1. Spirit Fanfics >
  2. Apartamento 316 - TaeKook >
  3. Three

História Apartamento 316 - TaeKook - Three


Escrita por: lalipoolis e yoonie001

Capítulo 4 - Three



Jungkook
Era uma tarde estranhamente chuvosa, estávamos em pleno verão e as pingas de água grossas caíam intensamente lá fora. O delicado ser de cabelos azulados permanecia encolhido na cadeira em frente ao balcão, brincando com os seus pequenos dedinhos e evitando qualquer conversa possível. O silêncio pairava no ar, sendo que os únicos sons que poderiam ser ouvidos eram a chuva fora de estação e nossas respirações pesadas. O rapaz aparentava um nervosismo palpável, suas pernas tremendo em expectativa e, contra meu pedido, continuando a morder os lábios secos.
Eu ainda esperava uma explicação pela sua aparição repentina em meu apartamento, para além de devolver o objeto que me pertencia. O rapaz usava aquele velho moletom vermelho, com um grande furo no bolso, o mesmo que usara na primeira vez que me batera à porta para me pedir o sal. Arrisquei uma conversa, perguntando com cuidado para não o afugentar.
— Então... quantos anos você tem, Taehyung? — questionei, recebendo pela primeira vez os olhinhos brilhantes sobre mim.
— Tenho vinte e quatro anos, Jungkook. — respondeu, ainda baixo. Será que era muito repreendido quando mais novo? Geralmente, crianças que recebem bronca o tempo inteiro por falar, tendem a se tornar adultos mais quietos e fechados, Jin me contou uma vez. — E você? — indagou, me tirando dos devaneios.
— Vinte e dois. — respondi, abrindo um sorriso por estarmos desenvolvendo uma conversa. — Pensei que você tivesse vinte e seis ou vinte e sete. Parecia mais velho. — solto um riso anasalado para descontrair o clima tenso, porém, ele não devolve. Engulo um seco imaginando que, talvez, ele esteja se sentindo cada vez mais desconfortável. — Você frequentou a faculdade? — sua expressão indiferente se transformou em tristeza, ele primeiro assente com a cabeça e depois murmura a afirmação. — Em que curso se formou?
— Música. — respondeu, achando cada vez mais interessantes os seus dedos, se encolhendo tanto na cadeira que eu poderia jurar querer se fundar com ela. — Era minha paixão, mas não exerço mais.
— Por quê? — indago, verdadeiramente interessado no assunto. Taehyung poderia ser um bom músico até, mas nunca vi ele pisar para fora de casa. — Você chegou a lançar alguma coisa?
— Motivos pessoais e não. — respondeu, concluindo o assunto e, muito provavelmente, querendo acabar a conversa por ali mesmo. Consegui perceber que Taehyung era uma pessoa fechada, tímida. A maneira como ele olhava continuamente para o chão e se remexia na cadeira em desconforto demonstrava que não queria estar no mesmo cômodo que eu, ou, talvez, ainda não estivesse à vontade comigo. Não conseguia tirar os olhos dele, mesmo que eu estivesse parecendo um pouco amedrontador, eu estava apenas curioso, queria saber mais e mais.
— Taehyung. — o chamei, recebendo um resmungo, as orbes escuras voltadas para mim. Percebendo que ele havia arrancado mais uma pele da boca, suspirei. — Por favor, pare com isso, está se machucando. Isso pode ficar muito pior se continuar. — ele lambeu os lábios e parou, mas não demorou muito para retornar a fazer.
Uma ideia piscou em minha cabeça, levantei e fui em direção ao banheiro, enquanto seus olhinhos acompanhavam meu passo. Retornei e lhe entreguei um hidratante labial novo.
— Isso vai ajudar a cuidar dos seus lábios. — digo, enquanto ele pega a embalagem curioso. — Assim ó. — fiz o movimento de como funciona, passando meu indicador pela minha boca, o que o fez rir, acabei o acompanhando. — Desculpa, eu sou um pouco idiota.
— Eu sei como funciona, Jungkook. — disse, me devolvendo o objeto e negando com a cabeça. — Obrigado, mas não posso aceitar.
— É um presente. — rebato, tentando convencê-lo e lhe empurrando o protetor labial. — Sei que é meio estúpido, mas vai te fazer bem. É novo e eu tenho mais para mim, se for esse o motivo pelo qual não pode aceitar.
Ele olha para o batom pensativo e, então, o enfia no bolso, fazendo com que lhe escapasse o celular que estava pendendo no buraco. Em um reflexo rápido, tento alcançar o aparelho, porém ele acaba indo de encontro ao chão, partindo a tela.
— Nossa. Eu sinto muito. — digo, me sentindo um pouco desconfortável pela situação. Taehyung apenas dá de ombros e aceita o celular de volta, resolvendo colocar no bolso da calça desta vez. — Deve ter um conserto aqui perto, não se preocupe.
Porém, quando o encaro, seu semblante chega a ser tranquilo para alguém que acabou de trincar a tela de um aparelho telefônico.
— Não se preocupa, é antigo mesmo. — ele ia retornar a morder os lábios, mas parou assim que percebeu.
Permanecemos um pouco em silêncio, as trovejadas fortes soando no lado de fora. Eu olhava para ele, absorvendo cada parte de seu rosto, já que o resto de seu corpo era totalmente coberto. Acabei encontrando várias pintinhas espalhadas e, por uma razão desconhecida, queria levar minha mão e passar com meus dedos por elas, mas óbvio que não o fiz. Taehyung, por sua vez, observava todo o apartamento, atento aos detalhes, parecia nem se importar com o momento — nem notar o olhar penetrante que eu, provavelmente, estava lhe dando —.
Então, num segundo, seus olhinhos se encontram com o relógio de Jin, se arregalando. Ele pula da cadeira e se apressa até a porta.
— Eu estava pensando... — começo, um pouco confuso pela rapidez repentina, mas recebendo sua atenção antes do mesmo levar a mão à maçaneta da porta. Vou ao seu encontro. — Você e seu namorado poderiam vir aqui em minha casa um dia destes. Estou planejando fazer um open house para meus amigos e familiares, para além de alguns moradores aqui do prédio. O que você acha?
Dessa vez, Taehyung não teve uma reação inexpressiva, mas, ao contrário do que eu esperava, ele sorriu triste, girando a maçaneta, fazendo com o vento gelado do dia de chuva entrasse.
— Melhor perguntar para meu namorado. — respondeu, decidido na sua fala, mesmo que seu semblante não fosse um pouco agradável. — Ele lhe dará uma resposta mais apropriada. — Taehyung observou o corredor e seu corpo se enrijeceu de imediato, como se tivesse enxergado alguma ameaça, fazendo com que eu ficasse também em alerta. — E-Eu realmente tenho que ir agora.
Tentei fazer uma despedida mais formal, porém, apenas pude observar seu corpo magro correr e se trancar dentro do apartamento à minha frente. Eu me perguntava como suas pernas aguentavam o peso de seu corpo, eram tão finas que podiam ser comparadas a palitos. Como ainda demorei para fechar a porta, encarando a sua por alguns momentos, consegui ver o seu namorado aparecer, buscando suas chaves dentro do bolso enquanto lutava com um guarda-chuva molhado. Vestia sua carranca natural, talvez estivesse ainda mais fechada hoje — se isso fosse possível —.
Assim que encontrou o seu molho, ele me encontrou parado e, rudemente, indagou. — O que você está fazendo aí parado?
— Ahhh... — por sorte, ou ironia do destino, encontrei alguns avisos em cima do tapete e, novamente, utilizei como desculpa. — Eu vim aqui pegar os avisos do condomínio. — peguei nas folhas e lhe mostrei, tentando esboçar um sorriso antes de fechar a porta, evitando conversar mais com aquele homem ranzinza.
Porém, fui mais esperto. Mantive meu ouvido encostado na madeira e, quando finalmente me dou por vencido de que nada iria acontecer, já escuto um grito, que se segue de outro e mais um. Meu instinto avança para destrancar a porta e bater no apartamento, mas a parte racional de meu cérebro me contém, repetindo as palavras de Inah e Soojin. "São um casal problemático, apenas isso". Assim que retorno para a cozinha para lavar o copo usado, encontro o hidratante labial pousado em cima do balcão. Por Deus, Taehyung era muito traiçoeiro.
Solto um riso anasalado e o deixo separado em algum canto, convencido de que faria ele aceitar isso e cuidar daqueles lábios tão bem feitos. Assim que termino a tarefa e passo pela porta indo em direção a sala, escuto o som de algo quebrando entrando em contraste com os trovões da chuva, me fazendo parar de súbito e encarar a minha madeira, desejando ter algum super poder para poder enxergar através dela.
Ah, Taehyung... eu adoraria saber o que se passa com você. E eu não me chamo Jeon Jeongguk se não descobrir.
��
Era sexta-feira, no horário de almoço, e também fim do meu expediente. Eu e meus colegas do trabalho resolvemos comer fora da empresa para comemorar a chegada do fim-de-semana e nada mais divertido do que almoçar em um restaurante de rua, certo? Assim que ficamos todos satisfeitos e dividimos a conta entre os cinco, chegou a hora de nos despedirmos. Trocamos algumas gracinhas, abraços e palavras de despedida, então cada um entrou em seu carro e, um por um, saímos de onde estacionamos.
No entanto, antes mesmo de eu poder sequer dar a partida em meu veículo, avisto uma loja de roupas. Reparei que estava aberta, com a vitrine recheada, bem bonita e exposta. Algo, em especial, atraiu minha atenção. Um moletom vermelho. Ora essa, seria impossível mirar esta peça sem se lembrar de Taehyung, afinal, parece ser a única roupa que ele tem.
Penso um pouco, hesitante se eu deveria ou não comprar tal peça de roupa. Ambos os lados discutindo entre emoção e razão. Ele ficaria feliz em ganhar um moletom novo, não ficaria? O seu já estava velho e, à conta desse pormenor, ele teria que gastar um bom dinheiro na reparação de seu celular. Mas, e o namorado dele? E a regra de Soojin de não se aproximar do 316?
Com um suspiro pesado, sinto meu telefone começa a tocar, a tela brilhante mostrando o nome "Hyung", o nome do contacto de Seokjin. Na hora certa, me atrevo pensar, alcançando o celular e apertando para atender.
— Eu realmente espero que você não tenha colocado fogo lá dentro ainda. — saudou Seokjin, sua voz era ofegante, ele acabou me fazendo rir. — E aí? Como está? Já faz dias desde que entreguei as chaves e você nem ousou em me chamar.
Sorrio para o nada. Seokjin sempre foi assim, preocupado, atrevido e, talvez, um pouco emocionado demais. Cuida de mim como se eu fosse seu irmão mais novo e, quando eu estava em Miami, me ligava, pelo menos, duas vezes a cada dois dias.
— As coisas estão um pouco corridas. — respondo, ainda mirando a loja de roupas mais à frente, não perdendo de vista o moletom bonito e chamativo. — Trabalho, apartamento e descanso, sabe como é.
— Sim, eu imagino. — ele fez uma pausa e falou com uma pessoa do outro lado na qual eu não reconheci a voz, depois, retornou para a ligação, com um tom de voz mais preocupado. — Mas... está tudo tranquilo aí?
Penso por um momento, olhando para as chaves de Seokjin recheadas de chaveiros do Mario Bros. Pelo seu tom de voz mais pesado, percebi que ele já não estava mais se referindo a mim, ou ao próprio apartamento. Com certeza se, ele tivesse alugado o 315 antes, teria recebido reclamações da gritaria do apartamento mesmo em frente.
— Está sim. — decido por fim, mordendo o lábio inferior, rindo por me lembrar da repreensão que fiz em Taehyung e, agora, estava aqui fazendo o mesmo. — Não se preocupe, hyung. Eu sei lidar com os problemas se eles aparecerem.
Seokjin hesitou por um momento e parecia ter afastado o telefone para falar com outra pessoa, o que não adiantou muito já que ele fala alto demais. Entendi poucas palavras, visto que a qualidade ligação não era lá a das melhores. Seokjin retornou ao telefone e percebi que travou várias vezes antes de dizer, como se fosse um discurso ensaiado.
— Sabe que, se quiser, pode ficar na casa de Hoseok. Ele costumava viver aí e sabe como as coisas são. — iniciou, me fazendo engolir em seco. Então, quem morou anteriormente ali tinha se mudado pelas discussões do casal... Mas porque elas eram tão frequentes assim? — A gente ajeita as contas e...
— Não. Jin, eu quero ficar. — o interrompo. Realmente, o que eu mais queria no momento era saber, dramaticamente dizendo, sobre o mistério do apartamento 316 e, mesmo que eu tenha noites perturbadas de sono, tardes em que não consiga assistir à televisão ou o corpo em alerta praticamente as doze horas restantes do dia, eu quero saber o que se passa ali dentro e o que há com Taehyung. — Não estou verdadeiramente incomodado, sabe que nunca liguei para essas coisas.
Seokjin não diz nada, mas consigo imaginar que ele assentiu com a cabeça. Ele contorna o assunto, falando sobre uma academia que estava frequentando, na qual ele estava agora. Depois diz algo sobre estar com saudades e acabamos desligando comigo dizendo que tinha mais obrigações para fazer antes de parar em casa. Obrigações como comprar um moletom para Taehyung. Ideia imbecil, decidida de última hora. Não sei qual é o número que ele usa, por mais que nossa altura seja, praticamente, a mesma. Taehyung é magrelo e parece usar roupas completamente acima de seu número, mas se ele se sente confortável assim, quem sou eu para julgar?
Talvez ele não gostasse de mostrar o corpo fino e preferisse esconder por baixo das vestimentas. Mas porque é que o homem era tão magro, afinal?
Assim que desci do carro e corri em direção à vitrine, uma moça simpática veio me ajudar. Depois de eu explicar a estatura de Taehyung e recusar umas diversas vezes números menores do qual ele aparentava gostar de usar, consegui o clássico moletom vermelho, sem bolsos furados, menos encardido, velho e desbotado. Quero dizer, eu havia acabado de comprar, estava novinho emfolha! E, por mais que eu não meta a colher entre intrigas de casal, eu realmente queria fazer com que Taehyung sorrisse, pelo menos por cinco milésimos, queria que ele ficasse feliz e que pudéssemos nos tornar bons amigos, talvez, assim, ele se sinta mais confortável em se abrir comigo e me dizer o que realmente acontece detrás daquela porta. E, no momento em que eu estava pagando o moletom, eu decidi que faria tudo por Taehyung.
��
O tempo havia melhorado de uma maneira significativa desde a última vez que vira Taehyung, ou seja, desde a tarde em que ele estivera em minha casa. Hoje, o sol brilhava, transmitindo um calorzinho gostoso, o som do canto dos pássaros podia ser ouvido com clareza e eu sabia que o verão não tardava em chegar.
Enquanto subia as escadas até ao terceiro andar, meus sapatos batendo contra o chão de porcelana, tentava ganhar coragem para bater à porta do de cabelos azuis e lhe entregar o presente que havia comprado a pensar especialmente nele. Esperava que ele não estivesse acompanhado do namorado, afinal, eu não sabia como Yesung poderia reagir caso me visse entregando aquele moletom bonito a seu precioso parceiro e, mesmo que minha vida não seja lá a mais organizada, não gostaria de estar próximo da morte.
Por gritarias que já escutei em certas noites e madrugadas, é perceptível que Yesung é alguém bem ciumento, de nível ao extremo. Isso, também, é possível de se notar apenas ao mencionar Taehyung em sua frente. Uma vez quando fui pegar algumas contas nos correios, Inah apareceu e, ignorando o próprio conselho que havia me dado, indagou sobre Taehyung. De esguelha, consegui observar Yesung lhe lançando dois olhos em chamas e, se tivesse aplicado um pouco mais de força, teria amassado sua caixa metálica de recibos.
Assim que chego na porta do apartamento 316, sinto toda minha coragem de antes se esvair como água. Tento me acalmar, ora essa, era apenas um presente! Nada de mais. Apenas queria me tornar um amigo e, talvez, se ficássemos muito próximos, ajudar com seja lá o que aquelas pupilas dilatadas escondem. Uma sensação de nervosismo atinge todas as minhas extensões. E se ele não gostar? E se Yesung estiver aí? E se...
Com o coração a milhão dentro do peito, balanço a cabeça, numa tentativa, claramente, falha de tentar afastar esses pensamentos. Ergo uma das mãos e dou batinhas na porta, apenas aguardando que fosse aberta, o que não foi de tanta rapidez. Aperto o pacote em meus braços e novamente toco na madeira que, então, se abre.
O semblante de Taehyung é confuso de primeira, mas logo se torna em espanto assim que seus olhos alcançam os meus e posso sentir meu coração falhar uma, duas, três batidas pela ansiedade. Minha parte racional, que por algum sinal havia se perdido horas atrás, completamente arrependida, querendo forçar meus calcanhares a girarem e irem de volta ao caminho de meu apartamento. Porém, não faço isso, era agora ou nunca.
Mais idiota que eu, apenas dois. Por Deus e por todas pessoas do bem, o que diabos eu estava fazendo? Sequer tínhamos nos conhecido direito e eu já estava lhe oferecendo presentes como se fosse algo normal. Eu tinha que me acalmar, uma parte de mim gritando que era loucura e outra dizendo que não era nada de tão grandioso. Um turbilhão de pensamentos voando e correndo de lá para cá. Porque é que, quando se trata de Taehyung, tudo tem que ser tão estranho e confuso?
— Jungkook, tem como acelerar? — o dono de meus devaneios me desperta, seus olhinhos, inspecionando os cantos dos corredores. Eu estava do o mesmo jeito que ele quando tocou minha campainha para pedir o sal, tímido e medroso. — Você quer entrar? É melhor falarmos aqui dentro, vamos.
Não tive muito tempo para argumentar, apenas agradeci quando ele me puxou para dentro e fechou a porta, rapidamente a trancando. Ao contrário do meu, seu apartamento era menor e escuro, afinal, não existiam muitas janelas, o que achei bastante estranho, visto que já havia estado em casa de Soojin e Inah e ambas eram bastantes bem iluminadas. No centro na sala, existia um sofá amarelo, o qual eu já tinha visto quando Yesung me apanhou a ouvir o que se passava.
— Jungkook, não é para demorar aqui dentro também. — Taehyung repreendeu, me fazendo olhá-lo, seus olhos brilhavam e ele apertava os dedos. Será que ele não me queria aqui? Mas, afinal, ele que me tinha convidado a entrar.
— Porquê? — indaguei, meu rosto totalmente em dúvida, porém, antes que ele respondesse, prossegui. — Eu incomodo você?
Taehyung olhou em volta, abrindo a boca e tentando formular uma frase, mas ele acabou por desistir. Parecia estar com pressa, como se algo de muito importante fosse acontecer, mas, ao mesmo tempo, esse "algo" fosse tenebroso.
— O que veio fazer aqui? — Taehyung desviou o assunto. Uma insegurança de estar o fazendo se sentir desconfortável assumiu meu corpo por completo, porém, me deu mais coragem para ir direto ao ponto.
— Na verdade, — começo, envergonhado, lhe estendendo o pacote que segurava e ele pegando, com uma expressão curiosa. — eu vim lhe entregar isto. É para substituir seu antigo, espero mesmo que goste.
Ele me olhou, não demorando a alcançar o casaco vermelho e o retirar do saco, passando os olhos pela peça nova e bonita. Ele revezou diversas vezes o seu olhar entre mim e o moletom, seu rosto adquirindo um tom carmesim pela primeira vez desde que falamos. No entanto, ele negou freneticamente com a cabeça.
— Não. Jungkook, não posso aceitar. — falou, me empurrando a peça, o que, sinceramente, me deixou um pouco ofendido. — Deve ter sido caro e nós não somos nada para você me oferecer presentes!
— Eu sei. — digo, lhe entregando o moletom de volta e, em um gesto involuntário, pousei minha mão em seu ombro. Taehyung é um homem muito bonito, mas posso afirmar que ele é ainda mais lindo corado. — Mas, confesso que gostaria de ser, pelo menos, seu amigo, Taehyung. Por favor, aceite.
Ele hesitou, os nós dos dedos ficando brancos pelo seu nervosismo. Retornou a morder os lábios, mas parou assim que encontrou o meu olhar sobre si. E, quando me dei conta de estar o tocando por tempo demais, retirei a mão do seu ombro, envergonhado. Taehyung retornou a falar, soltando o ar preso quando nos separamos.
— Certo. Então isso é um pedido de amizade? — afirmei, um pouco incerto. Sendo sincero, eu não ligava muito para o que ele achasse, apenas queria me aproximar e fazer com que aceitasse minhas pequenas ajudas para ser melhor cuidado. — Tudo bem. Muito obrigado, eu vou guardar.
Taehyung desapareceu num cômodo, me deixando a observar, mais uma vez, o seu apartamento modesto. Porém, não se demorou, voltando à sala de estar e me fitando.
— Você precisa de algo? — sua pose voltou a ficar nervosa, provavelmente querendo que eu fosse embora, devido ao que me disse mais cedo. Quando ele voltou a tirar algumas pelinhas do lábio, algo piscou em minha cabeça.
— Sim, preciso te entregar isso aqui também. — um pouco atrapalhado e demorado, retirei o objeto que eu lhe havia oferecido e ele deixara em minha casa, de propósito. — Aqui tem o protetor labial. E nem pense em recusar, afinal, agora já tem um bolso para o colocar.
Lhe estendi o hidratante, que ele aceitou de bom grado — contra minhas expectativas —. Então, pela primeira vez, pude observar um sorriso verdadeiro se formar em sua face, e eu sorri também. Tinha conseguido o que queria!
No entanto, a sua expressão não durou muito, visto que em alguns segundos chaves foram ouvidas e Yesung entrou dentro de casa, nos fitando com um olhar avassaladoramente arrepiante. Pude perceber o corpo de Taehyung encolher e tremer, antes de guardar rapidamente o protetor labial no bolso.
— O que ele está fazendo em nossa casa, Taehyung? — o homem de cabelos negros o olhava com uma expressão nada feliz, o que eu achei estranho. Era namorado dele, por que lhe dirigia um olhar tão tenebroso?
— E-Ele...— o mais velho tentou formular uma frase, mas eu acabei o interrompendo.
— Boa tarde, meu nome é Jeongguk, Jeon Jeongguk, moro no apartamento em frente. — eu lhe estendi a mão, em sinal de cumprimento, mas o homem nem um músculo moveu, continuando com um olhar impassível, assim como nos primeiros dias nas escadas. — Bem, eu vim aqui porque queria convidar vocês para um open house que vou fazer em uma semana. Vai ser uma festa pequena, mas alguns moradores do prédio estão indo e eu estava pensando que vocês também poderiam ir. — eu sorri, tentando ser amigável.
— Eu irei pensar se vamos e depois lhe confirmo. Agora, agradeceria que saísse de minha casa para eu poder conversar com o meu namorado. — a carranca em sua face se manteve e eu pude observar, pelo canto do olho, Taehyung tremer.
Se eu tivesse escutado Soojin, talvez Yesung não estivesse nesse estado, tentando intimidar nós dois. Senti um pouco de culpa, sabe-se lá o que se passou na cabeça desse ranzinza. Porém, ele deveria confiar em Taehyung, não? Aliás, nada de extremamente preocupante estava acontecendo. Era apenas duas pessoas se tornando amigas.
Porém, Yesung não tirou aquele olhar fuzilante para cima de mim, poderia apostar que meu enterro já estava marcado. Merda, o que eu fazia agora? Eu não tinha outra opção a não ser sair de casa, afinal, não poderia ficar em casa de alguém contra sua vontade.
No entanto, uma ideia, claramente imbecil — mas, sejamos sinceros, quando minhas ideias não são idiotas? — surgiu como uma salvação tanto para minha pele quanto para a de Taehyung.
— Diga-me, Yesung. — iniciei, cautelosamente passando um dos meus braços sobre seu ombro, o que fez sua expressão se fechar cada vez mais e Taehyung se afastar. — Melhore esse rosto, você vai ganhar marcas de expressão antes dos trinta, tem que relaxar um pouco, cara.
Um babaca, é isso que eu sou. Sou inteligente, esperto, porém, quando se trata de me safar de enrascadas, a melhor opção sempre será a idiotice. Caso um dia eu fosse pego pichando muros — não como se isso fosse acontecer, claro —, seria muito mais simples bancar o besta com a polícia do que admitir o crime, não?Não.
Pude jurar que Yesung iria me socar com aqueles punhos, mas, graças a um berro de Taehyung mandando eu ir embora, ele não o fez. Respirei fundo enquanto dava leve batinhas no coração de Yesung, uma maneira de, tentar, acalmá-lo. Sua carranca nervosa apenas aumentou, então, entrei em desespero. Eu poderia muito bem me safar me trancando dentro de meu apartamento, mas, considerando os nervos de Yesung — que por acaso eu mesmo aticei — ele iria descontar tudo em Taehyung. E não, não era isso que eu queria.
— Você bebe cerveja? — indago, numa última tentativa, pousando novamente minhas mãos em seus ombros, que são brutalmente afastadas por ele. — Eu tenho várias marcas na minha geladeira, quer experimentar? Assim você pode relaxar.
Só bastou mais algumas palavras até Yesung se cansar de minha insistência e me acompanhar até meu apartamento. Taehyung, por sua vez, permaneceu dentro do 315 e, antes de sair, sussurrei que estava tudo bem e que, talvez, um pouco de álcool acalmaria os nervos de Yesung. Assim, Taehyung poderia ficar seguro em seu apartamento e eu poderia provar para seu namorado que não sou uma má pessoa, que apenas estou querendo ajudar, era como matar dois coelhos numa em uma cajadada só.
Mal sabia eu que quem matou os dois coelhos com uma única cajadada foi o próprio Yesung

 


Notas Finais


Aqui têm um miminho de 4.3k palavras
Espero que se estejam cuidadando, se alimentando e hidratando bem
Até ao proximo capítulo, beijos
Carol & Íris


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...