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História Aquae furtivae Angeli - Recipit vos aut suum complexus est?


Escrita por: ShininFantasy

Capítulo 19 - Recipit vos aut suum complexus est?


Fanfic / Fanfiction Aquae furtivae Angeli - Recipit vos aut suum complexus est?

"Qui suscipe mortem potius accipiuntur ut sodales. Calido amplexus moriuntur morte remittam.”

 

A voz do anjo foi alta o suficiente para chamar a atenção do deus. Sabia que ele ainda estava vivo, mas era somente uma questão de tempo. A luz que podia iluminar o anjo acendeu-se, e era possível o ver tentando movimentar o braço, numa tentativa de alcançar o corpo do humano, que repousava ao seu lado. Antes mesmo de conseguir tocá-lo, o corpo sem vida foi chutado para longe, deixando um rastro de sangue pelo caminho. O braço do anjo foi de encontro ao chão, emitindo um som baixinho. Ele chorava baixinho, quase sem forças.

-Chega a ser triste ver uma criatura como você chorando por causa de um humano. – A presença do deus ao seu lado fez com que virasse. Kai estava sentado ao seu lado, fitando-o – Ele morreria cedo ou tarde...

-E ainda assim... Está chorando... – O anjo falou, sua voz tão fraca e baixinha que parecia um sussurro. – Por quê?

-Nem eu mesmo sei... – Deu de ombros. – Ele nem cativante era. Eu não me importo, na verdade.

-Deve estar... Feliz... – A mão do anjo, repousada perto de seu peito aberto, fez o deus se arrepiar.

-Estou. – Sorriu de canto. – Isso não dói?

-Se importa...? – O anjo falou, colocando os dedos em volta de seu próprio coração.

-Não, mas estou curioso... – Percebeu o anjo olhando para o corpo do humano, e então apertar o órgão que mal batia. – Não entendo porque se importa com o ser que te deixou desse jeito.

-Você não entenderia... – A voz do anjo, ainda baixa, tomou um tom frio. – Você é frio... Calculista... Afinal... Você é a morte.

-E você é um anjo caído. Quem será que é pior? – Kouyou o olhou de lado, seus dedos, antes envolvidos no próprio coração, alcançaram o rosto do deus, lhe dando um tapa audível. – Você não consegue aceitar não é? – Ambos se encaravam agora. O anjo tinha ódio no olhar, que se misturava a uma tristeza tão grande que poderia afogar a qualquer um. O deus mantinha o olhar frio, sem sentimentos. – Você é um inútil, Kouyou. Aceite isso. – O anjo suspirou, batendo com a mão no chão ao seu lado.

-Deite-se. – As palavras saíram tão rápidas dos lábios em formato de coração que o deus quase não o entendeu, mas logo o fez, deitando e olhando para o teto, junto ao anjo. – Sei que eu estou errado. – Disse lentamente, ainda naquele mesmo tom. – Mas por isso que estou aceitando meu final tão bem... – Seu rosto se deformou, dando lugar ao choro. – Mas não entendo o porquê do final dele. O que ele fez de errado? Por que ele? Eu o amo... Ele era inocente, um idiota, mas inocente. Ele ainda tinha muito pra viver. Ele ainda tinha tantas coisas, sabe? E era por isso que eu vivia. Para ver cada coisa que ele faria. Para ver cada sorriso dele. Cada lagrima. E aqui estou eu, prestes a morrer e ainda assim vi o final dele... Takanori era...– A esse ponto o choro do anjo era alto, desesperado. Triste. Melancólico. – Eu nunca desejaria isso pra ninguém, muito menos pra ele. Eu...

-Você era apaixonado por ele desde o começo... – O deus falou, interrompendo o anjo e recebendo um olhar assustado do mesmo.

-O que?

-Não se faça se burro, ou sonso... Muito menos de lento. – Ele disse, cruzando os braços. – Sabia que antes de sermos deuses da morte, somos anjos? – Ele olhou para Kouyou, que continuava a chorar. – Eu sei como funciona. O primeiro humano de todos os anjos morre cedo, para aprenderem a não amá-los incondicionalmente. Vocês têm mais coisas a se preocupar do que amar o seu humano. No dia que ele viveu e você continuou com seu primeiro humano, você se sentenciou.

-Quer dizer que... – Os olhos marejados olharam o deus, que retribuiu o olhar. A dor com o frio, se misturando.

-Eu sabia que ia se apaixonar por ele. É sempre assim... Eles vivem, nós os amamos, nós nos apaixonamos e então morremos. – Os soluços voltaram a sair da boca do outro, e o deus somente pôde olhar para cima novamente. – E no dia do acidente de trem eu tive certeza... Você está apodrecendo faz tempo Kouyou, mas só percebeu quando as coisas tomaram uma escala nova.

-O que quer dizer? – Ele disse, entre lágrimas e soluços.

-Que podemos nos apaixonar, mas não tocá-los. – O deus não desviava o olhar do teto daquele lugar. O anjo voltou a olhar para cima, fitando a luz a cima de si.

Entre as lágrimas doloridas, um sorriso sereno se formou. No fim das contas, era pra ter acontecido mesmo? Aquilo o tranquilizava, de certa maneira. Sabe quando você faz algo errado, mas alguém te diz que sabia que aquilo ia acontecer e que não era culpa sua? Era a sensação que o anjo tinha. Ele estava chorando por causa do pequeno corpo que estava jogado do outro lado da sala. Ah, como queria poder abraçá-lo mais uma vez... Como queria poder tocar os lábios macios e fofos do garoto. Do seu garoto. Seu Takanori.

Deixou a conversa com o deus de lado e começou a tentar se arrastar, sem conseguir muito. Tudo doía, seus braços, tronco... Não sentia mais suas pernas, nem pés. O coração exposto parecia arder a cada vez que respirava, e também parecia perder a força de suas batidas a cada segundo. Mas não desistiu, se arrastou até o corpo agora frio do humano e então se sentou ao seu lado, com as ultimas forças que ele tinha, trazendo-o para seu colo. Abraçou-o, sentindo o cheiro do sangue misturado com o perfume fraco que tinha nas suas roupas. Então olhou para o rosto, pálido e sem vida. Selou os lábios do garoto e então o deitou no seu colo, acariciando os cabelos morenos. Ele viu suas lágrimas caindo na roupa dele e então passou os dedos no rosto frio do menor.

-Eu te amo tanto... – Sua voz era fraca, baixa e estava embargada por causa do choro. – Eu te amo tanto Takanori... Eu... Eu...

Começou a se lembrar de tudo pelo que passou. Pelo treinamento pelo ser “superior”, a primeira vez que viu Takanori, aquele dia horrível. As risadas do pequeno Takanori, junto com Akira. O chorinho baixo dele antes de dormir por medo do escuro. O amor que ele sentia pela neve, só porque o menor parecia a adorar mais ainda. A amizade com Akira, o jeito que Takanori o chamava de louco por conversarem. Cada momento, cada sorriso, cada lágrima... Um por um se passaram pela cabeça de Kouyou. Ele viveu em função de Takanori. E o faria de novo, mil vezes se necessário. Se apaixonaria de novo, se arriscaria de novo... Repetiria todo o processo dessa vida miserável só pra ter mais um minuto com ele vivo, nos seus braços antes de ir dormir tranquilamente. De ver a expressão tranquila dele quando disse o seu ultimo “te amo” para ele.

Então sentiu aquele coração parando aos poucos, aceitando que logo seria sua vez de cair no sono eterno. E mais uma vez abraçou o humano, chorando tanto que engasgava. Sentiu dedos frios tocando seu ombro, e sentiu o mesmo se desfazendo, em parte, como um pó acinzentado. Olhou para o deus, os olhos tão vermelhos e ardidos... Ele beijou a testa do humano uma vez mais. Uma ultima vez.

-Acho que é minha hora, não é? – Ele sorriu, mas um sorriso tão triste que poderia cortar o coração de qualquer um que o visse daquele jeito. – Tudo bem, eu estou pronto. Se for pra morrer agora, eu vou de bom grado... – Ele olhou para o corpo do garoto. – Eu te vejo por ai, meu amor. Eu juro que vou te encontrar...

Confirmou para o deus, que se ajoelhou na sua frente, fazendo então uma pequena reverência. O anjo, mesmo espantado com o sinal de respeito, sorriu e fez uma reverência de volta ao deus, olhando para cima e fechando os olhos lentamente. O deus enroscou os dedos entre o que restava do coração do anjo, que já estava completamente enegrecido, e com um simples puxão o desconectou. Ouviu um engasgar vindo dos lábios do anjo, e então ele caiu morto, ao lado do humano. Kai olhou para ambos com uma frieza grandiosa, o semblante ainda carregava uma seriedade que lhe era comum. Colocou sua capa, para que pudesse sair dali sem ser visto e antes de desaparecer, a única coisa que podia se escutar era sua voz...

-Dois imbecis... Dois imbecis apaixonados. Os dois mereciam morrer mesmo... Mereciam... Idiotas...

 

E no final, quando a morte bate a sua porta, você se esconde dela ou a recebe de braços abertos?

 

 

“Eu a recebo de braços abertos...”


Notas Finais


Tradução do Latim: "Aqueles que aceitam a morte, ao contrário, são recebidos como velhos amigos. Eles morrem com o abraço aconchegante da morte."
Bem, eu achei melhor deixar para falar muito quando chegasse no final. Sim, é o final (será?) de AfA. Foram dois anos pra conclui-la, eu sei disso. Sei que meu hiatus foi gigantesco, mas estou feliz por ter chego aqui com ela. Essa foi umas das fanfics que eu acho que coloquei mais meu coração do que nunca. Foi um planejamento sem muito fundamento, mas que no final virou algo que me fez muito bem e feliz. Estou feliz com como ela se desenvolveu, e mesmo que eu ache que perdeu um pouco da vida que tinha antes (porque eu mesma mudei muito de 2014 pra cá), estou satisfeita com o final.
Estou feliz com como eu alcancei um nível novo da minha escrita nela e como eu consegui dar um pouco mais de profundidade para os personagens, demais para um em particular (OI KAI, tudo bom?). Fico feliz com o trabalho que fiz com Kai, Takanori e Uruha. Vou sentir falta do meu anjinho, do meu humano e do meu deus da morte. Foram personagens que eu me apeguei bastante por todos eles representarem partes de mim em todos os aspectos.
Outra coisa a ser comentada é que SoaM vai continuar seguindo lindamente, mas logo, logo teremos uma fanfic mais nova entrando entre nós. Sim, o nome é Ushinawareta Cho e logo, logo estará linda, leve e solta por aqui. Só preciso fazer mais uns ajustes, mas SOON
Enfim, adorei compartilhar todos os momentos dessa fanfic com vocês, e que de alguma maneira meus pequenos tenham conseguido tocar o coração de vocês nem que fosse um pouquinho.
Eu espero que tenham gostado do final.
E nos vemos na próxima <3
Kissus :3
Bruna~


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