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História Apenas um sonho - Absurda verdade


Escrita por: Maallow

Capítulo 124 - Absurda verdade


Ela jogou seus cabelos soltos para trás, os cachos definidos e dourados se espalhavam pelo colchão enquanto ela dobrava as cobertas sobre seu corpo nu. Eu estava beijando Alice Kingsley, a Rainha de Wonderland. Era arriscado para ambos, principalmente para mim, mas não conseguíamos parar. Era o amor, aquele sentimento que esquentava nossos corpos e invadia meus pensamentos, não pude deixar de passar minha mão por dentro da coberta para sentir sua pele lisa e macia. - A-além d-de p-perfeita... - Murmurei, a apalpando. Alice levantou seu pescoço e voltei a chupá-lo. Sei que fechava os olhos e suspirava tranquila, enquanto eu alisava sua cintura, chegando aos quadris e suas coxas, seu joelho dobrou. Ela soltou um suspiro suave e eu me esforcei para não subir em seu corpo e recomeçar o que fizemos naquela noite. Beijei seu ombro, descendo por suas costas, ela pressionou minha mão sobre sua barriga. Entrelaçamos nossos dedos, as cortinas balançavam com a brisa sutil que adentrava o meu quarto. Beijei o seu rosto, exalando o seu perfume. - Vossa Majestade p-precisa ir.  

O seu silêncio se quebrou, ela virou-se para mim. Ainda escondendo o par de pequenos seios debaixo das cobertas. - Sei que não quer que eu vá. - Respondeu com seriedade e de uma forma suave que em fez repensar naquela ideia. Ela beijou os meus lábios como permissão para que eu seguisse em frente. Senti suas pequenas mãos apalpando meu corpo, meu torax, minha barriga... 

Resisti, puxando sua mão.  

Alice suspirou, revirando os seus olhos. Apoiou seu cotovelo no colchão, e então, a coberta deslizou por seu corpo, revelando sua nudez. Ela enrolou seus dedos nos meus cachos. - Faz muito tempo que não me vê assim. - Murmurou e sorriu. - O que acha?  

-O-oh, n-não... - Virei o meu rosto. Me endireitando. - Não me provoques, Soberana. E-está tarde. - Observei meu relógio de bolso, jogado no colchão.  

-Me dê sua mão. - Pediu, esticando o braço. - Dê, vamos.  

Hesitei. - É uma ordem, Tarrant.  

Alice pegou o meu pulso. - Está nervoso? - Sorriu, como gostava de fazer perguntas. 

-E-eu e-estou m-muito assustado c-com o que f-fizemos. 

-Você me seduziu. - Acusou. Jogando os fartos cabelos para trás. - E eu quero fazer de novo. 

Suei, enquanto ela passava minha mão por seu ombro, me fazendo apertar o seu músculo, como uma massagem. Sorrindo, ela desceu minha mão por seu seio, senti seu mamilo duro enquanto outra coisa endurecia em mim. Alice descia, descia... Até que me fez tocá-la por baixo dos lençóis. - Vossa Majestade... - Quase perdi a fala quando engoli, alisando-a. - É m-mesmo m-muito d-danada.  

-Eu sou uma danadinha. - Corrigiu ela quando nos beijamos. A coberta incendiava ainda mais a chama dos nossos corpos. Eu não poderia resistir em possuí-la outra vez. Durante tanto tempo, havia me esquecido o que era fazer amor com a mulher por quem estava enlouquecidamente apaixonado desde o momento em que retornou para Wonderland. Ela estava molhada, sentindo-me tocá-la carinhosamente. Puxou minhas cobertas e subiu sobre mim. Cheguei em suas costas, segurando-a com as duas mãos. Alice terminou de me beijar e olhou para o meu calção.  

Abaixou a borda devagar. - Tcharam. - Levantei as sobrancelhas, sorrindo.  

-Está muito convencido. - Observou. 

-Uhn. T-tenho que ser, já que Vossa Alteza gosta tanto.  

Sorrimos.  

-Me deita. - Ela sussurrou assim que aproximou os belos lábios do meu ouvido, talvez para me ver arrepiar, isso sempre acontecia, só quando era com ela...  

Obedeci, a deitando no colchão, quase na borda, onde seu pescoço por pouco não pendurava. Trocamos mais alguns beijos, e estávamos prestes a fazer amor depois de algumas horas de descanso. - Espere. - Alice me torturou com o seu pedido. Me afastei, ela estudava o meu corpo.  

-Hum? V-vamos, querida.  

Me empurrou, as sobrancelhas juntas. Esticou o seu braço para pegar o castiçal próximo. - N-não está querendo me queimar, não? - Peguei a coberta. - N-não seja masoquista, ai ai ai. 

-Pare de bobagem. - Ela puxou. Notando o meu corpo outra vez, alisou o meu tórax, ainda intrigada. - Vire-se de costas. 

-Hum! - Cruzei os braços. -  Não preferes que eu dê uma voltinha?!  

-Ótimo. - Sorriu, entrando na zombaria.   

Fiz uma careta, puxando o meu calção. Deixei a cama e dei duas voltas. - Tarrant! - Ela exclamou com espanto. - Você está cheio de manchas! 

-Uh. - Me olhei no espelho rapidamente. - Era isso meu amor? É o mercúrio. - Me debrucei para beijá-la.  

Mas a Rainha se esquivava dos meus lábios, apoiei o meu joelho na cama. - N-não é contagiante. - Insisti no beijo.  

Alice era insistente, e eu era teimoso. Ficamos nessa briga boba de quem beija ou não quando ela tampou os meus lábios, estava séria, talvez irritada. - Nunca o vi tão manchado. Você não me disse que mercúrio mata?  

Cerrei os olhos. Sorrindo. - Éer... Mata só um pouquinho. 

-Tarrant! - Ela me empurrou. 

-Ai, o que f-foi?! 

-Eu não estou de brincadeira! Como pode ainda usar mercúrio?! 

-É o meu ofício! - Expliquei. - As vezes preciso usar em alguns vestidos... Os paetês não se c-colam sozinhos, e n-nem os chapéus! Uhn?!  

-Olhe para você. - Ela continuava espantada. - Veja essas manchas roxas esverdeadas, ou seja lá que cor é essa! Você está cheio de respingos novos, estão chegando até nas suas coxas!  

Peguei minha calça, irritado. - N-não se deve excitar um homem atoa, mocinha!  

Alice cruzou os braços. - E você continua brincando. Estou falando sério.  

Agitei as mãos. - U-uh, está falando sério! E o que quer que eu faça?! Consiga uma pele nova?! 

-Não quero mais que faça vestidos e nem chapéus. 

A encarei. Pela primeira vez a minha seriedade entrava no assunto. - N-não... - Ri, ela não durou por muito tempo. - Vossa Majestade não pode me p-proibir!  

-Certamente posso. - Disse tranquila, pegando sua roupa.  

-É o meu trabalho!  

Vestia seu short de babados quando sorriu. - Sei que vai conseguir encontrar outra forma de ganhar dinheiro.  

-Por que está fazendo isso comigo?  

Alice me olhou. Os meus olhos lacrimejavam o novo sentimento que nascia em mim. - Eu não quero que fique doente. - Afirmou.  

Me sentei na borda da cama. - V-você está t-tirando o m-meu trabalho.  

Ela me abraçou. Beijando minhas costas. - É para o seu bem.  

-B-bem... - Cuspi. Fungando. - E d-desde quando q-quer o meu bem? 

Alice se soltou. - Eu vou tentar não me ofender com o que você disse.  

-D-do que adianta n-não sofrer com mercúrio se eu sofro p-por você? 

-Pare, Tarrant. Encontre outra coisa para fazer no castelo, está bem? - Retornou ao espelho. - Você está de licença. Por uns... quatro meses. - Pausou, enquanto eu assimilava o que havia me dito. - Eu tenho que ir. Está mesmo ficando tarde. Me ajude com o vestido. - Ela se virou, aguardando que eu puxasse suas amarras.  

Ela tocou sutilmente o meu rosto quando terminei. - D-deixe-me... 

-Não se chateie comigo, por favor. Entenda que-- 

-Não! - Gritei. - Eu nunca vou entender por que se preocupa tanto comigo quando na verdade eu estou morrendo por sua c-culpa! Você me trouxe anos de tristeza! 

-Retire o que disse, Tarrant! - Um trovão quase irrompeu sua voz.  

Aquela gritaria chamaria a atenção de qualquer um que estivesse dormindo no quarto próximo. - V-você me fez sofrer m-muito.  

-Eu não vou discutir com você. - Disse com mágoa.  

-E-e-então... - Cerrei meus olhos. - S-saia do meu quarto.  

Alice pegou sua coroa, era a última coisa que restava.  

Ela saiu, e eu sei que sua vontade era de bater a minha porta com força. Mas era duas da madrugada, e talvez não quiséssemos terminar aquela noite com uma fechadura quebrada.  

[...] 

Decidi que começaria o meu dia no atelier, depois de tomar o café da manhã. Alice e eu não disfarçávamos nossos olhares. No entanto, não dirigimos qualquer palavra um para o outro. 

Agora eu me deparava com minha estante de tecidos. Estava em silêncio, segurando o meu queixo enquanto assimilava cada material devidamente enrolado acima da madeira. - O que está fazendo? - Enid perguntou assim que abriu a porta. - Está arrumando? 

Suspirei. - Não.  

Ela me abraçou. - Meu amor. Quase não nos falamos durante o café. Senti sua falta. - Me olhou, debruçada em meu pescoço. Apenas sorri. - Pensei em dar uma passadinha no seu quarto ontem à noite, mas imaginei que estava esgotado com o dia que passou, foi muito estressante, eu imagino.  

-Sim. Com licença. - Tirei o seu braço, escolhendo os tecidos.  

Minha noiva perguntou: - Algum vestido novo? - Neguei, em silêncio. - Então um terno? - Neguei. - Nada?  

-Nada... 

-Então o que está fazendo? - Estranhou. - Sei que não gosta de arrumação. 

-Eu vou me mudar para o porão.  

-Se mudar?  

-Não conte para a Rainha. - Sussurrei.  

-É claro. - Enid arfou. - Tinha que colocar a Alice no meio... 

-Esse... - Apertei o tecido. - J-jeitinho autoritário dela às vezes me deixa enfurecido!  

Enid sorriu. - A odeia? 

Aquiesci. Retornando aos tecidos. - Ela é mesmo muito mandona... - Comentava. - Inclusive... Escutei uma conversa do Rei com McTwisp sobre a Alice não ter tido sucesso em engravidar.  

-Hum.  

-Ele disse ela pagaria pela espera e humilhação.  

Parei o que fazia. - E o que mais? 

-Eu não escutei. - Sorriu, perambulando. - Por que a preocupação? 

-P-por nada!  

Enid se sentou no sofá, alisando-o. - Na verdade, fiquei muito pensativa quando ele disse isso... Sobre ela não engravidar, entende?  

-Uhum.  

A morena se levantou, jogando os cabelos lisos. - Não acha que posso ser uma boa mãe? Imagina! - Sorriu. - Um bebê nosso!  

-Que ótimo, querida. - Analisava os tecidos.  

-Prefere menino ou menina?  

-Algodão... Lã... - Separava. - Menina. N-não... - Sorri curto. - Menino.  

-Ah, eu pensei mesmo que ficaria indeciso! - Exclamou, rindo. - Pois eu prefiro gêmeos, um casal!  

Suspirei, jogando os tecidos. - Enid... Queridinha...  

-Está bem. - Ela sorriu. - Eu já entendi. Você está ocupado. - Ela beijou os meus lábios rapidamente. - Nos vemos mais tarde. Te amo.  

-Também... Amo... Você. - Toquei seu nariz, a ponta. Para que ela não percebesse que minha hesitação fora muito mais intensa do que nas outras vezes.  

Mas sabe? Eu acho que era fácil notar.  

[...] 

-Alice. - Mensurei seu nome com raiva. Eu pressionava os próprios pulsos com força, quase quebrando meus dedos. Esperava que o bule fervesse, e desejava que o procedimento fosse mais rápido. Cruzei meus braços. - Autoritária, p-pensa que me proibindo vai me impedir de fazer o meu trabalho. P-pois que espere sentadinha em seu trono! - Os meus pensamentos raivosos pareciam transpassar para o metal do bule, que ferveu embaixo da lenha após minha exclamação precipitada. 

Enchi a xícara com a bebida quente, pelando... Quase derretendo a porcelana, eu a peguei, sentindo o seu aroma que foi capaz de acalmar minhas emoções, só mesmo Alice conseguia despertar minha raiva após uma noite de amor.  

Esquecendo meus pensamentos, ouvia ao longe uma melodia vinda do órgão.  

Saí para espiar, era atraído pela música que tinha suas pequenas falhas de iniciante, embora não lhe tirassem a beleza da melodia. - Está indo muito bem. - Elogiou a professora de orquestra. Valentina balançava seus pés sentada ao banco de camurça. 

Ela sorriu. - Obrigada.  

-Está diferente. Com licença. - Ela puxou cuidadosamente o seu chapéu e sorriu com surpresa. - Quem cortou seus cabelos? 

Valentina ficou em silêncio enquanto sua professora aguardava uma resposta, seus grandes olhos pararam na mulher. - Papai. - Disse insegura. - Mas ai a mamãe chamou um homem com tesouras para cortar melhor.  

-Ficou muito bonita. - Tocou os cabelos acobreados, cheios e cacheados. - Evidenciou bem esse rostinho angelical. Sabe o que eu acho? - Inclinou a cabeça, gentilmente. - As mulheres deveriam ter os cabelos curtos.  

-Acha mesmo? 

-Claro que sim. - Levantou para pegar sua mala de couro, guardando as pautas. - Nos vemos na próxima semana.  

A pequena saltou do banco. Vendo sua maestra passar pela outra porta. - Tchau professora! - Acenava, a mulher acenou de volta, com um sorriso.  

Abri a porta de entrada. - Oi.  

Valentina se espantou ao me ver, mas logo sorriu. - Oi.  

-Eu ouvi você tocando órgão. - Sorri.  

-Ainda estou aprendendo.  

Pensei no que falar, normalmente, com ela, tinha esse cuidado. - V-você foi muito bem.  

Ela se aproximou, curiosa. - O que está tomando? 

-Oh, é chá.  

-Prefiro leite. - Riu.  

Aquela risadinha tão igual a minha, seguida do seu sorriso, idêntico ao de Alice. Não pude resistir, meus olhos estavam sensíveis a sua beleza, embora eu me esforçasse para não chorar.  

Valentina estava ali. Tão perto de mim. 

Nossa filha. - Você quer sair comigo? 

Ela olhou para os lados. - O papai não vai deixar.  

-O papai não tem que saber. Só a mamãe. - Me agachei. - Vamos. Eu não estou num dia muito bom. Eu queria sua companhia... - Cerrei os olhos. - Não sabes quanto me alegra.  

Pensou, os olhos vigiavam ao redor outra vez, os lábios se torceram e então... - Tá bom. - Ela me tirou a angústia da espera. 

[...] 

Valentina segurava minha mão. E eu segurava o meu entusiasmo por sair com ela. Empurrei a porta da lanchonete, a criança vibrou com o som do sininho que tocava toda a vez que algum cliente entrava ou saia. Algumas garçonetes olharam para nós, elas usavam seus uniformes, vestidos simples que cobriam até seus tornozelos. - Faz de novo, faz! - Sorri. E abri a porta outra vez. Valentina gargalhou, tentando segurar a risada frenética.  

-Vamos... - Pegamos uma pequena fila, ela tentava observar o que havia no balcão de vidro. - Logo vai chegar nossa vez.  

-Eu nunca vim aqui. - Saltitava. Segurei sua mão. - Olha tio, aqui tem biscoitos! - Observou uma criança com uma caixa de cookies, acompanhada por seus pais e talvez o seu avô.  

-Isso é ótimo, meu bem.  

-Hum. Minha barriguinha está falando comigo. - Ela a alisou. 

Sorri. - E o que ela diz? 

-Disse que está com fome. 

-Então logo vamos resolver!  

A fila diminuía e sua ansiedade aumentava. 

Quando chegou nossa vez, a Ruivinha descabelada se apoiou no balcão de vidro, embora não conseguisse alcançar seu olhar para as sobremesas mais altas. -Quero esse aqui. Esse.. E mais esse!  

Sorri, entregando o dinheiro. - Vamos querer dois de cada. E mais dois chocolates quentes.   

Ela puxava o meu terno enquanto eu tinha o cuidado de levar seu pedido até a mesa em que se sentou: Era grande, redonda, as cadeiras de madeira e muito confortável, tinhamos vista para a janela, onde havia um dos bosques mais frequentados de Wonderland. Arrastei minha cadeira assim que arrumei as guloseimas. Não pude evitar de olhá-la. Aquelas bochechas rosadinhas com pequenos pontos marrons, a forma como sorria, deixando que seus lábios gentis se esticassem... Os olhos brilhavam como nunca enquanto Valentina espiava as árvores da janela, apoiando o cotovelo na mesa rendada.  

Precisava sair daquela hipnose, mas para mim ainda parecia impossível estar ali... com ela.  

Me sentei. Sentindo seu pezinho nervoso chutando sutilmente o meu joelho, puxei a toalha de mesa para observar.  

Ela balançava seus pés, presos a sua sapatilha vermelha e brilhante, ansiosamente. - Uhn. - Sorri. - Aqui está o seu chocolate. - Entreguei, ela segurava com cuidado. - Pedi numa caneca para você não derrubar.  

Valentina provou. - Hum. - Ganhava um bigode marrom e cremoso. - Está gostoso, tio.  

Tentei ser sutil em aproximar nossas cadeiras. - Não prefere tirar as luvas?  

Ela soltou a caneca, observando suas mãos. - Eu não posso. - Recolheu-as sobre sua saia.  

-Por quê? 

-Eu preciso... - Sussurrou, pausando. - esconder minhas mãozinhas, elas não gostam de aparecer muito.  

-Vamos. - Insisti, pegando o seu pulso com carinho. - Veja só que luvinha. - Sorrimos. - N-não queremos que a senhorita suje esse cetim, uhn!  

Puxei o pequeno nó em volta do seu pulso. Ouvi o seu suspiro enquanto ela me olhava, talvez para perceber minha reação quando me deparasse com suas manchas coloridas. Afrouxei seus dedos, um por um até tirá-la, devagar...  

Sua pele era como um pedaço do céu. Como o amanhecer, com pequenas manchas claras... O entardecer e o anoitecer se mesclavam entre si, e havia o verde que pintava eternamente suas unhas. - M-mamãe nunca me disse por que eu tenho tantas cores. - Admitiu a criança, intrigada. - E-ela diz... E-ela diz que é por que eu nasci pintando, daí manchou tudo. 

Sorrimos, enquanto eu me concentrava com seu outro par. - Com certeza é isso, querida.  

Nos olhamos. - Tio, eu posso pegar uma rosquinha? - Apontou. 

-É c-claro.  

Valentina lambuzou seus dedos com o açúcar que salpicava no doce, ela deu uma mordida. Enquanto eu a olhava comer. Passou para o chocolate quente, intercalando o que decidia provar. Aproveitei para tocar os seus cabelos, e novamente ganhei a atenção de seus grandes olhos. - Por que você fugiu? 

A criança largou tudo. De repente, percebi que havia cutucado num pequeno bichinho da tristeza, ela se encolheu, abaixando sua cabeça. - Os adultos não entendem. - Lamentou. - Eles não entendem nada.  

-E-eu concordo! - Ri. 

-O s-senhor é um adulto também. - Acusou. 

-Ora, quem disse?!  

Estranhou. - Não é? 

-Uh! N-não! - Abanei a mão. - Não mesmo! S-sou uma eterna c-criança! - Sorri. - Ou uma c-criança eterna, s-seja como for! Às vezes, Mally e e-eu ainda brigamos p-pelo último pedaço de r-rosquinha. - Peguei duas da caixa. E usei-as para fingir serem meus olhos. - Uhn? Me conte. 

Ela me olhou, e riu. - O senhor está engraçado.  

Aproximei mais o meu rosto, sua risada aumentou de nível. - V-vamos senhorita Kingsley.  

Valentina não mais hesitou. Entretanto, aquele tal bichinho da tristeza retornava com o assunto. - O papai me disse que não gosta de mim. - Abaixou a cabeça, enquanto eu afastava as rosquinhas, revirando meus olhos, tinha certeza que um cristal de açúcar havia entrado em minha retina.  

-E por que acha isso? 

Ela me olhou, com mágoa. - Ele d-disse. - E então, chorou. 

Eu queria abraçá-la com todas as forças, queria dizer que ela estava de frente para seu verdadeiro pai. Mas a minha língua enrolou, e eu me lembrei que eu não suportaria sua rejeição.  

Seus ombros sacudiam quando ela ergueu o seu rosto e me torturou com seus olhos marejados, olhos tristes e marejados... Havia mais. - E-ele disse...- Fungou. Coçando o olho. - Que q-queria que eu fosse embora.  

Como súdito, eu deveria ser leal ao Rei e dizer para sua filha que ele a amava, mesmo que não fosse verdade. 

Mas como pai, eu jamais a machucaria.  

Ela tampava o seu rosto quando peguei um guardanapo, usei o pano para secar suas lágrimas, vendo uma coriza percorrendo a borda dos seus lábios. - Vamos comer, s-sim? 

Hesitou até ceder. Lhe dei umas novas rosquinhas.  

~Cinco dias depois~ 

Valentina adorou a lanchonete.  

E quase todas as tardes eu a convidava para comer rosquinhas, eram deliciosas.  

E o melhor de tudo, com certeza era sua companhia. 

Tinha tantas perguntas... Parecia com a pequena Alice que conheci.  

''Tio, por que os relógios tem ponteiros?'' ''Tio, quem criou as cores?'' ''Tio, por que o senhor usa saia?'' ''Tio, o marido da joaninha se chama joaninho?'' ''Tio, qual é a diferença de legumes e vegetais? '' ''Tio, quem inventou a música?'' ''Tio, por que precisamos de etiquetas?'' ''Tio, o que tem em cima do céu?'' ''Tio, por que a água é molhada?'' ''Tio, por que nós crescemos?'' ''Tio, dentes de leite servem para beber?'' ''Tio, por que os cavalos levam chicotadas?''  

Todas as suas perguntas tinham aquela pequena palavra de três letras. Eu ansiava pelo dia em que aquela palavra fosse substituída, finalmente substituída por outra tão curta quanto esta, porém, muito mais significativa para mim.  

[...] 

Empilhava as caixas nos corredores, McTwisp me alertou que a Rainha queria me ver. Antes de bater na porta, apoiei-me na parede e pude ouvir certas risadinhas vindo do interior de seu cômodo. Equilibrei a pilha de caixas e bati na porta. 

Eu nunca pensei que precisaria de permissão para entrar em meu próprio atelier. 

''Entre!'' - Ouvi sua voz feminina e autoritária.  

Antes que pudesse lhe dizer que tinha seus últimos vestidos prontos, me deparei com alguém que nunca imaginei que veria de novo. A Rainha parecia se divertir com o jovem rapaz dos cabelos loiros e pele amarronzada. 

Sebastian com certeza estava quase chegando a minha altura.  

Ele usava um belo terno cor de creme, que evidenciava a cor azul intensa dos seus olhos. Os dois tomavam um copo de conhaque. - Deixe-me ajudá-lo. - Foi prestativo ao pegar as caixas, permiti. Encarando a Rainha em silêncio.  

-Não me olhes assim. - Disse Alice caminhando até a bandeia onde deixou o copo com conhaque.  

Tentei manter minha cabeça no lugar. - E-eu trouxe alguns vestidos.  

-Não o chamei para isso. - Me cortou, atravessando o atelier. - Queria comunicá-lo que o Sebastian vai cuidar dos meus vestidos durante esses quatro meses de licença. - Ela tocou em seu ombro.  

Ele sorriu. - Na verdade, sou um alfaiate agora. Mas darei o melhor de mim para a minha querida Soberana. - Se curvou.  

-Majestade, e-ele não tem a mesma experiência que tenho. 

-Ninguém nasce sabendo. - Me cortou outra vez. Trinquei meus dentes. - Mas não vou deixá-lo desamparado. Sebastian foi generoso e concordou em lhe dar uma pequena porcentagem do lucro que tiver. - Pausou. - Além disso, ele me disse que entende os malefícios do mercúrio e procura não usá-lo em vestidos. - Se aproximou, sorrindo. - O que me diz? 

Cruzei os braços. - Hum. Eu não aceito.  

-Ah, Tarrant... - Ela arfou. 

-Eu não gosto desse jovenzinho! Eu sei o que ele vai tentar com Vossa Majestade e com todas as outras mulheres deste Castelo!  

-Está me depreciando, senhor Hightopp!  

Me virei, irritado. - Sabes bem que é verdade! - Gritei. -Você não faz vestidos por amor ou por ofício! Está aqui para apalpar as moças! E eu não vou emprestar meu atelier!!!- Gritei mais, respirando em seguida. - E-eu estou bem.  

-Então aceite o acordo. - Pediu Alice. - É um bom acordo.  

-N-não é! - Teimava. - Eu já disse que estou muito bem para trabalhar. - Cruzei os meus braços.  

-Esqueça. - Insistiu. - É para a sua saúde. Vamos, Sebastian.  O que ganhar com as encomendas fica só para você. - Ela puxou o seu braço, ele seguiu a Rainha. - Eu vou lhe mostrar onde vai dormir.  

-Agora mais essa! - Fui até o corredor. - Divirta-se seu jovenzinho interesseiro e oportunista!  

-Amor, o que está havendo? - Enid chegava. - Por que está gritando assim no corredor?  

-Alice me deixa maluco... - Murmurei enquanto entrava. - D-digo, e-eu... q-quis dizer... - Sorri. - No b-bom sentido! N-não... N-no sentido... Ruim.  

-Hum. - Olhou em volta. - Ainda não entendo por que vai se mudar para o porão.  

-Schiu, fale baixo. - Me sentei. - A Rainha não quer que eu faça vestidos e nem chapéus durante quatro meses, ou até que eu melhore... - Mostrei minhas mãos, Enid já tinha visto minhas novas manchas. - Disto.  

-Será que não passou pela cabeça dela que você ficará sem dinheiro?! - Se irritou. 

-Hum! Ela parece não se importar! - Me levantei. - M-mas pensando bem... E-eu moro no castelo. 

-Você precisa continuar trabalhando. Você sabe. Temos que nos casar.  

Nos calamos.  

O mesmo pensamento chegava para nós dois. - Ela não quer que você ganhe dinheiro para que não se case comigo!  

Eu queria acreditar que tudo aquilo era um grande engano e que Alice não estava tentando sabotar nossos planos, mas parte de mim insistia em sorrir. - A Rainha vai me pagar! - Prometeu a feiticeira. 

-Acalme-se, meu amor. - Segurei seus braços.  

-Ela disse até quatro meses. É justamente daqui há quatro meses que nos casaremos!  

Cocei minha nuca, confuso. - Está... T-tão perto assim? 

Ela me olhou. - Você ainda está em dúvida?  

-E-eu???? N-não!  

Enid abaixou seus ombros. - Não tente mentir, está em seus olhos.  

Eu a beijei. - Eu quero me casar com você.  

Sorriu. - Eu não vejo a hora de nosso casamento finalmente acontecer.  

-Eu também. - Admiti. - Estou ansioso...  

-E então? - Olhou em volta. - Parece que não há mais nada para levar para o porão. 

-Não! - Sorri, exclamando. - Na verdade você me lembrou, tenho trabalho a fazer! Muito trabalho!   

[...] 

-Aqui está, Lucie. - Dobrei bem sua encomenda. - Eu lamento todo esse imprevisto! Mas terminei seus aventais! 

Ela sorriu, olhando em volta, Valentina dormia em seu ombro. - Obrigada. Admito que é meio estranho descer para o porão para pegar minhas peças...  

-Eu sei que costumo entregar. M-mas... - Balancei a cabeça. - A Rainha está louca, tem me vigiado. Há dias tenho me escondido aqui. - Sussurrei.  

-Ouvi dizer que ela está desconfiada.  

-Oh... - Olhei em volta. - Sim. Ela me viu entrando e saindo do porão algumas vezes.  

-Me falaram que o novo costureiro entrega os vestidos com o dobro de tempo. - Comentou.  

-Hum, aquele garoto mal agradecido. - Cerrei meus olhos.  

-Bom, eu tenho ir. Aqui está o seu dinheiro.  

-Obrigado.  

“Tio?” 

Sorri.  

Lucie se virou para a minha direção, junto com um suspiro, sabia que a princesinha não mais dormiria naquela tarde. Ela levantou sua cabeça, ainda grougue do sono que a pegou. – Posso ficar com o senhor?  

-O seu pai não vai gostar, princesa. – Alertou a criada.  

Mas Valentina esticava seus braços, e parecia estar decidida a mantê-los assim até que pegasse.  

Eu estava louco para isso.  

Assim, a peguei. Sorrindo, senti sua bochecha esfregando na minha enquanto ela se aninhava em meus braços. – Tchauzinho tia Lucie. – Sorriu. Também acenei para a criada que saiu andando para a escadaria. – Mamãe! – A Rainha passava no andar de cima, onde pôde ser vista pelo lance de escadas, arregalei os olhos.  

Alice parou. Estaria feliz em nos ver juntos se não fosse sua curiosidade em saber o que eu fazia ali, justamente ali. Eu não poderia permitir. – Ohhhh... Céus. – Soltei a garota. Subindo as escadas. 

-Não tente fugir! – Kingsley teve tempo em impedir que a porta fosse fechada. – Eu sabia! – Não precisou olhar muito para constatar que eu confeccionava vestidos e chapéus as escondidas.  

Brava, marchou em minha direção. – Como pode desacatar a minha ordem?! – Esbravejou. - Eu deveria mandá-lo agora mesmo para a masmorra!  

Gargalhei, correndo pelo porão. - N-não me pega, não me pega!  

Alice estava enfurecida com meu deboche, ela conseguiu me empurrar, caí na poltrona que virou comigo, pude ouvir uma pequena risadinha disfarçada de Valentina, que nos assistia. - Mentiu para mim! - Acusava a Rainha, furiosa. Me reergui, ajeitando meu terno. - Eu estou muito decepcionada com você, Tarrant.  

Valentina correu para abraçá-la, quase sumindo entre as camadas da saia de sua mãe.  

Nos olhamos, em silêncio. - Parece que... Nada mudou. Não é mesmo? - Questionou a loira, desapontada. - Aquela noite...  

-Alice. - Dei um passo na sua direção.  

Mas ela se esquivou de qualquer contato. - Se tem fingindo estar cumprido com a minha ordem... Fingiu também tudo o que disse. - Acusava, me olhando com seriedade e prepotência.  

Uni as sobrancelhas. - Você não pode deduzir meus... - A palavra entalou em minha garganta... ''Sentimentos'' esta era a palavra mas os olhos bondosos e inocentes de nossa filha fixaram em mim, tentando compreender o motivo daquela briga, discussão... Ou, apenas um jogo de palavras sem sentido e transbordada de mágoas. - V-vamos conversar depois, Majestade. - Pedi, me esforçando para manter meu equilíbrio e sanidade. Era difícil.  

E Alice certamente não colaborava: - Não tenho nada para falar com você. - Ela disse, puxando o braço de Valentina e tentando arrastá-la pelas escadas. 

Suas sapatilhas vermelhas arranhavam o piso de madeira, causando atrito. - Não quero mamãe, quero ficar com o Chapeleiro. - Pedia a menina quando Alice permitiu, subindo as escadas enquanto parecia limpar o seu rosto. Eu me iludia em pensar que eram lágrimas, mas Alice tinha um grande problema com essas tais pequenas gotas que saíam de seus olhos.   

[...] 

Valentina estava comportada, sentadinha ao canto da janela. Os olhos entretidos no céu.  

Eu trazia nossos lanches. 

Me sentei ao seu lado, sorrindo, ela retribuiu. - Tio. - Se equilibrou em cima da cadeira. - Posso ficar no seu colo? - Dei espaço ao permitir, ela subiu em minhas coxas e se acomodou em meu peito, eu a abracei, enquanto seu bracinho se esticava para escolher qual guloseima comeria dessa vez. Tínhamos tortas, broas e bolachas com recheio de creme de leite. - Olha! - Tina apontou.  

-É uma nuvem.  

-Parece um algodão. - Olhou para mim.  

Sorri, concordando. - Se fosse possível... - Comecei. - Eu enrolaria aquela nuvem num palito.  

Ela riu. - Eu acho que vai chover, tio.  

Suspirei. - Oh, sim... O céu está fechando.  

-Tio? - Estranhou. - O senhor não parece muito bem.  

Eu a coloquei de volta em sua cadeira. - É que eu não gosto de discutir com a sua mãe, meu anjinho.  

Vale ficou em silêncio. Esperando por mais. - Eu s-sinto... Um aperto no meu peito toda a vez que brigo com ela.  

Ela molhou a bolacha em seu chocolate quente, percebi que gostava disso. - Tio... - As bochechas se enchiam com o doce, enquanto mastigava. - C-como o senhor e a mamãe se conheceram?  

Tentei evitar que meus sentimentos sobressaltassem, mas isso era tão impossível quanto não apreciar bolachas mergulhadas no chocolate quente. O céu escurecia, faltava pouco tempo para que a tempestade surgisse. Minha criança curiosa questionou outra vez, tentando me tirar dos devaneios que perseguiam minha mente perturbada. Balancei a cabeça e consegui sair da hipnose de minhas lembranças com Alice, eu deveria matá-las. Mas como fazê-lo com uma filha?  

-Está na hora de irmos. - Arrastei a cadeira ao me levantar.  

Peguei as caixas com as guloseimas que sobraram, Valentina bebia seu chocolate quente apressadamente enquanto eu  recolhia nossos pertences e suas luvas, devidamente dobradas.  

## 

A dor de cabeça me perseguia o dia inteiro.  

Pensei que um bom banho de espuma me ajudaria com esse problema, mas decidi que era hora de apelar para um pouco de efervescentes. - O que está tomando? - Stayne perguntou ao chegar em nosso quarto.  

Bebi depressa, o gosto não era dos melhores. Depois de virar o copo, pude respondê-lo. - Remédio para enxaqueca.  

-Hum. - Estranhou, enquanto se vestia. - Parece que está me escondendo alguma coisa.  

-Eu não tenho nada para esconder. - Me virei, Valentina dormia em nosso colchão. Eu a cobri com cuidado. 

-Eu não quero essa garota aqui!  

-Deixe-a, sei que não vai dormir agora. Está se encontrando com Lucie todas as noites. 

O Rei se ajeitou no espelho, calando-se brevemente. Seu único olho parou em minha filha, que também o olhava discretamente.- Tire ela daqui, Alice.  

Ela me abraçou sem contestar. Eu a peguei, me levantando.  

Uma leve tontura me fez apoiar na cabeceira por alguns instantes, fechei os meus olhos, tendo a certeza que Ilosovic Stayne aguardava nossa saída com ansiedade.  

Abri meus olhos, vendo-o me encarar. Estava sério e desconfiado, dava para perceber pela forma como seus lábios se contraiam, deixando a cicatriz de guerra que marcava seu rosto com mais profundidade. - Dê boa noite ao papai. - Sorri para a pequena que recostava sua cabeça em meu ombro, com suas perninhas entrelaçadas em mim e os pequenos braços envolvidos em meu pescoço. - Dê boa noite. - Pedi outra vez.  

Stayne aguardava.  

-... - Ela o olhou, até dizer: - Boa noite, papai.  

Em outras épocas, Valentina esticaria os seus braços e balançaria seus pés, enquanto exclamava sorridente. '' Boa noite, papai! '' esperando que tivesse sorte e ele aceitasse tê-la em seu colo por poucos segundos.  

Mas agora...  

Ela não fazia questão.  

- Vamos... - Atravessei o quarto, chegando ao corredor.  

O quarto ao lado era o seu, sua cama estava feita e arrumada. - Boa noite, meu amor. - Beijei sua testa.  

-Boa noite, mamãe. - Ela sorriu, escondendo-se no edredom.  

Eu o puxei. Sempre fazíamos isso, e ela nunca se enjoava. - Buh!  

Rimos. - Está triste com o seu pai?  

De repente, Valentina mudou de expressão. - Ele não gosta de mim. - Uma lágrima arrastou com facilidade por seu rosto. - E e-eu n-não gosto mais dele n-não. Não gosto.  

-Stayne. - Proferi seu nome decepcionada.  

-Mamãe. - Me abraçou. - Dorme comigo.  

-Valentina... 

-Por favor, só um pouquinho assim.  

Suspirei. - Tudo bem. - Me ajeitei em seu colchão, abraçando-a de conchinha. 

[...] 

Um solitário castiçal me acompanhava até a cozinha. Abri as portas de madeira dos armários, em busca de algum chá ou qualquer coisa que cortasse aquele mal estar. Estava sentada na cadeira, apoiando minha cabeça no balcão de mármore enquanto aguardava o bule ferver. Eu sei que poderia acordar Meredith, ou quem sabe, qualquer uma de minhas criadas, mas eu não queria que ninguém suspeitasse...  

-Rainha?  

Tarrant estremeceu na entrada da cozinha. Segurando seu castiçal. Levantei a cabeça, vendo a careta que exibiu. - Está pálida.  

-Estou com dor de cabeça... E tontura. Oh...  

Ele se aproximou. Engoli. - Tarrant, acho que estou grávida.  

Apontou seu dedo e riu. - E-estou falando sério! - Me irritei.  

-Vossa Majestade disse que o que fizemos não significou nada. Nada!  

-Pare de gritar...  

Ele se sentou de frente para mim. - Eu estou pronto. - Pegou minha mão por cima da mármore.  

Levantei o meu rosto, minha visão turva percebeu um sorriso gentil brincando em seus lábios. - Para o quê? 

Seus grandes olhos vigiaram ao redor, até que sussurrou com cuidado. - Para a verdade. Quero contar a verdade para nossa filha, não importa o que me aconteça.  

-Valen decidiu que está magoada com o Stayne. - Murmurei, com dor. - Eu não acho que é o melhor momento para ela descobrir que tem dois pais.  

-E-ela nunca teve dois pais. - Rosnou. 

-Está bem, Chapeleiro. - Balancei a cabeça. - Eu não quero entrar nesse assunto. Não concordo com sua ideia, é louca e... - Busquei outra palavra. - Absurda.  

-Oh, certo. - Se levantou, mentalmente equilibrado. - E Vossa Majestade não acha que é um absurdo mentir para uma criança!!! 

-Eu mandei parar de gritar, minha cabeça está explodindo!  

Passos firmes em direção a cozinha, vi a sombra de Meredith e ao lado, Valentina. - Rainha. - Curvou-se a senhora, segurando a mão de Valentina que correu em minha direção. - Ela me acordou, disse que você foi embora. - Comentou enquanto eu a abraçava. - Então decidi que deveria preparar um leite para que dormisse.  

-Não. - Me levantei, nervosa. - Valentina, suba... - Eu a soltei. - Vamos, deixe a mamãe. Meredith, leve ela daqui.  

A criada se apressou em pegá-la no colo, ela se contorceu. - Espere, espere! - Tarrant chamou.  

-Eu quero ficar com a mamãe.  

-Uh, e a mamãe tem uma grande novidade pra você! 

Arregalei os olhos para o Chapeleiro, ele sorria, apoiando os cotovelos no balcão. - Vamos, diga a ela, Alice! - Pegou minha mão. - Diga, mamãe. - Me soltei, enquanto Valentina aguardava em silêncio. - Ou eu mesmo vou dizer! 

Eu estava paralisada. 

Uma ânsia de vômito chegava até minha garganta, precisei engolir. Sem fala e sem ação. - O quê? - A essa altura, Valentina não esqueceria sua ansiedade, tampouco voltaria a dormir.  

-E-eu... - Me enrolei, pensando em qualquer coisa. - M-mandei o... O Chapeleiro fazer uma boneca nova para você. - Sorri.  

-Boneca! - Ela bateu palmas.  

-Não... Não é isso! Mas já que a sua mamãe não quer contar... C-conto eu! A verdade, a grande verdade!  

Apertei o seu pulso por cima do balcão. A criada passou a suspeitar. - Senhor Hightopp, tome cuidado com o que vai dizer. 

Ele estava agitado. - Sabe o papai?  

-Papai? - O sorriso de Valen terminou.  

-O papai... - Tarrant deu novos passos, prendi minha respiração. - O papai não é o papai. O papai não é o papai... - Cantarolou.  

-Cale-se,Tarrant! Cale-se! - Gritei. 

Ele saltou para o balcão. - O papai! O seu papai de verdade! - Ele sorria quando respirou fundo. - Sou eu! - Derrubou algumas porcelanas quando arrastou seus joelhos pela mármore, assim buscando a mão de Valentina. Ela se soltou, digerindo confusa e surpresa o que acabara de ouvir. - Filha... - O louco sorria, acreditando que seria retribuído. - Minha filha, finalmente posso chamá-la assim. F-filhinha...  

Com toda aquela confusão, minha cabeça rodava e rodava. 


Notas Finais


Parece que o mercúrio está atacando todo o corpo do Tarrant. :c
Eita, tantas novidades, não?
O que será que está acontecendo com a Alice?
Chalice tá em pé de guerra!
E AGORA, COM VOCÊS, FINALMENTE A VERDADE!
Como vai ser a partir de agora?

Por favor, você que nunca comentou, é sua chance de dar ideias e palpites quanto a fic, são os capítulos finais. <3


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