História Aqueça o Submundo - SH - Wait for me to come home

AQUEÇA O SUBMUNDO

.

32

Fizemos essas memórias para nós mesmos
Onde nossos olhos nunca estão se fecharão
Nossos corações nunca foram quebrados
O tempo está congelado para sempre
…
Quando eu estou longe
Eu vou lembrar de como você me beijou
…
Espere por mim para voltar para casa

.

...porque nenhuma felicidade dura para sempre.

Com os pés juntos, mãos se mexendo nervosamente, estava Deidara sentado em uma cadeira de frente para o seu senhor, esperando que Hades berrasse consigo, o jogasse nas masmorras, pedisse para os demônios o estriparem e deixarem de exemplo para os outros anjos. Já a pobre Clotilde, tremia da cabeça as penas de tanto medo, sentindo todo o cômodo no qual estavam sufocante. Seu senhor tinha uma aura tão pesada, que chegava a ser asfixiante quando ele queria.

Apesar de nutrir um grande respeito e admiração por Sasuke, ainda havia uma parte de Clotilde que se borrava só em estar na presença dele.

Certo, o que o loiro e ela fizeram foi errado, pois eles desacataram a autoridade do seu deus, trouxeram objetos estranhos para o Submundo, obrigaram os soldados a dançarem uma música esquisita por puro capricho e ainda pegaram bebidas alcoólicas no mundo mortal. Ah, inferno. Estavam fodidos! O general do Mundo Inferior se mantinha mais atrás, de pé e com um olhar respeitoso, sequer se atrevia a encarar Hades. Sasuke, pelo contrário, olhava fixamente para os três infratores, como se pensasse qual seria a melhor punição.

Obito conhecia seu mestre e senhor muito bem para saber que ele jamais deixava algo barato, mesmo que já houvessem passado alguns dias desde a volta do casal Uchiha.

— Estou esperando que algum de vocês comece a falar. — Aquela voz. Aquela porra de voz de satã que ele fazia tão bem, deixavam as pregas de qualquer um  frouxas.

— Sa..Sabe o que é vossa majestade..— Mesmo sentindo um pavor, Deidara começou — Provavelmente tudo o que dissermos será usado contra nós no julgamento, por isso é me..melhor não dizer..

— Sei ser piedoso com quem é sincero. — Hades cruzou as mãos abaixo do queixo, vendo a harpia balançar a cabeça negativamente, implorando que o loiro não dissesse nada.

— Jura? — Deidara sorriu colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha — Se é assim..

— Mixi, mixi! — Clodite tampou a boca do amigo, rindo nervosa para Hades.

— Deixa de ser doida, mulher. Ele aliviando a nossa sentença já tá' bom! — Disse o loiro, dando um chega pra lá na coitada.

— Sol..— Obito se aproximou, chamando a atenção do marido, dando a entender que ele resolveria. Tomando a frente, o general, com todo o respeito, olhou para o seu rei — Meu senhor, eu assumo toda a responsabilidade.

Com os olhos semiserrados, Hades não disse, mas admirou tal atitude — Você tem noção que colocou a segurança do Submundo em jogo, certo?

— Sim, senhor. — Obito parecia disposto a pagar o preço que fosse necessário.

— Ficamos a um passo de iniciar uma nova batalha no Olimpo. Eu precisaria do meu exército, tem conhecimento que seus homens bêbados não me serviriam? Você foi irresponsável, general. — ouvir aquilo do seu rei, foi pior que cinquenta lanças em seu peito.

— Sim, senhor. — Duro, o moreno continuou — Só peço que deixe o meu marido e as harpias fora disso. Como eu disse, assumo toda a responsabilidade.

— Bebê..— Deidara sussurrou choroso, mas por fim olhou para Hades — A culpa foi minha, senhor! Só minha! O senhor sabe que ele faz tudo por mim, então, apenas me castigue, por favor. Meu bebê não!

Apavorada, a harpia também se meteu no meio — Mixi, mixi! Mixi, mixi, mixi! — Se Deidara fosse castigado, ela também seria. Não abandonaria o seu amigo por nada.

— Crô..— emocionado, o loiro passou a mão no rosto — Você é uma praguinha. Mas é a minha praguinha. — Hades sorriu minimamente com aquilo — Perdão, senhor. O que fizemos foi errado, e juramos nunca mais fazer uma outra festinha na sua ausência.

Satisfeito, Sasuke se ergueu do trono, olhando altez para os três arrependidos — Estão absolvidos.

— Isso mesmo, nós estamos...O QUE? — Deidara berrou — Como assim?

— Lealdade. — Hades disse simplista, fazendo Obito suspirar aliviado com a fala do seu deus — Acima de tudo, sejam leais aos seus companheiros. O Submundo não tolera traição.

— Minha santa rainha! — O loiro estavam num misto de euforismo e emoção — Obrigado, meu amado e lord das profundezas, deus da minha alma, amaldiçoado sejas! — Finalizou fazendo um cruz invertida e beijando o dedo.

— Mixi, mixi..— Clotilde enxugava as lágrimas, sentindo todo o peso de ser punida sair das suas asas.

— Obrigado, meu senhor. — Obito se ajoelhou, incapaz de medir o quão agradecido estava. Hades era, sobretudo, alguém de princípios e valores definidos, e prezava pela confiança, respeito e lealdade dos seus súditos. E eram coisas conquistadas. Se todos aqueles anjos resolveram segui-lo, foi porque enxergaram nele o líder que precisavam. Encontraram alguém para se inspirar e admirar.

— Contudo, há um outro assunto que desejo falar com vocês. — A fala de Sasuke chamou a atenção dos três — Creio que já viram uma criança pelo castelo, e por estar envolvido demais com ele, não pude vir comunica-los. Esse menino é meu filho, e se chama Uchiha Akio.

A boca de Deidara foi ao chão, e sem conseguir disfarçar a surpresa, o loiro berrou de novoE: — O QUE? Quando isso aconteceu? Meu santo Hades, eu tenho um sobrinho, eu vou infartar. Chama a Margareth, Clô. Eu não tô bem!

— Mixi, mixi! — A harpia começou a tagarelar, fazendo Hades franzi o cenho. — Mixi, mixi!

— Eu sei, sua danadinha. Bem que tu falou, né mulher? Eles estavam escondendo uma criança dentro do quarto, e aquilo tudo era muito suspeito. Eu estava me mordendo de curiosidade, mas de forma alguma perguntaria aos senhores, vai que eles me achariam fofoqueiro, e longe de mim ser fofoqueiro. Santo príncipe do Submundo, eu tenho um mini Hades para cuidar agora, tomara que eu exploda de felicidad..

— Deidara! — A voz potente de Sasuke ecoou, deixando o loiro todo murcho.

— Des..Desculpe..— Triste e com um bico nos lábios, ele baixou a cabeça, pois não gostava quando Hades gritava consigo. Ele era sensível, poxa!

— Está tudo bem..— Obito olhou para o marido, como se o confortasse, recebendo um aceno positivo murcho.

Aquele Uchiha rabugento amava cortar o barato do loirinho explosivo. Clotilde, não querendo reprimendas, se calou.

— Hinata e eu estamos em fase de adaptação com nosso filho, e queremos que vocês, mas principalmente Deidara e Clotilde, que passam a maior parte do tempo fazendo nada, ajudem com essa adaptação. — Como sempre, Sasuke sendo delicado e discreto com as palavras.

A harpia ficou boquiaberta com a acusação verídica.

— Cla..Claro, senhor. — Deidara sorriu amarelo. Já Obito, conhecendo Hades como conhecia, sabia que aquele era o jeito dele pedir que eles também cuidassem de Akio.

— Ótimo. — Sasuke murmurou, pegando o cetro entre os dedos.

— Ah..— O loiro indagou mais animado — mas quando iremos conhecê-l...— Entretanto, Hades bateu a porta sem nem mesmo escutar o que o homem tinha a dizer — Grosso.— Deidara resmungou.

~•^•~

— E você coloca esse aqui..— A voz doce de Hinata entrou como música nos ouvidos do Uchiha, no momento em que se aproximou do quarto do filho. Ambos estavam jogados sobre o tapete, brincando com um dos quebra-cabeças enormes que Sasuke havia mandado fazer há alguns séculos com artesãos que chamaram a sua atenção em uma visita na cidade de Athenas na Grécia Antiga.

Sasuke se escorou no batente da porta, fazendo o cetro em sua mão sumir com um só movimento, observando a cena, sentindo uma quentura boa no peito. Akio se mostrava concentrado em montar o leque dos Uchiha com a mãe, que explicava para ele que aquele era o símbolo da sua família, da família que ele pertencia. Foi então que percebendo a presença do marido, Hinata olhou para ele, recebendo um mirar cheio de significados.

— Querido. — Ela sorriu, vendo-o se aproximar devagar — Como foi? Espero que não tenha sido tão duro com eles.

— Não se preocupe. — A tranquilizou de forma simplista, se curvando para cumprimenta-la com um beijo suave, que foi bem observado pelo filho. Por fim, se virando para o menino que pareceu nervoso, pois quase foi pego no flagra, Sasuke indagou sentando-se ao lado da esposa — Como foi sua manhã?

Tímido, a criança encarou as próprias mãos, sentido-se intimidado.

— Por que não mostra para o seu pai o outro quebra-cabeças que você montou, huh? — carinhosa, Hinata o incentivou. Acanhado, Akio moveu as mãozinhas para pegar a montagem, mostrando timidamente a imagem perfeita de uma das unicas flores que cresciam no Submundo: Narcissus.

— Montou sozinho? — Sasuke questionou analisando. Akio não diria, mas estava ansioso para saber o que ele havia achado.

— Si..Sim. — Sussurrou querendo se enterrar pela vergonha.

Compreendendo, Sasuke olhou para ele. — Parabéns, está ótimo. — sorriu minimamente, ao ver a surpresa no rosto do filho.

— Vo..Você acha mesmo? — A expressão dele se tornou mais leve, pegando Hinata de surpresa pela mudança repentina. — Eu achei que não iria gostar. E..Eu tô tão feliz por ter gostado, papai. — Ele se virou para Perséfone todo contente, sem nem se dar conta que havia usado outro termo para se referir a Hades — Olha mamãe, o papai gostou, viu?!

Engolindo em seco, Sasuke levou a mão ao rosto, sentindo algo molhar sua bochecha. Quando ele se deu conta, haviam lágrimas rolando dos seus olhos, afinal, aquela havia sido a segunda vez que Akio tinha o chamado de pai. Rápido, ele as limpou, mas não a tempo suficiente para Hinata não perceber. Rindo, a mulher olhou para filho — Que tal você dar um abraço no papai?

Tanto Akio quanto Sasuke arregalaram os olhos negros, mas a voz que ecoou foi a infantil — E..Eu posso?

Vendo que o marido ainda estava em choque, Hinata deu uma leve cotovelada nele, despertando-o daquele transe — Claro que pode, não é, querido?

Ainda sem acreditar, Hades assentiu devagar, e mesmo acanhado, Akio se aproximou e por fim, se jogou nos braços de Sasuke, que demorou um pouco para entender o que acontecia. Mas então os braços fininhos passaram pelo seu pescoço, afundando o rostinho infantil ali, rindo envergonhado. Atordoado e comovido, ele abraçou o menino de forma protetora, sentindo suas emoções uma verdadeira bagunça, mas aquela que predominava, sem sombra de dúvidas, era a felicidade.

Apertou mais o filho, ao ouvir a risada baixa dele, vendo Akio encarar seu rosto — Nós somos parecidos mesmo.

Sasuke infartaria.

— Você acha? — Embora seu coração estivesse como um louco no peito, por fora o deus do Submundo estava calmo, mantendo sua expressão serena.

— Sim! — O pequeno Uchiha riu, começando a contar nos dedinhos miúdos — Nós temos os mesmos olhos, a mesma cor de cabelo, — murmurou tocando o rosto do pai — Olha, temos até o mesmo nariz. Ah, eu vi que você ama tomates assim como eu, e também ama a mamãe assim como eu. Tá vendo, somos iguaizinhos, papai!

Hinata iria explodir de felicidade. Iria explodir de amor.

— Hm, tem razão..— O moreno sussurrou, tirando alguns fios da face infantil — E é apenas com você que eu divido a sua mãe, entendido?!

— Entendido! — Akio riu, se agarrando mais ao pai. Ele era uma criança simples e amorosa. Quando se apegava a alguém, era realmente genuíno. — Mamãe, por que você tá chorando? Fez dodói em algum lugar?

— Foi só um cisco, meu anjo..— Hinata disfarçou, mas ali estava a realização de um sonho. Ela, Sasuke e Akio juntos. Em pensar que passou a gravidez toda desejando que cenas como aquela acontecesse, e agora, vendo, era tão surreal.

— Vem cá..— Sasuke envolveu a mão dela, a puxando para se juntar ao abraço, e sem nenhuma resistência, ela se juntou, sendo acolhida pelos braços do marido. Rindo boba, Hinata ergueu o rosto para cima, recebendo um selinho suave do Uchiha, para enfim, envolver Akio em seu colo. — Obrigado..— Hades sussurrou apenas para ela escutar. Emocionada, as lágrimas continuaram a descer, não conseguindo controla-las.

— Ei, mamãe..— Akio olhou para ela preocupado — Você tá triste?

— Não, meu anjo. — A Uchiha sorriu amável, sentindo os dedinhos no seu rosto, limpando suas lágrimas — Mamãe só está feliz..

— Ah..— ele murmurou, erguendo os olhos para o pai— Se estivesse dodói, o papai daria um beijinho pra sarar, não é, papai?

— Sim. — Embora sentindo-se exposto, Hades concordou recebendo um olhar gentil de Hinata.

— Bom, você falou mais cedo que queria conhecer o castelo, que tal irmos agora que seu pai está aqui? — Perséfone sugeriu, se pondo de pé, passando a mão no vestido delicado.

— Acho que você irá gostar de conhecer Cérberus..— Hades se ergueu ainda com o filho nos braços — O que acha?

— Vamos! — Akio exclamou empolgado, fazendo Hinata rir pela animação.

~•^•~

Pousando com cuidado, a ruiva ergueu os olhos para os portões do Submundo, sendo acompanhada por um dos anjos negros que fora pegar as coisas dos seus senhores no Olimpo. Abatida, Karin fez os procedimentos necessário e por fim, foi autorizada pelos guardas que entrasse. Os grandes portões de aço se abriram, revelando um caminho estreito e cercados de demônios voando para todos os lados. Nas extremidades, soldados permaneciam posicionados com suas lanças, saudando uma das comandantes do lugar.

Notou também que Cérberus não estava no seu posto, coisa que estranhou. Talvez o cão deveria estar fazendo algum favor para Hades.

Com um suspiro, a ruiva continuou o caminho que dava ao castelo sendo seguida pelo anjo que mal aguentava segurar todas as sacolas, pronta para se apresentar e pedir desculpas pela demora. Hidan se dobrava para manter tudo em seus braços, olhando feio para a mulher que sequer oferecia ajuda. — Quando eu estiver morrendo, lembre-me de pedir a sua ajuda. — murmurou desgostoso.

Quando saiu do Olimpo, uma reunião estava prestes a iniciar, e como era um anjo do Submundo, não tinha porquê ficar mais tempo num território que não era o seu. E muito menos bem vinda. Alguns deuses eram muito seletivos e não gostavam de se misturar com o "povo de baixo", como chamavam os anjos que viviam no Mundo Inferior. A sua escolha lhe trouxe muitas consequências, mas ainda assim, não se sentia arrependida. Já considerava o Submundo o seu lar, e não conseguiria se encaixar no Olimpo.

Mesmo com o seu amor lá..

— Você é um pé no saco, Hidan..— resmungou, pegando algumas caixas que estavam equilibradas na cabeça do platinado.

— Você ficou fora muitos dias..— Ele comentou, parando em uma divisa com dois caminhos, que iam tanto para o castelo, quanto para o Campo de Elisios onde ficava o chalé da ruiva. — Perdeu algumas coisas..

— O que? — Karin franziu o cenho, vendo sua harpia particular se aproximar com as demais.

— O príncipe do Submundo voltou ao lar. — Hidan contou com certa felicidade — Hades está até mais leve.

— Fico feliz pelos meus senhores — A ruiva sorriu verdadeiramente, entregando as caixas para as outras harpias, se despedindo brevemente do grisalho. — Até mais, Hidan. Vejo você em um outro momento.

Contudo, ele acenou senguindo o seu caminho, deixando-a sozinha com Marg. Mas, ainda assim, algo incomodava a mulher. Era como se o Submundo estivesse sendo vigiado por fora, tanto, que ela sentiu no momento que pisou em frente aos portões.

Ou era só impressão?

— Mixi, mixi. — Margareth olhou para a sua senhora.

— Estou bem, Marg..— ela sorriu amável para a criatura — Você não vai acreditar no que aconteceu no Olimpo.

~•^•~

Reunidos e emparelhados em suas colunas na sala redonda, os deuses olhavam para Kakashi num misto de confusão e aflição. Atrasado, Neji saltou para o seu trono, sentindo que havia algo estranho no clima do Olimpo. Era a sensação de não ter estar preso, a sensação de estar sendo observado. Era a sensação de vazio, solidão e tristeza. No entanto, apressado, Kakashi cortou o céu com um raio, dando início a reunião.

Tic tac, o tempo está passando. O julgamento final se aproxima.

Novamente, aquele barulhinho fofo se fez presente, parecendo estar se divertindo muito.