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História Aos Olhos do Mundo - O bom filho à casa retorna


Escrita por: NoahBlack

Capítulo 15 - O bom filho à casa retorna


Aos Olhos do Mundo

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Capítulo XV - O bom filho à casa retorna.

A maioria das pessoas possuem uma comida como seu conforto emocional. A minha, por exemplo, é o achocolatado quente. Seguro a caneca roxa - a minha caneca roxa, presente dos gêmeos - entre as duas mãos e aprecio o calor emanar da louça para a minha pele.

Roger está sentado ao meu lado e massageia levemente minha nuca enquanto eu sorvo mais um pequeno gole. Na caneca dele há o chá que em breve ficará gelado se ele não o tomar logo.

- Achei que você não tinha qualquer memória.

Sua voz não é acusadora, muito pelo contrário, é de tom revelador. Parte da revelação - na verdade - quer me fazer tranquila, quer me ver respirar em paz novamente.

E eu só quero encarar as ondas que o meu sopro proporciona ao líquido dentro da caneca.

- É só um filme. - Começo e eu mesma não tenho coragem de dar continuidade a minha linha de pensamento.

- Você tem ido à psicóloga? - Faço aceno afirmativo. - E o que ela diz?

- Não falo sobre o acidente, Roge.

- Como_ - e eu só o escuto respirar fundo. - Tudo bem. A gente não sabia que estava tudo aí até o acontecido de hoje.

Quando ele usa a primeira pessoa do plural para designar os meus problemas, me arrependo por apenas correr até ele quando minhas paredes tremem. Estico minha mão para alcançar o joelho dele e então poder enfim olhá-lo.

- Acho que estou melhor, Roge.

- E isso quer dizer que no máximo vai me pedir uma calça e uma blusa emprestadas. Não vou te deixar sozinha hoje.

Aninho-me em seus braços enquanto ele me abraça e aceito o empréstimo: de pijama improvisado e largo, de cama e de colo.

Em alguns poucos dias parto para Zhuhai para o último campeonato de premiação do ano. A logística certa seria eu viajar direto para lá ao invés de voltar para casa. Eu só voltei por causa da première e eu nem ao menos pude aproveitá-la.

O que teria acontecido entre Mr Cumberbatch e mim?

"Hey, como está?". Faz algum tempo que ele me enviou a mensagem, mas eu não tive como responder. Olhando agora para a tela, vejo que ele me desejou boa noite e respondo o mesmo com uma carinha de sono ao final.

E obviamente que não consigo dormir. Às sete horas da manhã escuto uma movimentação na casa. Levanto-me, refaço o laço do cadarço da calça para ficarem mais justas ao meu corpo - porém não confio muito nele - e abro a porta em tempo de ver Leo e Harry segurando uma bandeja de café da manhã para mim.

- Hey! Olha só que surpresa boa! - Agacho-me diante deles para conseguir dar um abraço em cada um de bom-dia. - Bom dia, meus monstrinhos!

- A gente trouxe comida para você, Lili.

- Oh, meu Deus! Seus pais sabem que vocês mexeram no fogão?

Eles riem de mim e revelam que cada um perdeu um dente da frente. Seguro a bandeja e falo que tomarei meu desjejum com eles lá na cozinha, assim, ficamos todos juntos.

- Ele caiu ontem - conta Harry, muito animado com a ideia de poder perder os dentes e crescerem de novo.

- Bom dia, querida. - Mirna vem até mim para auxiliar com a bandeja e os dois meninos enroscados em meus braços. - Sente-se aqui. Dormiu bem?

- Sim, muito bem - minto, mas usufruo do meu melhor sorriso. - Dia de irem para escola? - E em uníssono me respondem sim mais animados do que eu era na idade deles.

- Bom dia, bom dia. - Roger aparece pela porta da cozinha, já com a gola da camiseta suada, e dá um beijo na esposa, um em cada cabeça de filhos e um na minha testa.

Conversas matinais em família. Leo conta sobre o sonho - que para mim soa como pesadelo, mas ele se mostra muito excitado com todos os detalhes que lembra (ou diz que lembra). Eles terminam de comer e sobem correndo para se trocarem e escovarem os dentes.

- Vou levá-los à escola - Roger me diz enquanto estica a mão pela mesa para tocar a minha. - Quer ir comigo?

- Claro. Vou aproveitar a sua carona, na verdade - e sorrio.

No caminho, cantamos músicas infantis que eu só conheço por causa deles e, ao chegar na escola, eles me pedem para que eu desça e conheça a professora. Busco a intervenção de Roger, mas ele apenas ri de mim e me vê saindo do carro com um boné dele enfiado na cabeça e segurando o cós do moletom para que ele não caia. Sim, ainda estou de pijamas.

Após as apresentações e um autógrafo, me despeço dos meninos com beijos e abraços apertados e a promessa de que farão um desenho para mim.

- Obrigada por isso - digo assim em que fecho a porta do carro.

- Não achei que você iria de verdade.

- Você sabe que eu não consigo negar coisas para eles.

- É... vou enviar agora mesmo para Daniel e Rafael as fotos - e então percebo o Iphone com a minha cara na tela. Apenas o observo rir da situação e enviar todas as cinco fotos que tirou de mim. - Então, - volta ele, após ligar o carro e girar o volante para sairmos - não dormiu nada, hein?!

- Nops.

- Teve pesadelos?

- Nops. Por "não dormir nada" eu me referi a de fato não dormir nada, tornando-se inviável a parte dos pesadelos.

- Lil, você sabe que eu posso fazer várias perguntas a respeito de como você está, como se sentiu e como foi cada pormenor de sua noite, mas não vou abordar nenhum assunto que você não queira.

- Eu sei, Roge... mas é que passou. Ontem eu me desesperei; me vi numa situação que beira o absurdo de algum tipo de trauma evidentemente atrasado e corri para você.

Como sempre faço.

- E fico feliz que você ache a minha casa segura para você, querida... - e nada vem depois disso. - Falar de coisas felizes?

- Como..?

- Como foi ontem, antes de tudo acontecer.

- Foi uma première com pessoas famosas e afins. - E antes que ele ralhasse comigo, emendo - mas se você está interessado em Mr Cumberbatch.

- Com certeza estou.

- Darei todos os detalhes se você me responder uma coisa antes - e o vejo bufar e revirar os olhos. - Como essa pessoa só me foi apresentada agora? Vocês são amigos íntimos, mas eu nunca o vi na sua casa antes, ou em festas, ou_

- Esse assunto não diz respeito a mim, apenas a ele.

- Roge... - passo a mão pelo meu cabelo todo embaraçado pelo penteado da outra noite. - Ele conversa comigo, me manda mensagem, diz que é um grande fã, me manda flores, dispensa Anne de ir me buscar no aeroporto para ele mesmo aparecer lá e me levar para tomar café no Mr Nolan. Eu preciso saber as referências dele!

- Vocês já saíram juntos então.

- Roge, sério? - E  reprimo com o olhar. - De tudo o que eu falei é nisso que você prestou atenção?!

- Entendi tudo, Lil. O cara aparentemente te viu uma vez e aparentemente mantém contato até com a sua acessora para te surpreender e saírem juntos.

- Não bem "juntos" - e faço as aspas com os dedos, - mas ele me fez a surpresa ainda ontem de manhã.

Roger sorri, satisfeito.

- Bom... a verdade, querida, é que vocês já se encontraram tantas vezes em eventos sociais que quando ele me contou que você não o reconheceu eu mal pude acreditar.

Endireito as costas no assento como forma de protesto. Como assim já nos encontramos? Digo a Roger sobre a impossibilidade insana desse fato porque, afinal, com certeza eu me lembraria dele. A voz, o sorriso e definitivamente a altura.

- Não lembro direito quando foi, mas é óbvio - e enfatiza bem essa parte - que eu mencionei você para ele porque quando nos conhecemos eu falava de você para todo mundo.

Sinto minhas bochechas corarem. Eu sei desse fato - afinal, estava lá quando as pessoas estendiam suas mãos a mim e me designavam como "a garota do Ferdeman". Eu parecia a irmã mais nova tímida que se enlaçava no braço do irmão para conseguir se esconder dos olhares. Às vezes ainda o faço, mas de forma muito mais categórica.

- Espera... acho que foi em Wimbledon de 2007. É, foi sim. Eu ganhei o título e vocês estava juntos no meu camarote.

Impossível!

- Não pode ser, Roger - eu quero enfiar minha mão dentro da minha boca nesse momento. - Porque ele me disse... quer dizer, me fala que a gente não se conheceu antes por causa dele. Quer dizer... como tudo isso? A gente conversou em Wimbledon? Fomos apresentados? Ele estava na sua festa?

E ele concorda com todas as minhas suposições.

- Você não vai me contar mais além disso, não é?!

- Gostaria de não precisar contar. - Concordo e olho para fora do carro.

- É algo muito ruim? Quer dizer... ele é casado? Matou alguém? Criminoso sexual? Agente secreto do governo? Espião de um outro governo, talvez?

- Não - meu amigo responde entre uma risada seca. - Não... Ben é uma boa pessoa, Lilian. Um dos porta-vozes do movimento LGBT e do feminismo e crianças carentes. Extremamente bem humorado e nunca, jamais, faltará com o respeito com você.

Fico alguns segundos em silêncio antes de dizer baixinho:

- Gabriel tinha bons precedentes também.

- Gabriel não tinha precedentes, essa é a diferença, e descobrimos que não tinha caráter também - sua irritação com a citação do nome chega até queimar minha pele. - Aliás, acho melhor você se preparar. Me falaram que o cidadão está em Londres.

- Eu sei - e meus pés se tornam duas figuras bem interessantes para se observar, mas sou obrigada a falar porque sei que a parada abrupta do carro no semáforo foi intencional. - Ele... ele me procurou ontem.

- E você mencionaria tal fato apocalíptico em que momento dessa nossa linda manhã?

- Naquele em que eu não precisaria. Qual é, Roge, estou aqui falando de Benedict Cumberbtach, o homem em que quando eu digito as três primeiras letras do nome o google já completa, tentando descobrir o que foi que o impediu de vir até mim nesses nove anos segundo as suas informações, e quer que eu fale do Gabriel?!

Coço a cabeça de novo e respiro bem fundo. Não quero alterar minha voz com Roger. Não hoje.

- Eu... eu não quero falar do Gabriel. Não quero saber porque ele veio atrás de mim, não quero saber o que ele faz em Londres, se foi expulso do time ou qualquer outra brilhante novidade que ele acha que eu preciso saber. Eu quero ir para minha casa, tirar esse laquet todo do meu cabelo e não me preocupar se essas calças vão cair até os meus pés - e o som da risada divertida de Roger se torna melodia para mim. - E, sim, quero ligar para Mr Cumberbatch e tentar explicar tudo. Se você diz que ele é uma boa pessoa, eu vou acreditar.

- Okay. Só me prometa uma coisa - ele me espera concordar. - Se o Mr Gabriel quiser se encontrar com você, coisa que eu acho que ele vai tentar, por favor, me prometa que não será na sua casa sozinha. Me deixe alerta.

- Prometo.

O carro está parado na frente da torre do meu apartamento.

- Você tem compromissos hoje?

- Não - responde meu mentor. - Quer que eu fique com você?

- Queria que você passasse o dia, se Mirna permitir.

Hoje se torna, então, o dia oficial de sermos como éramos. Roger Federman e Lilian Lunière contra o mundo - munidos de bolinhas verdes e raquetes (e calças que de fato me sirvam).



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