História Anything But Ordinary (Wantasha) - Wanda

Wanda pegou a sua xícara de chá e provou de seu conteúdo, ele estava exatamente da maneira como amava, conseguia sentir a canela dar uma leve queimada no fundo da garganta ao mesmo tempo em sentia a doçura do chá, observando ao redor vendo o agito que a cafeteria estava no dia, esse era um dos horários em que mais amava, pessoas indo e vindo com suas rotinas agitadas e o que mais apreciava naquilo era tentar imaginar o que se passava na cabeça de cada um, era como olhar para alguém e criar uma história para essa pessoa, a maior parte se imaginava pessoas casadas vivendo uma vida infeliz onde o marido ou esposa provavelmente os traia enquanto eles viviam com sua cara enterrada em pilhas e mais pilhas de trabalho, Wanda nunca se imaginou vivendo essa vida, presa atrás de uma pilha de papéis enquanto a vida lá fora seguia seu fluxo, mas nem todos tinham escolha.

Ela levantou sua câmera e tirou uma foto através da janela, a primavera já mostrava os primeiros sinais de que finalmente tinha chegado, ruas estavam mais floridas e as abelhas zanzavam por entre elas a procura de pólen, por mais que temesse abelhas ainda assim via a beleza que elas tinham, saber que o mundo precisava de um ser tão pequeno para que o mundo continuasse a sua vida era incrível “droga” murmurou enquanto a câmera desligava e não dava mais sinal de vida

- Problemas? - Steve sentou a sua frente

- Só essa porcaria velha que não quer ligar mais, ela ta dando problema direto mas já levei pro conserto e me falaram que estava ótima

- Talvez seja hora de uma nova

- Sabe que não tenho como pagar uma nova logo agora

- Então talvez essa seja uma boa hora de aceitar o emprego no escritório

- Nem pensar, eu tenho que ajudar Pietro com a loja esqueceu?

- Quando  é que você vai começar a se priorizar?

- Ah Steve fala sério, tirou o dia pra pegar no meu pé - Tomou mais um gole do chá e viu então a câmera finalmente ligar - Isso

Novamente levantou a câmera e tirou uma foto aleatória pelo café tentando ver se ela ainda estava funcionando perfeitamente a princípio estava em bom estado Steve, a sua frente tomou um gole do café dele que tinha acabado de chegar parecia nervoso como se quisesse dizer algo mas permaneceu em silêncio observando a garota a sua frente, aquela na qual ele poderia confiar todos os seus segredos e confidencializar toda sua vida.

- Falando nisso, como está você e Peggy?-

- Bem, quer dizer estive pensando em pedir ela em casamento

- Jura? Steve isso vai ser incrível

- Acha mesmo? Tenho receio de ela não aceitar

Steve e Peggy já namoravam a bons 5 anos eles tinham a própria casa e resolveram se juntar para morar um com o outro mas o pedido de casamento nunca veio, ainda mais depois que Peggy sofreu um aborto espontâneo do primeiro filho deles o que os deixou tão abalados que resolveram deixar a historia de casamento para um outro momento, momento no qual nunca chegou, as coisas só pioraram quando Peggy descobriu que não poderia gerar um filho mais

- É claro que ela vai aceitar bobão, se ela te aguentou por 5 anos acho que ela te aguentaria pro resto da vida

- Bobona - Disse fazendo careta

Steve era um dos meus melhores amigos desde o colegial onde ele conheceu Peggy, mas o romance dos dois só foi engatar mesmo muito tempo depois pois a timidez do menino era demais para chamar ela pra sair, porém Peggy tomou a frente e lhe deu um chacoalhão. A amizade com o casal que já era forte se intensificou ainda mais quando os pais de Wanda morreram no ano passado vítimas de um acidente de carro, a vida dela e seu irmão gêmeo Pietro virou de cabeça para baixo depois disso, tentavam manter a livraria que antes pertencia a seus pais mas as vendas estavam caindo cada vez mais, parecia que as pessoas iam perdendo o interesse na leitura conforme os anos iam se passando, as páginas de livros sendo substituídas por telas brilhantes nas quais mantinham suas cabeças abaixadas e o olhar preso por 24 horas, sem dar tempo para que percebessem que as suas famílias estavam sendo destruídas e filhos cresciam sem o afeto de seus pais tornando o mundo em um lugar cada vez mais frio, porém Wanda nunca se entregou a isso ela tinha uma paixão pela leitura e amava a fotografia, era inacreditável como um momento poderia ser eternizado em uma fotografia e como ela quase ganhava vida quando relembrada, enquanto revirava as fotos do cartão de memória parou na última foto tirada de seus pais logo antes deles partirem para a viagem que iria tirar a vida deles o sorriso no rosto deles era impossível de esquecer estavam tão felizes pois tinham o sonho de abrir uma editora de livros, sonho que morreu junto com eles naquela noite.

Ela mordeu o lábio evitando chorar na frente de Steve.

- Está chegando

- O que? - Despertou de seu devaneio

- O aniversário da morte deles, pensa em visitar o túmulo?

- Eu não sei, Pietro não disse nada, ele tem visitado sempre mas eu não consegui voltar desde o dia do enterro

- Caso mude de ideia e queira ir, eu e Peggy podemos te acompanhar

- Obrigada - Olhou para o relógio no pulso vendo as horas e constatou que ainda tinha um tempo até que assumisse seu posto na loja.

- Acha que consegue ver algumas alianças comigo? Ainda to bem nervoso com essa decisão

- Para de ser bundão e vamos logo

Ao sair da cafeteria sentiu o vento fresco da primavera bater em seu rosto aquela sensação era das melhores que já havia sentido seu vestido dançou ao redor do meu corpo antes de se acomodar, Steve seguiu a passos longos e disse que queria passar em uma joalheria ali perto onde tinha visto um anel que disse ser lindo mais cedo, ela andou com passos rápidos ao seu lado tentando acompanhar o seu ritmo mas Steve sempre teve pernas bem mais longas que as suas o que exigia bem mais de sua caminhada quando estava com ele, quando chegaram ele apontou para um anel onde uma pedra enorme era exibida

- Então? o que achou?

- Não sei, um pouco exagerado, não acha?

Ela se agachou para ver melhor o anel o reprovando na hora, ela sabia que precisava de algo com mais delicadeza que combinasse com sua amiga Peggy então percorreu a vitrine com os olhos ate que seu olhar repousasse em um anel mais delicado alem de ter uma pedra bem mais trabalhada.

- Aqui, vê como é mais delicado? vai ser perfeito pra ela

- O que seria de mim sem você?

- Bom, primeiramente você não conheceria Peggy e talvez já fosse um homem morto

- Muito engraçado Maximoff

- Então, vai comprar?

- Ainda preciso de um tempo pra pensar, mas boa escolha

- Fazer o que, sou boa nisso - Olhou para o relógio em seu pulso - Droga, tenho que ir

Wanda se virou antes de escutar Steve dizer uma despedida correndo pela calçada já tinha se passado pelo menos 10 minutos do seu horário e sabia perfeitamente que Pietro já deveria estar zangado para sua sorte conseguiu chegar no exato momento que um ônibus chegou, ficava a pelo menos 20 minutos para que o caminho fosse percorrido ate a livraria e justo naquele momento parecia levar uma eternidade para chegar ao seu destino, enquanto não chegava aproveitou para tirar mais algumas fotos pelo caminho, a cidade definitivamente estava se enchendo com cores por conta da estação o que tornava tudo mais lindo, distraída em meio as fotos quase perdeu seu ponto o que a fez descer desesperada sentindo seu pé se virar quando ele entrou por completo em um buraco na calçada, praguejou tentando não me estressar logo cedo mesmo mancando chegou sob o olhar rígido e sanguinário de Pietro, ele odiava atrasos

- Esta 35 minutos atrasada

- Eu sei

- Então por que nao chegou no horário?

- Olha nao sei se percebeu mas acabei de torcer meu pé e a dor não tá pouca não

Pietro manteve seu olhar sobre a garota ainda fechado mas não demorou muito para que a máscara caísse e ele fosse ao seu encontro a sentando em uma das poltronas que ficavam espalhadas pela livraria, ao pegar o pé da irmã ela fez uma careta de dor mas permanecia quieta, ele virou seu tornozelo tentando avaliar melhor o grau da torção sentindo o medo de algo ter quebrado, afinal na atual situação dos irmãos não teriam como pagar um médico naquele momento para uma consulta, ela o xinguei mentalmente pela dor que emanava a cada virada de Pietro

- Então doutor Pietro algo quebrado?

- Não, mas vai doer por um tempo, já tive muitas dessas enquanto dançava

Pietro era dançarino de Ballet, desde cedo ele tinha esse sonho que não era muito apoiado pelos pais mas eles acabaram cedendo quando viram que não tinha outro jeito, Wanda sempre apreciou a forma como ele era agiu na dança além de seus movimentos rápidos e graciosos, muitas vezes desejou ter o mesmo cuidado e delicadeza que ele tinha, por causa da escolha dele para a dança viu também o preconceito crescer além da dificuldade de se relacionar romanticamente com outras pessoas mas elas não viam o menino da mesma forma que a irmã, alguém cuidadoso e carinhoso.

- Acha que consegue ficar na loja hoje?

- Sim, pode correr para a sua aula que eu tomo conta de tudo, não é um pé torcido que vai me parar

Pietro beijou a testa da irmã e então partiu, ele parecia mais triste hoje mas era evidente que por saudades dos pais quando eles partiram as coisas se tornaram bem mais difíceis, os gemeos sempre se viravam da forma que dava para manter a loja e a casa além de que Pietro pensou muitas vezes de desistir da dança, mas a irmã não permitiu em momento alguma que ele deixasse seu sonho para tras, ela preferiu abandonar seus estudos na faculdade para que ele pudesse seguir a sua carreira, as aulas acabavam não sendo tão baratas o que exigia um pouco mais do esforço para manter tudo, ele precisava viver esse sonho ainda mais agora que ele estava perto de conseguir participar de um festival de dança importante.

A menina aproveitou o tempo em que a loja estava vazia e tirou o pó das estantes da melhor maneira que conseguia sem forçar o tornozelo machucado, aproveitou entre um cliente ou outro que passava na loja e que passavam horas apreciando um bom livro para tirar algumas fotos, pessoas descontraídas nesses momentos de conforto era uma de suas preferidas para registrar, parecia mostrar a verdadeira imagem da pessoa.

- Boa tarde - Disse um homem mais velho após adentrar a loja 

- Boa tarde, posso ajudar em algo?

- Queria dar um presente pra uma amiga mas não entendo muito de livros

- Não se vê muitas pessoas dando livros de presente hoje em dia

- Bom, sempre a vejo lendo mas nunca sei exatamente do que ela gosta então

- Lembra de algum livro de referência que ela já tenha lido?

- Não exatamente mas não imagino ela lendo algo como romance

- Cortaremos um conto de duas cidades da lista então, mas Grandes Expectativas de Charles Dickens nunca decepciona, ele é classificado como uma ficção, quem levou tem falado bem

- Você já leu?

- Sim, e por muitas vezes

- Acho que vale a pena arriscar então

Ea embrulhou o livro e entregou o embrulho para o rapaz, o viu sair da loja e então o silencio tomou conta de todo o ambiente já era final de tarde e faltava poucas horas para fechar então deduziu que não faria mal nenhum se sentar e ler um pouco.

Ela se aconchegou em um canto no chão e buscou um dos livros novos que tinha chegado recentemente.

- Feios? Pelo menos a sinopse é interessante

O livro era pequeno, nada que nao conseguisse ler em pouco tempo a sua emersão no livro foi instantânea e seus olhos deslizaram pagina por pagina quando se deu conta já era noite e estava no fim do livro

- Um mundo perfeito? Quão estranho seria viver dessa forma? Fazer 16 anos e ser submetida a uma cirurgia somente para ser bonita?

Pensou em como isso funcionaria e então peguei seu Notebook, em alguns momentos ela gostava de fazer publicações sobre coisas do cotidiano, em muitos momentos essas publicações derivavam de livros que a garota devorava

 

Beleza, o que definitivamente é considerado beleza? Afinal o que seria considerado belo? Se o que seria bonito para alguém não é para outro? beleza se torna algo extremamente relativo, se vivêssemos em um mundo em que tudo é perfeito e fossemos submetidos a cirurgias para que nossa beleza exterior remetesse também o perfeccionismo, como seria a imagem das pessoas nas ruas? Vivemos em um mundo onde as redes e os tabloides definem o que é belo, teriamos tantas pessoas tentando seguir o mesmo padrão da beleza, cintura fina, um corpo definido, nariz empinado e lábios cheios com olhos grandes, e claro que um rosto fino além de cabelos alinhados, todos seguindo o mesmo padrão com rostos parecidos, ninguém seria incomum ou teria uma beleza rara ou distinta no meio de tantos, todos perderiam sua identidade e isso não afetaria somente o exterior mas também o interior de cada um onde atitudes seriam imitadas apenas para serem aceitas em uma sociedade podre? Isso não faz sentido

Fechou a tela e bufou quando ouviu a porta da frente se abrir, Pietro voltava em baixo de uma chuva forte que caia la fora, todo encharcado ele pisou no carpete o molhando

- Achei que ja tivesse fechado

- E você ta sujando aonde eu limpei

- Perdão - Ele disse correndo para o fundo da loja onde moravam

Após fechar a loja ela também seguiu para os fundos onde Pietro já tinha tomado seu banho e trocado de roupa mas sua cara ainda parecia abalado

- Aconteceu alguma coisa?

- Não

- Pi?

- To preocupado com a loja, não sei se vamos conseguir manter dessa forma

A menina colocou os pratos na mesa e então se sentou a frente do irmão, Peggy trabalhava em um escritório de Advocacia e a convidou várias vezes para trabalhar junto com ela mas todas as propostas foram recusadas por não querer se prender a isso e de repente finalmente Wanda conseguia imaginar o por que tantas pessoas se submetem a estragar suas vidas trabalhando até a morte, era por coisas como essa, não suportar ver sua familia passando necessidades, ela olhou para a câmera que agora repousava em cima da bancada se pelo menos ela conseguisse trabalhos com fotos mas estava cada vez mais difícil com a câmera parando a todo momento, ela precisava arrumar uma nova e quem sabe seus trabalhos ficassem melhor

- Acho que vou aceitar trabalhar com a Peggy

- Wan, não precisa você odeia isso

- Vai ser temporariamente, só até as vendas melhorarem

- E se não melhorarem??

- Então, damos um jeito.

-Sinto falta deles

-Eu também Pi, eu também

O silêncio tomou conta da cozinha a saudade seno sentida naquele momento onde a lembrança de uma familia reunida no jantar ainda era viva na memoria dos irmãos, terminaram o jantar nesse mesmo silêncio, ambos estavam sofrendo com a perda dos pais tudo seria mais fácil se eles ainda estivessem ali muito provavelmente Wanda teria terminado sua faculdade e Pietro se dedicaria mais no seu sonho levando as aulas mais a serio.

Quando finalmente chegou ao seu quarto a chuva lá fora parecia piorar, ela se encolheu em seus próprios braços pois os trovoes e a chuva forte despertavam lembranças horriveis da noite em que recebeu a noticia da morte deles, Pietro lhe acordara naquela noite a lembrança ainda viva em sua memoria dos raios iluminando seu quarto quando ele disse aquelas palavras “mortos” tudo parecia rodar e sumir sob seus pés, a dor em seu peito crescia a cada minuto mas só foi ter noção do que realmente tinha acontecido quando viu os dois caixões a sua frente.

Haviam lhe contado diversas vezes sobre as fases do luto, negação, raiva, barganha, depressão e então finalmente a aceitação, mas parecia que ela não sairia da negação nunca em sua minha vida já iria se fazer um ano e ainda sentia que permanecia nessa fase.

Ao levantar no outro dia cedo percebeu que Pietro não estava em casa mas ao chegar na cozinha escutou um barulho vindo da loja com passos lentos conseguia sentir seu pé doendo menos hoje mas ainda sentia a dor ali presente ela foi ate a porta, quando abriu a mesma e olhou para a livraria simplesmente congelou, o nivel de casa ficava bem mais alto que o da loja mas abaixo de seus pés a livraria estava coberta com água, Pietro estava com Steve cada um com um balde jogando a água para fora quando Pietro a viu foi ao seu encontro tentando disfarçar algumas lágrimas em seus olhos

- Isso foi com a chuva de ontem, até onde sei perdemos umas duas prateleiras de livros, o prejuízo que isso vai nos causar… O pior de tudo é que não sei até onde dos móveis que perdemos também

- Droga por que não me acordou?

- Você estava cansada achei melhor te deixar dormindo e também não sei se vamos conseguir abrir a loja hoje

Wanda tentou manter o controle até para que Pietro mantivesse o dele, buscou um balde para ajudar os dois a esvaziar a loja e aquilo parecia uma eternidade mas quando a água estava mais baixa a solução foi torcer panos encharcados ate que finalmente tudo parecia seco eles olharam pela loja tentando identificar o tamanho do prejuízo que haviam tomado

- Pelo menos parece que os móveis vocês não perderam - Disse Steve

- Acho que o prejuízo foi mais nos livros mesmo, mas alguns se deixarmos secar acho que podemos colocar a venda mais barato - Wanda disse enquanto juntava alguns livros molhados - Steve? Acha que a Peggy consegue aquela vaga pra mim ainda?

- Tem certeza disso?

- Bom - Disse abrindo os braços para mostrar o local - Acho que to sem escolha agora

Steve deu um sorriso triste e disse que retornaria assim que falasse com Peggy, ela terminou de ajudar a organizar os livros que tinham se salvado enquanto colocou os molhados para secarem, Pietro pediu para que deixasse ele cuidar de todo o resto e então liberou a irmã até que desse o horário do seu turno, pegando sua câmera a menina foi pedalando até o parque onde estava lotado em pleno sábado à tarde se sentou então na grama e tentou se distrair com o que mais amava, fotografar, mas parecia que naquele momento até mesmo isso não lhe trazia alegria nenhuma..

Olhou em volta e tentou imaginar histórias para cada pessoa, um homem passou com seu cachorro correndo em uma das pistas enquanto virava uma garrafa de água na boca

- Poderia ser um bombeiro, provavelmente deixou sua mulher em casa com as crianças enquanto ela prepara o almoço para que ele trabalhe a tarde, é uma boa

Uma mulher com dois filhos que estavam sentados tomando sorvete observavam os patos que ao longe grasnam

- Foi mãe cedo, o pai dos filhos a deixou assim que soube da gravidez, o que piorou quando ela contou que eram gêmeos, provavelmente alguém que trabalha no comércio local ou tem o seu próprio negócio em casa para cuidar das crianças, convincente

Percorreu o olhar mais um pouco e então viu uma mulher de cabelos vermelhos, ela tinha seu rosto enfiado em um livro sua roupa um pouco social demais para o ambiente

- Parece bem solitária, ela seria algum tipo de… Produtora de eventos, isso-

Levou a câmera frente aos meus olhos e puxou em um zoom até que focasse totalmente na mulher de cabelos vermelhos, seu rosto não era visível mas de qualquer forma tirou a foto de seu momento distraída em seu livro, quando abriu a foto na tela da câmera pode reconhecer a capa do livro no qual ela lia

- Charles Dickens? Tem bom gosto

Levantou o olhar para tirar mais uma foto da mulher mas ela não estava mais lá sua imagem ficando salvo apenas através da foto tirada a poucos minutos “interessante” sussurrou olhando a foto novamente, a imagem da mulher imersa em seu livro a fez se questionar sobre o quão solitário parecia aquele momento.

O restante de sua manhã fez com que se esquecesse por completo de qualquer problema em sua vida, a sensação de liberdade experimentada era única e de certa forma seria seu último dia em que poderia aproveitar desse sentimento.

Ao chegar na loja Pietro estava distraído olhando uma notícia qualquer em que se passava na pequena TV que ocupava o canto da livraria, falava algo sobre o casamento de sucedido de dois grandes empresários e como a união seria boa para os negócios de ambas empresas, na tela uma mulher ruiva beijava seu marido romanticamente enquanto falavam de sua relação em frente as cameras

- Com certeza Bucky Barnes e Natasha Romanoff vivem agora o casamento dos sonhos que qualquer um h…

A TV se desligou e Pietro que estava com os olhos presos nela se virou para a irmã que repousava o controle sobre a bancada

- Que foi? Você sabe que isso tudo é mentira, qualquer um pode ir em frente das câmeras e falar qualquer besteira que todo mundo acredita

- Nossa, oi pra você também mal humor

- Não é mal humor, só acho ridiculo a forma que enganam a todos 

- Você nem mesmo sabe se é verdade ou não

- E por que eu deveria achar o contrário?

- Por que… Pelo simples fato de não conhecer eles

- A claro, ótimo argumento aliás

- Resolveu chegar cedo hoje

- Digamos que a câmera descarregou então acabei desistindo do parque

- Conseguiu algumas fotos boas pelo menos?

- Talvez, ainda tenho que mandar imprimir algumas só assim vou saber - Ela se distraiu enquanto arrumava sua câmera para carregar

- Steve ligou - Pietro despertou a atenção da menina de novo - Disse que a vaga é sua e se quiser começa amanhã mesmo

- Ótimo - Suspirou

- Achei que quisesse fazer isso

- E eu quero não se engane

Pietro voltou a ligar a TV mas deixou o som dela no mínimo possível em que pudesse assistir, Wanda antes não era dessa forma, a menina amava passar horas assistindo a séries na TV além de alguns programas de humor mas quando o acidente em que a vida de seus pais foram tiradas a menina passou odiar cada minuto da TV ligada, os noticiários estavam sempre repetindo a matéria do acidente enquanto imagens ficavam gravados em suas memórias.

Wanda deslizou por entre as estantes de livros procurando por volumes que poderiam estar fora da sua ordem, Pietro passava a manhã na loja mas o trabalho ficava todo para a garota que por mais que reclamasse da preguiça do irmão em organizar os volumes de livros sempre escutava a mesma reclamação sobre estar cansado com os treinos, ela sabia que não era só por isso, Pietro estava desanimado e esse era o real motivo do por que desistia facil de qualquer coisa, a menina fitou seus próprios pés seu tornozelo direito estava um pouco inchado ainda mas a dor estava ausente, vendo que os livros estavam intactos da mesma forma que ela tinha organizado na noite anterior ela soube que esse era um sinal de que nenhum cliente tinha entrado na loja ainda, seus dedos inquietos mostraram mais ainda o nervosismo da garota quando se deu conta que estavam próximos das contas chegarem e eles nem mesmo tinham dinheiro para pagar todas, teriam que escolher quais contas seriam prioridade e claro, a escola de dança seria a primeira que Wanda faria questão de pagar.

- Os livros molhados pelo menos ficaram em um bom estado para a venda - Pietro surgiu no corredor de livros

- Menos uma coisa para se preocupar

- Falta dois dias - Wanda desviou a atenção para o menino - Sei que não teve coragem de voltar ao túmulo deles mas acho que deveria ir

- Não sei se consigo

- Eu vou estar lá com você, e se quiser Peggy e Steve se ofereceram para ir também

- Não quero decidir nada agora

- Tudo bem, não se sinta pressionada.

Pietro se aproximou da irmã e então a abraçou o silêncio dela já dizia tudo sobre os sentimentos medo e insegurança emanava da garota entre seus braços, ele queria de todas as formas a proteger mas no fim quem sempre acabava fazendo tudo era Wanda, ela era quem sempre tomava a frente em todas as decisões e a loja só estava de pé ainda pois ela foi quem manteve as pontas em todo aquele momento

- Você não deveria ter desistido da faculdade

- Não tínhamos como pagar, ta tudo bem posso tentar uma bolsa ainda esse ano

- Você vai ter menos tempo para estudar agora

- A prioridade não sou eu agora

- Mas deveria ser

- Tenho uma vida inteira pela frente, só vou atrasar a formatura por mais um tempo

Wanda se afastou do irmão e lançou um sorriso caloroso para o menino o tranquilizando, ela sabia que ele se culpava da desistência da faculdade, mas ela não via dessa maneira, era uma decisão unicamente dela.

Quando a noite caiu e cada um se recolheu para seu quarto, Wanda ficou na cama deitada observando a foto da mulher ruiva, ela tinha visto muitas pessoas vazias passarem por suas lentes mas a sensação em que sentia ao olhar aquela foto era diferente, era um sentimento mais intenso e aquela solidão definitivamente era sentida naquele momento, ela se perguntou por um momento se não era apenas um sentimento dela que estava projetando naquela foto. Wanda desligou a câmera e colocou em cima de sua cômoda, parando no caminho apenas para terminar o seu copo de água, o clima lá fora parecia bem melhor o que indicava que ela finalmente teria uma noite de sono digna, então ao deitar a menina deixou que sua mente deslizasse pelos seus sonhos.