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História Apenas um sonho III - Herdeiro do trono - Insano amor


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Pelos comentários do capítulo passado vcs merecem um capítulo com hot hahah

Mais uma vez desculpe pelo tamanho

Capítulo 37 - Insano amor


Decidi que observaria as estrelas durante a noite, esperando tolamente que elas fizessem algo por mim.

Estava deitada sobre a mesa dura do jardim. O frio me perseguia, mas era só um detalhe, principalmente para quem usava uma chemise de tecido fino como o meu. Nada importava agora.

Nada que não fosse o espelho.

- Volte, por favor... – Cerrei meus olhos quando implorei, analisando os pequenos pontos de luz ao céu. Minha mãe dizia que meu avô a ensinou a pedir para as estrelas, lá em seu mundo havia uma estrela que voava pelo céu, com um lindo rastro de luz que iluminava-se mais do que as outras.

Eles chamavam de cadente.

- Faça ele voltar. – Levei a mão ao peito. Não me incomodava com os chuviscos fracos que vinham de cima. – Por favor, só volte para nós. Só volte... Eu nunca mais serei a mesma sem você.

Fechei meus olhos com a garoa.

Era aquele tipo de chuva de gotas finas e geladas.

Sem dormir há dias, eu estava completamente exausta. Exausta física e emocionalmente. Além de surtar em Londres, passei meu último dia lá cuidando de Gilbert.

O sono me castigava mais do que a falta deles. Meus olhos queriam se fechar, para abrirem só depois de algumas horas mas eu relutava resistentemente contra isso.

A Rainha disse que o espelho se regenaria e eu queria estar aqui, pronta para atravessá-lo. - S-só... – Bocejei, de alguma forma aquelas gotinhas de chuva não me permitiam manter os olhos abertos. – Uns minutinhos... – Bocejei mais. – D-de sono.

Não sei bem por quantos minutos adormeci.

Mas ouvi uma voz.

“Valentina?” – A voz masculina me chamava, quando senti me balançar. “O que faz neste sereno? Você vai adoecer. “

Acordava aos poucos.

Abri meus olhos, devagar.

Me deparei outra vez com a chuva e as estrelas. Elas eram tão reais quanto...

Ele.

Apoiei os cotovelos na mesa. – G-Gil. – Ali estava, parado, olhando para mim com certa preocupação. Era quase inacreditável. – Gil, é você?! – Ele não sorria, estava sério, como sempre. – Você está aqui. – Cocei um dos olhos. - C-como voltou?!

Ele apenas juntou as sobrancelhas, tinha esse costume. – Acho que é melhor conversarmos ao amanhecer. – Dizia quando me puxou, passando-me para os seus braços. Permiti, é claro, não havia lugar mais seguro do que estar ali.

Tombei minha cabeça entre seu ombro e pescoço, deslizando um dos meus braços por seu peito, um tanto gélido e endurecido. Eu não cansava de observá-lo. Embora meu sono insistia em perturbar-me. – Você me parece bem. – Sorri aos poucos. – Estou tão feliz.

Ele me olhou brevemente. – Volte a dormir. – Foi o que pediu assim que chegamos na varanda do castelo.

Ele empurrou a porta de entrada com um dos joelhos e passamos pelo hall.

Eu brincava com os cabelos aloirados da sua nuca. Gilbert era tão lindo, por mais desleixado que parecesse estar. Ele ainda possuía a linda beleza mesclada dos nossos pais. – Você é tão forte. – Me carregava pelas escadas quando comentei. Toquei em seu rosto, só para saber se ele era real.

Ou um sonho.

Sorri lentamente.

Não...

Ele era real. Total e completamente real.

Meus dedos seguiam suas bochechas magras, subindo até as costeletas falhadas. Eu queria prestar a atenção em cada detalhe seu, nem que eu relutasse contra meu sono para isso.

Toquei seus cabelos amassados, e desci o dorso da mão por sua testa, onde o mesmo se esquivou. – Pare com isso.

- Não consigo evitar. – Admiti, sorrindo. – E-eu te amo demais.

Ele torceu levemente seus lábios e permaneceu no silêncio. Talvez eu tenha adormecido por poucos minutos enquanto ele me carregava pelos corredores.

Ouvi o ruído da porta e senti-me repousar num colchão macio. Ele desentrelaçava meus dedos em sua nuca quando abri os olhos outra vez. – Durma. – Salientou ele.

Toquei o seu rosto, sonolenta. – Fique comigo.

Gilbert estudou o colchão, era uma cama de casal. – É melhor não. – Ele puxou as cobertas. No entanto agarrei sua nuca. – Valentina, por favor, não insista.

- Você sempre cede no fim. – Murmurei. – Sei que ainda me ama.

Ele olhou para um canto qualquer, pensativo. – Ao menos, me dê um beijo de boa noite. – Pedi.

Na expectativa de ser correspondida. Nada tornaria aquilo tão real quanto um beijo.

Senti seus lábios tocando minha testa. – Boa noite. – Fechei bem os meus olhos, aproveitando seu doce toque.

Que brevemente, tão brevemente passou.

Era tão triste como esses momentos passavam rápido.

Abri os olhos, vendo-o afastar o seu rosto do meu. O silêncio torturante me angustiava. Estava feliz por vê-lo aqui em Wonderland, de volta e saudável.

Certamente eu formularia milhares de perguntas em minha mente depois que aquela felicidade passasse.

No entanto, neste momento eu só desejava tê-lo por perto.

- Vou deixá-la dormir agora.

– Não quero que você vá. – Sussurrei.

O abracei em seguida, cerrando meus olhos enquanto encaixava meu queixo em seu ombro quente. Os seus cabelos possuíam o mesmo perfume de sempre: Um amadeirado como um tronco molhado de uma figueira. Toquei seus cabelos com a ponta dos dedos, aproveitando o máximo daquele momento. – Tê-lo comigo é o que me faz feliz. – Murmurei, sorrindo. – Você voltou como pedi as estrelas.

Ele retribuía o abraço com certa frieza como sempre. Alisava minhas costas, vagarosamente, tocando as pontas enroladas do meu cabelo solto e despenteado. Insistia no silêncio.

E em sua distância emocional.

Gilbert se tornou assim desde que descobrimos a verdade.

No início, eu mal podia tocá-lo.

Ainda me lembro quando ele insistia em sentar-se com duas cadeiras de distância de mim em todos os jantares. Ou quando mal encarava meus olhos. Foram os dias mais duros para nós.

- Você deve estar cansado. – Comentei, deixando de abraçá-lo mas ainda me mantendo próxima o bastante para me agraciar com o seu perfume. – Insisto que durma comigo. – Segurei suas mãos. – Só me sinto segura em seus braços.

Ele não exibia nem mesmo um meio sorriso. – Já disse que não. – Balançou a cabeça. – É melhor você... – Alisei o seu rosto, assistindo o momento em que ele engoliu suas palavras. – S-se deitar.

Levantei o seu tapa olho de copas.

Ele salientou sua expressão enraivecida e séria. – Valentina. – Repreendeu.

- Meu... – Toquei a ponta do meu nariz com o seu. – Amor correspondido e trágico, tão trágico quanto a morte, ainda assim, mais doloroso e sofrido do que ela. – Ele apenas me ouvia, em silêncio. Talvez a luz das estrelas que se adentrava pela janela, juntamente com as velas, ainda acessa, sobressaltassem os detalhes de sua beleza, os pequenos detalhes, eu amava contemplá-los.

E ficaria horas ali.

- O que está fazendo? – Perguntou ele enquanto a ponta dos meus dedos circulavam os seus lábios.

Lábios de tamanho ideias, nem tão grossos ou finos.

Seus olhos, ambos de cores distintas estavam lindamente fixados aos meus. - Estou pensando em como as coisas seriam diferentes para nós se você e eu não fôssemos irmãos. – Sussurrei, ele rapidamente desviou o olhar mas segurei o seu rosto delicadamente e consegui de volta toda a sua atenção para mim. – Eu seria a mulher mais feliz do mundo.

- Esqueça o passado. – Murmurou, afastando meu braço de seu pescoço.

- Eu não posso. – O beijei.

Como desejava beijar desde os primeiros minutos que o vi. Ele, como era de se esperar, relutou em retribuir até que não foi mais possível.

Gilbert era capaz de lutar bravamente por vingança, no entanto, não conseguia lutar contra seus sentimentos.

Bom para mim.

Nos beijávamos com sede e prazer. Eu sentia que nossos lábios haviam sido perfeitamente desenhados um para o outro.

E acreditava que era possível ouvir os estalos dos nossos beijos no corredor do castelo. Tenho certeza que sim.

Afastei o seu sobretudo preto enquanto ele apertava minha cintura, afundando seus joelhos sobre a cama. – D-devemos parar por aqui. – Ele finalizou o beijo. – Você não está no seu juízo perfeito. – Ajeitou a sua roupa.

Me sentei no colchão. Embora derrotada, estava satisfeita ao menos. – Vai estar no castelo amanhã? – Sorri.

Ele parou diante da maçaneta que estava prestes a tocar. Fitou pensativo o chão. – Vou sim.

- E-então nos vemos pela manhã. – Avisei, me deitando, cobrindo-me com o lençol.

Ele assentiu, sério. – Boa noite.

[...]

Acordei um pouco tarde para o desjejum, apesar de ter sido despertada duas vezes por duas criadas diferentes. O sono e a exaustão falaram mais alto dessa vez.

Mesmo aproveitando boas horas de sono, me sentia minimamente arrependida por isso.

Sei que a mesa do desjejum seria o lugar ideal para reencontrar Gilbert pela manhã.

Mas agora eu o procurava pela imensidão do castelo.

- Pai? – Parei na entrada do seu atelier.

Meu pai costurava um chapéu, sentado no banco curto de madeira no qual estava acostumado. Ele mal me respondeu, certamente não me ouviu.

Passava a linha da costura pelo chapéu, afim de consertá-lo.

Mas havia algo diferente ali: Tarrant não fazia isso com seu ânimo e amor habitual.

- Papai. – O chamei, balançando seu ombro.

Por fim ele acordou. – Ah. – Exibiu um leve sorriso. – Bom dia, querida.

- Bom dia. – Sentei sobre a escrivaninha mal arrumada.

O assisti se levantar, buscando alguns botões dentro do pote de vidro na prateleira. – O senhor me parece triste.

Ele parou o que fazia com a cartola para me olhar. – Por que diz isso?

Saltei da escrivaninha. – Ah, pai, está óbvio. Se eu lhe trouxer uma rosa num vaso de flores é capaz dela murchar! – Tarrant abaixou a cabeça com a minha comparação. – Sou eu, não é? – Passou por mim, tornando a sentar. – Eu sei que o decepcionei quando abandonei o Francis.

- Tudo bem. – Me olhou. – Você já é adulta, pode tomar suas decisões sozinhas.

Me agachei ao seu lado. – Significa que eu posso ficar com o homem que amo?

Ele me olhou aborrecido. Sabia bem de quem eu estava falando. – Não! – Ralhou, irritado, completamente irritado. – Quando digo que você pode tomar suas próprias decisões, estou me referindo sobre você ter atravessado o espelho. – Ele afastou a cartola em que trabalhava. – Você ainda insiste em abdicar do seu casamento, Valentina?

Brinquei com os meus dedos manchados. Fazia isso quando não queria encará-lo. – Pai, eu não amo o Francis.

- Sua mãe dizia o mesmo para mim.

Estranhei. - E-ela dizia?

Ele sorriu. – Sim, Alice não queria que ninguém entrasse em seu coração. – Pausou. – Acontece o mesmo com você, querida. – Meu pai se agachou ao chão também. – Você não permite que mais ninguém entre aqui. – Tocou o meu peito com a ponta do dedo. – Por que tem medo de se decepcionar, talvez. – Ele pausou, refletindo. – Alice tinha muito medo do amor. – Sussurrou.

- Eu não temo o amor, papai. – Me levantei. – Apenas acho que já o vivi. Erroneamente, sim. Mas o vivi, afinal. – Dei de ombros. – E acho que nunca vou esquecê-lo.

“Isso é o que você pensa. “ – Retrucou ele.

- Não é o que penso, é como me sinto. – Me virei de imediato. – Por acaso o senhor esqueceria a mamãe?

Ele torceu seus lábios. – Querida, essa não é a quest—

- A sua resposta é não. – O calei, como em raros momentos. – Pois bem, eu também não consigo esquecê-lo. Eu o amo loucamente, assim como o senhor ama a mamãe. A única diferença é que eu tive o azar de... Ser amaldiçoada por esse amor que não posso viver.

Tarrant levantou. – Fico aliviado por ao menos você admitir que é errado.

Ele parou de frente para mim e segurou meus braços. – Escute, minha querida. Preste bem a atenção, sim? – Assenti em silêncio. – Eu te entendo. Eu entendo que você não pode evitar seus sentimentos e que você sente que o ama loucamente. A-acho que... Só de vê-la pela janela do quarto noite passada, vê-la passar horas a fio da sua noite ao relento, esperando o espelho se restaurar, e-eu compreendo o quanto o ama. Você está certa no que diz. Está certa quando diz que você e eu temos esse amor insano. Eu nunca desisti da sua mãe. – Ele sorriu devagar. – Eu a esperei e cometi tantas loucuras para alimentar o meu amor por ela. Agora, querida, eu te entendo. Entendo que você é como eu quando ama alguém. – O ouvia. – Mas... Você se lembra das vezes em que eu te falei que te acho parecida com a sua mãe?

- O senhor sempre diz isso.

- Então. – Balançou a cabeça. – No amor você é como eu. M-mas você também é como a Alice. Você pode amar loucamente alguém, por menos racional que possa ser, pode agir por impulso muitas vezes por causa deste amor. E... Ao mesmo tempo você... Tem medo de amar outro. – Cerrou seus olhos verdes. – Igualzinha a sua mãe quando tinha sua idade. Acho que você deveria dar uma chance ao seu marido.

- Eu prefiro não pensar nisso agora. – M afastei. – Francis entende que eu não possuo nenhum sentimento por ele.

Meu pai suspirou, inconformado. – Bom, querida... – Ele voltou ao chapéu. – Se não se importa, eu estou ocupado.

- T-tudo bem, mas... Antes de ir eu queria perguntar... – Meu pai me olhou. – Se o senhor... P-por acaso não viu o Gilbert?

Meu pai saiu de trás da escrivaninha. Ele tocou cauteloso a minha testa. – O espelho está quebrado, meu bem.

- Eu sei! – Sorri com euforia. – Mas o vi noite passada. Acho que ele encontrou outra forma de voltar ao submundo, com certeza com a ajuda de Margareth. Lá na mansão Ascot há muitos livros sobre Wonderland.

Meu pai estranhou. – De qualquer forma, eu não o vi. Pergunte a sua mãe.

- C-certo, certo! Eu vou encontrá-lo, afinal... – Sorri. – Temos muito o que conversar! – Saltitei para abraçar meu pai, um abraço agitado. – Ele estava tão saudável, eu não poderia estar mais feliz por sua saúde! – Me soltei, apertando as bochechas do meu pai. – Te amo, nos vemos mais tarde!

- Espere! – Parei agitada no meio do atelier. – Quando encontrá-lo diga que eu quero falar com ele. Seu irmão ainda me deve explicações sobre a fuga da masmorra. – Tarrant me analisava. – Querida você está precisando de chá.

- O que eu preciso mesmo é vê-lo, não posso perder tempo! – Me preparei para ir, apressada.

Corri para a porta de entrada no mesmo instante em que meu avô, Zanik, chegava com a bandeja de bule com chá. – Ih...! – Acabamos nos esbarrando.

A bandeja caiu no chão, junto com todo o chá e biscoitos que meu avô trouxe da cozinha do palácio. – Como você pode ser tão desastrada?! – Nos agachamos juntos quando o vovô resmungou.

- Perdão, vovô. – Juntava os biscoitos e os farelos do chão.

- Posso saber para onde você vai com tanta pressa?! Veja o que fez com o meu terno, agora estou encharcado de chá! – Parei para observar, Zanik me olhou com mais raiva, talvez acreditando que minha inocência em encarar seu pedido literalmente fosse na verdade, um deboche. – Tarrant, eu já disse que este atelier é pequeno demais para os seus filhos!

- Nossa. – Me levantei, ofendida. – Eu passo vários dias fora e é assim que sou recebida?

Os dois homens se entreolharam. Meu pai pareceu lançar um olhar de rispidez para o seu.

Meu avô se levantou, um pouco mais calmo. – Acho que você tem visita.

- Visita?! Para mim?! – Zanik fechou seus olhos com força diante de meu tom alto de voz. – Para mim? – Sussurrei.

- Sim. – Ele forçou o sorriso. – Agora saia, nos deixe trabalhar em paz.

Ajeitei meus cabelos cacheados, presos a um meio coque enquanto caminhava depressa até as escadas. – Tenho visitas. Quem pode ser? – Sorri. – Será a Margareth? – Fazia certo sentido já que Gilbert estava em Wonderland. – Ou será alguém interessado em minhas pinturas? – A ansiedade praticamente me atacava.

Desci as escadas do palácio, ignorando quem subia ou descia ao meu redor.

Parei na porta da sala de visitas, era onde normalmente os visitantes aguardavam.

Respirei fundo e a empurrei.

Eu sabia que ficaria surpresa, só não imaginei que...

Ficaria tão surpresa assim.

Minha prima, Celeste, se levantou do sofá branco em que se sentava, assim que me viu.

Ela usava um belo vestido de saia volumosa e muitos laços de cetim, feitos pelo papai, certamente.

Ela era sua sobrinha preferida.

Afinal, era sua única sobrinha. Filha de sua irmã mais velha, a tia Zynna. Celeste era a preferida do meu avô por parte de pai, já que não possuía nem mesmo um pouco de loucura em seu sangue.

Parei ao caminhar poucos passos.

O silêncio nunca foi tão constrangedor.

- Você não vai falar comigo? – Perguntou.

Me aproximei devagar. – Foi você quem quis cortar nossos laços.

Ela suspirou, tornando a sentar. Parou as mãos sobre os joelhos, escondidos pela anágua. – Eu sei. Só não achei que você fosse guardar rancor.

- Éramos mais do que primas. – Parei, ainda em pé. – Eu te considerava uma grande amiga, até mesmo uma irmã mais velha. – Me sentei ao seu lado. – Contei para você todos os meus segredos. – Ela me olhou com um pouco de repulsa e tristeza. – Mas agora entendo por que preferiu se afastar. Eu não deveria ter sido tão aberta, afinal. – Abaixei a cabeça.

- Eu vim prestigiá-la pelo casamento, e vim lhe dizer que sempre desejei o seu bem. – Salientou Celeste.

Ouvimos passos. – “Com licença.” – Era uma das criadas, Amélia.

Ela deixava quitutes e chá sobre a mesa. – Se desejasse mesmo o meu bem, saberia que não estou nem um pouco feliz por ter me casado.

- Prima, você precisa esquecê-lo.

Olhei rapidamente para a criada, que apesar de estar concentrada em ajeitar a mesa de centro, também parecia atenta em nossa conversa.

- Eu não tenho que ouvir os seus conselhos, Celeste. – Me levantei. – Quando eu mais precisei você me julgou e me abandonou! S-se afastou de mim como se eu fosse contaminá-la!

Ela parou as mãos nos joelhos de novo, pensativa. – Eu tinha uma reputação a zelar, Valentina. Mas eu estou disposta a retomar nossa amizade.

Me afastei.

“Leite, senhorita?” – Ofereceu a criada para Celeste, que assentiu.

- Agora que me casei você está disposta a isso. – Meus lábios tremiam.

A Hightopp aplumou sua postura. – Estou tentando não me ofender com suas acusações.

- Ofenda-se. – Rosnei. Amélia também me olhou, não com rancor, só com pesar. - Ofenda-se, não me importo! Você me ofendeu primeiro! Me ofendeu quando... Passou a me evitar... J-já... N-não ia na casa dos meus pais para me visitar, a não ser que precisasse de um vestido. – Limpei o canto dos meus olhos.

Celeste se levantou. – Prima.

- Deixe-me terminar! – Gritei, sentindo as palavras entalando em minha garganta. – Te escrevi centenas de cartas, enviei pinturas que fiz de você, e nada disso foi capaz de fazer com que você me olhasse do jeito como me olhava antes. Até o seu tom de voz mudou. Você se referia ao meu nome com nojo. Eu pensei que fôssemos do mesmo clã, que fôssemos amigas, e-eu pensei que pudesse confiar meus segredos a você. – Balancei a cabeça, chorando. – Você não faz ideia do quanto eu sofri quando perdi sua amizade. – Levei a mão ao peito. – E eu nem a perdi por ter lhe feito mal, eu até compreenderia você, Celeste, se eu tivesse sido uma má amiga, se eu tivesse lhe prejudicado de certa forma. Mas eu a perdi por um mal que causei a mim mesma, e v-você foi tão injusta... – Solucei. – Você foi tão injusta comigo, t-tão injusta!

A moça dos cabelos vermelhos e escorridos parecia não saber o que dizer. – Já vi que não chegaremos a um consenso.

- Evidente que não. Vá embora. – Apontei para saída.

Amélia decidiu agir. – Senhorita. – Ela gesticulou. – Eu a acompanho.

Celeste por fim concordou em ir.

No entanto, ela parou ao chegar na porta. – Só mais uma ressalva, prima. Eu recebi todos os seus quadros. E acho que você é a pintura perfeita do que um amor errado pode causar. – Ela pausou, pensando. – Um amor errado não... Um... Amor trágico, como você prefere nomear. Desejo a você um bom casamento. – Me olhou do mesmo modo de antes, com julgo. – Com licença.

Me sentei derrotada no sofá.

Existia em mim um conflito de emoções. Pensei que viveria uma manhã feliz, mas agora, já não havia certeza.

E nem esperanças.

Eu só queria uma forma de aliviar minha dor.

E simplesmente não pensei bem quando derrubei a mesa de centro ao chutá-la. Amélia se assustou com o som vidro preso a madeira maciça, impactando-se ao chão, junto com o bule de alumínio, as xícaras de vidro e potes com biscoito.

Me encolhi no sofá, soluçando em prantos. – Me desculpe. – Pedi para a criada. - D-deixe... Eu vou limpar tudo.

- A senhora não está em condição para isso. – Me impediu de agachar. – Está tremendo. – Amélia me trouxe para o sofá de novo. – Aqui. – Tirou um guardanapo de pano do bolso de seu avental.

Aceitei com hesitação e a olhei, enquanto chorava. – A-apesar de você ser mais nova do que eu, não temos tanta diferença de idade. – Funguei. – Acho que você entendeu bem sobre o que conversávamos.

Ela empurrou seu óculos redondo para cima. – Acho que sim. Se entregou para um homem fora do casamento.

- Vamos... – Sussurrei, a olhando brevemente. Sei que meus olhos estavam vermelhos e inchados. – Me julgue também. Eu sei que é o que você quer fazer ou o que todos fariam se descobrissem.

- Eu prefiro que sejamos amigas. – Propôs ela com timidez. – Eu não tenho muitas amigas. – Dizia. – E além disso, assim eu posso estar mais próxima do senhor Hightopp. Afinal... – Amélia corava. – Você é irmã dele, não é?

A olhei. - S-sim. S-sou sim...

- E então? Amigas?

Seus olhos grandes e ocultos pelas lentes redondas de vidro pareciam me fitar com grande expectativa.

Pensei um pouco até perceber que não havia o que pensar.

Eu precisava mesmo era de uma amiga.

- Sim. – Peguei as mãos da criada. – Amigas então. Mas insisto em ajudá-la nessa bagunça. – Olhei ao redor.

- Bom, se insiste, então eu aceito sua ajuda.

Sorrimos, nos agachando juntas para recolher os cacos de vidros, os biscoitos e pães. Enquanto catava tudo, eu só conseguia pensar que Amélia poderia ser a pessoa perfeita para me informar onde estava Gilbert. – Por acaso... – Ela me olhou de imediato quando comecei, ainda agachadas. – Você viu o meu irmão?

Suas maçãs coraram. – O senhor Hightopp?

Assenti, na expectativa. – Não, não o vi.

- Isso é tão estranho. – Me sentei no chão, após meus joelhos implorarem por isso.

- Perdão?

A olhei. – Gilbert garantiu que estaria aqui pela manhã. – Me sentia confusa. – Passei a manhã toda a procurá-lo, não consigo entender.

- Bom, é estranho. – Amélia começou. – A Rainha de certo o proibiu de entrar no castelo, e sei que o senhor Hightopp sabe disso... – Eu a olhei, pensativa. – Quero dizer... Por que ele prometeria algo a você se não pode cumprir?

O meu coração encolheu quando por fim encontrei a resposta. Era uma conclusão dolorida.

Mas era a verdade. – Preciso ir. – Lhe entreguei os cacos que catei.

[...]

McTwisp disse que eu o encontraria na sala de reuniões, junto com os outros. Achei que ele estaria ocupado e pensei em aguardar algumas horas mas quando ouvi certas risadas masculinas do outro lado da porta, mudei de ideia.

Respirei fundo e a abri.

Havia cerca de sete soldados ali. Não era bem uma reunião de estratégias, eles estavam apenas descansando um duro dia de trabalho e treinamento pesado.

Todos eles pararam de rir ou de conversarem entre si. Fiquei em silêncio, observando aquele grupo de soldados, todos trajavam armaduras iguais.

Até que um deles levantou a sua viseira. – O que faz aqui? – Era Francis.

Hesitei, ainda um pouco envergonhada. – Precisamos conversar.

Minhas palavras bastaram para que seus amigos começassem a gungunar entre eles. “Vai deixar que sua esposa mande em você?” – Um deles desafiou, lhe dando uma cotovelada na costela.

- Cuidem das suas vidas. – Resmungou, deixando a mesa em que se encostara e retirando por fim a armadura que escondia o seu rosto. – Eu estou trabalhando agora. – Sussurrou para mim assim que se aproximou.

- É importante. – Insisti.

[...]

Ele empurrou a porta da sala de visitas e gesticulou para que eu entrasse primeiro. – Obrigada. – Sussurrei com vergonha e passei por ele.

Caminhei até próximo a janela, sem nem mesmo reparar que Amélia já havia limpado tudo. Este detalhe não era tão importante. “E o que quer conversar comigo?”

Quando me virei, Francis me olhava de braços cruzados. – Quero... – Eu nem sabia por onde começar. Suspirei. – Preciso te pedir desculpas, por ontem a noite. – Ele me observava em silêncio. – Agora eu entendi. Eu finalmente entendi que tudo não se passava de uma alucinação da minha mente. Gilbert nunca esteve aqui, foi você, o tempo todo. – Prendi o meu choro.

- Sabe... – Ele suspirou, desfazendo sua expressão séria. – Ontem a noite me serviu de lição. – Caminhou, sentando no sofá branco. Francis apoiou os braços em suas coxas, encarando a armadura de ouro branco de sua cabeça. – Desde que descobri sobre vocês, eu confesso que venho o detestando cada dia mais. Ainda me lembro do dia que o flagrei te beijando. – Mordeu os dentes. – Foi bem ali. – Ele apontou com a cabeça, eu acompanhei. – Mas ontem à noite, quando a carreguei para o quarto e quando você achou que eu era ele, percebi que na verdade não é ele que insiste nessa relação e sim você. Você insistiu até que conseguisse o beijo dele. – Balançou a cabeça, com os pensamentos longe. - Insistiria em algo a mais se eu não fosse embora.

- Me desculpe. – Soprei.

- Você disse que o amava. – Ele expressava dor, como se algo atingisse o seu peito. – Mais doloroso que não culpá-lo é ter que culpar você.

- E-eu sei... Eu sei, eu lamento por meu comportamento, sei que eu deveria te respeitar, c-como sua esposa. – O assisti se levantar, parando em pé.

Ele passou sua mão pelo rosto. – Esposa. – Sorriu com desgosto. – Chega até ser engraçado como você menciona isso. Que belo exemplo de casamento o nosso.

Respirei fundo. – Você já sabia de tudo, e quis casar comigo do mesmo jeito. – Acusei.

- Eu pensei que as coisas mudariam! – Gritou ao me encarar. Ele soltou o ar de seus pulmões com um suspiro angustiante. – Eu pensei que seriamos felizes neste matrimônio mas nem mesmo dividimos a cama. – Desviei o olhar, envergonhada. Ele não se importou em prosseguir. – Não tenho o direito que qualquer homem tem sobre sua esposa.

- Eu reconheço. – Alisei meus braços. – Reconheço que você tem sido muito cavalheiro e respeitoso.

- Não tenho mais paciência. – Ele torceu seus lábios. – Já que não vamos consumar nosso casamento, eu vou procurar outra companhia. – Abaixei a cabeça. – Estamos conversados, preciso voltar ao trabalho. – Recolocou a armadura sobre sua cabeça.

- Francis. – O fiz parar próximo a porta. Pensei um pouco, como era difícil dizer este tipo de coisa quando eu não conseguia vê-lo. Aquela maldita armadura escondia todo o seu rosto, ainda assim, eu sabia que ele aguardava. Suspirei. – Se... – Hesitei, brincando com o babado da manga cumprida do meu vestido. – Se você quiser, pode ir até o meu quarto hoje a noite. Não vou mais me opor. – Seu silêncio me deixava nervosa. – O que acha?

Ele preferiu apenas sair.

[...]

As cerdas finas da escova deslizavam delicadamente, se adentrando pelos fios cor de cobre dos meus cabelos. Eu começava pelas pontas, bem devagar até que desfizesse todos os nós.

Larguei a escova sobre a penteadeira quando por fim terminei, sentindo meus braços doloridos e meus cachos livres e indomados, estavam armados como a juba de um leão.

Arfei.

E comecei a trançá-lo do topo.

Era esse o meu ritual de todas as noites antes de dormir.

Trançava meus cabelos e fazia um coque de tranças por fim.

– Ele não vem. – Murmurei, observando meu reflexo, e achando meus olhos um tanto tristes demais por isso.

Sim, estava decepcionada no fundo.

Não com Francis.

Mas sim, decepcionada por mim mesma. Meu pai estava certo...

Desde que me casei eu não dei chances ao meu marido. Meu coração se fechou e eu só distribuí uma única chave.

Para alguém que não poderia abri-lo.

Busquei o relógio de bolso que meu pai me deu.

Apertei o botão para abri-lo.

Meia noite e dezessete minutos.

Estava na hora de trocar a roupa, já que eu não usaria minha chemise de núpcias. Talvez eu devesse pendurá-la no cabide de arame e deixá-la no canto do closet, onde era o seu lugar.

Me distraia com os cabides abarrotados de vestidos e chemise para dormir. Deveria escolher uma chemise simples e me deitar.

O ruído da porta, porém, me impediu. Escondi o meu sorriso envergonhado e nervoso enquanto segurava o puxador da porta do closet. – Francis? – Sussurrei, ainda sem coragem de me virar. – É você?

“Sim, sou.” – Me virei de imediato. Ele não usava sua armadura de costume. Estava com uma roupa leve, certamente de algodão, os cabelos molhados e penteados para trás.

Percebi que reparávamos um ao outro. – Eu ainda posso ficar aqui, com você? – Perguntou ele, precavidamente.

Me aproximei com cautela. Ainda observando seus detalhes como, por exemplo, os fios pretos azulados de seus cabelos e seus olhos azuis quase tão claros quanto céu. – Pode.

- Me desculpe por ter gritado com você naquela hora. – Dizia.

Toquei o seu rosto. – Você tem um furinho aqui. – Observei. – No meio do seu queixo.

O vi engolir e sua respiração pesar quando passamos a dividi-la, tão perto. Ele segurou minha cintura e avançamos no mesmo instante, profundamente sincronizados. Sua língua estava frenética por espaço e se encaixava onde eu permitia.

E eu mal permitia, ainda relutante quando sua mão paralisou minha nuca ao segurá-la. Fechei meu punho sobre o seu peito, parte de mim estava pronta para socar o seu tórax e pedir que parasse.

Mas aquele beijo passou a ter um toque gostoso. Seus lábios eram macios como morangos e sua língua por fim conheceu a minha e elas pareciam dançar lentamente uma com a outra. Francis soltou minha nuca, deslizando sua mão dali para um dos meus seios. Eu não havia percebido que meus mamilos estavam rígidos e sensíveis até que ele os tocasse.

Ele também não tinha reparado até então.

Paramos o beijo aos poucos. – Você está excitada. – Ofegou. – Já é uma grande conquista.

- Beije-me outra vez. – Pedi envergonhada e ele prontamente me atendeu. O sentia alisar o meu corpo por cima da chemise, amarrotando seu tecido. Aquilo estava bom, muito bom e o seu corpo quase tão quente quanto o meu. Abri os olhos quando nos apartamos do beijo, ambos sem ar. Minha curiosidade me fez olhar brevemente para baixo, a rigidez que sarrava em mim. Ele não percebeu minha atenção para sua calça, ocupava-se beijando o meu pescoço e colo.

Eu tentava descer discretamente minha mão, mas confesso que me faltava coragem, parei no meio de sua barriga.

Ele me fitou com aqueles olhos azuis. – Está arrependida? – Sussurrou, neguei em silêncio, observando seu peitoral. – Não fique tímida. Abra meus botões. – Guiou minhas mãos para ali. Concordei, revelando seu tórax, havia mais pelos do que imaginei, principalmente no meio do seu peito. Mas este era só mais um pequeno detalhe. Sua barriga tinha músculos sutis, discretos gominhos, na qual eu achava engraçado. – Posso abrir os seus? – Hesitei até assentir.

Ele delicadamente desfez os três pequenos botões de minha chemise. Onde levou sua mão a um dos meus seios. Fechei os olhos, sem imaginar que um suspiro prazeroso e profundo sairia de mim. Ele capturou os meus lábios e eu nem esperava por isso, embora retribuísse como se já estivesse acostumada com seus beijos. – Oh, F-Francis. – Ele chupou o seio que antes apalpava, sua língua rodeava o meu mamilo quando puxou totalmente minha chemise e a roupa deslizou por meus pés até o chão.  

-E-estou tão duro que sinto que vou explodir. – Murmurou. – Alivia-me, minha esposa, eu te suplico. – Me puxou pela cintura, sentando-se na beira de nossa cama. Ele afrouxou a amarra embutida de sua calça de dormir, sem esquecer nem por um segundo de admirar minha completa nudez. Distribuía beijos pelo meu corpo, aguardando por minha atitude. – Vamos... Me toque, ou me deixe entrar em você.

Acordei dos pensamentos, percebendo que apenas um tecido de algodão separava seu corpo do meu.

Decidi tocá-lo por baixo das vestes. E aquela havia sido a melhor decisão da noite. Mordi os meus lábios quando nossos olhares se cruzaram, pela sua expressão, sei que ele apreciava o movimento de minha mão. Ele voltou a me beijar, com o mesmo desejo de antes. Passei a bater com mais força, e ouvi-lo gemer dentro dos meus lábios me trouxe uma intensa satisfação.

- Francis... – Parei de batê-lo, ele abriu seus olhos devagar. - E-estou m-molhada. Preciso de você.

Ele me deitou no colchão. Acarinhou o meu rosto por alguns segundos, sem perceber que eu admirava sua beleza. – Tem certeza que quer ser minha esposa na prática? – Assenti.

De joelhos, ele abaixou sua calça.

Era a primeira vez que eu via o membro de meu marido, o mesmo saltou, duro e pronto. E confesso, aquela parte do seu corpo era de fato um grande detalhe.

Observá-lo só fez com que o meu corpo lubrificasse mais. Pude sentir o peso do seu corpo sobre o meu, devagar, abri minhas pernas entre as suas. Ele entrava devagar em mim, apesar de saber que essa não era a minha primeira vez, Francis ainda estava preparado caso eu decidisse desistir.

Mas aquela altura, isso estava fora de cogitação.

Ele apoiou os cotovelos no colchão quando entrou por completo em mim. Sorri, tremendo e toquei o seu rosto. - T-Tudo bem... – Assenti. – Tudo bem, continue.

Relaxou o seu corpo sobre o meu, se movimentando em mim.


Notas Finais


Quem se lembra da Celeste, prima da Val? (A última aparição dela foi no capítulo 101 da 2 temporada)
CONFESSEM! EU TROLEI VCS NÉ?! Vcs pensaram que o Gil tinha voltado, né?
(Mas do jeito que meus leitores são espertos, é provavel que não)
Sobre a fala do Tarrant kkkk ele tá super certo né? A Val é igual a ele mas é igual a Alice, supeeerr orgulhosa no amor
E essa amizade da Val com a Amélia vai vingar?

É OFICIAL: EU SHIPPO A VAL E O FRANCIS
E vcs????

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Logo logo respondo os coments
(Vou ter que dá uma saidinha agora, vcs sabem né, comprimissos 🔥)


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