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História Aos Olhos do Mundo - As Devidas Apresentações


Escrita por: NoahBlack

Notas do Autor


Todos os personagens são ficcionais e não possui qualquer relação com a realidade.

Capítulo 1 - As Devidas Apresentações


Aos Olhos do Mundo

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Capítulo I - As devidas apresentações

 

As pessoas se movimentam rápido, indo de lá para cá, levando cadeiras, copos, águas, enfeites. Se eles ao menos soubessem que eu gostaria muito de ter feito isso na sala do meu apartamento, em que eu conheço cada enfeite, cada livro, cada marca do meu tapete. Mas não. Entrevistas são dadas fora de casa.

E eu sei quais perguntas virão. O fim de um relacionamento sobressai-se com facilidade diante de qualquer título ganho, não importa quanto tempo tenha sido. Devo mencionar o meu acidente? Oh, sim, devo sim, porque ele com certeza será lembrado na terceira ou quarta pergunta. Ajeitam meu cabelo e me maquiam, mas não de forma perceptível, pois querem passar a real imagem de que sou elegante e linda naturalmente e, para isso, é necessário esconder as minhas sardas e as minhas olheiras e até a breve cicatriz no supercílio.

Anne apenas me diz que será rápido. Bufo. Nunca o é. Quando me tornei o que sou não sabia que teria de lidar com tudo isso: fotos, entrevistas, pessoas. Mas aparentemente você não pode fazer o que quer e não ser pop.

"Boa sorte". Olho meu WhatsApp e Roger, como sempre, cuidando de mim. Ele sabe como necessito das palavras dele para me acalmarem. Eu sei lidar com um estádio cheio, mas realmente não sei lidar com câmeras.

— Olá, Lilian. É um imenso prazer poder te conhecer pessoalmente. – A repórter me estende a mão e um largo sorriso. Cumprimento de volta e me sento onde ela sinaliza. Eu sei que essa é a entrevista da vida dela – foi o que Anna e outros me disseram – e ela será invasiva para conseguir declarações que outros, mais experientes e mais quistos, não conseguiram tirar de mim.

Teste de microfones e de luz se iniciam.

— Você está nervosa? – Pergunto para a repórter e ela sorri de novo.

— Sempre fico um pouco nervosa, mas depois de tantas entrevistas, a gente meio que se acostuma.

— Já fez muitas?

— Olha só você. Sou eu quem deveria fazer as perguntas aqui, mocinha.

Mocinha. Não importa quanto anos você tenha, se você paga as suas contas e se faz a própria comida: se você iniciou jovem demais nesse mundo, criança então será para sempre.

Sinalizam com 1, 2, 3 e começa. A repórter se apresenta, me apresenta e faz uma pequena introdução sobre mim que nunca muda: palavras como prodígio, heroína e sobrevivente sempre aparecem nessa hora.

Eu fui prodígio.

Hoje sou mais um nome na lista.

— Lilian, foram mais de 3 horas de jogo na última final para agarrar esse título e, novamente, contra Serena. Como foi ganhar seu primeiro título do ano logo quando ele está quase acabando?

A primeira alfinetada.

— Sempre bom ganhar um Major diante da consistência das atletas apresentada durante esse ano.

— Conte para nós: ganhar de Serena teve um gostinho de vingança?

Anne está ao fundo, agarrada em seu Ipad e mordendo a boca. Ela sabe o que eu posso fazer, mas ela também sabe que não o farei. Dou um leve sorriso simpático.

— Serena e eu temos nossos respectivos respeitos e, apesar do meu trabalho árduo, enquanto eu perder para atletas conceituadas como ela, acredito que estou no caminho certo para encontrar meios de me reinventar para a nossa próxima partida.

— Então você assume que Serena é melhor?

— O posto de número um está com o nome dela, certo?! – Sorrio.

A repórter me olha e diz que sou humilde.

— Serena é mais consistente e em toda a carreira dela ela manteve os índices. Eu, às vezes, oscilei.

— Por oscilar você se refere ao tempo em que se afastou?

— Me afastei?

— Depois do acidente. Você ficou mais de 4 meses sem participar do circuito profissional.

Respiro fundo. Não achei que essa chegaria tão rápido.

— Na verdade, não. Quando eu me afastei, não tive escolha. Era o que eu tinha de fazer. Por oscilar me refiro mais ao fato de que esse ano minha performance em campo tem sido inconsistente_

— Por causa de assuntos pessoais?

— …diante da recuperação da dengue - e encaro a repórter que bem deve saber, se é mesmo repórter esportiva, que eu e a dengue nos encontramos no começo do ano e a recuperação dessa doença não é fácil. Perde-se muito líquido, muita massa e seu condicionamento físico despenca. E o que está em jogo também aqui é meu bom humor.

— A preocupação com doenças tropicais é um dos motivos para ter se mudado do Brasil?

A paciência que Deus me deu é muita. Não encaro a repórter, não procuro Anne entre os bastidores e tão menos roo a unha. Mas também não respondo, apenas rio, como se tudo fosse uma imensa piada – sem gosto.

Minha saída do Brasil em nada está justificada pelas doenças tropicais, pela crise econômica ou política e tão menos porque briguei com os meus pais, como algumas notícias irrelevantes propagaram na época.

Em cada oportunidade, a repórter tenta entrar no assunto, querendo pôr a culpa do meu ano esportivo no fato do relacionamento ter me desestabilizado. A mídia está louca para colocar essa máscara em mim, de garota que levou o pé da bunda e nunca mais se recompôs. Só que isso já faz mais de meses, muitos meses. Quase anos.

A entrevista acaba, a repórter estende a mão e diz que foi um prazer. Prazer? Retribuo e agradeço e também agradeço aos outros trabalhadores que estão ali. Tiramos fotos, autografo livros, cadernos, guardanapos e afins. Está tudo bem, digo para mim mesma.

— Que_

— Não precisa dizer, Anne – e me deixo escorrer pelo estofado de couro do carro. – Roger tem me guiado muito.

— Ainda bem que você tem ótimo tutor – e ela me encara, magoada.

Anne é minha acessora de imprensa – e praticamente secretária pessoal – e me treina para agir e falar de forma correta nas entrevistas e qualquer lugar social em que tenha muita gente para ver, escrever, falar, tirar fotos, filmar.

— Calma, você me entendeu. E ele nem sabe tanto assim porque a vida pessoal dele nunca foi manchete mundial de nada. Nem quando os filho nasceram.

— Enfim. Você é campeã olímpica e isso é considerado um ano irregular?!

— Ah... sim – respondo rapidamente enquanto somos guiadas para o estacionamento. – Não consegui cumprir o calendário do ano, estive ausente em alguns Masters realmente importantes e só ganhei a medalha, sabe-se lá como, e consegui por outro milagre o US OPEN esse ano, então... é. Ano irregular.

Mas discutir regularidade com Anne não é o caso para agora, mesmo que ela agora grite "mas você estava doente!". Entramos no carro, dou um olá animado para Mr Joffrey, o motorista que nos é sempre designado, e pergunto como ele está, se teve um bom dia até agora.

Anne abraça o Ipad de novo, arruma a postura no banco e batuca os dedos sobe a capa preta do aparelho. E, claro, morde o canto da boca.

— Alguma coisa que você queira muito me dizer mas não sabe como abordar o assunto?

— Não há nada que eu queira te dizer mas que não sei como abordar. – Ela responde com certa rispidez, porém ainda com um breve estado de ansiedade nos dentes. E ficamos em silêncio.

Eu apenas olho para ela.

— Gabriel me ligou.

O que exatamente ela quer que eu faça com essa informação? Estreito os olhos e a encaro um pouco incrédula e dúvida.

— Eu não atendi – acrescenta logo em seguida.

— Que insano seria ele usar o seu celular para tentar falar comigo – falo rápido enquanto ainda faço análise do comportamento dela para me dar a notícia e ela finge que não me vê.

— Acho que ele não sabe se deve entrar em contato diretamente com você – e então aquele aparelho está ainda mais junto ao seu peito e ela olha para os próprios pés. Sinal claro de piedade.

— Anne.

— Sim?

— Simplesmente não.

— Poxa, Lilian… – e larga o aparelho no espaço entre nós e se vira para mim com olhos pedantes. – O garoto está realmente tentando_

— Nem termine essa frase – sendo o mais seca e irônica que consigo.

— Por quê? Não houve nada de tão grave entre vocês; vocês eram tão_

— Não fomos. Não éramos amigos antes. Nos conhecemos, namoramos, terminamos. Ponto. São mais de dezesseis meses de silêncio meu, o que ratifica muito bem meu ponto.

Os lindos olhos azuis de Anne quase brilham pela amargura das minhas palavras. Eles estão travados em mim apesar de ela não querer me olhar agora porque acredito em nunca ter sido tão ríspida.

O mundo quer me reduzir a garota que não pode ser mais consistente em seu jogo por causa de um relacionamento que a mídia não conseguiu acompanhar. Ele pode fazer isso comigo porque eu não devo nada para o mundo; mas Anne não. Anne não pode estar ao meu lado, me guiando e me ajudando, e querer isso de mim também.

Ela sabe disso.

Por isso se ajeita de novo e vira a cara para o vidro e nós duas vemos uma linda Londres passar pelo vidros escuros do carro.

— Não esqueça de ver as correspondências de hoje – Anne me grita quando já estou quase fora do carro. – Tem um convite que parece que foi o próprio Benedict Cumberbatch que pediu para enviar para a sua casa.

Quem?


Notas Finais


A quem começou a ler e se interessou, muito obrigada ❤

Vergonha de comentar aqui? Tenta aqui então: https://curiouscat.me/NoahBlack

Obs: por pura preferência pessoal, escolhi por Mr e Srta nos tratamentos.


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