História Aquarella - ;;audition

Quando Shim Junmyeon foi aceito como trainee, ele ainda era uma criança de quinze anos. Um tanto iludido, bastante inocente e muito desesperado por seu debut, Junmyeon não percebeu que o convite para tomarem um sorvete do staff não fora porque ele “queria conhecer melhor seus talentos”. Tampouco viu maldade quando a mão do mais velho apertou-lhe a coxa. O staff era um cara bonito e ter alguém mais velho lhe dando atenção de fato era uma injeção de autoestima. Como a criança impulsiva que era, Junmyeon não hesitou por um instante em agradar seu hyung.

Mais tarde, quando rolavam boatos da formação de um boygroup pela em sua antiga empresa, o treinador de vocal disse que Junmyeon era um dos trainees olhados com melhores olhos e que, caso o garoto continuasse se esforçando, certamente iria debutar. Era claro o que era entendido como esforço e Junmyeon já não era tão inocente assim. Por seu debut, faria de tudo. Mas apesar de todos os seus esforços, estrear ainda parecia um sonho distante.

Sua antiga empresa era pequena,  recém-criada, e já tinha um grupo feminino debutado. Os trainees masculinos jaziam esquecidos em meio aos árduos treinamentos porque todos os investimentos eram para alavancar a carreira das meninas. Junmyeon já considerava a saída da empresa a um tempo, inclusive começara a audicionar em segredo para outras. Considerou um alívio quando ela própria decidiu por demitir todos os trainees, embora sentisse pelos outros garotos que desistiram de seus sonhos após a notícia. Por isso, quando o CEO o chamou para sua sala, ficou absolutamente surpreso.

— CEO-nim. — Junmyeon reverenciou-lhe assim que entrou.  — Disseram que o senhor queria falar comigo.

Sabia que ele preferia ser tratado por hyung (como o próprio recordou segundos depois), mas o rapaz sentia-se desconfortável em não tratar o homem com o devido respeito que sua tradicional família ensinara.

— Claro, claro. — O homem chacoalhou a mão em descaso, indicando a cadeira a sua frente para Junmyeon se sentar. — Já deve saber que dispensamos todos os trainees, certo? 

O trainee assentiu rapidamente para que o outro continuasse. 

— Mas, de todos os garotos, nós sabemos que você tem um algo de especial, Junmyeon.

Com “especial”, Shim bem sabia, era a questão dele deixar que o CEO o fodesse naquela mesma mesa sob a perspectiva de um debut. Ou que aceitasse o “leite nutritivo” de seu treinador de vocal em sua garganta. Ou que permitisse que o instrutor de dança esfregasse o pau duro em sua bunda enquanto eles ensaiavam sozinhos na sala de treino. E embora se sentisse sujo toda vez que se deixava levar pelos momentos, Junmyeon não se arrependia de todo. Sabia que fazia aquilo por seu sonho e que valeria a pena no futuro. E mesmo que não tivesse conseguido nada até o momento, ele acreditava que um dia seria um idol de sucesso.

— Eu consegui uma audição presencial para você com o CEO Heo Seungri da Bond Entertainment — disse, sem rodeios. Junmyeon não conseguiu conter o choque, ficando com a boca aberta. — Ele estará esperando você amanhã no hotel onde ele está hospedado em Jeju. Um carro estará pronto para te levar até ele amanhã de manhã. Mostre para ele tudo de que você é capaz, certo?

Junmyeon murmurou um “sim, muito obrigado CEO-nim” e levantou-se para sair, com mais coisas na cabeça do que podia processar. Porém, antes de passar pela porta, a voz do CEO fez-se ouvir outra vez.

— Vou sentir saudades.

Alguém mais malcriado responderia com um “do meu cu, só se for”, mas Shim fora criado bem o suficiente para apenas sorrir educadamente e reverenciar o homem novamente antes de ir embora.

No dia seguinte, sob o sol quente de Jeju, Junmyeon foi guiado pelo próprio Heo Seungri até a suíte cara do hotel onde o homem se hospedava. O percurso foi recheado com perguntas genéricas e cordiais, as quais Junmyeon respondeu com tanta educação que parecia um robô. Embora suspeitasse que não teriam uma audição muito tradicional, achara mais sensato agir com humildade e respeito. Viera até mesmo em suas roupas de treino, pois sempre existia a chance de Seungri pedir que ele dançasse, certo?

— O senhor preferiria ver meu canto ou minha dança primeiro? — perguntou, porque achou que não seria de bom tom dizer diretamente o que fariam ali.

A risada alta do CEO cortou o ar e Junmyeon ficou em dúvida se deveria rir junto ou não. Seungri foi em direção à porta e virou a chave. O clique que indicava a porta do quarto se trancando não deixou muita margem para outras interpretações, nem o desabotoar dos botões da camisa do homem, revelando um corpo muito bom para a idade dele.

— Suas habilidades não são lá tão extraordinárias, provavelmente não passaria numa audição normal minha. Mas já vi o suficiente delas e sei que posso lapidá-lo. Acho que nós dois sabemos muito bem o que você veio fazer aqui. Sendo assim, não deveríamos perder tempo, não acha?

Os comentários de Seungri a respeito de suas habilidades feriram seu orgulho, mas não podia se deixar afetar. Aquela era sua grande chance. Debutar pela Bond Entertainment era garantia de sucesso. Sendo assim, Junmyeon logo se pôs de joelhos para mostrar ao homem o que sabia fazer. Aquela era a chance de sua vida e ele não iria se abster de sugar — literalmente — tudo que aquela oportunidade tinha a oferecer. Aquela não seria sua primeira vez naquilo, e tampouco seria a última. Seus movimentos estavam quase robotizados, mas não podia deixar de lado o prazer do homem. Se o deixasse feliz, teria uma chance. E Junmyeon tinha confiança de que teria uma carreira tão grande quanto a quantidade de esperma que agora sujava todo o seu rosto. Engoliu o que estava em sua boca e fez menção de limpar o que estava na cara, mas o CEO o impediu:

— Você fica ainda mais lindo com a cara suja de porra, safado. Agora vira e empina bem essa bundinha pra mim.

Não é necessário dizer que Junmyeon acatou a ordem imediatamente. Se ele se sentiria sujo depois daquilo tudo? Com certeza. Mas sabia que, um dia, tudo aquilo valeria a pena, pois seu sonho se tornaria realidade.

⚜⚜⚜

Lauren estava acostumada a ter suas amigas. A fofocar um pouco sobre o garoto bonitinho que sentava três cadeiras à frente. A distrair-se trançando o cabelo alheio enquanto fingia ouvir qualquer coisa que seu professor falasse.

Lauren não estava acostumada a não ter amigos. A chegar num país novo sabendo pouco para nada do idioma. A ser encarada como um animal de zoológico por absolutamente todas as meninas na sala de treino.

Sua vontade era responder malcriadamente as encaradas com um “perdeu alguma coisa na minha cara?”, mas as advertências sobre a cultura local de seu professor de coreano básico seguraram-na um pouco. Não precisava arrumar problemas com as outras garotas no primeiro dia. Sabia o que a esperava quando entrou no avião para voar de Toronto a Seul. E sabia que podia aguentar o tranco.

A manager que a acompanhara desde o aeroporto, a qual Lauren já esquecera o nome, apresentou-a para as meninas. Na sua frase decorada de auto-apresentação, informou tudo que aquelas meninas queriam saber — nome, idade e de onde veio. Logo em seguida, a manager a deixou sozinha na sala de treino, instruindo-a para começar a dar uma olhada na coreografia a ser trabalhada, pois a instrutora estava preparando-as para a avaliação semanal da empresa, que seria em alguns dias.

Suspirando fundo, Lauren se posicionou na frente ao espelho, perguntando num coreano arrastado à garota ao seu lado qual era a música e onde achava a coreografia. Sua única resposta foi um apontar desleixado para os tablets num canto, onde outras meninas se amontoavam. Lauren murmurou um “obrigada” usando o máximo de sua paciência para não ser grosseira. Teria que se esforçar caso quisesse passar o primeiro dia sem problemas, se todos fossem secos daquele jeito.

Ao menos as meninas que viam as coreografias falaram com ela, mas isso não tornou a experiência muito menos traumática. A coreografia era fofinha. Lauren viera para a Bond Entertainment justamente porque ela era muito mais voltada para o sexy e o swag. Aquelas fofurinhas açucaradas e inocências fingidas não faziam seu estilo. Contudo, não podia dar para trás agora. Lauren era muito mais forte e teimosa que aquilo. Não seria uma coreografia fofinha que iria derrubá-la. Não deveria ser tão difícil, pois as meninas pareciam fazer os passos sem dificuldade.

Ela não podia estar mais errada. Os passos eram rápidos e complexos, e Lauren não era uma dançarina. Quando a instrutora de dança chegou, a canadense já estava desesperada, pois não conseguira decorar nem o primeiro verso. As risadinhas baixas de um grupo de garotas olhando em sua direção chamou sua atenção, mas preferiu ignorar. Sem problemas no primeiro dia, sem problemas no primeiro dia. Resolveu focar no que a instrutora dizia.

— Eu pedi para vocês treinarem Rookie para hoje. Vamos ver como vocês se saem.

A maioria das meninas estava indo bem. Já conheciam a música, algumas até mesmo murmuravam a letra enquanto faziam os passos. Lauren, por outro lado, tentou ao máximo seguir a coreografia, mas se enrolou nos movimentos rápidos dos pés e quase se desequilibrou. Nesse momento, a instrutora de dança parou a música e andou em sua direção. Puta merda. Lauren estava fodida.

— Você é a menina nova, não é? Lauren? — A postura ereta dela era intimidante, mas a canadense não se encolheu ao afirmar. Não era de seu feitio. — Você alguma vez aprendeu os passos básicos?

— Não. Eu sou rapper, não dançarina.

— Não importa o que você é ou deixa de ser — cortou a instrutora. — Você nunca vai debutar aqui se continuar dançando assim. Eu não vou atrapalhar todo o mundo aqui só porque você não sabe o básico, então é melhor que você faça um milagre.

O mundo parou para Lauren, mas a aula continuou para as meninas ao seu lado, com a instrutora corrigindo cada detalhezinho da coreografia. Um belo começo para quem queria um primeiro dia sem problemas.