O sol brilha intensamente, aparentemente já passa da metade do dia e mesmo assim as ruas permanecem desertas como um cenário apocalíptico que só se vê em filmes, finalmente a ficção se choca com a realidade vivida por milhares de brasileiros que se tornaram reféns, presos atrás das grades em suas próprias casas.
Maria tem vivido essa realidade na pele, a jovem de cabelos castanhos ondulados e pele morena têm apenas dezesseis anos é a única filha de uma mulher já idosa, vivem em um prédio de classe media alta próximo ao centro da cidade e apesar de lidarem bem com o isolamento pressentem uma crise chegando.
Já faz quase uma semana que a crise se instaurou, a policia é impedida de exercer suas atividades graças a uma barreira de seus familiares e amigos e o governo simplesmente nega qualquer tipo de negociação com os manifestantes levando o sociedade a momentos de tensão nos quais o sentimento de medo e horror se confundem, Maria mantém a porta trancada, até mesmo entre os moradores o clima é de desconfiança.
– Mamãe. – A menina chama enquanto se aproxima do quarto.
A mulher idosa responde com uma tosse fraca e com dificuldades se senta para receber melhor a garota que cansou de dizer que aquilo não era necessário.
– O seu remédio acaba amanhã e parece que os policiais ainda não vão voltar a ativa, acho que as coisas ainda vão demorar um pouco a se normalizar, mas não podemos esperar por isso eu vou tentar chegar a farmácia e pegar o remédio pra você. – Disse sorrindo docemente.
– Não... Por favor, minha filha, não faça isso. – Falou com dificuldades.
– Outras pessoas também estão precisando mamãe, prometo que não vai ser perigoso. – Continuou sorrindo e ajeitou o cobertor sobre a mulher, em seguida beijou sua testa e saiu do quarto sem dar chance de ser convencida a mudar de ideia.
Realmente um grupo de moradores havia se reunido mais cedo e chegado a conclusão de que a melhor opção seria se arriscarem nas ruas pelo menos uma vez, como Maria e sua mãe viviam sozinhas cabia somente a ela representar seus interesses naquela investida e assim formou-se um grupo de seis pessoas, quatro homens e duas mulheres. Por volta das quatro da tarde o grupo se reuniu no estacionamento do prédio, a jovem mantinha em seu bolso a receita medica e uma caixa do medicamento que precisava somente para ter certeza que ia trazer o certo.
– E então garotinha, o que trouxe para o caso de precisar se defender? – Um homem cerca de cinco anos mais velho se aproximou da menina, sua expressão era indecifrável.
– Eu encontrei uma faca de caça que pertencia ao meu pai. – Falou mostrando o case preso na cintura da calça jeans.
– Deixe a menina em paz, Pedro. – Agora um homem bem mais velho tomou a frente da situação, a garota o reconheceu de tanto encontrá-lo pelos corredores, mas nunca soube exatamente se aquele homem barbudo morava no mesmo andar que ela. – Maria não precisa se preocupar, apesar de tudo as coisas ainda não saíram do controle, eu já disse que você nem precisa ir, eu mesmo posso trazer o que você precisa. – Disse com gentileza.
– Eu agradeço, mas eu tenho que garantir que seja o certo. – Maria disse enquanto ajeitava o cabelo prendendo-o em um coque.
Pedro tinha a chave da farmácia, pois trabalhava naquele local como gerente e Davi, o homem barbudo, era o dono de um mercadinho ali perto o qual estava repleto de mantimentos, o grupo então tinha dois objetivos: Remédios e alimentos.
Rapidamente os seis conseguiram se acomodar em um carro bastante espaçoso, oferecido por um morador que não queria sair da segurança de seu lar, assim que o portão foi aberto o grupo saiu tendo a certeza de que a garagem estava completamente selada e os moradores que ali ficaram permaneceriam seguros.
– Vamos primeiro ao mercado. – Davi anunciou virando a esquina. Maria encolheu os ombros, queria ir primeiro a farmácia, porém sabia que era minoria. A viagem foi breve, afinal o mercado ficava apenas a dez quarteirões do prédio, Davi deu a volta averiguando a situação e logo depois resolveu estacionar o carro perto da entrada lateral, o grupo decidiu então que Marcos ficaria no carro aguardando o retorno dos outros e também seria o responsável por avisar de qualquer problemas que pudessem acontecer, desse modo os cinco restantes saíram e foram até a porta do estabelecimento.
O que ninguém sabia até aquele momento era que uma gangue estava se organizando nas sombras para espalhar o verdadeiro terror naquela cidade outrora pacifica.
Maria entrou logo depois de Davi que cuidou de trancar a porta assim que o ultimo do grupo a atravessou, lá dentro ele organizou os grupos que calmamente seguia suas ordens empilhando caixas e dividindo mantimentos para organizar na traseira do carro, o trabalho durou cerca de meia hora, as caixas estavam organizadas e poderiam ser levadas sem qualquer problema para o carro, contudo o som frenético da buzina interrompeu a tranquilidade da equipe que observou pelas câmeras de segurança uma agitação do lado de fora. Há alguns metros um carro parecia querer invadir o mercado, Marcos buzinava na tentativa de alertar seus companheiros e um grupo de mascarados seguia em direção ao carro.
– Porra! – Pedro proferiu puxando o celular do bolso e discando rapidamente. – Marcos sai daí, encontra a gente na rua de trás.
– Que merda você está dizendo? – Uma mulher se manifestou batendo na mão de Pedro. – Se ele sair de lá, nós estamos ferrados.
– Não vou deixar o meu amigo testar esses malucos. – Pedro rebateu olhando Marcos acelerar o carro para longe dali.
– Gente, vamos ficar calmos. Eu tenho um carro lá atrás, cabe apenas duas pessoas, mas podemos dar um jeito, mas por hora estamos seguros aqui dentro. – Pedro é interrompido abruptamente pelo som de pneus queimando o asfalto.
Um carro arrebentou a entrada do mercado pegando de surpresa o grupo que estava ali dentro, Davi deu um passo pra trás incrédulo no que estava vendo enquanto que Maria já buscava uma saída dali. O grupo de mascarados estava prestes a invadir o local e era de se duvidar que estivessem atrás de mantimentos, pois qual motivo os faria invadir justamente o local onde o pequeno grupo tentava reunir suprimentos?
O Espírito Santo estava prestes a entrar em um caos muito pior do que aquele noticiado nas redes sociais e o pequeno grupo aleatório foi o sorteado para experimentar o tomento.
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