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História Apenas dessa vez... - Passado, ódio, temor


Escrita por: Nishka

Notas do Autor


Resumindo: DOR, MÃE, BRIGA, BLOQUEIO.
No mais, peço encarecidas desculpas pela demora <3
Terei mais tempo livre por enquanto, então pretendo postar sempre nos dias pares, tipo hoje 24/06, depois 26/06...
Obrigado a quem lê e favorita e ainda mais a quem comenta e me anima a continuar... Obrigado!!

Capítulo 17 - Passado, ódio, temor


Ruki

 

Não pudemos nos demorar porque logo Suzuki-san se levantou, alegando que estava cansada e seguiu para seu quarto, beijando-nos no rosto daquele seu jeito tão peculiar e altivo. Ficamos sentados ao lado do piano até que desaparecesse com sua postura ereta que sempre me lembraria uma rainha, então finalmente Akira-san se permitiu um suspiro cansado, estendendo-me a mão antes de nos levantarmos.

Saímos daquele lugar sob a mesma aura leve e agradável e tudo que conseguia pensar era agora conhecia uma parte do passado daquele cara, uma parte tão preciosa que dividira apenas comigo.

-Ninguém mais sabe que ela está aqui, exceto quem a mantém - disse baixo, e não tive coragem de perguntar a  identidade dessa pessoa.

Ele me falaria quando tivesse certeza, assim como me deixara ser parte da sua vida desse modo.

Nos despedimos do guarda com um breve aceno e em seguida estava em cima da moto mais uma vez, voltando pela estrada larga que havíamos tomado mais cedo. Quando novamente estávamos naquele descampado tão perfeito, bati de leve no ombro de Akira-san, elevando minha voz para que pudesse me ouvir.

-Podemos parar?

Ele não me respondeu, mas desacelerou imediatamente e parou na beira da estrada, tirando o capacete mais do que depressa.

-O que foi, chibi? Está enjoado?

Sorri ante a sua preocupação, meneando a cabeça – Não é isso. Queria tirar umas fotos daqui, podemos?

Abriu aquele sorriso lindo que me desconcertava, e mal tirei o capacete, seu indicador ergueu meu queixo, segurando-me ali enquanto selava meus lábios com carinho. Entreabri os lábios pedindo por mais contato e ele atendeu de imediato, sua língua quente se infiltrando por ali, espalhando o gosto conhecido no meu paladar.

Uma mão permaneceu segurando o capacete desajeitado, mentalmente prometendo que compraria um menor pra mim, a outra prendendo-o pela nuca, meus dedos agarrados nos fios loiros. Mordeu meu lábio inferior sem força, puxando-o entre os dentes ao se afastar e me permiti gemer baixinho, corando constrangido em seguida.

Sorriu daquele seu jeito malicioso, selando minha boca avermelhada em seguida, e eu sabia que estava se sentindo o máximo. Pelo menos não disse nada enquanto se recostava na moto, olhando ao redor com calma.

-Quer aqui ou quer subir mais?

A pergunta inocente me fez corar até o último fio de cabelo, revelando meus pensamentos nada castos.

-As fotos, Taka-chan. As fotos – ria abertamente, passando a língua pelos lábios finos de maneira a me provocar mais.

Meneei a cabeça, de repente tão travado como quando nos conhecêramos, e lhe dei as costas com nervosismos, procurando a câmera na minha mochila.

-P-pode ser aqui mesmo – disse baixo, tentando me concentrar na paisagem.

Conforme os contornos dos vales ao redor iam tomando forma e as árvores ganhavam uma tonalidade especial, meus pensamentos finalmente entraram em ordem, captando cada nuance perfeita da natureza.

Me sentia uma criança querendo algum reconhecimento quando praticamente saltitei para o seu lado, meu peito se aquecendo com os braços que se abriram para me envolver. Deixei minhas costas repousarem em seu peito e nossos batimentos descompassados eram gêmeos, suas mãos envolvendo as minhas ao redor da câmera.

-Vê – mostrei uma foto que gostara especialmente, porque as nuvens claras exibiam bordas azuis que se fundiam ao céu, logo acima de um tapete verde de gramíneas – parece que o céu se rasgou e estamos vendo um pedaço do outro mundo. Percebe como as bordas desaparecem? Parece infinito...

Senti o corpo atrás de mim se mover minimamente e Akira-san tentava ver meu rosto, inclinando-se mais para frente. Nossos olhos se encontraram e minha confusão foi devolvida com um sorriso maravilhado.

-Devia se ver quando fala assim – disse baixo – Seus olhos brilham e... e não consigo imaginar alguém que não “sinta” o que está dizendo. A forma como descreve o que vê, o que só você consegue ver com essa clareza... é quase mágico, chibi!

Sorri sem jeito enquanto aproveitava o que havia me dito.

Talvez fosse minha vez de me revelar.

-Perdi meu pai quando era pequeno.

Meu coração batia tão forte contra minhas costelas que tinha certeza de que ele podia ouvir, mas talvez não entendesse. Não. É claro que ele não entenderia.

A frase que eu mesmo formulara saiu tão perfeita dos lábios de Akira-san que achei que estava lendo meus pensamentos.

-Minha mãe não é japonesa, você mesmo viu – continuou naquela voz contida que tentava minimizar os sentimentos que ainda eram vívidos – Ela é russa, Ania alguma coisa, faz tanto tempo que não ouço aquele sobrenome que a pronúncia é simplesmente impossível! – riu baixo mas não consegui acompanhar, apenas apertando suas mãos com as minhas – Era pianista... meu pai estava em viagem por lá quando a ouviu tocar, se apaixonaram, casaram e de repente estavam de volta ao Japão. Eu não sei o que houve... ela nunca me disse e nunca vi nada de diferente acontecendo. Um dia eu acordei com ela no meu quarto, dizendo que não iria a escola porque meu pai tinha morrido.

Não parecia certo dizer que sentia muito... na verdade não sabia o que dizer. Simplesmente aconcheguei minha cabeça no seu ombro, sentindo beijar ali de leve com um suspiro.

-Não precisa ficar assim, faz tanto tempo que não sentiria sua falta nem que quisesse. Também não é como se ele fosse um pai de verdade – continuou com aquela sua tranquilidade natural – Tínhamos dinheiro para viver, mas... minha mãe não era mais a mesma. Ou talvez sempre tenha sido assim e meu pai conseguia mantê-la mais “viva”. Minha mãe... minha mãe tem autismo. Uma forma leve que seria até imperceptível antes de ter que cuidar sozinha de mim. Depois de apenas uma semana percebi que seria eu a cuidar dela.

Sorri de canto, beijando seu pescoço sem seguida – Conheci uma menininha com autismo. Me deu uma aula sobre tudo que conheço e de repente me senti um nada. Sua mãe tem essa mesma inteligência assustadora.

Akira-san riu e me senti um pouquinho melhor – Do tipo que não se aplica a cuidar de crianças ou cozinhar – suspirou com uma lembrança qualquer – Acho que foi minha presença constante na padaria, contanto as moedas para comprar nosso almoço que despertou a atenção de um deles.

“Ele”, “deles”... as pessoas que ainda permaneciam nas sombras para mim.

-Queria lembrar o nome daquele cara, mas talvez nem esteja mais vivo. Ele fazia coisas... perigosas – engoliu em seco, me apertando mais contra si – Mas o fato é que ele conversou com seu chefe e no mesmo dia um carro de luxo parou a nossa porta e recebi a ajuda mais inesperada de todas. De repente estava na escola de novo, nossas contas estavam sendo pagas e uma senhora simpática vinha limpar a casa e fazer comida. Minha mãe passava o dia inteiro fazendo o que quer que fosse e me parecia bem. Quando perguntei por que estava me ajudando, disse apenas “Você é um bom garoto que pode se perder. Não quero que se perca.”

-Uma pessoa generosa, não? – questionei, sem perguntar nomes.

-De certo modo sim – sorriu divertido, voltando a selar meus lábios antes de continuar – Então minha mãe ficou doente. Pneumonia ou algo assim, e do jeito que estava, trazê-la para esse lugar foi a melhor escolha. E ouso dizer que ela gosta mais daí do que de casa! Nesse tempo estava me formando na escola e não queria mais aceitar ajuda de graça. Então ele disse “Eu sempre soube que era um bom garoto. Pode pagar sua dívida, mas não quero que se perca.” – ergui os olhos e o encontrei com os pensamentos longe, calmo e talvez feliz, sua voz pouco mais do que um sussurro – Ele ainda acha que não me perdi.

-É claro que não! - talvez tenha concordado rápido demais, mas aquela pessoa desconhecida tinha razão, Akira-san jamais se perderia. Seu sorriso bobo comprovava aquilo – V-você é o deliquente mais doce e gentil que conheço, e a única pessoa que consegue conviver comigo com essa paciência. E mesmo o fato de que... de que acabou com os caras que tentaram me machucar aquela vez... mesmo isso só o torna mais perfeito para mim.

-Se dissesse que me ama não seria mais fácil? – brincou, segurando meu rosto entre as mãos.

Desviei os olhos mas não pude reprimir um sorriso – Não é a mesma coisa, seu bobo.

Ele ainda não precisava saber mais sobre mim.

A dor em meu peito pedia que ele jamais soubesse.

Akira-san jamais se perderia na escuridão, ao passo que eu já me rendera a ela há muito tempo.

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Kai

Miyavi saltou em pé ao mesmo tempo em que eu, tão pálido que achei que fosse desmaiar, mas se manteve firme, o rosto atônito encarando aquele maldito na nossa porta.

-Pai, o senhor não pode confundir... – comecei com a voz controlada, com medo de estragar ainda mais as coisas.

-Já disse que não sou seu pai! – rebateu aos berros, alterado, furioso; o rosto vermelho dava a impressão que enfartaria e... e por um momento de raiva desejei que realmente as coisas se resolvessem assim.

Se não fosse a tristeza estampada no semblante de Miyavi, se encolhendo sob as palavras duras, seus pensamentos batalhando tanto entre si que quase podia lê-lo em seus olhos. Ele iria achar que tudo era culpa sua.

-UKE-SAN! – minha garganta queimou com a rudeza do ato, minha voz que possivelmente nunca tinha se elevado mais do que quando chorava quando pequeno... E talvez pela primeira vez ele reparasse que eu não era a criatura digna de pena que ele imaginava – N-Não confunda as coisas, Uke-san. Eu trabalho para você. Ishihara-san trabalha para você. Não envolvemos nossa vida pessoal com o trabalho e também não deveria tentar fazer isso, por favor.

Vi ele menear a cabeça e tive vontade de chorar de raiva, ciente de que nada do que dissesse entraria naquela mente cheia de preconceitos e ideias ultrapassadas. Por que ele tinha que ser meu pai?

-Ishihara, quero você naquele restaurante agora. Se pode gastar seu dia de folga com essa pouca vergonha, é preferível que vá trabalhar – rosnou autoritário.

Vi Miyavi abrir a boca mas baixou a cabeça em seguida; ele precisava daquele emprego. Ele estava tão prisioneiro de Uke-san quanto poderia estar; e eu não podia fazer nada?

-É direito dele, não pode tirar isso também – retruquei em seu lugar, sempre medindo as palavras para não lhe colocar em uma situação pior.

Afinal... Se ele tivesse que escolher entre o bem estar das filhas e eu...

-Você não se meta!

-Uke, saia daqui! – mal me lembrava da minha mãe parada a porta, os olhos marejados – Não acha que já estragou a vida de muita gente? Será que ainda é tão mesquinho assim?

-Não me interessa, quero meu empregado lá agora! E você... – apontou um dedo acusador na minha direção e quase pude ver algum sentimento ali – E você, nunca mais cruze meu caminho. Não é mais meu filho, não trabalha mais comigo. É só alguém que me enche de nojo!

-K-Kai... – a voz chorosa de Miyavi pareceu vir de longe e nem consegui responder o que quer que fosse, aturdido demais.

-Pode ir querido, se decidir. Nós ficamos com as meninas – disse baixo mas o suficiente para que também pudesse ouvir.

Engoli o bolo desconfortável na garganta e forcei um sorriso amarelo na direção dos seus olhos pedintes, me torturando pela dor ali. Miyavi se sentia culpado, mas talvez nem tanto quanto eu mesmo me sentia. Concordei com um aceno e o segui com o olhar enquanto passava pela porta apressado, a cabeça baixa para esconder as lágrimas de Uke-san.

Aquele homem desprezível se afastou dele como se fosse doente e meu coração se apertou ao imaginar o que Miyavi passaria naquele lugar agora.

-Espero nunca mais voltar aqui – o comentário parecia tão fora de contexto depois de tudo que acho que foi o estopim para uma raiva controlada tempo demais.

-O QUE AINDA ESTÁ FAZENDO AQUI? VAI EMBORA! ODEIO VOCÊ! ODEIO! VAI EMBORA! – minha mão varreu a mesa de centro atrás de qualquer coisa que pudesse jogar nele, mas minha mãe enlaçou seus dedos nos meus, apertando-me contra o peito num abraço tranquilizador.

A porta finalmente bateu e pude chorar em paz, me remoendo de raiva e uma mágoa que guardava desde a infância.

Como um pesadelo esquecido no fundo da mente que voltava nas noites mais escuras e solitárias.

Só esperava que depois de tudo ele jamais me dirigisse a palavra novamente.

-Tudo bem, Yu-kun, tudo bem... – dizia contra meus cabelos, sua voz trêmula denunciando o stress – Tudo bem. Ishihara-san vai ficar bem, vamos cuidar das meninas e depois do turno dele vocês podem conversar com calma, o que acha?

-Acho que ele vai me deixar – estava chorando como uma adolescente e tinha certeza disso, mas não era apenas insegurança, era tanto ódio! Tanto ódio que não havia nada de saudável ali – Se ele tiver... tiver que escolher.... entre essa merda de emprego e... e eu... ele vai ficar por causa das meninas! – soluçava entre as frases, chacoalhando o corpo magro que me sustentava – Não quero... não quero que ele.... Mas elas... elas precisam...

-Shhh – se afastou de mim brevemente, segurando meu rosto com as mãos e sorrindo daquela forma encantadora que fazia parecer possível o sol surgir até no meio da chuva – Eu sei, meu amor. Sei que está preocupado e está se sentindo culpado. É claro que você gosta das meninas e também não quer se separar dele. Eu sei! Então se acalme... e vamos pensar em alguma coisa.

Fechei os olhos por um momento, pensando em como responder. Cheguei a conclusão de que se tentasse falar voltaria a chorar, então apenas concordei com um aceno.

-Que foi?

A voz fina e aflita de Love-chan me chamou a realidade e forcei um sorriso rápido, me soltando da minha mãe para poder pegar a pequena no colo.

-Não foi nada, Love-chan – minha voz permanecia trêmula mas não desabaria na frente dela; me sentei com a pequena no sofá e minha mãe foi para a cozinha, se bem a conhecesse, buscar alguma coisa doce para “dar um jeito na amargura da vida”.

-Kai-chan tá chorando? – os dedinhos curtos correram pelo meu rosto umedecido pela trilha de lágrimas.

-É que eu bati meu dedinho do pé – menti com um careta, fazendo de conta que iria chorar de novo – o que nem seria tão complicado assim...

Repentinamente a menina se jogou em meu pescoço, me abraçando com força, e aquele calor a mais contra meu peito era o melhor calmante que poderia pedir.

-Passou... –consolou-me com autoridade e carinho – Dodói sempre sara com amor...

Passei os braços pelo corpinho miúdo que me protegia, sorrindo para a mísera esperança que surgia de algum lugar no meio das trevas que era meu coração.

-Sim, bebê, ele sempre sara.

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Aoi

Vídeo game realmente era meu fraco e aquele desgraçado sabia disso, afinal quantas vezes eu o arrastava depois da aula para um daqueles antigos fliperamas que nem existiam mais, gastando todo o dinheiro que sua mãe nos dava para “nos divertimos”. Vendo o pouco que ele jogou naquela tarde, me peguei pensando se era mesmo tanto sono ou ele nunca gostou de jogar tanto quanto eu; e se fosse isso, porque aceitava sempre voltar a ser massacrado por mim, rindo quando as fixas terminavam cedo demais e fingia chorar na sua frente.

O tempo todo ele fazia isso apenas para poder ficar perto de mim, do jeito que suportava suas manias para tê-lo por perto? Não éramos nada diferentes, afinal...

Voltei a sala depois de tomar água, meus dedos doendo significativamente, e mesmo que ponderasse parar de jogar, queria poder continuar velando seu sono, apreciando por mais algum tempo sua face tranquila. Não gostava de saber que se preocupava, mesmo que fosse comigo, doía saber que ele estava sofrendo. E me pegava esperando por suas horas de sono, quando ao menos tinha certeza de que não estava angustiado ou fazendo besteiras por ai.

Me larguei nas almofadas ao seu lado com um suspiro. O jogo permanecia pausado, mas o rosto tranquilo, amassado contra o cobertor estendido no chão, era incrivelmente mais interessante. Os lábios entreabertos deixavam a respiração pausada ser ouvida facilmente, as pálpebras que tremiam indicavam um sonho agitado.

Sorri bobo para aquele rosto tão humano e tão divino, passeando os dedos de leve para afastar os fios de cabelo que atrapalhavam minha visão privilegiada. Havia lhe conhecido com os típicos cabelos pretos já repicados, mas jamais esperei uma mudança tão brusca, se bem que ele ficava incrível de qualquer modo.

Bom... careca deveria ser hilário, mas de certo modo lindo também.

E isso me fazia pensar nas consequências daquilo tudo. Na maioria do tempo, quando me policiava o suficiente, evitava pensar no que estava bagunçado na minha vida, mas quando o silêncio era demais, lembrava que meus dias podiam estar contados.

Eu sei que havia dito a Ru-chan que nem todo mundo morria por causa disso e... e eu tinha mesmo muita esperança de me recuperar logo! Mas sempre restava aquela sombra pesada da morte, aquela certeza de quem “sim, as coisas podem dar errado!”. E podia ser ainda mais idiota, mas me pegava pensando se quando fizesse mais sessões de quimioterapia e meu cabelo possivelmente despencasse, Kouyou continuaria tão “apaixonado”. Porque eu não podia me enganar! Careca deveria ser um terror!

Dei um suspiro pesado, finalmente notando que fixara meu olhar na parede em frente. Meneei a cabeça e baixei o rosto para o cara que deveria estar dormindo, mas me encarava seriamente.

-Ah... não vi... que tinha acordado – senti meu rosto corar, como se ele pudesse de alguma forma ter ouvido meus pensamentos.

Negou com um aceno e um sorriso pequeno surgiu nos seus lábios desenhados – Estava tão sério que fiquei com medo de lhe chamar. Estava pensando em que?

Engoli em seco e desviei o olhar, mesmo assim queria falar logo sobre aquilo. Era constrangedor e estúpido, mas me sentia no direito de pensar coisas inúteis.

-Estava pensando se meu cabelo vai cair com a quimioterapia – disse num só fôlego para não desistir – E se vou ficar feio a ponto de não querer mais saber de mim.

Não conseguia olhar em seu rosto e o silêncio pareceu longo demais.

-Idiota.

Me encolhi minimamente com aquelas palavras já esperadas, forçando  um sorriso conformado a surgir nos meus lábios pela vergonha persistente. Senti que ele se sentava e rapidamente tomou minhas mãos nas suas, fazendo os dedos doloridos fisgarem.

Gemi baixinho com uma pontada de dor e ele percebeu.

-Estão doendo? – questionou com um olhar preocupado que vi de esguelha e sorri mais envergonhado ainda.

-É que fazia tanto tempo que eu não jogava... E não podia desperdiçar meu presente novo! – ri baixo, me remexendo quando começou a massagear os dedos e a palma das mãos.

-Se é um presente pode usar a hora que quiser – resmungou ainda mais baixo, a cabeça tombada sobre o peito enquanto se concentrava em melhorar a circulação em minhas mãos, os cabelos cobrindo a maior parte do seu rosto, me permitindo olhar sem vergonha – Você é mesmo inacreditável... continua igualzinho.

Sorri para mim mesmo – I-Isso ajuda mesmo – comentei sobre a massagem, sentindo que já podia usar meus polegares sem choramingar.

-Minha maquiadora me ensinou, e faz isso em mim nos intervalos dos shows... – respondeu com tranquilidade, erguendo minhas mãos até perto do rosto sem me explicar mais nada – É mesmo impossível que isso aconteça.

-Humm? Não entendi... – Kouyou tinha a admirável capacidade de achar que podia acompanhar a linha do seu raciocínio embaralhado, várias vezes começando o assunto de onde ele mesmo parara.

O que era um caos.

-Eu jamais vou deixar de querer você – disse para meu completo espanto e constrangimento, beijando de leve meus dedos. Entrelaçou minha mão direita na sua, mantendo a outra perto dos lábios entreabertos. Meu coração batia tão descompassado que mal pude escutar a fatídica frase seguinte – É tão malditamente gostoso que vai me dar tesão mesmo velho e numa cadeira de rodas, Yuu-kun.

Meu rosto entrou em combustão e o restante do meu corpo logo em seguida, quando passou a língua indecente pelo meu indicador, chupando-o depois.

Cravou os olhos nos meus e nunca estive mais certo do que queria.

 


Notas Finais


Desculpa pela falta do lemon mas não daria certo no momento! T.T
Comentários equivalem ao Yuu saindo da seca XD


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