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História Aos Olhos do Mundo - O raio que não caiu pela terceira vez.


Escrita por: NoahBlack

Capítulo 9 - O raio que não caiu pela terceira vez.


Aos Olhos do Mundo

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Capítulo IX - O raio que não caiu pela terceira vez.

Serena e eu caímos nas semi-finais das simples. Fui derrotada pela alemã que deveria ter ganhado US OPEN e Serena para a eslovaca que, no final, consagrou-se campeã.

Eu joguei bem, mas "bem" não define os melhores. No meu sexto set, eu perdi a atenção. A torcida fazia-se presente e eu não consegui mais focar na bola.

Desde pequena fora assim: o mundo inteiro se calava e eu só ouvia a bola cortando o ar em velocidade, seu barulho quando atingia a raquete, o solo e até mesmo rede (o que era bem frequente quando comecei). E ali, de repente, tudo estava muito barulhento.

Demorei para me recuperar, mas já era tarde. 6/4 e 6/3. Atravessei a quadra, estendi a mão para minha adversária, parabenizei-a, cumprimentei o juiz e puxei as palmas para ela. Vestiário, banho rápido, troca de roupas, quadra novamente. Sorrisos, fotos, autógrafos, agradecimentos àqueles que tinham meu nome estampado em faixas na testa (na maioria crianças e surpresa foi ver alguns adultos também). Entrevista e pronto.

Voltei para o hotel e me deixei ficar um bom tempo na banheira. Sem música. Sem celular ligado. Sem televisão. Janelas fechadas. Luzes apagadas.

Breu.

Serena não veio até mim porque ela sabia que por detrás da derrota estava a perda do equilíbrio mental. E isso demora um pouco para assimilar, aceitar e restabelecer.

- Então, vai ser o tênis mesmo. - Papai estava sentado na poltrona e mamãe na outra e ambos me olhavam com um misto de expressões. Estava a um passo de me profissionalizar.

Cocei o braço enquanto tentava decorar os desenhos no tapete. Eu queria ser tenista? Eu tinha um plano: estudar, entrar numa faculdade, me tornar alguém. Eu queria ser tenista? Queria ter toda a minha rotina restrita a isso?

Eles já sabiam que seria. Eles viram em mim a fagulha que Roger viu enquanto eu batia bola no paredão com fones enfiados no ouvidos e batendo e dançando conforme a música.

- Como você faz isso? - Ele me perguntou.

Eu me virei e me deparei com o grande Roger Federman de braços cruzados e olhando para mim - e impressionado com o que via.

- Desculpe, é seu horário?

- Não... só queria saber como você faz isso: bate a bola, dança e quase não olha para a bola.

- Ah... é, bem - cocei a cabeça com raquete notoriamente constrangida com o que revelaria. - Eu escuto a bola.

- Escuta a bola?!

- Basicamente.

Ele me olhou ainda por uns bons segundos, me medindo de cima à baixo, passou a mãos sobre o rosto, colocou as mãos na cintura e olhou para os lados.

- Escuta a bola - repetiu e eu juro que já estava prestes a pedir desculpas. - Quer jogar comigo?

A mesma fagulha que John viria a encontrar anos depois.

Anos depois.

Anos depois.

A fagulha ainda existe em mim?

Horas depois - após dores de cabeça, as dores no ombro voltarem, compressas de gelo e depois de água quente, dores nos joelhos, mais gelo - estava tudo bem e até respondi às chamadas. Fui tranquilizada pelos meus pais, Roger, Rafa, Dan (e eu não mencionei meu ombro e joelhos). Tive que tranquilizar Anne. Mas não havia nada quanto ao Mr Benedict Cumberbatch.

- Você viu?

Serena arremessa sobre o meu corpo seu celular para ver a notícia. Alcanço o parelho com uma das mãos e ainda de barriga para cima, sentindo que a cama possivelmente já tenha o formato do meu corpo naquela posição, vejo a foto com a manchete.

Andrew foi fotografado saindo carregado de uma boate, e eu rapidamente devolvo o celular.

- Não posso fazer nada.

- Só espero que não seja você quem deva reconhecer o corpo no final.

Reprimo Serena pelo comentário e ela apenas me olha, com o pesar que não pode me dizer. Fico incomodada pelo fato de todo mundo só ver esse lado dele; afinal, Andrew é a pessoa mais contagiante, mais enérgica e elétrica que conheço - e ao mesmo tempo a mais auto destrutiva.

Eles teorizam sobre o consumo de álcool e quem sabe dos doces - mas fora eu quem tremia as mãos ao ver meu amigo à beira da overdose alcoólica sendo levado pela maca da ambulância corredor à dentro do hospital - e Willian, seu assessor, desesperado, porque precisava abafar o caso e tremia igualmente a mim.

Droga.

Desejei que fosse somente álcool e imediatamente escrevo uma mensagem para Willian, que confirma o caso.

"Ele está bem, Lilian. Obrigado pela preocupação".

- Você está pronta?

- Eu por acaso pareço pronta, Serena?! - É a única coisa que digo.

- Não vou me atrasar à cerimônia de encerramento por sua causa - e minha linda amiga de pele de ébano, que em muitas ocasiões passadas já passou pela situação constrangedora de me deixar passar a bochecha em seu braço, está me encarando em fúria.

Levanto-me rapidamente e começo os preparativos. Para o gosto dela, permito que escolha minha roupa, meu sapato, acessórios e quase o que vou poder comer durante.

É o oitavo dia.

Divirto-me junto das outras atletas, cada qual podendo contar causos engraçados, embaraços e dificuldades. Fotos de todas juntas, com os troféus, com os organizadores e presidentes da WTA.

Eu consigo um voo logo pela manhã e já no aeroporto sou bombardeada por um foto: Mr Cumberbatch saindo de um restaurante de mãos dadas com uma mulher. Choque? Talvez, ou não. Ele esteve em silêncio nos últimos dias - e com esse pensamento logo em seguida todo o meu raciocínio sobre a partida quase me sufoca o peito. Uma leve pontada. Só que no ombro.

- O que você acha disso, Lilian?

- Que é seguro dar a mão para atravessar a rua - respondo e eles riem de mim. - Fiquem atentos vocês também. Deem as mãos uns aos outros e não esqueçam de olhar para os dois lados da rua, hein?! - Me despeço amigavelmente e vou para a sala de embarque.

"Já está voltando?"

" Sim", respondo para Roger.

"Vai trazer presente?"

"Tenho uma munhequeira usada, se quiser".

"Está autografada?"

"Tem praticamente meu DNA nela, vale mais que um autógrafo".

"Aceito. Traga-me 3 pares de tecido com sua saliva. Leo e Harry estão ansiosos para te ver".

"Okay. Anotado, chefe".

"Boa viagem".

Mando mensagem para Anne antes de embarcar. Na minha lista de últimas conversas, Benedict Cumberbacth já não aparece mais, porém, procuro por ele mesmo assim. Começo a digitar "e o café" mas apago logo em seguida - e continuou observando o cursor piscar.

Fecho o WhatsApp e desligo o celular.

Melhor que seja assim.



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