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História Apenas Uma Vez - Ereri - Capítulo VI


Escrita por: LeChatNoir_

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 6 - Capítulo VI


 

Levi estava entrando no pequeno avião que o levaria para o norte do país. Subiu as escadas silenciosamente, carregando apenas uma pequena mala em uma de suas mãos, enquanto logo atrás de si Erwin subia por último, parando brevemente para conversar com o piloto.

Seus olhos estavam pesados, havia dormido incrivelmente bem nos braços de Eren durante a noite, fazendo com que quase se permitisse atrasar alguns minutos para continuar observando-o dormir, enquanto permanecia tranquilo acompanhando sua respiração lenta.

Soltou uma risada um tanto discreta, enquanto balançava a negativamente a cabeça, se perguntando o que estava acontecendo consigo mesmo.

Ninguém nunca havia chamado tanta sua atenção como Eren chamou. Desde o primeiro dia, quando o jovem rapaz estava sentado em sua frente, aparentemente nervoso, enquanto fingia ler aquele papel que continha suas experiências e habilidades. Levi nem sequer se lembrava do que havia naquele papel, não havia dado atenção àquilo.

Depois disso, assistiu silenciosamente a forma que continuava a permanecer atento àquele ser desastrado, mas que continuava o atraindo por inteiro. Seu corpo, sua voz, seus olhos e a forma com que prendia seu cabelo era hipnotizante.

Levi, dentro do avião, colocou sua mala na cadeira vaga ao seu lado, propositalmente para que ninguém sentasse ali e o incomodasse durante a viagem toda.  Ele se acomodou, encostando o lado de seu rosto na lateral do avião, observando o lado de fora através da pequena janela. Ele levou suas mãos até a gola da sua camisa e a levantou, discretamente escondendo a marca que permanecia ainda em seu pescoço.

Se sentia estúpido por seus pensamentos permanecerem orbitando ao redor de Eren, voltando sempre ao momento que esteve deitado em seus braços, sentindo sua respiração em seu pescoço e de como havia sido acolhido em sua vulnerabilidade, mesmo que isso não estivesse explicito e claro para o outro. Levi nunca havia sido cuidado daquela forma.

Sua mente também era consumida de tempos em tempos pela a culpa em ser o responsável pela morte de seus companheiros. Nunca se perdoaria por isso.

Sabia que se sentia responsável por não ter lidado com Kenny no passado, quando as coisas teriam sido bem mais simples. Sua inexperiência fez com que ele não dessa tanta importância quando o homem deixou o serviço militar, se aliando a outros grupos extremistas e se tornando um problema ainda maior para todos.

Mas mesmo com toda essa culpa, Eren continuava a atormentá-lo, causando uma dualidade de sentimentos tão opostos, mas ainda assim intensos.

— Ontem, quando você foi para embora — Erwin apareceu, retirando a mala de Levi do assento e colocando-a no bagageiro superior, sentando-se eretamente ao lado de Levi no avião — Eu tive que aturar Hange falando sobre você por horas.

— Meus pêsames. — respondeu.

— Você está bem? — Seu comandante perguntou ignorando a fala ácida do outro.

— Estou.

Levi suspirou, expressando propositalmente sua irritação, enquanto Erwin apenas olhava para frente.

— Sobre Eren Yeager... — o loiro começou.

— Não é da sua conta.

— Eu sei, Levi. — ele sorriu discretamente, um tanto acostumado com o jeito arisco do Ackerman — Eu apenas fico feliz por você estar próximo de alguém. — ele disse — Nós dois sabemos que você tem dificuldade de se entregar em um relacionamento, você já me disse isso.

— O fato de eu não querer me encontrar uma segunda vez com as pessoas não tem nada a ver com isso.

— Sim, tem. Você evita sua entrega emocional.

— Emoções são perda de tempo, Erwin. — retrucou.

— Você tem medo de gostar de alguém. E agora está com medo de perdê-lo. — Levi revirou os olhos — Eu digo, sobre o Kenny. — explicou — Sei que está preocupado.

— Talvez eu esteja. — Levi disse — Talvez.

— Todo esse tempo você só permanece lutando, você contra o mundo. — Erwin disse tranquilamente — e da mesma forma, permanece se escondendo e se protegendo. Não faça isso consigo mesmo.

— Tsc. — resmungou se remexendo desconfortavelmente na cadeira. — Por que estamos falando sobre isso?

— Porque Eren parece ser um bom rapaz — Erwin explicou — E devido às evidências que tive que ouvir de Hange, me parece bem óbvio que vocês já se envolveram. O fato de você continuar próximo a ele e ele próximo a você, significa que nutrem sentimentos, de certa forma, um pelo o outro. — ele deu uma breve pausa, mas Levi não parecia disposto a responder algo — Não perca isso, Levi.

— A única coisa que eu estou perdendo, Erwin, é a minha paciência com esse assunto — Levi se levantou irritado — Trocarei de assento. É uma longa viagem e eu não estou com um bom humor.

— Está bem, está bem — ele olhou serenamente para o homem — Não tocarei no assunto. Quando quiser conversar, por espontânea vontade, pode vir falar comigo.

— Este avião está sujo — Levi reclamou, passando o dedo pela janela um pouco empoeirada.

— Não mude de assunto.

— Eu sei me virar sozinho.

— Não sabe, Levi. — respondeu, sabendo que era o único que Levi ouvia — Você já se apegou a ele, mas permanece negando isso a si mesmo.

— Cale a boca, está bem?

—Está bem — concordou sorrindo — Logo chegaremos e pouparei minhas energias. — o homem se acomodou no encosto e se manteve com os olhos fechados na maior parte da viagem.

Levi sabia que Erwin o conhecia melhor que ninguém, sabia de suas fraquezas e de seus pontos fortes, e era por este motivo que trabalhavam juntos tão bem. 

Os dois haviam se conhecido a muitos anos atrás, desde quando Levi havia se alistado para força de inteligência especial do exército, e desde então, sempre haviam trabalhado juntos. Erwin sempre o acompanhou em missões especiais e sempre esteve lá para ajudá-lo no que fosse preciso.

E, obviamente, essa proximidade resultava em desconfortos que Levi detestava, visto que sabia que cada palavra dita por Erwin, significava a mais pura verdade.

Levi consultou seu celular, eram quase seis horas da manhã, e com base nos cálculos, chegariam ao norte do país aproximadamente às nove horas da manhã, onde havia uma outra base de inteligência e era próximo onde supostamente Kenny se concentrava com seus homens.

Por impulso, escreveu uma mensagem para Eren, dizendo que estava entrando no voo e que pousaria em três horas, mas logo seus dedos apagaram cada letra daquela mensagem de texto, enquanto se sentia mais estúpido ainda por estar sendo consumido por um sentimento daquele.

Levi guardou o celular no bolso e fez o mesmo que Erwin, fechando os olhos e esperando o tempo passar.

 

...

 

 

Muito tempo havia se passado desde que teve um contato com Levi.

Eren poderia afirmar que parecia uma eternidade desde que teve o homem em seus lençóis, que havia sentido o contato tão próximo do outro em seu rosto, mas sabia que, logicamente falando, faziam cerca de dois meses que não via ele.

Uma semana depois que Levi viajou, em uma noite que estava com dificuldade para dormir, inesperadamente recebeu uma mensagem de madrugada do homem que dizia ‘As coisas se complicaram por aqui. Se precisar de algo, chame Hange imediatamente, ela cuidará de sua segurança. Espero que esteja bem’. Eren respondeu a mensagem recebida, mas depois disso, não recebeu mais nenhum sinal do Ackerman.

Enquanto isso, apenas prosseguia com sua rotina, o que não era nada fora do comum e muito incrível, como salvar o mundo de ameaças. Ele apenas faria suas obrigações e iria no treino durante as tardes.

Ao sair de seu quarto, encontrou Mikasa e Armin, tomando café da manhã. Ela estava arrumada para ir trabalhar e Armin estava com suas roupas largas e folgadas para passar o dia em casa.

— Aonde você vai? — Mikasa perguntou descontraidamente, enquanto Eren se juntava a eles na mesa.

— Você sabe aonde. — ele respondeu, dando um suspiro, já sabendo o que ela diria a ele — Eu sou um idiota por isso? Eu realmente espero que não.

— De forma alguma, Eren. — Armin respondeu, servindo o café a ele e lhe entregando a xícara — Você tem seus motivos. Talvez no seu lugar eu faria o mesmo.

— Eu acho idiotice. — Mikasa disse por fim.

Eren ainda tinha o costume de ir até a casa de Levi durante as semanas. Não cumpria mais as horas rigidamente, como costumava ser antes, mas quase todos os dias ia até lá para manter a limpeza e arrumar uma coisa ou outra. Também gostava muito de ver Sasha e Connie, que haviam sido bons amigos nos momentos em que se sentia perdido e sozinho naquela grande casa.

Sabia que o maior motivo de permanecer fazendo isso, era para encontrar formas de se manter perto de Levi, mesmo este estando longe, de poder assegurar que o que sentia era real e que Levi tinha um lugar para voltar. Que tudo era concreto e não apenas coisa de sua cabeça. Ele nunca admitiria isso para si mesmo, mas durante as noites, quando se deitava, olhando para o celular esperando algo, sabia que era esse o motivo.

— Ele ainda paga meu salário. — Eren respondeu à Mikasa — Não sei como, mas o dinheiro ainda está sendo depositado todo mês. Seria errado se eu não fosse até lá — ele justificou — E Levi gosta das coisas limpas, eu estou fazendo meu trabalho.

— Seu trabalho, é claro.

— Você está esperando ele voltar, Eren. — Armin sorriu — Nós sabemos disso.

Após o café da manhã Eren foi até a casa do homem e encontrou com Connie e Sasha conversando no jardim. Ela havia dobrado algumas roupas de cama e estava com os lençóis dobrados apoiados em seu colo, enquanto ela e Connie estavam sentados na sombra, descansando por um momento.

— Bom dia, Eren! — ele o cumprimentou.

Ele assentiu com a cabeça para os dois, em resposta, juntando-se a eles.

— Vocês acham que o Sr. Ackerman vai demorar muito para voltar? — Sasha perguntou e Eren notou que as vezes ela o chamava formalmente, mas isso sempre dependia do seu humor — Não tenho nada para lavar e cuidar, a não ser que sejam lençóis limpos.

— Qual foi o maior tempo que ele ficou fora? — Eren perguntou.

— Eu acho que sempre foram questão de meses, quando ele demorava mais. — Connie respondeu, voltando a se levantar e se espreguiçando — Mas com ou sem ele, meu trabalho permanece o mesmo de sempre. Até mais tarde, vocês dois.

Após voltarem ao trabalho, Eren começou limpando pela parte de cima da casa, lavou o banheiro do quarto de Levi e também aproveitou para limpar as janelas que eram sempre o que se empoeirava mais. Enquanto cuidava do andar de cima, Sasha apareceu com os lençóis e os colocou na cama, deixando o ambiente com um cheiro de limpeza muito agradável.

O resto da parte da manhã se concentrou no escritório de Levi, tirando o pó dos itens espelhados pelas prateleiras de madeira e dos livros em várias línguas. Haviam livros em inglês, francês, alemão e russo, e uma vez ou outra Eren abria o que mais lhe atraía a curiosidade, mas não entendia nada do que estava escrito, de qualquer forma.

Ele tomava um maior cuidado com a mesa de Levi e quando foi limpá-la, tomou um maior cuidado com tudo.

Tinha muitos papéis e documentos que pareciam ser realmente importantes, mas estes estavam sempre extremamente organizados. E esse era o maior problema. As coisas na casa de Levi se sujavam com sujeira cotidiana, com poeira e afins, mas não era nunca desorganizada. Sua maior dificuldade era limpar e não desorganizar nada que pudesse atrair os olhos ferozes de um Levi irritado.

A mesa possuía algumas gavetas que sempre permaneciam trancadas, e Eren sabia da existência de um cofre, logo atrás de três livros específicos em francês, em uma das prateleiras de madeira escura, que eram fechadas por uma porta de vidro. Achava interessante o fato de ter um cofre, e era claro que ficava curioso por seu conteúdo.

— Hange? — Eren perguntou, ao ver a porta do escritório abrindo e a moça de óculos entrar, completamente concentrada nos papéis que carregava em mãos.

— Oh, Eren! Você por aqui! — ela respondeu com um bom humor — Vim somente para deixar isso aqui para quando Levi voltar. São apenas documentos de rotina, mas não quero ficar com eles, se não eu acabado perdendo e levo uma bronca depois — ela riu.

— Tem tido notícias dele? — perguntou.

— Bem... — ela apoiou a pequena pilha de papeis com algumas pastas no meio, certificando-se de deixar em um lugar onde não atrapalharia a limpeza do rapaz — Eu sei que as coisas estão indo bem... Eles encontraram Kenny e estão tendo bastante conflitos desde então, acho que as coisas vão finalmente se resolver. E Levi também levou um tiro, mas nada para se preocupar.

— Um tiro? — Eren parou o que fazia e olhou imediatamente para Hange.

— Kenny poderia ter acertado um ponto vital — ela disse, levando a mão para o abdômen e deslizou seus dedos para a direita de seu corpo — Mas acho que acertou nessa região, mais ou menos.

— Por que Kenny quer matar Levi tanto assim? — Eren se apoiou na mesa de madeira, soltando seu peso sobre ela, enquanto Hange puxava uma das cadeiras — Eles têm algo que vá além de todo esse conflito do exército?

— Oh, sim, com certeza. — ela ajeitou os olhos — Como eu poderia resumir para você? Bem, Erwin é o homem de máxima autoridade entre nós, porém isso apenas quando estamos em uma missão conjunta. Fora isso, cada divisão tem seu próprio comandante, Levi faz parte do planejamento estratégico e inteligência de combate, e eu do que se diz a ciência, tecnologia e comunicação.

— Certo. — ele disse.

— Kenny fazia parte do regimento de Erwin, de combate de campo, mas em uma das missões em que eram lideradas pelo segmento de Levi, Kenny o desobedeceu por não concordar com a forma com que ele prosseguiu com o plano, e isso causou algumas mortes dos homens de Levi.

— Então não foi a primeira vez que Kenny fez isso.

— Não foi. — ela concordou — Normalmente um soldado seria severamente punido pela desobediência, mas Kenny é de certa forma, o único familiar que Levi tem vivo, então isso pesou um pouco na hora de lidar com as consequências — ela suspirou, encostando tranquilamente na cadeira enquanto contava a ele — Isso acabou causando mais desobediências e agitação interna. Kenny é um homem um tanto agressivo de ideais fortes, que o fim justifica qualquer meio, e Levi não é assim. Então todas as missões que Erwin cedia seus homens para que fosse comandado por Levi, esses desentendimentos aconteciam.

— Entendo.

— Quando as coisas se tornaram um pouco mais difíceis e agitadas com um grupo extremista que estava contribuindo e dando início à um conflito civil no sudeste do país, as foças de Levi e Erwin se juntaram novamente para criar um plano prático para controlar a situação, colocando Levi e Kenny juntos novamente — ela continuou com um olhar mais sério — Por fim, depois de tudo, Kenny terminou traindo os homens do exército e se juntando ao grupo extremista.

— Isso é... complicado. — Eren disse, um tanto surpreendido com o rumo da explicação.

— Muito — ela arregalou os olhos como tinha costume de fazer, um tanto animada e um tanto séria com o assunto — Muita coisa aconteceu desde então, mas a coisa se tornou pessoal quando um segundo encontro aconteceu com esse grupo que Kenny então fazia parte, quando abandonou as tropas de Erwin para se juntar a eles. — ela cerrou um pouco os olhos, pensativa — Acho que já tinha se passado um ano quando voltaram a se encontrar, algo assim. Levi estava furioso com a traição, mas seguiu sua missão normalmente, apenas buscando um resultado positivo com o conflito civil que estava gerando muitas perdas para ambos os lados na região. — ela disse, e Eren notou que ela sempre se referia à Levi como um homem centrado, justo e focado na missão — No fim, quando as coisas ficaram mais sérias e o conflito se intensificou, algumas pessoas do outro lado morreram, e uma delas era uma moça que Kenny havia se envolvido.

— E então Kenny achou que Levi havia a matado propositalmente, como forma de puni-lo, não? — Eren perguntou, chegando a sua conclusão.

— Exatamente — ela respondeu, arregalando os olhos mais uma vez, com animação por Eren estar prestando atenção e seguido a linha dos acontecimentos — Desde então Kenny tem prometido matar qualquer pessoa que seja próxima a Levi, até que o mate com suas próprias mãos. — ela deu ombros — As pessoas mais próximas a ele são Erwin e eu, e nós estamos sempre cercados por outras pessoas. Mas isso era até agora...

De repente, a única mensagem que havia recebido de Levi fez completo sentido em sua cabeça.

Não havia cogitado o motivo de precisar de Hange para nada e havia achado um tanto estranho o homem dizer que ela cuidaria de sua segurança. Mas agora era óbvio o significado daquilo tudo.

— Hange... — Eren voltou a falar — Você não veio aqui para entregar documentos de rotina, veio?

A mulher apenas riu, levantando-se da cadeira, enquanto ajeitava sua franja que caía rebeldemente pelo seu rosto.

— Levi é durão, mas ele está preocupado com você.

— Então ele sabe que eu estou aqui?

— Eu disse a ele. — ela suspirou — Sei que tem vindo todos os dias cuidar das coisas por aqui e ele também me perguntou de você.

— Entendo. — Eren se sentia como um adolescente idiota por tudo aquilo. Era uma situação séria e enquanto isso, sentia seu estômago se revirando por sentimentos idiotas.

— Agora que eu fui descoberta, vou voltar ao trabalho. Não conte a ele que eu falei sobre isso, só passei para entregar documentos. — ela riu novamente — Qualquer coisa me ligue!

Eren passou o resto do dia pensando sobre aquilo, sobre Levi e sobre como queria que ele voltasse logo. Sobre como queria sentir ele em seus braços novamente, ou em como seria abraçá-lo.

Eren nunca havia abraçado Levi e questionou como seria, sendo que o homem ura um pouco mais baixo que ele e teria seu rosto em seu peito de uma forma extremamente aconchegante.

Percebeu que deveria voltar o foco no trabalho quando quase derrubou uma das garrafas de bebida, enquanto às organizava. Levi não estava nem mesmo ali, mas só a ideia dele já fazia com que ele voltasse a ser um completo desastre.

 

 

...

 

 

Levi estava suando, com o rosto sujo enquanto saía daquela caverna infernal de quente. Aquele esconderijo era horrível e só poderia ter sido ideia de Erwin permanecer ali enquanto explodiam todas as minas terrestres que haviam colocado durante a madrugada no território inimigo.

A caverna tremeu e enquanto suavam, terra caía em suas cabeças no momento que o solo e as paredes estremeciam, fazendo com que o pó preto grudasse em suas peles.

De longe, percebeu algumas pessoas que haviam sobrevivido à explosão, e ferozmente, vinham em suas direções, atirando e tentando causar o maior estrago possível em seus companheiros que estavam ao seu lado. Sua equipe era bem treinada e eficiente, tinham sua completa confiança de que sairiam bem dali.

A região que estavam parecia ser bem desértica, com o solo seco, em uma mistura de terra e areia. Um pouco mais a frente, no local que antes possuía um prédio de não mais que cinco andares, havia várias pedras rochosas grandes e secas da mesma forma, construindo um ambiente um tanto árido e alaranjado.

Não demorou muito para que avistasse todos os últimos homens saindo da edificação que não estava mais em pé, apenas escombros restavam e os sobreviventes logo se levantavam para retrucar o ataque agressivo que haviam acabado se sofrer.

De longe, na mira de sua arma, Levi via Kenny se levantando com seu olhar lunático e um tanto perturbador.

Seu dedo travou e por um instante, tinha certeza de que falharia naquilo de novo.

— Faça de uma vez, Levi! — Erwin gritou, no meio dos barulhos de tiro e gritos ensurdecedores. Estavam todos escondidos atrás de pedras, colocando o corpo e a arma para fora apenas para retrucarem o ataque daqueles poucos homens que restavam — Se não o fizer, só causará mais mortes e arrependimentos. Ele é o líder de tudo isso, apenas atire!

Levi odiava o fato de fazer parte disso.

— Tsc. — o homem suspirou, tentando manter a respiração tranquila e acalmar sua mão que tremia com a adrenalina e atrapalhava sua mira.

— Atire logo, Levi! — Erwin gritou novamente, percebendo a demora do outro — É uma ordem!

— Cale a boca! — retrucou, permanecendo apoiado na pedra grande o suficiente para proteger seu corpo.

Levi fechou os olhos por um instante, apenas tentando pensar em um momento calmo para que as batidas frenéticas de seu coração não o traíssem em um momento importante e crucial como este.

Ele precisava de calma. Ele precisava de coragem.

Já havia aceitado que aquele era o destino de Kenny, mas na prática, as coisas eram mais difíceis.

Sabia que apenas segundos ou milésimos de segundos havia se passado enquanto pensava sobre tudo e tentava manter a calma, mas em sua mente, foi o suficiente para que se lembrassem das mãos que entrelaçaram os dedos no seu, como um apoio.

Quando abriu os olhos, Kenny permanecia em sua mira, e com pesar, puxou o gatilho.

Não tinha certeza do que estava acontecendo depois disso, os tiros que eram atirados e recebidos levantaram uma poeira excessiva que atrapalhava a visão de ambos os lados.

Assim que seus dedos se contraíram, ele voltou a se abaixar e se esconder de todos os outros tiros que vinham em sua direção. Viu que todos os outros soldados que estava ao seu lado haviam feito o mesmo, e gradativamente, os barulhos começaram a diminuir.

De alguma forma, aquilo havia terminado.

O outro lado logo se rendeu.

Erwin, em sua posição diplomática e apaziguadora prometeu a eles que auxiliaria na resolução civilizada dos direitos que buscavam, mas que por ora, ainda seriam levados como prisioneiros para que não houvessem mais riscos e mais mortes. Logo todos os soltados já se preparavam para voltar à base, aliviados por tudo ter dado certo.

Levi não soube e nem queria saber como tudo aquilo iria se resolver futuramente, estava exausto demais para continuar pensando em tudo aquilo. Assim quando pôde, se afastou de todos assim que chegou na base do exército, enquanto todos eles faziam relatórios e comemoravam mais uma vitória.

Ele não se sentia vitorioso.

— Seu plano foi perfeito como sempre, Levi. — Erwin disse, lhe dando um olhar de aprovação e agradecimento.

— Não diga isso — ele respondeu — Muitas pessoas morreram aqui hoje.

— Hoje você salvou mais pessoas do que realmente matou. — respondeu com sua sábia autoridade que irritava Levi — Pense nisso, Levi.

— Não me venha com essa, Erwin.

Ele foi para seu dormitório e tomou um banho. Seu abdômen ainda doía e de vez em quando, percebia o sangue escorrendo por baixo de sua camisa, lembrando-o de que se continuasse em combate, aquilo não se fecharia tão rapidamente. Mas era uma dor suportável, afinal, já havia sentido muita coisa pior.

No outro dia, pegaria o primeiro avião para voltar para casa, para alguém que torcia que ainda estivesse o esperando.

Acordou cedo, assim que o seu despertador anunciou ser cinco e meia da manhã. Passaria o resto do dia correndo com os relatórios e informações finais, pois detestava ser cobrado por isso. Erwin passou a maior parte do tempo ocupado com as próximas providências organizacionais que seriam tomadas para aquela região, para que a não deixasse sem suporte e vulnerável.

Nunca desejaria aquele trabalho para si.

No caminho para casa, após embarcarem no avião, Erwin fez questão de tirar sua mala novamente da cadeira que havia reservada apenas para sua bagagem, que evitava qualquer companhia desagradável que viesse a aparecer.

— Eu conheço esse seu olhar. — seu capitão disse — Você está querendo desistir.

— Não estou querendo desistir. — ele retrucou seriamente — Apenas me chame em missões que você não tenha mais como resolver e me tenha como último recurso.

— Normalmente é sempre assim — ele deu um sorriso pesado, compartilhando da mesma dor de toda a perda que tiveram nos últimos tempos, mesmo que não deixasse isso transparecer com tanta facilidade — Precisamos de você aqui.

— Eu sei — ele assentiu — Eu só estou cansado de todo esse sangue nas minhas mãos.

Já era tarde quando desembarcou do avião. Um motorista o deixou em casa logo às três e meia da noite. Quando acendeu a luz do salão principal, estava aliviado por estar de volta, observando detalhes gritantes da vivência de Eren em sua casa.

O primeiro sinal era a porta de seu escritório entreaberta.

Ele sempre a mantinha fechada e Eren sempre a deixava encostada. Nunca entendia como o rapaz não conseguia simplesmente fechá-la de uma vez.

O segundo sinal era sua garrafa de bebida, que logo notou ao ir diretamente até ela para encher um bom copo que pudesse o tranquilizar e aliviar todo aquele peso que martelava em sua cabeça.

Eren tinha o costume de ordená-las por tamanho, deixando as menores na frente e as maiores atrás, o que, até fazia sentido. Mas Eren nunca percebia que ele sempre deixava a garrafa maior no meio, logo na frente, visto que era a que mais utilizava e equilibrava o balcão de bebidas.

O terceiro foi o interruptor de luz de seu quarto, que percebeu assim que entrou e soltou sua mala no chão.

Algo que apenas Eren fazia era acender as luzes logo quando entrava, mas possuía a mania de apagá-las no interruptor próximo à porta do banheiro, o que fazia que os botões ficassem desorganizados e não alinhados quando estava tudo ligado ou tudo desligado.

Era caótico.

Apenas percebeu como aqueles pensamentos e aqueles detalhes, de certa forma, o confortavam. Normalmente isso o irritaria por inteiro, mas estranhamente isso só fazia com que sentisse ainda mais falta de Eren. E se odiava por isso.

Ele se sentou no pé da cama e retirou o celular do bolso, digitando uma mensagem para a pessoa que estava em seus pensamentos. Não queria ligar, mas queria pelo menos avisar que estava ali, em uma estúpida esperança de ouvir sua voz e vê-lo no dia seguinte.

Desabotoou sua camisa e tirou o resto da sua roupa, deixando estas e as roupas de sua mala dobradas em um quanto do quarto, para que as colocasse para lavar no dia seguinte.

Ele ligou o chuveiro enquanto retirava seu curativo e apenas se enfiou em baixo da água, sentindo ela quente escorrendo por seu pescoço e aliviando os músculos rígidos. Não havia percebido que estava tão tenso assim.

Se sentia exausto, pesado e com a mente em turbulência, mas não haviam mais motivos para isso. Afinal, tudo tinha finalmente se resolvido.

Em sua casa, Eren olhou de prontidão para sua pequena escrivaninha quando ouviu o som de uma notificação específica ser emitida no seu celular. Ele havia trocado e personalizado aquele toque discreto e que combinava bem com Levi para que sempre que recebesse uma mensagem, soubesse que era sua e a abrisse imediatamente.

Espero que essa mensagem não te acorde. Estou em casa, acabei de chegar, ok?

— Espera que essa mensagem não me acorde... — Eren disse, deixando um sorriso escapar pelos seus lábios ao olhar a para a tela do celular, lendo a mensagem que esteve esperando por todo tempo — Francamente...

Eren digitou uma resposta e logo já estava trancando a porta do seu apartamento, indo diretamente de encontro com o outro.


Notas Finais


Agradeço todos os comentários, vocês são demais e sempre aquecem meu coraçãozinho ♥️


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