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História Apenas um sonho - Aos galhos de Macadâmia


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


O capítulo saiu grande por que estou apresentando novos personagens.

Espero que gostem!

Capítulo 90 - Aos galhos de Macadâmia


Fanfic / Fanfiction Apenas um sonho - Aos galhos de Macadâmia

Aquele homem.  

Me lançava um olhar ameaçador.  

O meu braço mantinha-se envolto pelo pescoço de Tarrant. Eu acariciava sua nuca quando desviei o olhar.  

-Vamos entrando? – Perguntei sorrindo para o pai de minha filha.  

A mesma pergunta poderia ser ouvida vindo da voz suave da vizinha, para seu marido. Tarrant assentiu. Segurou minha mão. – Cuidado... – Dizia, me guiando pelo mato alto e abandonado do jardim.  

Era um jardim vasto, e se bem cuidado poderia encher os olhos de quem o admirasse. No entanto, no momento eu estava muito mais interessada em esconder o meu rosto.  

Entrelaçamos nossos dedos. Chegando ao degrau que ligava a uma varandinha.  

Na varanda, haviam duas cadeiras empoeiradas e uma pequena mesinha que tombava sem um de seus pés. Eu observava tudo em minha volta, enquanto Hightopp preocupava-se em desemperrar a porta, empurrando-a com o joelho enquanto girava a maçaneta endurecida. – Vamos logo. – Pedi, ansiosa.  

Observava a casa ao lado.  

Na janela de um dos cômodos, podia-se ver que a esposa do informante estava na cozinha lavando pratos, sendo ajudada por uma senhora sorridente. Elas pareciam desfrutar de uma boa conversa.  

O seu marido também chegava na cozinha, segurando seu filho mais novo e beijando o rosto da senhora. Sua sogra, talvez.  

Acordei-me dos pensamentos quando ouvi um som típico de madeira apodrecida sendo quebrada. Olhei assustada para frente, Tarrant pisava na porta, agora caída com um buraco imitando a forma de seu pé.  

Ele me olhou, mostrando os dentes ao sorrir. – E-eu... Vou consertar!  

Retribui o sorriso. Ele segurou minha mão e me ajudou a passar pela porta.  

Abanamos nossas mãos com a poeira que subiu pelo impacto.  

-Está escuro. – Comento, engolindo minha tosse.  

-Talvez possa ser a árvore do jardim. – Me olhou, explicando calmamente. – Seus galhos podem fazer sombra. 

Caminhamos um pouco mais.  

A sala era grande. Grande e escura. – Precisaremos de muitos castiçais. – Avisei. Ele assentiu.  

Avistei uma estante enorme de madeira. Me perguntava como poderia estar em bom estado? Tirando todo o pó que a envolvia, não havia nenhum vestígio de cupins.  

Era bonita, certamente foi feita a mão. Me aproximei, vendo que Tarrant partia para um corredor.  

E ao me aproximar, escuto um barulho alto de escombro. Sem reação, olhei para cima, assistindo uma parte da madeira vindo em minha direção.  

Dois braços me puxaram imediatamente, meu coração disparava ao imaginar o que aconteceria comigo e com a bebê se Tarrant não nos salvassem. Ele me abraçava por trás, e quando a madeira chocou-se ao chão, além de render uma nova camada de poeira, nos trouxe o choro de Valentina. – Vocês estão bem?! – Ele perguntou, alisando meu braço.  

Assenti espantada e estremecida. - Fique comigo, sim? – Aceitei. Sabendo que agora ele não soltaria minha mão.  

Deixamos a sala. Observando o quanto nossa cozinha também era grande.  

Parecia um pouco melhor do que a sala. Tinha pia, armários e louças bem guardadas com um pano delicado que cobria da poeira.  

Tarrant só precisou estudar a sala e a cozinha para constatar. – Está perfeito! – Exclamou, sorridente.  

Eu não poderia estar mais aborrecida. – Do que está falando?! Esta cabana está caindo aos pedaços! – Gritei, ele desfez seu sorriso. – Não temos iluminação, nem porta, há mosquito no jardim! Sem contar com a madeira que por pouco não caiu em mim! 

-Acalme-se. Eu vou ajeitar tudo.  

-Ajeitar?! Tarrant... Você não sabe construir ou reformar nada que não seja tecidos!  

Cruzou seus braços. – Tem plano melhor?!  

Valentina chorava. Pensei em seu retruco. – Não... – Respondi fracamente.  

- Pois bem! – Ergueu seu rosto, sorrindo com orgulho. Tratei de ninar Valentina. – Eu sou o homem. – Dizia com sotaque enquanto batia em seu peito. Eu o olhei com certo deboche. – Vou cuidar do dinheiro que temos e... – Abriu a porta do armário da cozinha, ela soltou-se. – E vou reformar tudo. – Prometia, com um sorriso de constrangimento. – Você só precisa cuidar da nossa filha... E dos afazeres domésticos.– Fazia uma careta, escondendo seu sorriso.  

-Como disse?! 

-Oh meu bem. – Tarrant me abraçava por trás. “me solte” pedi de imediato. – Te darei todo o conforto que precisa. Mas seja boazinha. – Eu me esquivava de seu abraço apertado. – Sou tão feliz por ter você.  

-Tá bom! – Aceitei, convencida. – Mas me solte...  

– Eu serei um bom homem. – Segurou minha mão, prometendo num sussurro suave que me fez sorrir. – T-te darei flores.  

-Tarrant... – Corei.  

-Direi que a amo. – Beijou minha mão. – Eu posso dizer para todos, agora. Estamos longe do castelo. - Largou-me, subindo num único salto sobre a pia. – EU TE AMO, ALICE! 

-Pare! – Revidei. – Desça daí! Ficou louco?!  

-Suba aqui e dançaremos juntos! – Sapateava. – MINHA ALICE É A MULHER MAIS LINDA DE WONDERLAND!  

-Está me envergonhando, pare! – Avisei. 

Não importava o quanto pedisse, Tarrant Hightopp adorava chamar a atenção.  

Suspirei, meus braços cansavam de segurar Valentina durante toda a viagem, admito. - Queria... Procurar o quarto.  

-Oh, sim! - Num pulo, ele desceu de nossa pia. 

Não esperei. Fui andando, meus passos marcavam o chão com pegadas. Sei que passaria o dia inteiro a limpar todo o pó desta cabana.  

Chegava na sala, atravessando o cômodo com cuidado e subindo os degraus da escada de madeira, felizmente, os últimos moradores tiveram o bom senso de colocar um carpete vermelho nos degraus.  

O corrimão era firme.  

E a cabana, admito... Era muito maior do que imaginei.  

Após as escadas, havia mais alguns corredores com três portas.  

Havia um grande espaço entre elas, na certa nosso quarto seria tão grande como nossa sala.  

Abri a primeira porta a esquerda, ela chamava a minha atenção por ser a única do outro lado do corredor.  

Era um quarto pronto e bem cuidado. Uma cama de casal espaçosa e confortável, a frente dela, havia uma lareira feita de pedras, suas lenhas estavam queimadas e escurecidas. Um belo lustre com velas nunca usadas estava pendurado no teto, embelezando ainda mais o ambiente. 

Além de um armário simples, que caberiam todas as nossas vestimentas, tinha também uma penteadeira com uma cadeira pequena de camurça.  

-Já sabe o que devemos fazer para estrear essa cama. - Sua voz pairava no ar, senti suas mãos me envolverem.  

Mas não por muito tempo. Afastei-me, sorrindo. - Sim. - Tarrant sorria de volta, não era mais um dos seus sorrisos meigos, mas um sorriso com certa sensualidade, enquanto os seus olhos ganhavam um vermelho discreto. - Colocaremos Valentina no colchão. - Ele me olhava, de certo concordando com minha ideia para que sua vontade não soasse tão vulgar.  

A pus no colchão, meus braços se livravam do peso de seu corpinho.  

A admiramos. Sorri, ajeitando seus paninhos. - Sei que ela dormirá por mais algumas horas até que tenha fome. - Avisei, acostumada com sua rotina de sono. - É melhor... - Olhei em volta. - Arrumarmos as coisas.  

-Esse lugar é grande... - Ele dizia, desprendido. Abriu a porta do nosso armário. - Hum. - Encontrava uns vestidos que foram deixados para trás. Ele puxou do cabide, estudando a peça que não parecia lhe agradar. - Por que não nos separamos... - Abria outras portas... - E procuramos novos cômodos?  

Pensei. - É uma boa ideia.  

Ele se virou para mim. - Mas tenha cuidado onde pisa. - Levantava seu dedo. - E se precisar, é só gritar.  

Sorri com sua preocupação. - Tudo bem.  

-Então eu vou indo para lá! - Apontou em direção a porta, assenti, ainda cobrindo nossa filha e ajeitando-a em nossa cama. Ele saiu, de certo descia as escadas.  

 Terminei o que ele começou, vasculhei o armário de madeira. Em bom estado, como todos os móveis daquele cômodo. Procurava porta por porta, algo que fosse mais do que roupas abandonadas.  

Na última porta, ao canto... Existia uma pequena caixinha colorida. Eu a peguei, curiosa.  

Nela, encontrei um compartimento que lhe dava corda.  

Fui girando, girando, até que um palhacinho surgiu, junto com uma música contagiante ao fundo. Olhei para o colchão, acreditando que a caixinha de música fosse o bastante para acordar minha filha.  

Nada.  

Eu a deixei, no mesmo lugar que antes.  

Abria as gavetas, certa que não me satisfaria até investigar todo o armário.  

Em uma das gavetas, havia uma roupa feminina.  

Não era um vestido qualquer, tampouco uma peça sofisticada para as mulheres de classe alta.  

Eu a abri, estava devidamente dobrada, embrulhada num saco que me dava a certeza que nunca havia sido usada.  

Eu estava certa, por seu volume... Nunca se trataria de um vestido.  

Crio rubor em minhas bochechas. Era um tecido fino...  

Delicado.  

Branco. Com babados embaixo dos seios.  

E todo feito de rendas.  

Era o espartilho mais atrevido que já havia visto. Me aproximei do espelho do armário, colocava a peça a frente de minha barriga.  

Não existia os arames que tanto incomodavam num espartilho.  

Não era um espartilho comum.  

“ALICE!” – O grito repentino de Tarrant me faz saltar.  

Corri para as escadas, tendo a audácia de deixar nossa filha só.  

Chegava ao último degrau. Olhei com desespero para todos os lados daquela sala empoeirada quando escuto novamente o meu nome, num grito absurdo.  

Vinha dos fundos, no jardim. Passei pelo corredor, na qual existia novas portas a serem exploradas.  

Cheguei aos fundos.  

Percebia o lago, e o belo jardim oculto que era.  

No entanto, nenhum sinal do Insano.  

Seu novo grito estava perto demais.  

Olhei para o chão, encontrando uma portinha muito bem escondida pelo lodo do jardim. Me agachei, tendo o cuidado de não sujar meu único vestido com a lama.  

E então, a abri. Encontrando cinco degraus.  

Eu os descia. 

Era um porão. Cheio de baús, barris e outras tralhas, muitas sem utilidades.  

A luz do lampião chamava minha atenção. – Tarrant? – Eu o chamei, esquivando-me das teias de aranha. – Tarrant? – Minha voz criava eco. Por fim o encontrava, agachado entre uma pilha de latas.  

-Veja só! – Ele sorria. – São tintas.  

Suspirei. – Você me assustou. Pensei que tinha se machucado.  

-Então... Se preocupa?  

-É claro. – Cortei o olhar. – Que tipo de tintas? Para tecidos?  

-Não querida, essas são industriais. E estão em bom estado!  

-Não compreendo sua alegria. – Afirmei.  

-Ora, posso usá-las! Além disso, também encontrei uma inchada, posso retirar o mato do jardim, ainda hoje. – Me olhou, percebendo algo em minhas mãos. Ele a pegou, antes que me desse chances para esconder. – O que é isso?! – Existia um sorriso, tão diferente do que havia antes. – Alice... – Seus olhos cresciam. – Isso é para sedução. – Me olhou. Eu não poderia estar mais envergonhada. – Não me diga que trouxe de Marmoreal?  

Ele me desejava com os olhos.  

Corei de vez. – Não é nada disso! – Disparei, puxando a peça de suas mãos. – Achei por acaso no armário do quarto! 

-Acredito. – Não acreditava. – Escute bem, senhorita. Eu não sou fácil de se conquistar. – Me olhou, após ajeitar seus cabelos para trás. – Terá que me fazer massagem antes.  

Eu o acertei com o espartilho. – Pare de bobagens! Temos outros... Outros problemas a resolver. – Desconversei. Ele concordou, afinal. – Como por exemplo... – Pensei. – Onde nossa filha vai dormir? Ela precisa de um berço.  

-Olha, querida... - Começou ele, balançando a cabeça. - Este sótão é grande... E há muitos objetos por aqui. Pode ser que encontremos um berço para nossa filha. - Seu sorriso vinha cheio de esperanças.   

Balancei os ombros, admito que desacreditada. Mas por parte, ele estava certo. O sótão era tão grande quanto qualquer outro cômodo de nossa nova casa. Mal conseguíamos andar sem que esbarrasse em algum objeto. - Devemos procurar. - Avisei, olhando ao meu redor e percebendo alguns móveis cobertos por panos brancos, que os protegiam das aranhas e de toda a poeira acumulada.   

Tarrant assentiu, acendendo um novo lampião que encontrara. Caminhávamos juntos. Eu libertava todo o pano sobre os móveis antigos acumulados. - Hum, uma escrivaninha. - Sorri, sorrateiramente.  

Eu vi quando as esmeraldas em seus olhos se reviraram. - Vamos prosseguir. - Disse, sério. Não suportava a mesinha de escrita.  

-Pode ser que um berço por aqui tenha um pouco de sentido. - Admiti. - Encontrei em nosso quarto uma caixinha de corda. Era um brinquedo infantil, tenho certeza que havia uma criança aqui.  

Assentiu. Tirando o forro de outro móvel e revelando que na verdade era uma cadeira sem braço.  

Esbarrei num espelho ao dar um passo para trás, distraidamente.  

O mesmo se quebrou quando encontrou-se com o chão, transformando em mil pedaços de vidros. - Vamos... - Tarrant me empurrava, temendo que eu me cortasse com os estilhaços. Tornei a levantar meu lampião. - Essa parte é escura. - Ele dizia, forçando sua visão.  

Quando bateu seu pé na quina de algo. - Uhnnnn... - Ele gemia de dor, seu lampião caiu, enquanto tocava seu sapato de couro, que na certa não lhe protegeu do impacto.  

-Você está bem?! - Sentamos juntos em algo macio. Tarrant apenas expressava uma careta de dor, sem ter condições de me responder. - Ora, pare. - Pedi. - Nem pareces homem!  

Aquela simples frase foi capaz de cessar com sua dor. - Como disse?! - Me olhou. - Espere... - Agora notava o mesmo que eu. - Onde estamos sentados? 

Tocamos o assento macio.  

Nos levantamos, aproximei o lampião. - É uma cama. Hum... De casal. - Alisei o colchão. Era confortável e macio. 

-Ela está ai para mostrar o homem que sou. - Me abraçava por trás. - Se ainda não percebestes.  

Estremeci, corando. - Solte-me. - Fugi de seus braços, iluminando a minha frente. 

E então, uma cabeça peluda com chifres me encarava enfurecidamente.  

Não pude evitar meu grito alto e esbravejante. Tarrant gritou também, assustado com minha reação. 

Soltei o lampião com o susto, e agarrei o pescoço de Hightopp enquanto o sótão perdia sua única luz. - O que houve?! - Perguntava, perdido no que havia acontecido.  

Eu tratava de agarrá-lo. - U-um m-m-onstr-o! - Balbuciei, minhas pernas bambeavam. Deixei de entrelaçar meus dedos em seu pescoço para apontar a direção em que havia o visto. - A-ali! - Torno a abraçá-lo, medrosamente. Juntei mais os nossos corpos, suas mãos me envolviam, seus braços me agarravam. Dei mais um grito, só de imaginar aquela coisa me olhando outra vez.  

Tudo estava escuro.  

Ainda o agarrava, seria difícil me recuperar do susto. - Uhn. - Mesmo sem vê-lo, eu sei que sorria. - Está cheirosa. - Fungava o meu pescoço, causando-me arrepios.  

Pensava apenas na cabeça com chifres. - N-n-não me sol-te. - Eu não sabia se era possível unir mais os nossos corpos, no entanto, não importava.  

-Há pouco seu desejo era que eu a soltasse. - Provocava Hightopp. Amassei mais os seus cachos, meu coração teimava em acelerar.  

-N-não. M-mudei de ideia.  

Beijou o meu pescoço. Suas mãos davam a volta por minha cintura. Ele não queria me acalmar do susto, ao contrário, talvez desejasse que minhas pernas perdessem a força apenas para que pudesse me segurar. -  Meus lábios suplicam por um beijo seu, Alice. - Sua voz possuía um timbre grosso.  

Não deixei que suplicasse demais.  

Mesmo na escuridão, era fácil encontrar sua boca.  

Fechei os olhos, enquanto nossos lábios saboreavam-se com o gosto de nossos beijos.  

Alisei os seus cabelos, suas mãos faziam o trabalho de tocar-me gentilmente. Sua língua vinha devagar, quase parando.  

O que me fez abrir os olhos e perceber o verde penetrante de sua íris, aos poucos se transformando num vermelho intenso. Beijou o meu pescoço, seguindo até o meu colo, rente aos meus seios. Sentia o meu zíper querendo abrir pela ponta dos seus dedos. Ele voltava para os meus lábios. Eu retribuía, mas em mim, não havia tanta vontade de prosseguir quanto ele. 

Valentina chorou. 

Seu pranto ecoava de certo por todos os cômodos.  

Me soltei de imediato, espiando o vermelho dos seus olhos se transformando em verdes novamente. - Tenho que ver nossa filha! - Exclamei.  

Meio nervosa.  

-Alice, espere! – Ele queria me ajudar a sair do sótão o mais rápido possível, no entanto, percebi que eu estava mais preocupada em fugir dele do que em acudir minha bebê.  

[...] 

-Prontinho. – Sorri após forrar a cama com os lençóis que Tarrant trouxe do Castelo.  

Eu ajeitava Valentina entre seus panos, cobrindo seus cabelos e ouvido na intenção de protegê-la do vento frio  que vinha das árvores.  

Me levantei, segurando-a em meu colo. Olhei para o jardim pela janela de nosso quarto. 

Tarrant usava os utensílios de jardinagem que encontrou no sótão para aparar o mato que tão logo se transformaria num gramado bem cuidado. – Hum. – Sorri, ele usava luva de jardineiro, puxando o mato com as mãos quando cansava de usar sua inchada. Estava sem seu terno e sem camisa, sendo alvo fácil dos pequenos mosquitos que voavam em volta de seu corpo. Eu o vi abanar as mãos, para espantá-los.  

Retornei minha atenção para nossa filha.  

Eu estava satisfeita. – É uma boa cabana, só precisa de uma arrumação. – Dizia, percebendo seus olhos redondos e curiosos me encararem. – Seu pai encontrou um berço para você. – A guiei até o mesmo. – Schiu. Fique ai. – Sussurrei, cantarolando com a garganta enquanto a colocava de barriga para baixo no colchão. Ajeitei os seus panos e alisei a madeira do berço quando a pus, por fim.  

Já poderia imaginar que teria duas ou três horas livres para dormir, era o que eu precisava.  

Fui ao banheiro, percebendo que a banheira, a pouco aberta já estava completamente cheia.  

Sentei-me no chão.  

Meus dedos passeavam pela água, numa temperatura ambiente não muito agradável. Mas a vida aqui não era como no castelo.  

E eu teria que me acostumar.  

Retornei ao berço para dar uma última olhada na criança ruiva que parecia ter pegado de vez no sono.  

Sorri com aquele rostinho tão sereno e de feições meigas e delicadas.  

Desamarrei o nó da manta que escondia o meu vestido, afastei a capa, soltando os meus cabelos e respirando fundo com a brisa fresca que vinha da janela.  

Batia levemente em meu rosto.  

Toquei as amarras de  vestido. Puxava o nó que havia sido feito no castelo, por Meredith.   

Por um momento, percebi o quanto sentiria sua falta.  

Arfei, olhando para o horizonte... As belas montanhas esverdeadas que perdiam sua cor para o anoitecer.  

E então... A silhueta de um homem de cabelos lisos e loiros, batidos a altura do queixo chamava a minha atenção.  

Ele me olhava entre as cortinas de seu quarto.  

Era ele.  

Virei-me depressa para o berço de Valentina. Mesmo de costas, tinha a intuição que ainda me espreitava.  

Desde que me viu na taberna.  

Desconfiava de mim.  

Entrei para o banheiro.  

Mas não importa o quão calma era a água que me cobria, que me lavava.  

Meus pensamentos não fluíam para ninguém além daquele homem.  

A forma como me olhava.  

-Estou com medo. – Admiti para mim mesma.  

Um vento cortante balançou os galhos de macadâmia, tocando o vidro de meu basculante semi-aberto.  

Encolhi-me na água. Terminando de molhar o meu rosto e a ponta dos meus cabelos que boiavam na banheira que não tinha mais nada a não ser água e um pouco de espuma. Esfreguei minhas coxas, apertei os meus pés que encontravam-se doloridos.  

Estiquei meu braço e alcancei a toalha ao lado.  

Levantei com cuidado, a ponta dos meus pés tocaram o chão enquanto eu enrolava meu corpo no algodão macio. Joguei os cabelos para trás, imaginando que havia deixado minha escova no banheiro.  

Engano meu.  

Estava no quarto.  

Sai do banheiro, passando pelo corredor. Meu braço reagia ao frio que era impossível de ignorar.  

Cheguei ao quarto.  

Distraída, desenrolei a toalha de meu corpo nu quando olhei para a cama. – Tarrant. – Suspirei, trazendo a toalha de volta e assim cortando os seus olhos.  

Estava sentado a beira do colchão. Sem seus sapatos, usava apenas as meias coloridas e a calça de alfaiate, levemente aberta entre o zíper.  

Os cabelos molhados, jogados para trás e pingando em seus ombros. – Por que está molhado?  

Ele sorriu, melancolicamente. – Vi que estava no banheiro. – Dizia, brincando com os dedais de seus dedos. – E mergulhei no lago de nosso jardim. – Olhou-me. – Talvez possamos fazer isso juntos, um dia. Será muito divertido.  

Sorri de leve. Dando alguns passos a frente. – Acho que vou dormir.  

Eu o vi torcer seus lábios. – Imaginei que diria isso. – Estava ansioso, até evitava me olhar. – Nossa filha... Está dormindo. Acabei de ver. M-mas eu... – Riu. – Eu não estou com sono.  

- O que houve com você? – Só então notava que, além de suas manchas de intoxicação, existia pequenas bolinhas avermelhadas em seu corpo. 

Ele as olhou, levando a ponta do seu dedo e coçando sua pele sensível. Ele revirava os olhos com o alívio que sentia ao irritar sua pele com os movimentos de suas unhas. - Foram... Os mosquitos.  

Corri para sentar ao seu lado. 

Peguei o seu braço com delicadeza.  

Tarrant me olhava quando alisei sua pele avermelhada. - Não coce-as. - Pedi, percebendo que algumas delas estavam a ponto de sangrar. - Não picou suas coxas? - Ele negou em silêncio.  

Me levantei, ele recolhia o seu braço, ansioso para coçar-se e assim o fez, massageando as pequenas e incomodas bolinhas avermelhadas.  

Mexia nos guardados de Valentina. Sempre carregava algodão e remédios para sua pele frágil.  

Os peguei, trazendo para o colchão e sentando-me no mesmo lugar que antes. - Está terrível... - Percebia até mesmo o seu rosto com as mordidas.  

Ele se ajeitava no colchão. Arregalando os olhos quando me viu mergulhar o algodão no líquido amarelado. - O que é isso? - Perguntava, como uma criança que acabara de ralar o joelho.  

Só o olhei. Existia em mim um fraco sorriso, esforçando-se para não ser notado. - Isso... Vai arder? - Se afastava.  

- Um pouco. Quase nada. - Avisei. Eu conseguia ver o medo em sua careta. - Ora, você não quer melhorar?  

Engoliu em seco. - Vamos... - Puxei o seu braço, começando pelas pequenas bolotas de picadas que vinham em seus dedos.  

Pressionei o algodão. - A-ai... - Recolheu a mão de imediato, assoprando o indicador. - E-e-eu n-n-não q-quero ma-is não! 

 -Você já foi torturado pelo Rei de Wonderland e está com medo de um remédio infantil lhe arder?!  

Cortou o olhar.  

-Certo... - Bufei. - Esqueça, não vou mais ajudá-lo! - Perdi a paciência. Levantando do colchão e jogando o algodão que fora desperdiçado junto aos panos sujos de nossa filha.  

Virei meu rosto por cima do ombro.  

O Ruivo observava suas pequenas feridas, concentrado.  

Suspirei. Dando as costas para o mesmo enquanto meus dedos tocavam o algodão da toalha.  

Estava indecisa se me trocaria aqui ou em nosso banheiro.  

Espiei novamente.  

''Ainda distraído. '' - Sorri em pensamentos. 

Me desfiz da toalha que se enrolava em meu corpo, agora nua. Procurava no armário um pijama para vestir. - Uhhhh que obra de arte! - Exclamou. Meu coração acelerou com o seu comentário. Corei, tendo a certeza que o melhor era ignorá-lo.  

Procurava o pijama entre os cabides, tinha certeza que seus olhos não deixariam de me admirar com desejo. - Alice... - Suspirava. - Não sabes o quanto és bel-- 

-PARE! - Gritei. Escondendo o meu corpo com a primeira roupa longa que encontrava.  

Ele me encarou. Perdido. - E-e-eu... Só estava te elogiando. - Dizia ele, sentado comportadamente em nosso colchão.  

-Eu não quero que me elogie, está bem?! - Assentiu, sem graça. - Eu sei que você me ama, e que temos uma filha! E que estamos juntos! Mas não faremos nada essa noite além de dormir!  

-O-o-r-a... V-você não prec-- Balançou a cabeça. - Nós não precisamos fazer nada para que eu te elogie. - Eu o olhei, séria. Tarrant suspirou profundo. - Desculpe. - Torcia os lábios, talvez percebesse o quanto eu parecia irritada. - Você está certa.   

Me vesti.  

Jogando os cabelos para trás e penteando-os com os dedos.  

Ele me olhava.  

Com aquela expressão amarga. - Boa noite. - Foi tudo o que saiu de meus lábios.  

-Boa noite. - Respondeu, com o mesmo tom que o meu.  

Subi no colchão, passando por seu corpo deitado. Deitei meu rosto no travesseiro, sentindo a maciez do mesmo, pude sorrir.  

O calor de sua mão não aquecia a minha cintura.  

Num assopro, apaguei o castiçal que iluminava o nosso quarto. 

Escutei o barulho das molas do colchão.  

Tarrant se virava para o outro lado.  

[...] 

Ouvia-se o canto dos pássaros.  

Rolei pela cama, percebendo que não tinha mais sua companhia.  

A noite era mesmo como uma criança.  

Abri meus olhos, a visão turva me permitiu ver Tarrant. Estava de pé, esticando os braços dentro do berço, talvez brincando com nossa filha que acabara de acordar.  

Ele usava a minha manta preta. Me ajeitei, passando a me sentar no colchão. O som das molas o fez me olhar.  

Deixava nossa filha, vindo depressa em minha direção. – Bom dia. – Ele beijava o canto dos meus lábios.  

-Bom dia... – Respondi bocejando, e puxando delicadamente seu braço. – Como estão as picadas? – Ele mal me deixou ver. Logo escondia sua pele branca e irritada com a manta escura.  

-Eu estou com pressa, estava esperando que acordasse! – Parecia ansioso. – Sairei para buscar trabalho.  

Sorrimos. – Ficará bem sem mim? – Indagou, num tom preocupado.  

-Claro. Só não demore.  

Alisou meu rosto. – Sinto sua falta, querida. – Pausou. – Eu sei que... - Juntou sua mão na minha. – Está cansada. – Hesitou. – M-mas... Como quebrou o seu... Resguardo. – Sorriu, sem graça. – Precisamos de mais intimidade. Entende?  

Como escapar daquele assunto?  

-Hoje a noite. – Disparei. Segurando sua nuca. Ele me trouxe até o seu colo sem que eu percebesse. Minhas mãos tremiam, e o meu coração disparava com aquela ideia. No entanto, ele não percebia meu nervosismo. Sorria, satisfeito com a minha escolha.  

Me deu um beijo demorado. Selando nossos lábios com desejo.  

-Eu vou indo. – Me tirava de suas coxas. Assenti, cobrindo o meu corpo com a coberta quente.  

Ele beijou minha testa. Ajeitei sua manta e levantei seu capuz para que sombreasse o seu rosto.  

Assim, eu o assisti sair.  

[...] 

Arrumava a fronha de nossa cama, e apalpava os travesseiros. Olhei pela janela.  

Engoli em seco.  

Lá estava o vizinho, em seu quarto, usurfruindo de uma máquina de escrever que era castigada por seus dedos ligeiros ao digitar. Com certeza escrevia uma carta, pronta para ser enviada ao Rei.  

Eu tinha certeza que ele sabia sobra mim. Sabia que seu mais novo vizinho era ninguém menos do que a Rainha de Wonderland. - A última coisa que quero é voltar para aquele castelo. - Sussurrei. Pensando no aconchego de nossa cabana, agora mais organizada.  

Me virei para ajeitar o berço de Valentina, que por um milagre, estava em silêncio, brincando com os próprios pés. 

Antes que eu pudesse me aproximar.  

Observei a penteadeira. Dessa vez, ela não carregava apenas meus utensílios pessoais e minha escova de madeira.  

Me aproximei devagar daquele livro...  

Livro este que eu reconheceria em qualquer lugar. 

A luz fraca do Sol batia, coincidentemente, em sua capa de couro envelhecida e mal conservada. 

Olhei para os lados. - Cheshire? - O Gato que some seria a única explicação plausível para esse livro estar aqui. - Foi você, não é? - Teimava em receber uma resposta. 

Nada.  

Nem mesmo um sorriso se materializando no ar.  

Peguei o livro pesado, folheava suas páginas. 

''Como veio parar aqui?'' - Era a única resposta que eu desejava no momento.  

Ainda intrigada, comecei a ler o primeiro verso da história.  

Sendo interrompida por batidas bruscas em minha porta.  

Assustei-me, balançando meus ombros sutilmente. As batidas continuavam, pareciam cada vez mais altas e violentas. - Já vou! - Digo avoada.  

Guardava o livro no mesmo lugar que encontrei.  

No cabide, procurava outra manta para que pudesse esconder o meu rosto. Eu a vesti depressa, dando um nó na amarra curta entre o meu pescoço e jogando meus cabelos para trás, afim de escondê-los.  

Ajeitei o capuz, em meu rosto não era possível ver nada além dos meus lábios e meus olhos. 

Peguei Valentina, que reproduzia um som engraçado em seus lábios.  

Desci apressada as escadas, meus olhos atentos observavam a porta da frente. O espaço entre o chão e a porta me mostravam a sombra de duas pessoas ali.  

Abri a porta.  

Eram duas mulheres sorridentes. A mulher mais nova, moradora da casa ao lado tinha os cabelos castanhos, a pele branca e os olhos azuis turquesas, tão encantadores quanto qualquer outro. A senhora ao seu lado tinha os cabelos grisalhos, presos em um coque alto e volumoso, era sorridente e possuía quase as mesmas feições da moça. - Bom dia! - Disseram juntas, interrompendo minha observação.  

Sorri. Me esforçando para esconder o meu rosto. - Bom dia. Desculpe a demora em atendê-las... E-eu... Estava cuidando de minha filha.  

Olharam para a bebê. Era de se esperar que a senhora brincasse com o bracinho de Valentina, que sorria para ambas.  

-Trouxemos essa torta de framboesa.  

- Por favor, entrem. – Dei espaço. Obedeceram. – Vamos para a cozinha. – Gesticulei.  

E assim elas me seguiram. Ajeitei a toalha de mesa para que a mulher deixasse a torta. – Parece estar uma delícia. – Sorri, agradavelmente.  

Elas reparavam de forma discreta a minha cabana. – Chegamos há pouco. Ontem, na verdade.  

A senhora assentiu. – Os meus netos que viram vocês e vieram logo nos contar dos novos vizinhos, sabe como são as crianças. – Concordei.  

-O meu marido também os viu. – Avisou a mulher. Agora um pouco mais séria do que antes. – Disse-me que havia encontrado você e mais um outro homem na taberna.  

Engulo. - É o pai de minha filha.  

-Meu marido disse que ele foi grosseiro.  

Engasgo. – Ele é muito gentil, na verdade.  

-Não com o meu marido... – Sussurrou, levantando a sobrancelha. 

Elas se entreolharam. E a senhora não se calou: - Se é o pai de sua filha, imagino que estejam casados.  

Tudo se tornava mais constrangedor. – Na verdade... – Comecei. – Acredito eu que... Ele queira casar comigo.  

-Não são casados? – Estranhou a mulher da íris turquesa.  

Assenti, envergonhada. – Pegarei... Alguns pratos. – Dei as costas, indo ao armário e equilibrando minha filha.  

-“Precisam casar, imediatamente. “ – Ouvi a senhora murmurar. “Ou ela prefere ser uma mulher sem sobrenome?”  

-“É por isso que deves esconder seu rosto. “ 

-“Está explicado. “ 

Virei. – Aqui estão os talheres e os pratos. – Eu os pus na mesa, sorrindo forçado. – Não me disseram como se chamam.  

-Sou Antônia. – Se apresentava a mulher. – Minha mãe se chama Ellie.  

Aguardavam até que eu me apresentasse: - S-sou... M-me chamo... – “Alice, a Rainha de Wonderland.” – Al--- Sorri. – Alicia. 

Me sentei. Nitidamente nervosa. – Onde está o seu... Namorado?  

-Ele não devia deixá-la sozinha. Com um bebê de colo. – Completou Ellie.  

-Foi procurar trabalho. – Cortava a torta.  

-E o que ele faz? – Sorriu Antônia.  

-É chapeleiro. E também faz vestidos.  

-Vestidos? – Pareciam animadas. – Estamos precisando.  

Riram.  

Sorri. – Podem falar com ele. Ele é muito bom no que faz. – Comi um pedaço após dividir a torta. – Hum... – Mastigava. – Está ótimo.  

-Torta de framboesa é minha especialidade. – Gabava-se Ellie. Me olhando. – Alicia, me parece tão jovem. Mesmo sem ver o seu rosto... – Estranhava.  

-T-tenho... Dezenove anos.  

-É sua primeira filha? – Indagava, assenti. – Tive Antônia com quinze anos, e estava casada. E ela se casou com a mesma idade que eu.  

-Tenho quatro filhos. – Respondeu Antônia. – Você me parece inexperiente com bebês.  

-N-na verdade... – Torci o nariz. – Em minha antiga... Moradia. A minha filha tinha... – “Súditas” – Sua avó, por parte... Por parte de pai. Ela costumava cuidar da minha bebê. – Ganhava mais segurança ao blefar. – Mas decidimos que queríamos morar sozinhos.  

-É uma pena. Ter a sogra por perto é de grande ajuda para o casal. – Ellie comentava. – Você entende... Já que... Tens uma vida de casada.  

-Mamãe, não vamos nos intrometer. – Repreendia Antônia.  

Suspirei.  

-Só estou aconselhando. – Limpava seus lábios com a borda do guardanapo. – Hum, mas não está mais aqui quem falou!  

-Tudo bem... – Respondi sorridente, dando de ombros. – Ele e eu estamos nos adaptando.  

Valentina começou a chorar.  

-Ohn, ela tem os olhos tão bonitos. – Elogiou Antônia enquanto eu a encaixava entre meu seio.  

-Obrigada. – Respondi sem encará-la. Alisando a barriguinha de minha filha, elas notaram o meu dedo anelar.  

[...] 

Era anoitecer.  

Estava me ajeitando entre os lençóis. Tarrant comia o ultimo pedaço de torta de framboesa. – Então a Antônia, a mais jovem... Comentou sobre o meu anel de pedrarias. – Lhe contava.  

Ele me olhou. – Sua aliança... Com o Rei.  

- Disse a ela que foi um... Presente que você me deu mas eu acho que não acreditaram. É fino demais para as moedas de um chapeleiro.  

-Por que... – Ele se aproximava, subindo ao colchão após comer a torta. – Vossa Majestade não tira esse anel, uhn?  

Olhei para meu anelar. Confusa.  

Ele beijava a minha mão, esperando uma resposta que só poderia sair de meus lábios.  

-Está certo.  

Sorriu, satisfeito.  

E delicadamente, puxou o anel de meu dedo. O mesmo deslizava por minha pele, saindo com facilidade.  

Ele o pôs sobre nossa mesinha. E tornando a beijar minha mão, aproximava nossos corpos devagar. – Não tem mais nada para me contar? – Perguntava, subindo seus beijos pelos meus braços e admirando o perfume de minha pele.  

- Acho que não. - Murmurei.  

Era claro que não estava mais interessado.  

Principalmente quando os seus lábios chegaram ao meu pescoço.  

Talvez aproveitasse os poucos minutos de silêncio enquanto nossa filha desfrutava de seu sono.  

Fechei os olhos. Pensava que o que estava prestes a acontecer não seria como na última vez, com Stayne.  

Assim pude retribuir sutilmente quando Tarrant beijou os meus lábios.  

Sentia suas mãos apertando-me pela cintura e me trazendo até o seu corpo. Nossa cama respondeu aos nossos movimentos, fazendo um breve ruído de suas molas enferrujadas.  

Ele acariciava os meus cabelos.  

Abri os meus olhos, sentindo meu seio passando por suas mãos. Ele os alisava, beijando-me com mais vontade.  

-V-Valentina. – Era o primeiro nome que me vinha a mente.  

Ele parou. Me ajeitei. – Será... Será que ela está dormindo?  

Riu de leve, sem ter tempo de estranhar a minha pergunta. – É claro, meu amor. Acabou de vê-la.  

Sorri, sem graça.  

Seus lábios tornavam a me beijar. – Espere! – Afastei o seu tórax. – E-eu... – Enrolava. – Tenho mais algumas novidades para lhe contar. 

Suspirou, jogando seus cabelos embaraçados para trás.  

Beijava meu pescoço, levando minhas costas a deitarem no colchão macio. Seus beijos desciam. Seu suspiro e seu sorriso denunciavam a louca vontade que sentia de me ter. 

-E-eu tenho algo para lhe contar. – Sussurrei, e outra vez não tive retorno.  

Com certeza estava entretido em meu corpo, e no tempo em que não pôde expressar seus sentimentos como agora.  

Suas mãos levantavam a saia do minha camisola de algodão que batia até meus pés.  

Encolhi-me, ele admirava minhas pernas quando subiu sobre mim. 

Agarrei sua nuca, eu queria continuar.  

Queria ser sua.  

Mas parte de mim insistia em lembrar do que houve comigo e com o Stayne.  

Eu não estava preparada para deitar com outro homem.  

Mesmo que Tarrant me jurasse o seu amor.  

-T-tenho pensado num homem! – Revelei, num disparo de palavras rápido e certeiro.  

Seus beijos esfriaram. – Num... Homem?! – Ele tentara deixar seu tom menos chateado.  

Não conseguiu.  

Pensei nas diversas interpretações que aquela frase poderia ter. – Não... Não nesse sentido, por favor.  

Ainda estranhava. – Tudo bem. – Mas assentiu, calmo e desconfiado. – Quer conversar comigo sobre... Este homem?  

Sorri. – Eu gostaria. – Me acomodei no colchão.  

Hightopp amarrava sua cara. – Prossiga. – Pediu ele.  

Me ajeitei em seu tórax. – Lembra daquele informante da taberna? – Assentiu. Em silêncio. – Talvez não saiba, por ter passado o dia fora mas... Ele é nosso vizinho. Marido de Antônia.  

-E porque tens pensado nele? – Só isso lhe importava.  

-Acho que... Ele sabe quem eu sou. – Deixei os seus braços. – Sabe que sou a Rainha. – Sussurrei. – Inclusive... Nosso quarto é de frente ao deles. Uma vez eu o vi pela janela. Ele escrevia uma carta... Ou algo do tipo.  

Tarrant riu. – Parece que está... Muito interessada para espiá-lo pela janela!  

- Eu não tinha intenção de espiá-lo! – Me defendi, ofendida. – Só penso que... Ele pode estar dando informações ao Rei.  

Ele torceu seus lábios. – Para ser sincero, eu não desejava passar a noite conversando sobre este homem.  

Suspirei. - E o que quer fazer? – Era uma pergunta tola de minha parte: Ele trouxe as mais belas rosas vermelhas que encontrou, juntamente com uma cesta de morangos que em minutos foi devorado.  

Fechei os meus olhos quando ele tornou a me beijar, carinhosa e delicadamente. Eram breves selinhos, e simples alisadas e meu braço quando sua mão apalpou em cheio minha cintura e me trouxe para mais perto. Seu beijo se tornaria algo além se eu não o impedisse. – Não... Não fique chateado. – Balbuciei. – Mas... Eu estou com dor de cabeça.  

Se limitou a me olhar.  

Frustrado. – Eu entendo. – Se afastou. - Boa noite, Alice. 

[...] 

Me despreguicei. Era manhã, e outra vez acordava sem a sua companhia.  

Como ontem, Tarrant mexia no berço de nossa filha. Estava com a mesma capa preta. Sua cartola encontrava-se no braço da cadeira, que era usado como um cabide. -Bom dia. – Quebrei o silêncio.  

O Ruivo se livrou. – Bom dia. – Estava com nossa bebê em seus braços.  

Me levantei. -Dê-me. – Pedi saltitando em sua direção. -Schiu... Bebê, eu sei que está com fome. – A mimava.  

-Fiquei pensando no que me disse... – Tarrant começou, afirmando despreocupado. – E está muito claro, Alice. Até para o louco que sou... – Eu o olhei, admirada com o seu belo sotaque escocês. Embora sua expressão fosse fechada. – Você está me evitando.  

Engulo. – Eu... Não entendo. – Dizia ele. Rindo fraco. – Eu sou calmo... E carinhoso... Na primeira noite aqui, nós brigamos e ontem você simplesmente não me quis. 

Voltei para a minha filha. Sem ter coragem de encará-lo. – Tem a ver com o vizinho? 

-É claro que não! – Exclamei, assustada com a forma direta de sua pergunta. – Tarrant... Como pode pensar que eu o enganaria dessa maneira?!  

Ele passou a mão no rosto com pesar. – Tenho que ir. - Segurou os meus braços. - Eu te amo, lembre-se sempre disso. - Olhou para nossa filha, alisando seus cabelos. 

Assenti. Sentindo seus lábios em minha testa.  

[...] 

Como pude passar esses dias sem admirar o belo lago do jardim dos fundos? 

A água calma era magnifica.  

Sentava-me numa cadeira de balanço feita de madeira. Valentina estava deitada em seu bercinho pequeno, muito fácil de carregar pela cabana.  
A brisa da manhã me relaxava. As vezes encarava o sol fraco da região, tendo a certeza que faltava pouco para meio dia.  

A lenha do fogão cozinhava nossa sopa.  

E em meu colo, estava o Livro dos Sonhos.  

Alisava sua capa. Sem ter a coragem de abrir as páginas. Não tinha vontade de ler a história de amor frustrada da Vida.  

Para histórias de amor frustrada, bastava a minha.  

Fechei os olhos. Me balançando. 

Ao longe, podia ouvir a gargalhada dos filhos de Antônia.  

O mais velho brincava com seus irmãos, um casal de gêmeos, aparentemente com cinco anos de idade. E o bebê, com certeza estava com sua mãe ou sua avó.  

Encarei Valentina, chamando a atenção de seus olhos redondos para a bonequinha pequena que peguei, ao canto de seu berço.  

Não tinha coordenação motora o suficiente para alcançá-la, mas eu conseguia me divertir só de ver suas caretas.  

''Com licença! '' - Escuto uma voz alta, que me faz olhar para a direção certa no mesmo instante.  

Ajeito o capuz.  

Era ele: O informante da Taberna, marido de Antônia.  

O cercadinho de arame nos separava. Me levantei, esforçando-me para esconder o meu rosto de seus olhos, não tão curiosos quanto os de sua esposa. - Meus filhos estavam brincando... E parece que deixaram o peão de madeira passar pelo cercado... - Ele dizia, enquanto seus olhos vasculhavam a grama de meu jardim. - Ali está! - Apontou. - Poderia pegar para mim, por favor? 

Assenti. Em silêncio.  

Dei as costas para me abaixar. ''Majestade...''- Ele sussurrou de modo sutil.  

Sinto um arrepio percorrer o meu corpo. Virei-me, com o peão em mãos. - Como disse?  

Ele riu. - Minha esposa me falou de sua joia. Parecia uma peça muito cara para uma simples peregrina.  - Pausou. - Foi a certeza que me faltava. Um anel da realeza. 

-Pois sim. - Afirmei. - Foi um presente, na verdade. Como contei a Antônia.  

Me olhava. - E por que insiste em esconder o seu rosto?  

-É um atrevido! Isso não lhe diz respeito!  

Balançou a cabeça, de certo concordando e tirando suas conclusões. - Me chamo Henry. - Esticou a mão por cima do arame. - É um prazer conhecê-la, Alteza.  

Novamente aquele medo.  

Mas precisava me impor. - Não estamos tendo uma conversa apropriada. - Ele recolheu o seu braço. - Aliás, eu não quero que isso se repita novamente. É um homem comprometido. Por favor, deixe-me.  

-Me parece muito nervosa.  

Suspirei. Enrolando a cordinha do peão de madeira. - Aqui está.  

Nossas mãos se esbarravam. - Grato. - Ele segurou o peão com as duas mãos, envolvendo a minha por completo. - Minha Rainha.  

''O que acontece aqui?'' - Viramos juntos para o corredor do jardim.  


Notas Finais


Eintaaaaaaaaaaa
Tretas estão por vir?
será que Chalice vai se adaptar a vida de ''casados''?

E o rei? Hum...
E quem será que interrompeu a conversa?


Comentem! Please! u.ú


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