História Apenas um dia, uma noite. - Café, girassóis e fotografias

Meu telefone toca e meu coração gela.

— Ella? Tudo bem?

— Tudo está indo muito bem, quase cunhado. Estou ligando para avisar que Amy já está aqui em casa e que você já pode avisar o dono do café que está indo para que ele tenha tempo de dispensar quem for dispensável e não aceitar mais clientes. Os contratos de confidencialidade já foram assinados e os cheques já estão preenchidos, eu vou entregar para o dono do estabelecimento amanhã pela manhã, foi o combinado. Vocês podem pedir o que quiserem do cardápio, não se preocupe com o pagamento no momento, apenas conversem tranquilamente. Vocês tem 3 horas, mas esse período pode ser estendido conforme o necessário. Entendeu?

— Entendi.

— Onde você quer que eu mande a floricultura entregar o buquê de girassóis?

— Eu passo lá e pego.

— Ok. Está nervoso?

— Bastante.

— Se isso te ajuda, Amy também está nervosa. Não se preocupe Kook, vai dar tudo certo. Eu recomendo a torta de abóbora de lá, é deliciosa.

— Ok. Obrigado Ella, por tudo.

— Torço por vocês, maknae. Até mais tarde.

— Até. — Desligo o telefone e suspiro ansioso.

— Você está corado, o que houve? A irmã da Ella chegou? — Jimin hyung está sentado no sofá do quarto enquanto eu começo a caminhar de um lado para o outro.

— Ela chegou hyung. Eu vou ligar para o dono do café e pedir para que ele feche assim que possível. Eu estou nervoso.

— Não fique, você mesmo não disse que Ella te contou que Amy gosta de você também? — Eu apenas lhe dou um aceno afirmativo. — Pois então? — Ele se deita na minha cama e coloca os braços atrás da cabeça antes de continuar — Vai dar tudo certo. Ella até disse que vocês tem vários interesses em comum. Agora vá tomar um banho e buscar sua garota. — Ele fecha os olhos como se isso encerrasse o assunto.

Tomo meu banho e visto algo confortável e quente, quero que ela me veja como eu realmente sou. Quando abro a porta do quarto encontro todos os meus hyungs, exceto Yoongi, na porta com seus celulares em mãos. Eles me filmam e tiram fotos.

— O que vocês estão fazendo?

— Documentando o primeiro encontro do nosso maknae. — Os olhos de Jimin viram tracinhos enquanto ele sorri amplamente para mim.

— Ele cresceu tão rápido. Nem parece aquele garoto que não tomava banho enquanto a gente não dormisse. — Jin hyung está com as mãos em meus ombros enquanto conversa com os demais.

— Ou lavava roupas junto com a gente. — Hoseok hyung completa a fala de Jin com um sorriso.

— Yaaaa, bons tempos. Passa tão rápido. — Tae diz pensativo.

— Talvez você não use isso hoje, mas é bom ter. — Namjoon hyung me entrega um pacotinho metálico. Sinto todo o meu rosto arder.

— Ca-camisinhas?

— Sim, camisinhas. Você sabe como usar, certo? — Eu sei que nosso líder só quer me proteger, mas me sinto muito constrangido nesse momento.

— Todo mundo sabe como se usa. — Hoseok hyung diz exasperado.

— Eu não sei como se usa. — Todos olhamos para Taehyung, surpresos.

— Eu sei como usar, mas não será necessário hoje. — Digo finalmente, tentando parar esse assunto.

— Huuum hoje é? — Jimin lança o mais malicioso sorriso que eu já vi.

— Aigoo, eu vou indo. Não quero me atrasar.

Tento ao máximo evitar que saibam que eu estou saindo. Saio pelos fundos do hotel. Coloco várias camadas de casacos somados ao cachecol e um boné. Passamos pela floricultura e não posso deixar de sorrir, Ella é brilhante, o buquê é bonito e simples. Seguimos para o subúrbio onde vou finalmente ver Amy. Desço do carro deixando o buquê ali dentro, toco a campainha.

— Kookie, bom te ver, que surpresa agradável. — Ella pisca para mim e me abraça levemente — Entre, estávamos conversando sobre a ceia de Natal. Você virá, certo?

— Claro, eu... — nesse momento eu a vejo descendo as escadas, e por tudo o que há de mais sagrado, ela consegue ficar cada dia mais bonita.

— Yoongi, você pode me ajudar com uma coisa lá na cozinha? — Ouço vagamente Ella conversando com Yoongi hyung.

— Coisa? Que coisa? Nem está na hora do jantar ainda e eu quero ficar aqui e rir da cara de bobo do Jungkook...

— Eu quero te dar uns amassos no balcão da cozinha. — Yoongi hyung a puxa pelo pulso, não sem antes levantar o punho e cochichar um fighting para mim. Amy finalmente entra na sala.

— Olá! — Amy diz simplista.

— Oi. — Respondo meio sem jeito. Amy simplesmente caminha em minha direção e me dá um abraço leve. Às vezes é difícil para mim lidar com os costumes ocidentais. Sinto minhas bochechas arderem, tomara que eu não esteja vermelho.

— Como tem passado?

— Bem. E você? Como foi o Havaí?

— Faz um tempo desde que fui, mas foi muito bom. Consegui muitas fotos boas, te mostro depois se quiser.

— Seria ótimo. Ella comentou comigo que você gosta de fotografar paisagens. O que acha de tomarmos um café e conversarmos sobre isso?

— Ótima ideia, vou apenas pegar meu casaco e podemos ir.

— Ok — Amy volta logo em seguida com seu casaco, o azul realça o vermelho de seus cabelos e eu quase me perco por um segundo admirando sua beleza.

— Ella, estamos saindo! — Amy grita e recebe apenas um divirtam-se como resposta.

Assim que entramos no carro eu lhe entrego o buquê de girassóis, meu coração falha uma batida com o sorriso que recebo e com o agradecimento feito com olhos brilhantes olhando em minha direção, ela ainda me dá um selinho tímido na bochecha esquerda. Sinto que foi totalmente impensado, porque logo em seguida ela fica corada e murmura um pedido de desculpas. O motorista nos guia até o café que por incrível que pareça estava totalmente vazio.

— Acho que está fechado, não há ninguém lá dentro. Droga, a torta daqui é tão boa. — Amy comenta levemente cabisbaixa.

— Na verdade eu meio que pedi que fechassem, espero que não fique incomodada, foi ideia da Ella. Para evitar fofocas.

— Ella sempre escolhe cuidar de mim e aparentemente de você também.

— O que quer dizer com isso?

— Nada de mais. Vamos entrar?

— Sim. — Desço, mantenho a porta aberta e estendo a mão para apoiar sua descida.

— Um cavalheiro como Ella sempre diz. — Elas conversam sobre mim! Bom saber. Entramos no café e escolhemos uma mesa no canto.

— Mesmo vazio, não consigo pensar na ideia de me sentar no centro. É tão desconfortável.

— Você não gosta de ser observada, é isso? — Ela é uma caixinha de surpresas.

— Porque acha que eu escolhi ficar atrás da câmera?

— Como você descobriu que gostava de fotografar?

— Ella. Ainda no ensino fundamental ela ganhou uma câmera do nosso avô. Ela sempre tirava fotos de mim, da nossa mãe, da paisagem. Todos diziam que ela tinha "olho" para fotografia. Ela continuou fotografando por muito tempo e me ensinava tudo o que sabia, eu tinha um pouco de inveja dela, parecia extremamente natural para ela fotografar. Um dia eu bebi mais do que devia numa festa do meu ensino médio, acabei contando isso para minha irmã. Alguns dias depois ela perguntou se eu gostaria de fazer um curso de verão, ao invés de fazer o curso ela pagou para que eu fizesse. Ela até me deu uma das câmeras dela.

— Uau, isso é... — Ella definitivamente é uma boa irmã mais velha.

— Eu sei...

— Mas, então como ela foi parar na área dos jogos?

— Era uma espécie de segredo dela, algo que nenhum de nós sabia. Enfim, ela foi para os jogos e eu segui com a fotografia, me aprofundei e comecei a fazer edição de vídeos para youtubers, um pouco chato, mas me rende uma grana a mais. — O garçom aparece e anota nossos pedidos, logo voltamos a conversar.

— Então, tudo isso graças a uma câmera que seu avô presenteou sua irmã. Uau! Ele deve se sentir orgulhoso.

— Bastante.

— Você já está terminando a faculdade?

— Na verdade isso é um segredo, mas eu pretendo trancar e viajar pelo mundo no próximo ano, tirando fotos. — Vejo traços de insegurança em seus olhos quando ela conta seu plano.

— Você acha que Ella não te apoiaria na sua decisão?

— Ella? Acho que eu posso dizer que vou virar hippie e vender arte nas praias de Copacabana no Brasil que ainda assim ela me apoiaria. Já não posso dizer o mesmo da minha mãe, ela espera que eu me forme em seguida conheça um cara legal e me case.

— Ella não fez isso, porque você tem que fazer?

— Minha mãe acha que eu não sou capaz de cuidar de mim mesma como a Ella faz.

— Pois eu acho você capaz de fazer o que você quiser.

Amy me dá um sorriso tão lindo e tão brilhante que eu sinto meu coração falhar por um segundo. O garçom volta com nossos pedidos. Agradecemos a ele e quando penso que voltaríamos a conversar, o telefone de Amy faz um barulho que julgo ser uma notificação.

— Me desculpe, só um minuto, preciso responder essa mensagem. — Amy então grava um áudio que eu tenho certeza que faz com que eu me apaixone por ela mais um pouco. — Oi amiga, não posso jogar com vocês porque estou longe do meu notebook, mais tarde talvez. Até mais! — Eu a olho por um segundo a mais e a vejo corar. — Eu sei que parece uma mensagem banal, mas se eu não respondesse, elas iam enviar várias mensagens e começariam a ligar, não teríamos sossego. Me desculpe mais uma vez.

— Está tudo bem. O que você joga?

— Além de tudo o que a Ella faz, óbvio. Eu jogo Overwatch com algumas amigas, incluindo a Ella, só que ela não pode falar disso abertamente porque perderia o emprego.

— Eu jogo há bastante tempo também.

— É eu sei. — O lado Army da ruiva aparece em alguns momentos, é bom saber que ela pesquisa sobre mim.

— Você tem cara de que joga como Ofensivo...

— Você tem cara de que joga com Ofensivo, eu jogo como Defesa, Ella é Suporte.

— Taehyung joga como Tanque.

— Mais dois jogadores e poderíamos jogar algumas partidas no Natal. — Amy parece empolgada com essa ideia.

— Boa ideia.

— Quanto tempo você pretende ficar depois do Natal?

— Se fosse minha vontade, ficaria bastante tempo, mas temos compromissos no Ano Novo. E você?

— Bom, acho que até depois do Ano Novo pelo menos uns quinze dias. Nesse tempo vou conversar com a Ella sobre meu mochilão, talvez ela convença minha mãe. É uma pena que você não passe a virada de ano aqui.

— Também acho. Gostaria de conhecer as tradições ocidentais sobre o Ano Novo.

— Ahh tenho certeza de que algumas seriam bem interessantes para você. — Tenho um vislumbre de malícia em seu olhar.

— Enquanto estiver no seu mochilão, se passar pela Coréia, me avise. Gostaria de te mostrar alguns lugares muito bons para tirar fotos.

— Ah, eu adoraria.

— Sabe, tem algo que eu gostaria de saber. Não há ninguém de quem você vai sentir falta durante esse tempo de viagem? Amigo, namorado, sei lá. — Tento saciar minha curiosidade de maneira discreta.

— Humm. Não. Meus amigos sabem que estou indo realizar um projeto e me apoiam também, e eu não tenho namorado. Acho que Ella e eu nascemos com o destino solitário.

— Eu não diria que ela está solitária, Yoongi hyung tem dormido na casa dela todas as noites desde o incidente com a Aelin.

— Quando eu me lembro do que aquela sasaeng fez com a minha sobrinha, me sobe um ódio nas veias.

— Foi terrível. Todos ficamos bem chocados, Yoongi hyung quando soube deu um soco na parede, abriu um buraco relativamente grande.

— Sério? Ele não me parece desses que perde o controle assim.

— Ele estava preocupado e frustrado. Foi um pouco assustador. Ainda bem que a pequenina já está se curando.

— Ela é tão linda. Maldita Ella, eu sempre quis uma criança com traços asiáticos, até nisso ela conseguiu ser a primeira.

— Você ainda pode ter uma criança com traços asiáticos, ou várias... Um menino e duas meninas por exemplo. — Droga, Jungkook! Se controla!

— Um dia, quem sabe... Hey, você tem que experimentar um pedaço dessa torta! É divina.

Antes que eu responda, Amy já colocou um pedaço em frente a minha boca. Quase sinto como se fôssemos namorados e ela me dá comida na boca. Não consigo deixar de sorrir com a ideia. A dúvida me corrói, devo ser mais direto? Vou assustar ela se for muito direto? Droga, não sei o que fazer! Sinto vontade de pedir licença, ir até o banheiro e pedir um conselho para Yoongi hyung. Ele tem experiência com uma ocidental, talvez saiba o que me dizer. Sim, boa ideia, Jungkook!

— Ah, eu preciso ir ali e já volto.

— Ok, demore o quanto precisar. — Ela encara o próprio telefone.

— Obrigado. — Eu quase corro até o banheiro, chegando lá eu disco o número do meu Hyung.

— Jungkook? É bom que seja importante, do tipo, o café está pegando fogo. Você está atrapalhando algo importante aqui.

— Yoongi hyung, você está ofegante, o que houve?

— Estava dando uns beijos e alguns amassos com a Ella no sofá até que você e Amy têm a brilhante ideia de ligar e pedir conselhos! É isso que você está fazendo não é? Ligando para pedir conselhos?

Eu sinto minhas bochechas queimarem. Além de atrapalhar Ella e Yoongi, Amy também está ligando, o que significa que ela também está nervosa.

— Espere, Ella quer falar com você.

— Ok.

— Jungkook? — Até a voz de Ella está ofegante. Me sinto mal por ter atrapalhado.

— Sim.

— Você está indo muito bem nesse encontro. Está tudo certo, ela só está um pouco nervosa, porque quer muito dar uns beijos em você, mas, não se sinta pressionado. Ela sabe se conter. — Não sei se eu quero que Amy se contenha.

— Você deveria beija-la, seu bobo. — Yoongi comenta.

— Até mais, Hyung e Ella. — Eu volto à mesa e encontro uma Amy corada como um tomate.

— Tudo bem?

— TUDO! — A voz sai mais alta que o normal o que significa que ela ainda está meio nervosa. Será que conselho Ella deu para ela?

— Já está quase na hora do jantar. — Amy olha para fora e concorda com um aceno de cabeça.

— Você já quer ir? — Ela parece um pouco chateada.

— Gostaria de te levar em lugar antes de te deixar na casa da Ella.

— Ok. — Ela se levanta e volta a vestir o casaco azul. Dispensei o motorista pelo telefone quando chegamos, meu plano é dirigir eu mesmo até nosso destino. É arriscado, mas talvez eu esteja certo.

— Pensei em te mostrar as fotos que tirei até agora, estão no meu quarto no hotel, se incomoda ser formos até lá para ver?

— Não, de forma alguma. Gostaria muito de ver.

Seguimos em direção ao hotel. Entro pela entrada privativa e faço o possível para não ser notado, Amy parece uma mestre nisso. Nem parece que ela está indo para o mesmo lugar que eu. Quando entramos no quarto, não deixo de comentar com ela.

— Você se camufla bem na multidão.

— É um dom. Passar despercebida na multidão.

— Você não me passou despercebida, Amy. Desde o seu grito na entrada da casa da Ella quando fomos visitar pela primeira vez.

— Eu... — ela para de falar e olha o porta retrato no criado, uma das fotos que Ella me deu. — Você... Ella... — Eu me sinto corar até mesmo nas orelhas agora.

— Ella me deu essa foto e mais duas.

— Ah, meu Deus, eu vou matar a Ella.

— Porque? São fotos muito bonitas. Se bem que pessoalmente é ainda melhor. — Agora é a vez de Amy corar.

— Jungkook, posso ser totalmente sincera com você?

— Sim, por favor.

— Não me leve a mal, nem se assuste. Se não quiser é só falar.

— O que?

— Eu quero muito te beijar desde o momento que você me deu aquele buquê de girassóis.

— Uau, direta. Gostei. — Não me importo com o que pode acontecer depois, eu apenas vou em direção à Amy e a beijo com tudo o que tenho.