Vanessa encontra Ethan em seu quarto segurando um envelope aberto.
VANESSA: Ethan? – Ela olha para o papel nas mãos dele e se surpreende. – Você? – Ela enrubesce com a ideia de ele ler suas correspondências. As cartas para Mina e outras cartas que ela escrevia e mantinha guardadas como se fossem uma espécie de diário.
ETHAN: Mr. Gray acabou de deixar um convite. Deveríamos ir.
VANESSA: Convite?
ETHAN: Um baile. Nunca tive a chance de praticar as aulas que tive. Acho que seria bom.
Vanessa sorri. Ela adora dançar e há muito tempo não dança ou vai a bailes. Seria uma ótima distração para tantas preocupações que ela tem. Após uma breve relutância ela responde.
VANESSA: Claro. Seria ótimo. Quando será?
ETHAN: Na próxima sexta-feira.
VANESSA: Sexta-feira estaremos lá.
A música, o tilintar dos copos e as vozes de pessoas ecoavam pelo ambiente. A sala repleta de quadros estava novamente cheia. Após muito tempo Dorian estava novamente no centro das atenções sendo anfitrião do baile mais requintado de Londres.
Boatos de que a Condessa de Hertfordshire estaria presente se espalharam rapidamente pela cidade o que atiçou o ânimo da sociedade e fez com que a casa de Dorian se enchesse mais uma vez.
Era a primeira vez que Vanessa saía com Ethan em uma ocasião social. Se por um lado ele parecia um pouco tenso, Vanessa parecia estar tranquila e despreocupada. Usava um vestido de cetim azul que realçava a cor de seus olhos. Um tom ainda escuro, mas um pouco claro que as cores que está acostumada a usar. Um arranjo nos cabelos presos completa o visual.
Victor estava em um canto da sala bebendo whisky quando Ethan e Vanessa se aproximaram.
ETHAN: O Doutor começou a beber? – Surpreende-se Ethan, era a primeira vez que ele via Victor tomar uma bebida alcoólica.
Victor não aparentava estar bem. Ele não queria comparecer, mas ficar em seu laboratório estava deixando-o louco. Talvez devesse trocar de vício. Quem sabe a bebida teria um efeito diferente em seu organismo?
VICTOR: Há momentos em que devemos deixar a razão de lado e agir de modo impulsivo. Acho que este é o meu.
ETHAN: Aproveite. – Responde com um leve menear na cabeça.
VANESSA: Você me prometeu uma dançar, Victor. Talvez hoje poderia me concede-la. – Ela disse na tentativa de anima-lo um pouco.
VICTOR: Acredito que Mr. Chandler não gostaria de dividir a companhia, acho que ainda continuarei na dívida. – Ele sorri sem jeito, faz um brinde e se afasta do casal.
Ethan vira-se para Vanessa e segura sua mão.
ETHAN: Me concede esta dança?
VANESSA: seria um prazer. – Ela responde com um sorriso.
Eles se dirigem ao centro do salão e bailam no ritmo da valsa. Por um momento Vanessa se esquece de todas as preocupações e se deixa levar pela música. Ela se dá o direito de gostar de música por uns instantes, ela se permite ser feliz. Desde criança que ela não se sente tão bem e tão alegre.
Mr. Lyle chega acompanhado de Catriona. Ela usa um elegante vestido vermelho que realça suas curvas. Mesmo usando calças e roupas menos femininas no dia a dia, Catriona anda com desenvoltura. Quem a vê acha que os saltos altos e o corpete fazem parte de sua rotina.
Sua beleza atrai os olhares atentos dos convidados, principalmente dos homens que não deixam de notar o decote. Ela finge não se importar, mas se diverte por dentro com a tolice dos homens.
Não demora muito para que Dorian também note a bela dama misteriosa.
Ele serve duas taças de champanhe e vai ao encontro dela e de Mr. Lyle.
DORIAN: Mr. Lyle. – E acena com a cabeça para o homem baixo, que o cumprimenta de volta. – E Miss...?
CATRIONA: Hartdegen. – Responde com um leve sorriso.
Dorian lhe oferece a taça de champanhe.
DORIAN: Dorian Gray. É um prazer conhecê-la Miss Hartdegen. Seja bem-vinda à minha casa.
CATRIONA: Obrigada pelo convite Dorian Gray. – Ela brinda com a taça e toma um gole.
DORIAN: Poderia me conceder a honra de uma dança?
CATRIONA: prometi ao Mr. Lyle a primeira dança.
DORIAN: tenho certeza de que o Mr. Lyle não se incomodaria de ficar com a segunda. – Ele olha para Mr. Lyle com sorriso.
LYLE: Bien sur, sem problemas, chérie, divirta-se. – Diz gesticulando a mão, encorajando-a a aceitar o convite.
CATRIONA: Se é assim. – Ela sorri e pega na mão de Dorian, que está gentilmente estendida.
Dorian entrega as duas taças para Mr. Lyle e caminha com Catriona para o centro da sala, onde os demais convidados estão dançando.
Eles passam por Ethan e Vanessa, que lhe dá um sorriso discreto e incrédulo. Catriona sorri de volta e pisca para Vanessa.
Mr. Lyle fica parado em um canto olhando para os jovens casais que estão dançando. Ele ainda segura as taças quando Victor passa por ele. O médico parece desnorteado e só ouve quando Mr. Lyle o chama pela segunda vez.
VICTOR: Mr. Lyle. – Ele percebe as duas taças na mão do egiptólogo e, sem perguntar, pega uma e toma em uma única golada.
Mr. Lyle observa com um ar de preocupação.
LYLE: Jovem doutor, o senhor me parece, com o perdão da palavra, um pouco alterado. Não seria melhor o senhor ir para casa descansar?
VICTOR: Obrigado pelo conselho, mas estou ótimo. – Ele pega a outra taça, também bebe o líquido e entrega os dois recipientes vazios para Mr. Lyle. – Obrigado pela bebida.
Victor deixa Mr. Lyle sozinho e desaparece no meio das pessoas. Mr. Lyle tenta ir atrás dele e conversar com o médico, mas Victor foi mais rápido.
Dorian não consegue parar de observar Catriona enquanto dançam. Há algo nela que o deixa intrigado e não é apenas a beleza.
DORIAN: Miss Hartdegen, a senhorita não me parece ser de Londres. Nunca a vi por aqui.
CATRIONA: Acho que o senhor não andou pelos lugares corretos.
DORIAN: Com certeza, ou a teria notado.
Catriona apenas sorri. Ela odeia que os homens apenas a vejam como um pedaço de carne, um objeto frágil que existe apenas para atender a seus desejos. Mas seria divertido vê-lo subestima-la e ficar surpreso ao perceber do que ela é capaz.
DORIAN: A senhorita não me parece ser do tipo que frequenta os eventos sociais, mas gostaria de vê-la mais vezes nessa temporada.
CATRIONA: O senhor está certo, Dorian Gray, diria que frequento lugares onde a presença feminina não é bem-vinda.
DORIAN: Interessante, mas não é de me admirar. Você não é como as outras mulheres.
CATRIONA: Não, não sou. E provavelmente não estarei presente nos eventos da temporada.
DORIAN: Pois deveria. Sua presença me agradaria bastante.
CATRIONA: Eventos sociais são chatos de tão previsíveis, com pessoas julgando apenas as aparências e homens cortejando as mulheres em uma estranha dança do acasalamento. Não gosto de previsibilidade, não me importo com o exterior e não quero um macho para acasalar. – Ela para de dançar e sorri para Dorian. – Se me dá a licença, preciso de uma bebida. – E se retira, sem dar a Dorian a oportunidade de falar qualquer coisa. Ele, intrigado, a observa partir. Alguma coisa em Catriona desperta nele um interesse e uma curiosidade ímpar. Ele precisa saber mais sobre ela.
Victor chega bêbado e, no meio da escada para o seu apartamento, encontra Marjorie caída. A mulher está em um estado deplorável. Magra, como se não comesse há dias, suja, com olheiras profundas e uma tosse incessante. Suas roupas apresentam marcas de sangue. Ao ver o médico ela tosse e expele uma quantidade razoável de sangue, que cai aos pés de Victor. Ele se assusta com a imagem e por um breve momento recupera a sobriedade.
MARJORIE: Doutor, eu te imploro, me ajude. Não permita que eu sofra mais. Deixe-me encontrar com meu marido e meu filho. Por favor. Só o senhor é capaz disso.
Victor se apavora sem saber o que responder. Essa mulher novamente. Ele não quer se lembrar do que fez e não quer repetir seus experimentos. Marjorie abraça as pernas do jovem médico em um suplício.
MARJORIE: pelo menos um remédio para a tosse, o senhor é médico. Jurou que ajudaria os doentes.
VICTOR: Não, eu não posso. – Ele diz se desvencilhando da mulher. – Sinto muito, mas eu não posso fazer isso. Eu não posso te ajudar.
Victor deixa a mulher sozinha deitada na escada e sai atordoado, correndo noite afora.
Na casa de Dorian, uma carruagem preta para na porta e um mensageiro entra procurando Mr. Lyle. Ele diz breves palavras no ouvido do egiptólogo, que demonstra desespero ao ouvi-las. Tentando manter a discrição, ele rapidamente sai acompanhando o homem.
Catriona que observava a cena mais afastada corre atrás dos homens e consegue falar com Mr. Lyle antes da carruagem partir.
CATRIONA: Mr. Lyle?
MR. LYLE: Aconteceu uma emergência no Museu Britânico. Reúna os outros, pode ser assunto de nosso interesse. Pardon-moi, chèrie.
A carruagem parte ligeiramente deixando Catriona ansiosa na calçada.
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