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História Ao seu lado para sempre - Tomoyo


Escrita por: Kah_ e SoulButterfly

Notas do Autor


Boa madrugada, pessoal ^^

Tentando postar pra vcs mais um capítulo da fanfic, já tentei umas duas vezes, mas tá dando erro direto. Valeu Spirit! ¬¬
Essa história aqui é, sobretudo, uma tentativa de redimir esse personagem que eu gosto tanto, o Yashamaru. No meu ponto de vista, como uma fã chata que gosta de analisar as coisas, o tio do Gaara é uma peça muito importante em sua vida, e acho que o desfecho dos dois ficou com um ponto de interrogação.

Mas eu também estou postando agora uma série de fics sobre os irmãos da Areia, que acabei descobrindo que são meus personagens preferidos em Naruto. Essas histórias vão funcionar como crônicas e cada uma terá três cap. cada. Acho que vcs vão gostar de ler, porque, da mesma forma que estou escrevendo com carinho essa aqui, as crônicas também estão vindo caprichadas! Adoraria ter meus leitores lá também.
Enfim, deixo o link no final, ok?

Beijos a todos e boa leitura
^^

Capítulo 8 - Tomoyo


 

Yashamaru chegou em casa ainda com Gaara em seu colo, respirando ritmadamente, tentando ao máximo se acalmar para não entristecer ainda mais o tio. Os dois foram direto para o banheiro.

Gaara vomitou algumas vezes por conta dos efeitos colaterais do jutsu de Yashamaru (ou talvez pelo trauma que fora aquele dia). Ele arqueava as costas para trás e vomitava todo o chão do banheiro, enquanto o tio tentava confortar o sobrinho com alguma palavra:

— Já vai passar, Gaara. Isso é só efeito do jutsu que eu usei para te trazer de volta. É que ele não deveria ser usado em uma criança de tão pouca idade, eu acho — Mais um arquear violento e mais uma sequência de vômitos. — Calma, calma. Isso já vai passar, querido.

Quando os vômitos finalmente deram trégua, Yashamaru abriu o chuveiro e colocou a água numa temperatura amena. Ajudou o menino a tirar a roupa suja de suor e areia e o colocou embaixo da água, sentado em uma banheira. Ajoelhou-se ali ao lado e começou sua sessão de murmúrios, ditos apressadamente e com voz irritada:

— Não pensaram nem em limpar você, aqueles desgraçados... Foram logo te colocando na cama, desse jeito!

Com uma esponja cheia de espuma, Yashamaru esfregava as costas pálidas de Gaara com força, enquanto resmungava palavras, ora compreensíveis, ora indecifráveis, ditas entre os dentes.  Estava visivelmente irritado.

— Yashamaru, devagar — o sobrinho pediu, parecendo que ia voltar a chorar a qualquer momento.

— Oh, me desculpe! Eu te machuquei?

— Ie.

— Que pergunta mais idiota a minha, mas é claro que não!

— Eu sei tomar banho sozinho... – Gaara sussurrou.

— Eu sei que você sabe, Gaara, eu só... Eu... – rendido, o tio colocou a esponja nas mãos do menino e se levantou. — Bom, então termine de tomar banho e depois vá até a cozinha que eu vou preparar alguma coisa para você comer. Com certeza ninguém se lembrou disso também... Que você sente fome!

Yashamaru saiu bufando do banheiro.

Na cozinha, ele tentava preparar um pouco de sopa, o que estava se mostrando uma tarefa difícil de executar com suas mãos tremendo daquele jeito.

Yashamaru era o tipo de pessoa que poderia ser descrita como calma e pacífica, na maioria das vezes; ele era mestre na arte de fingir emoções e sempre sabia usar o sorriso certo para convencer quem quer que fosse. A verdade era que seus sentimentos eram difíceis de serem abalados em qualquer outro caso. Qualquer outro, menos aquele: quando alguém fazia mal ao seu sobrinho. Quando isso acontecia, ele era atingido te toda a atuação ia por água à baixo. 

O jovem ninja estava uma fera por dentro. Mesmo sem ainda saber dos detalhes do que aconteceu, já estava claro que Gaara havia perdido o controle por mais uma vez e quase pôs tudo a perder. Aquilo estava cada vez mais frequente. Mais cedo ou mais tarde, o espírito do Shukaku tomaria seu sobrinho e esse poderia ser o fim de Gaara. O menino precisava encontrar uma forma de se controlar, o mais rápido possível. Se isso não acontecesse, poderiam pensar em cancelar a experiência do jinchuuriki da Areia e Gaara não seria mais necessário. Poderiam assassinar o menino.

— Acalme-se também, droga! – Yashamaru falava consigo mesmo em voz alta. — Ele já está aqui com você, não está?

Respirou fundo e tratou de terminar a tal sopa.

Depois do sobrinho voltar banho, Yashamaru teve de insistir para ele comer um pouco mais do que só aquelas duas colheradas, dizendo que Gaara precisava se alimentar e repor as energias... Não conseguiu convencê-lo.

Naquela noite, Gaara pediu para deitar-se no quarto do tio e este não pôde negar desta vez. De tempos em tempos, o menino insistia para que o tio o deixasse dormir em seu quarto, mas raramente Yashamaru concordava porque sabia que toda a vez que dizia sim, não conseguia fazer Gaara ficar quieto e deixa-lo dormir em paz. O menino insone fazia mil perguntas a ele durante a madrugada sobre os mais diversos assuntos e no final, Yashamaru tinha que ir trabalhar sem ter pregado os olhos por conta das particularidades de ter um sobrinho que não dormia e que era extremamente curioso. Porém, como aquele dia já tinha sido difícil demais para Gaara, Yashamaru disse sim. Ele cedeu sua cama e dormiu no chão, em um colchonete, por mais que Gaara tivesse lhe dito que não era necessário.

O ruivinho estava deitado na cama, com os lençóis lhe cobrindo o corpo até a altura do pescoço, e mais uma vez, seu tio estava lhe fazendo companhia, sentado na ponta do colchão. A luz estava baixa, tinha uma tempestade de areia passando lá fora.

Naquele momento, Gaara tentava contar o que havia acontecido para Yashamaru.

Falou-lhe sobre Temari e Kankuro e os biscoitos de chocolate, o que fez o tio sorrir com cada palavra que o menino contou sobre o assunto; disse ainda sobre as perguntas do pai antes do treino e também sobre a luta que tiveram. Ele explicou o motivo pelo qual Rasa ficara tão irritado de início: o fato de Gaara não atacar o pai. Depois, ele explicou o que fez o kazekage perder o controle de vez, gritando e fazendo toda aquela pressão.

— Onde você estava com a cabeça, Gaara? Responder o meu nome e não o dele?

— O que mais eu iria dizer, oji-san? Você mesmo falou para eu nunca lutar com meu pai e também nunca te desobedecer. E, além disso, é você quem cuida de mim, não ele.

Yashamaru sentiu o coração doer. Antes de começar a falar, passou um instante acariciando os cabelos do sobrinho, olhando em seus olhos. Notou que suas olheiras pareciam um pouco mais profundas.

— Eu não te culpo pelo que aconteceu. Nós, os adultos, fomos os culpados e acabamos confundindo sua cabeça... Quer dizer, eu acabei confundindo sua cabeça, eu – Yashamaru abaixou os olhos, as lágrimas começando a se formar e a cair em cima dos lençóis da cama. — Gomen, Gaara-kun...  Me dói muito ver você sofrendo assim. Me desculpe!

O ruivo sentou-se na cama e abraçou o tio.

— Não fique triste, Yashamaru, por favor.

Como seu pedido não estava dando resultado e o tio continuava ali, chorando baixinho, recostado em seu abraço, Gaara resolveu tentar outra coisa. Ele soltou Yashamaru, saiu da cama e depois do quarto, deixando o jovem ninja sem entender nada.

— Ei, aonde você vai? – o tio perguntou, esquecendo um pouco seu sofrimento e dando lugar à curiosidade.

 Não demorou muito e o menino retornou com um copo de água em uma mão e um pequeno comprimido branco na outra.

— Toma! – Gaara lhe apresentou os dois elementos e sorriu um pequeno sorriso.

Seu gesto fez Yashamaru sorrir também. Ele pegou a água e o remédio.

— O que é isso, um calmante?

— E água com açúcar também – respondeu Gaara, voltando para a cama e cobrindo-se com os lençóis.

— Isso nunca funciona com você, por que iria funcionar comigo?

Os olhos azuis esverdeados de Gaara brilharam e ele fez um aceno com a cabeça, como quem diz “apenas tente, vamos lá”. Yashamaru deu de ombros, secou os olhos molhados e jogou o comprimido na boca, em seguida bebeu um gole de água.

— Domo. Isso foi muito gentil.

Poucos minutos depois, Gaara estava deitado na cama com o tio lhe fazendo companhia, no colchonete no chão. O calmante (e toda aquela situação) havia derrubado Yashamaru e ele já dormia profundamente.

A casa estava completamente silenciosa e o quarto estava escuro. Vez ou outra, Yashamaru fazia uns barulhos durante o sono. Gaara, por sua vez, estava acordado, encarando o teto e relembrando os últimos acontecimentos.

Ele pendeu a cabeça um pouco para a esquerda, para o lado onde o colchonete do tio estava.

— Você acha que meu pai não gosta de mim, Yashamaru?

Silêncio.

— Tio Yashamaru?

Aquela não seria uma das noites em que o sobrinho conseguiria manter o tio acordado e ele mesmo não estava com vontade de acordá-lo, não depois de vê-lo tão triste. Era melhor deixa-lo dormir, descansar.

Gaara deixou escapar um longo suspiro; teria que passar mais uma madrugada em claro e sozinho.

— Durma bem, oji-san...

***

Aquela semana havia se passado apressadamente. No dia seguinte após o incidente entre o kazekage e Gaara, Yashamaru foi até o hospital bem cedo e pediu uma licença de alguns dias apenas ao seu supervisor, explicando-lhe que precisava dar mais atenção ao menino jinchuuriki que estava sob sua tutela. Gaara ainda estava abalado e Yashamaru tinha medo que ele fizesse alguma coisa errada enquanto ficava sozinho durante o dia inteiro, ainda mais agora que estava de férias da escola.

 Como o jovem fez parecer que aquilo era parte de sua missão como tutor do filho do Quarto kazekage, o líder dos ninja-médicos não pôde negar o pedido e a administração do hospital lhe deu cerca de dez dias de afastamento de seus afazeres como membro do corpo médico.

Com os dias de folga, Yashamaru pôde descansar de suas atividades como médico-nin. Dentre outras coisas, algo que o fazia sentir falta da rotina no hospital era o fato de ele não poder ver diariamente sua amiga de infância que começara a amar. Sentia falta de chegar à ala de pacientes graves (que era onde Tomoyo trabalhava a maioria das vezes) e receber o “bom dia” mais esperado de todas as manhãs.

Yashamaru era um dos responsáveis pela ala de antídotos e venenos do hospital de Suna, porém, sempre inventava uma desculpa para ir até os quartos dos doentes mais críticos para ver Tomoyo trabalhando. Ele encontrava alguma tarefa simples para fazer por lá enquanto conversava com a jovem sobre assuntos descontraídos. O bom humor de Tomoyo era uma das qualidades que Yashamaru mais gostava nela. Aliás, foi com Tomoyo que ele conseguiu voltar a sorrir e fazer piadas das circunstâncias da vida depois de perder sua irmã Karura. Hoje, os dois eram amigos íntimos, riam um do outro e ambos se ajudavam tanto no hospital quanto em qualquer situação que pudesse aparecer.

 

Tomoyo e Yashamaru:

Primeiro eles eram apenas amigos, mas depois se tornariam amantes.

 

Fora isso, os dias em casa sem muitos afazeres estavam sendo muito bons, Gaara era uma ótima companhia. De manhã, eles tomavam café juntos sem pressa, ficavam sentados à mesa conversando e comendo. Depois, Yashamaru deixava por conta de Gaara a decisão do que eles iriam fazer até a hora do almoço e quase sempre o menino escolhia ler um livro infantil para Yashamaru, só para lhe mostrar como estava lendo bem.

O tio cozinhava o que seria o almoço do dia enquanto Gaara lia em voz alta as páginas de seu novo livro infantil: “As aventuras da raposa tagarela”, deitado de bruços no chão da cozinha, com as pernas balançando de um lado para o outro.

— Yashamaru, aqui no meu livro está escrito assim: – Gaara ergueu um pouco mais a voz e começou a ler: — “A pequena raposa tagarela conheceu uma amiga e logo ficou apaixonado por ela.”. Hm... O que quer dizer essa palavra?

— Qual delas?

— Essa aqui – Gaara passou o dedo em cima da tal palavra enquanto olhava confuso o desenho de uma raposa laranja com cara de boba, diante de uma raposa rosada rodeada por coraçõezinhos vermelhos. — “Apaixonado”. O que significa?

— Você não sabe o que isso quer dizer? – Yashamaru tirou a atenção do macarrão com legumes que ele mexia numa panela e voltou os olhos para Gaara.

— Não. Eu deveria?

— Acho que não. Bom, pelo menos não na sua idade! – o tio coçou a cabeça e procurou o jeito mais simples possível de explicar aquilo à uma criança de seis anos. Pensou em Tomoyo. — Bom, estar apaixonado por alguém é um tipo de sentimento positivo. Acontece quando você não para de pensar em uma pessoa em especial, querendo estar sempre ao lado dela – Yashamaru percebeu o rosto corar e tratou de concluir a explicação. — Enfim, é mais ou menos isso que significa estar apaixonado, Gaara.

E voltou para a comida. Desligou o fogo e começou a arrumar a mesa onde eles iriam almoçar. Notou Gaara pensativo.

— O que foi? Não entendeu o que significa estar apaixonado?

— Não sei...– Gaara fechou o livro e o trouxe com ele, levantando-se do chão; foi se sentar para comer. — Bom, se eu entendi direito... Eu acho que eu estou apaixonado por você, Yashamaru.

Como resposta, o loiro riu alto.

— Pare de falar besteiras, garoto! O que você sente por mim é diferente de paixão – Yashamaru pegou uma tigela e serviu-se de um pouco de macarrão e depois fez o mesmo em outra tigela e a entregou a Gaara, junto com um raxi. — Paixão é algo que você sente por uma pessoa do sexo oposto, da mesma idade que você... Bom, pelo menos na maioria dos casos é assim! Ah, imagine seu pai e sua mãe: quando se casaram estavam apaixonados, por isso queriam ficar juntos um do outro para sempre. Deu para entender agora?

Gaara fez que não e Yashamaru suspirou.

— Esse assunto é complicado mesmo, então vamos deixar pra lá, talvez quando você fizer, sei lá, doze ou treze anos, a gente volte a conversar sobre isso. Agora coma seu almoço de uma vez... Apaixonado por mim, essa foi boa!

— Mas e você? Está apaixonado por alguém?

No instante em que ouviu isso, o jovem ninja engasgou-se com a comida que acabara de colocar na boca. Por que Gaara precisava fazer essa pergunta? E o que viria depois disso, “de onde vem os bebês?”

O loiro precisou de um pouco de água para se recompor. Bebeu dois goles bem generosos; Gaara achou graça daquilo e esperou a resposta com a cabeça curvada, apoiada em uma das mãos, cotovelos na mesa, um sorriso travesso no rosto.

— E então, Yashamaru, vai responder ou não?

— Bom... Pra falar a verdade... Tem uma pessoa. O nome dela é Tomoyo.

O menino abriu mais os olhos. Yashamaru notou o interesse na expressão do sobrinho e ficou ainda mais rubro. No entanto, Gaara era a pessoa perfeita para contar algum segredo, afinal, com quem mais o menino conversava senão com o próprio tio, com os retratos de sua mãe espalhados pela casa e com seus ursinhos de pelúcia?

— Ah, e como ela é? Eu a conheço? Ela me conhece?

— Quantas perguntas, ehm! Não, você não a conhece. Mas eu espero que um dia possa conhecer. E sim, ela te conhece – Yashamaru respondeu. Aliás, quem em Suna não conhecia o ruivo pálido, caçula do kazekage, que carregava o Shukaku dentro dele? — E ela é uma garota muito bonita, se você quer saber.

Gaara encarava o tio, com os olhos fitos em seu rosto, estudando-o, como se esperasse por mais.

— O que foi? Quer saber mais coisas?

Ele fez que sim, empolgado.

Com uma pontinha de timidez na voz, Yashamaru perguntou sobre o que Gaara gostaria de saber.

— Como é sua aparência? – ele respondeu a pergunta do tio com essa outra.

— A aparência dela? Bom, a Tomoyo é um pouco mais baixa que eu. Tem quase a minha idade. Ela tem olhos azuis, mas não como os seus, os dela são escuros como o céu da noite, sabe? E ela tem cabelos loiros, tão claros que parecem ser prateados, eles são compridos e lisos. Ah, e ela é muito divertida, gentil, inteligente e... Ora, o que foi?

Nada. Era só Gaara rindo baixinho enquanto observava o tio descrever a tal jovem, com cara de bobo, igualzinho à raposa de seu livro.

— Você está apaixonado pela Tomoyo! – ele disse, apontando para o rosto vermelho de Yashamaru.— Está sim, dá para perceber!

Quando o médico ouviu aquela frase, dita assim de maneira tão direta e inocente, constatou que aquela era a mais pura verdade. Yashamaru estava mesmo apaixonado pela sua amiga de infância. Sendo assim, já estava na hora de ele tomar uma iniciativa em relação a isso.

— Ao que parece, você já entendeu o que significa essa palavra!

***

Ao cair da tarde, Yashamaru começou a se arrumar para sair.

Durante todos os dias que esteve de folga até então, ele não saiu nenhum dia, nem ele nem Gaara, que, aliás, estava obedecendo à risca a ordem do tio de não vagar durante a madrugada pelas ruas de Suna, mesmo que isso o deixasse extremamente entediado durante as horas que Yashamaru estava dormindo e ele ficava sozinho. 

Porém, naquela noite haveria uma festa na aldeia em comemoração ao aniversário da filha mais velha do Quarto kazekage, que estava completando dez anos de idade. A festa era para toda a vila, qualquer um que quisesse vir até o centro de Suna poderia participar das comemorações e do banquete que seria servido; todos eram bem-vindos na ocasião tão especial para a família do kazekage.

Todos, menos um, é claro.

Yashamaru havia prometido a Temari que estaria presente. E além disso, Tomoyo estaria lá também, provavelmente. Então, naquela noite, Yashamaru se vestiu bem e começou a ensaiar sua fala para Tomoyo diante de um espelho.

— Tomoyo, eu preciso te contar uma coisa muito séria... Tsc, assim não! Desse jeito vou acabar assustando ela – Yashamaru se endireitou na frente do espelho, sorriu para a própria imagem refletida e começou de novo. — Tomoyo, gostaria de te contar uma coisa muito importante que eu estou sentindo já há algum tempo... Droga! Ainda não é isso.

Enquanto Yashamaru estava trancado em seu quarto, Gaara desenhava em um caderno no chão da sala, rodeado de lápis de cor e giz de cera, coloridos. Aquilo foi outro presente do pai. Acontece que Rasa frequentemente mandava alguém levar presentes ao menino. Às vezes era um brinquedo, outras vezes, eram caixas de lápis de cor ou canetinhas; roupas, livros, esse tipo de coisa. Rasa achava que assim poderia agradar o filho; foi a maneira que ele encontrou para recompensar Gaara pela vida miserável que ele lhe impôs. Uma maneira muito medíocre, por sinal.

Alguém bateu a porta, nesse momento. O menino levantou e foi atender.

— Boa noite, Gaara-kun. O Yashamaru está em casa?

Gaara não respondeu de imediato, isso porque ele estava mais ocupado observando aquela garota de cima a baixo; notou que ela era bonita, que tinha olhos da cor do céu da noite e cabelos longos, lisos e prateados. E então ele sorriu, com aquela expressão empolgada:

— Você é a Tomoyo! Por favor, entre!

Gaara agarrou a mão da jovem e a puxou para dentro, assustando-a com sua atitude; inevitavelmente, o menino era um jinchuuriki aos olhos de Tomoyo. Mesmo com Yashamaru falando do sobrinho sempre de forma tão positiva, ele ainda era o personagem das lendas sobre o Espírito da Areia na concepção da jovem médica. Embora a atitude de Gaara tivesse sido tão receptiva e amigável, o medo irreal do menino ainda estava lá, dentro dela.

— Sente-se aqui – ele falou, apontando o sofá. — Meu tio está lá em cima, eu vou chama-lo – Gaara saiu correndo, subindo as escadas que davam para o segundo andar, onde os quartos ficavam. Porém, no meio do caminho, ele recuou, voltando a ficar frente a Tomoyo. — Desculpe, mas você gostaria de algo para beber enquanto espera meu tio?

Era Gaara se esforçando mais uma vez para fazer alguma amizade.

— Não precisa. Mesmo assim, obrigada!

O menino sorriu de leve e saiu correndo de novo.

Ele bateu à porta do quarto de Yashamaru.

— O que foi, Gaara?

— Tio, a Tomoyo está aqui!

Houve um momento de silêncio. Gaara pôde ouvir um barulho alto vindo de trás da porta do quarto de Yashamaru. Em seguida, o jovem médico abriu a porta.

— Você se machucou quando caiu, Yashamaru? – o menino perguntou, rindo abertamente.

— O que? É claro que eu não caí – Yashamaru ficou vermelho; ele caiu sim. A frase de Gaara sobre Tomoyo estar ali que o tombou no chão, na verdade. — E-eu acho que não entendi direito. Você disse mesmo que a Tomoyo está aqui? Aqui, na nossa casa?

Gaara fez que sim, sorridente.

— Eu atendi a porta e agora ela está sentada lá embaixo, te esperando!

Yashamaru deixou uma próxima pergunta escapar de seus lábios, sem querer. Uma pergunta definitivamente desnecessária, que se ele pudesse, colocaria de volta em sua boca, palavra por palavra. Durante o restante daquela noite, essa perguntinha idiota dele o incomodaria constantemente:

— E você não fez nada de errado com ela, não é?

— Hm? –Gaara franziu a testa. — Algo de errado com ela? E o que eu poderia fazer de errado?

— N-nada. Esqueça o que eu disse... Vamos descer logo!

O jovem loiro desceu as escadas e viu Tomoyo sentada em seu sofá. Ela estava linda naquele vestido rosa claro que lhe caía tão bem, indo até a altura de seus joelhos e que valorizava muito a cor de seus olhos. Tinha os cabelos soltos e usava um colar bem simples no pescoço e brincos delicados nas orelhas.

— Yashamaru! Vim saber se você vai à comemoração do aniversário da Temari.

— Hai! Na verdade, eu estava pensando em passar na sua casa para saber se você também iria.

— Então parece que eu fui mais rápida que você, pra variar!

Yashamaru sorriu. “Eu não disse que ela tinha senso de humor, Gaara?”, ele pensou.

— Bom, então vamos? – a jovem se levantou, dirigindo-se a porta.

— Claro. Eu só preciso falar com Gaara por um minuto. Você se incomoda em...

— Já entendi. Sem problemas, eu espero lá fora.

Tomoyo se despediu de Gaara com um simples aceno de cabeça e ficou esperando do lado de fora da casa.

Yashamaru abaixou-se na altura do sobrinho como sempre fazia; Gaara já lhe lançava aquele olhar triste que o loiro tanto odiava ver.

— Tem certeza que eu não posso ir com vocês, oji-san?

— Já conversamos sobre isso, querido. Estou certo de que você não iria gostar de participar desse tipo de festa.

Gaara se irritou com a resposta que ouviu. Como ele não gostaria de estar no aniversário de sua irmã mais velha? Ele adoraria estar lá! Mas era sempre assim, ele não havia participado de nenhum tipo de festa em toda a sua vida, a não ser, é claro, seus próprios aniversários que eram passados em casa, apenas com Yashamaru. Quer dizer, houve uma vez em que Baki apareceu num 19 de janeiro; disse que estava passando por ali sem compromisso, desejou feliz aniversário a Gaara e foi embora logo em seguida. Yashamaru, no entanto, gritou seu nome e os três caminharam um pouco aquela noite.

Fora isso, ele não podia participar de nenhum tipo de comemoração. Como todo o povo de Suna se fazia presente para reverenciar e prestigiar o clã mais importante da aldeia, seria muito arriscado para todos se por acaso acontecesse de um aldeão se achar na obrigação de impedir o perigoso monstro de areia de chegar perto de Temari ou Kankuro ou o kazekage.

Mesmo com o coração partido, Yashamaru tinha que concordar que lugares lotados com gente bebendo e fazendo bagunça não era o indicado para Gaara e sua instabilidade emocional. Então, nada de festivais, nem comemorações, nem aniversários. Nada de Kankuro, Temari ou papai.

Na maior parte das vezes, Gaara aceitava a ordem e permanecia em casa esperando o tio voltar.  E fazia isso sem discussão. Naquele dia, porém, uma teimosia repentina fez o menino questionar a ordem do tio.

— Tem certeza disso, Yashamaru? Eu poderia ficar ao seu lado e você tomaria conta de mim e eu não causaria problemas a ninguém.

 

Um pequeno parêntese:

Leia de novo essa última fala do menino, por favor. Vai, eu espero.

Percebeu? Essa frase, na verdade, poderia ser compreendida como a grande sugestão de Gaara para toda uma vida com Yashamaru ao seu lado, não apenas para aquele momento. Mas não foi isso que aconteceu. O que aconteceria ao longo de sua existência seria o contrário de todas aquelas afirmações do menino: Yashamaru não ficaria ao seu lado. Ele não tomaria conta de Gaara. E Gaara causaria muitos problemas para muitas pessoas.

 

— Querido, eu já disse que você não pode ir. São ordens do seu pai, o kazekage. Não queremos desobedecer as ordens dele, não é mesmo?

Yashamaru deu um beijo na testa do menino de semblante fechado, braços cruzados contra o peito e se levantou em direção à saída. Pegou na maçaneta da porta e fez menção de sair.

Mas teve que voltar quando ouviu as palavras de Gaara:

— Eu quero ir também! – ele bateu um pé no chão. — A Temari é minha irmã e eu tenho certeza que ela quer me ver lá!

Gaara lembrou-se do momento com seus irmãos naquela noite: Kankuro e Temari e os biscoitos de chocolate. Ele sabia que a menina estava se esforçando para fazê-lo se sentir bem na ocasião. Por isso, a única coisa que o caçula queria era uma oportunidade de agradecer, de retribuir o carinho.

Yashamaru voltou e colocou-se frente ao sobrinho. Fitou seu rosto dali do alto por alguns segundos e depois pegou em sua mão e começou a leva-lo para o andar de cima. Às vezes esse “levar” parecia mais um “arrastar”.

— Eu não quero ir para o meu quarto, Yashamaru!

O jovem ninja não respondia, apenas caminhava com Gaara preso pelo punho.

— Onegai, me deixa ir com você!

Ambos entraram no quarto do menino. O loiro colocou Gaara sentado em sua cama. Ajoelhou-se frente ao sobrinho e segurou em seu rosto com carinho.

— Ouça bem, Gaara. Me desobedecer não é um bom caminho para você tomar, está me entendendo? Eu já disse que você não vai. Trate de aceitar e pare com essa pirraça.

Yashamaru se levantou e fez outra tentativa de deixar Gaara e rumar para a tal comemoração ao lado de Tomoyo.

— Assim que você sair, eu saio também! – a criança o desafiou.

Yashamaru respirou fundo, seus ombros pendendo para baixo. Voltou de novo para o sobrinho e dessa vez se sentou ao seu lado na cama, parecendo desanimado.

— Por que você está fazendo isso, querido? – perguntou de cabeça baixa, fitando o chão. — Você não é assim.

Gaara não respondeu de imediato. Mas depois deixou as palavras saírem devagar de sua boca.

— Eu só não quero ficar aqui... Sozinho.

— Eu sei disso, Gaara– Breve pausa. E depois, Yashamaru tentou uma coisa.

 

Significado de persuasão:

Estratégia de comunicação que consiste em utilizar recursos emocionais para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude, ou realizar uma ação (uma das habilidades mais afiadas do ninja-médico de nossa história, aliás).

 

O tio voltou a falar.

— Tudo bem... Quer saber? Você venceu dessa vez. Deixe-me apenas pedir desculpas a Tomoyo já que eu não irei mais acompanha-la hoje. E pensar que ela estava tão feliz em sair comigo pela primeira vez... É uma pena!

Yashamaru se levantou na certeza de que seu blefe tinha dado certo.

—..E pensar que Temari me fez prometer que eu estaria lá... Isso sim é pior ainda!

Depois dessa, Gaara caiu naquela simples simulação de Yashamaru. O ruivinho era inocente demais e tinha o forte hábito de acreditar em toda a palavra que saía da boca do tio. E em breve, isso se tornaria um divisor de águas em sua vida.

— Espere!

— O que foi, Gaara? – o jovem reforçou o olhar desanimado quando o encarou.

— Gomen, Yashamaru – ele se desculpou, colocando-se frente ao tio. — Eu não vou te desobedecer, prometo. Pode ir que eu fico aqui esperando você voltar.

Yashamaru abriu um pouco os braços e Gaara abraçou sua cintura. Aquele gesto do jovem persuasivo era sincero, apesar de tudo.

— Eu não vou demorar, também prometo.

Yashamaru saiu acompanhado de Tomoyo; finalmente conseguiu se soltar daquela situação, deixando Gaara para trás. Sozinho.

— Eu vou esperar aqui, oji-san... Vou esperar.

Mentira.

 

 

 


Notas Finais


E então, o que acharam?
Sabe, é muito importante pra mim saber o que meus leitores pensam sobre o cap. ou a fic, até porque, escrevo isso aqui pra vocês lerem!
Esse cap. foi mais tranquilo; no próximo, prometo a maior parte com o Gaara como protagonista, colocando mais uma vez suas garrinhas para fora, literalmente.

Ah, outra coisa! Estou pensando em postar no meio da semana também, não só aos sábados, porque acho que postando uma única vez na semana, vou demorar muito pra finalizar a fic, e não é essa minha intensão.

É, isso! Até mais, pessoal ^^

https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-naruto-cronicas-tres-irmaos-da-areia-gaara-godaime-kazekage-5305534


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