? — Pergunta ela.

— Não, apenas sei que havia essa música em um dos discos de vinil de meu pai. Mas não consigo me lembrar de nenhum momento que eu tenha escolhido essa música para ouvir. Estive por mais de três anos dentro daquele Bunker e não me lembro de tê-la ouvido uma única vez.

— Em momentos de estresse e choque, nossa memória é afetada e de todas as suas lembranças, a voz de Peggy March talvez tenha te marcado o suficiente para ela se sobrepor a qualquer outra lembrança.

O que ela dizia fazia sentindo, mesmo que ainda não explicasse o fato deu estar boiando no meio do oceano. Mas quanto mais tentava compreender o que havia acontecido comigo, menos eu conseguia compreender.

— Sabe, acabei de perceber que eu não sei quase nada sobre você. — Comenta ela.

— De certo modo eu também não sei muito sobre você. — Digo em resposta.

— Pode me dizer um pouco mais sobre... — Ela apontou para as armas.

— Dei o meu primeiro tiro com 14 anos, é tipo andar de bicicleta, a primeira vez que você consegue andar sozinho sem auxilio de rodinhas ou alguém te segurando é um marco e dificilmente você se esquece.

Sentei em uma cadeira ao lado das armas sobre a mesa, enquanto ela apenas se apoio na mesa e ficou ali ao meu lado com as mãos apoiadas a mesa. Contei a ela em detalhes minha experiência em um estande de tiros pela primeira vez, o quanto aqueles abafadores de ruído ocupavam todo o lado do meu rosto até minhas bochechas e como que mesmo os usando o som de cada disparo dado ali dentro me assustava. — Até o momento em que meu pai se pôs atrás de mim e me deu uma Glock para segurar, suas mãos me ajudaram a não tremer e a apontar para o papel a vinte metros de distância, atire três vezes, apenas um tiro acertou o papel e foi bem longe do centro. — Confesso levantando os olhos para ela.

— A primeira vez que dei um tiro foi no meu primeiro dia de treinamento no exército. Não tinha armas em minha casa e nunca tive amigos que tivessem e usassem armas.

— Pensei que você tivesse aprendido a atirar desde criança, você é ótima. — Elogiei, o que a fez corar.

— Não, até demorei para pegar o jeito das armas, saber como me posicionar e medir a distância e o vento. — Admitiu ela.

— Você com um rifle de precisão, é letal, ou mesmo um rifle como este AR15. Eu não gostaria de ser seu inimigo.

Ela corou novamente soltando um sorriso curto no canto da boca.

— Falando nisso, já se passaram três dias desde que pegamos aquele cervo, e já está no final. — Ela se aproximou um pouco mais e com a ponta de seus dedos verificou a cicatriz em meu pescoço.

Seus dedos estavam frios o que me fez arrepiar ao primeiro contato.

Seus olhos negros encaravam os pontos tortos e a marca onde a pele havia sido dobrada para fazer a costura.

— Não se preocupe, você não vai ficar parecendo Chuck, o boneco assassino. — Sorriu ela.

— Que pena, gosto da pele de porcelana dele, com aquelas cicatrizes, lhe traz charme.

Ela riu.

Sorriu de volta.

Seus olhos negros me encararam por um instante. — Você pare estar bem melhor, devíamos levantar acampamento, sei que está ansioso por isso.

Acho que foi fácil para ela ver o brilho em meu olhar quando ela disse aquilo. Estava esperando por aquele momento a dias, sentia que precisávamos sair daquele lugar logo e tentar encontrar Maisie.

No início da tarde daquele dia, já tínhamos o carro todo preparado. Preparamos uma sopa com o pouco que restava da carne do cervo, revisamos o mapa mais uma vez, a distância não era muita. Estávamos a poucos quilômetros de Wilcox, nossa maior preocupação era se iríamos encontrar o tal Major antes do anoitecer.

Mesmo que Ivy soubesse apontar no mapa onde ficava seu rancho, não seria surpresa se a estrada que nos leva até ele tenha dezenas de entradas para outros ranchos, talvez ocupados por alguém que não seja o Major.

— Estão prontos? — Perguntou Aleyna assim que entramos todos no carro.

Concordamos cada um com seu tom de voz, Charles assim como eu estava ansioso, mas sua voz saiu fraca e quase inaudível no banco traseiro, Ivy estava assustada em seguir viagem, o que refletiu em sua voz naquele momento, mesmo que soubesse que era a única forma de encontrar Zoey, e eu precisei me conter para não gritar um “sim, vamos logo!”.

Eu vim a frente ao lado dela, estava com o mapa em meu colo e o rifle M81 Arid preso entre os bancos. Charles no banco traseiro segurava uma pistola e uma garrafa d’agua. Enquanto Ivy ainda evitava contato com as armas de fogo e se concentrava em apenas cuidar dos nossos ferimentos.

Ela clicou no botão da ignição, o carro ligou silencioso e Aleyna pisou no acelerador, deixando para trás o galpão abandonado e um pouco do seu medo em nos liderar. 



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