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História Aquele Verão - Eu não quero ir embora


Escrita por: spacevixx e taekxing

Capítulo 3 - Eu não quero ir embora


Hongbin ligou pela última vez por conta dos gritos que recebeu de Hakyeon, mandando que não ligasse mais. Eles já estavam a caminho, não havia o que fazer. Taekwoon precisava descer a montanha com cuidado já que havia chovido muito, então a estrada estava com muita lama e alguma árvore fragilizada pela tempestade poderia simplesmente surgir caída do nada. Mas ali dentro da minivan, ninguém tinha pressa. Sanghyuk fazia questão de cantar o mais alto que podia e perturbar Hakyeon com puxões de orelha. Taekwoon, mais tranquilo, batucava com os dedos no volante ao ritmo das músicas enquanto dirigia. Por outro lado, Jaehwan e Wonshik estavam paralisados como estátuas. Jaehwan tentava manter-se o mais afastado de Wonshik, enquanto este continuava a olhar pela janela tentando disfarçar o incômodo, já que havia cansado da vista há metros. Percebendo que não havia jeito e precisava quebrar o gelo Jaehwan limpou a garganta, atraindo a atenção de Wonshik, depois começou a falar tentando parecer o mais casual possível. 

— As roupas que emprestei estão boas? Você está quentinho? – Perguntou sem nem ao menos encará-lo. 

— Estão sim. Obrigado mesmo por emprestar, não imaginei que fosse fazer tanto frio. 

Mais cedo, antes de saírem, Wonshik precisou tomar coragem e pedir roupas de frio emprestadas a Jaehwan, pois ele não havia trazido nenhuma por conta do calor infernal que fazia em Seul. Mesmo que Wonshik fosse mais forte, eles tinham quase o mesmo tipo de corpo então algumas roupas grandes de Jaehwan serviram perfeitamente nele. Wonshik vestia um suéter bege com a estampa de um hipopótamo, calça de moletom preta assim como o tênis e na mão calçava luvas de lã também pretas. Tudo, exceto os sapatos por conta do pé grande de Wonshik, era emprestado de Jaehwan. Eram tão confortáveis e tinham o cheirinho doce dele. Já o mais velho vestia um casaco de moletom branco com uma jaqueta jeans por cima – que ele apenas usava, inconscientemente, para emprestar a Wonshik caso sentisse muito frio – calça e tênis pretos. 

— Ah, bom. 

— Você dormiu bem? – Wonshik quem fez a pergunta dessa vez. 

Os dois continuavam evitando contato visual, sentados lado a lado imóveis como criancinhas de castigo na escola. 

— Dormi sim… E você, pelo que pude ver, nem preciso perguntar. 

E então, um silêncio desastroso. Mesmo naquele carro tão barulhento e caótico, foi como se todo o som do mundo tivesse sido sugado para longe. Tudo que Jaehwan podia escutar era o coração pulsando forte no peito. Até que, de repente, os dois explodiram em gargalhadas. Wonshik deu um leve tapa no ombro de Jaehwan. 

— Você está me chamando de dorminhoco? 

— Além de dormir muito, ainda ronca. Da porta eu podia ouvir. 

— Olha, como você é mau! 

Wonshik tentou dar outro tapinha, mas foi interrompido pela mão de Jaehwan que segurou a sua bruscamente. A reação foi imediata. Os dois ficaram extremamente envergonhados e os rostos automaticamente tomaram uma coloração avermelhada, a única coisa que não foi imediata foi o ato de soltarem as mãos. Até que, sentindo que explodiria, Jaehwan soltou-o. Wonshik não perdeu tempo e voltou olhar a paisagem pela janela, já o outro pareceu achar muito interessante seus tênis sujos de lama e passou a encará-los fixamente. 

"Que merda está acontecendo? O que está acontecendo comigo?" Pensava Jaehwan sentindo o rosto queimar e tentando respirar fundo. 

Não era novidade, já tinham segurando a mão um do outro no dia anterior, mas daquela vez parecia diferente. Não conseguia parar de rever cada momento desde que encontrara com Wonshik na noite passada mas seus pensamentos foram bruscamente interrompidos quando sentiu algo gélido na ponta dos dedos. O mais novo, mesmo com vergonha e num surto interno, foi calmamente aproximando a mão da de Jaehwan até que as pontas dos dedos chocaram-se. Foi só Taekwoon passar em cheio num buraco para agilizar tudo que Wonshik queria fazer. No impacto do carro no buraco, a mão de Jaehwan caiu exatamente sobre a de Wonshik e sem pensar muito, ele apenas entrelaçou os dedos com os dele. 

"Respira, Kim Wonshik. Respira, Kim Wonshik. Respira, Kim Wonshik. Não tem motivo para ficar assim. Respira, respira." Wonshik motivava-se a respirar, mas fazia um péssimo trabalho na prática. 

Desde novo Wonshik escrevia. Começou com histórias simples que inventava durante as aulas entediantes, e depois passou anos desenvolvendo enredos mais complexos e trabalhos demorados, que levavam muito tempo. Seu foco eram histórias sobrenaturais e de horror, porque era uma parte em que possuía um vasto conhecimento e ele gostava de escrever com propriedade o que trazia para o papel. Então, extremamente azarado no amor, nunca antes havia escrito um romance. Era algo completamente inexistente em suas obras. Com diversos relacionamentos fracassados, ele nunca antes sentira um estômago embrulhado, o rosto pegar fogo de timidez ou mesmo o calor tão reconfortante de uma mão quente sobre a sua num dia frio. Tentando organizar os pensamentos, ele finalmente chegou numa hipótese que fez um arrepio atravessar sua espinha, totalmente baseado em seus conhecimentos literários, que eram sua única referência. 

"Será... que eu estou gostando dele?" O choque com o pensamento foi tão grande que sua mente apenas travou, limitando-se novamente apenas a olhar pela janela e ver finalmente a rodovia, mostrando que já haviam descido a montanha. 

Jaehwan passou o caminho imóvel, mesmo com a mão suando ele estava concentrado demais para pensar em tirá-la de cima da de Wonshik. Ele simplesmente analisava todo seu comportamento tentando utilizar tudo que aprendeu durante a faculdade de psicologia em si mesmo, mas era tão diferente uma criança com notas baixas dele, um adulto entrando em pane ao segurar a mão de outro adulto. A explosão de feniletilamina assustava-o. Os sinais batiam, a noradrenalina arrepiando seu corpo por inteiro e fazendo-o suar num frio de 8°C, todo o nervosismo que sentia ao lado daquele cara. Jaehwan respirou fundo. 

— Me recuso. – Murmurou, mas acabou atraindo a atenção de Wonshik que virou a cabeça para ver o que ele falava. 

— O que disse? 

— Na-nada! Nada. – Apressou-se em responder, mesmo gaguejando.

— Hum. 

De repente, tomaram um susto quando Taekwoon freiou bruscamente. Fazendo com que todos dentro da minivan quase voassem, se não estivessem de cinto de segurança. Hakyeon foi o primeiro a dar um grito, assustado, e Taekwoon desculpou-se já que estava distraído e quase passou pela casa de Hongbin. Como trabalhavam na rádio, Hongbin e seu pai moravam bem próximos a montanha, já que era bem mais fácil assim. Taekwoon desceu do carro e foi abrir o portão, então logo voltou e entrou na propriedade. A casa ficava no meio do mato, depois de uma pequena estrada. Assim que pararam no quintal, o pai de Hongbin veio cumprimentá-los. Ele usava um macacão sujo de graxa, parecia consertar algo. Wonshik logo percebeu como Hongbin era uma cópia exata do pai. Os dois eram muito parecidos. 

— Que bom que vieram. Pode não parecer, mas o meu filho fica muito ansioso quando vocês vêm visitá-lo, obrigado por serem amigos dele. 

— Não precisa agradecer! Nós que ficamos gratos por sua hospitalidade. – Hakyeon disse. 

— Obrigado também por tentar consertar o carro do Wonshik. – Taekwoon agradeceu e Wonshik encarou-o sem entender nada. 

— Como assim? 

Então, Jaehwan começou a dar uma risada nervosa o que fez todos olharem feio para ele. 

— Eu esqueci de avisar, hehe. – Ele coçava nervosamente a nuca. 

— O pai do Hongbin também é mecânico, então nós pedimos que ele desse uma examinada no seu carro. Para ver se havia salvação. – Sanghyuk explicou e Wonshik não pôde evitar de sorrir. 

— Obrigado, pessoal. 

— O dano foi bem severo, mas nada que eu não consiga resolver em umas 2 ou 3 semanas. Você pagaria só pelas peças. Mas sei que não tem duas semanas para esperar. – O pai de Hongbin disse enquanto acompanhava o grupo até a porta de casa. 

— É, eu já comprei a passagem de volta para depois de amanhã. 

— Já que você viaja para cá todo ano, por que não deixa o carro e busca na próxima vez? – Sugeriu Taekwoon e Wonshik apenas deu de ombros. 

Na verdade, ele não queria dizer que não tinha certeza se voltaria algum dia. Era complicado, talvez aquela fosse a última vez dele em Naju. 

Assim que abriu a porta, o pai de Hongbin gritou pelo filho, mas ele não veio ao encontro dos amigos. A casa do lado de fora parecia bem pequena, paredes brancas, muitas plantas e flores e até mesmo um laguinho, mas dentro era bem grande. A sala estava arrumada, na mesa de centro haviam caixas de pizza, refrigerantes, cervejas, doces. Tanta coisa que mal era possível contar. A televisão tinha um menu de jogo sendo exibido e abandonado no sofá podiam ver um controle de Xbox. Hongbin realmente estava ansioso. 

— Ele deve estar jogando no quarto. Fiquem à vontade, eu vou voltar para o carro. 

Eles agradeceram a gentileza do pai de Hongbin e enquanto os mais velhos escolhiam seus lugares no enorme sofá, Sanghyuk foi chamar Hongbin. A primeira coisa que Jaehwan fez foi tomar uma lata de cerveja da mesa, abri-la e começar a beber na boca da lata mesmo, sem nem usar um copo. Já Hakyeon pegou o controle do Xbox e deu play no jogo, enquanto Taekwoon observava-o. Passaram-se poucos minutos, logo Hongbin e Sanghyuk juntaram-se ao grupo e começaram a diversão. 


Os controles do console já estavam engordurados de tanto passarem em mãos meladas de pizza, o sofá tinha manchas de Coca-Cola que Sanghyuk derrubou e a sala encheu-se de embalagens de doces vazias. Wonshik já não aguentava mais de tanto rir com Taekwoon entrando em estado de surto por simplesmente perder no jogo. Ele começava a gritar e brigar com todo mundo. Sanghyuk aproveitava o caos para gravar e postar diversos stories e fotos que a mãe de Wonshik, ao ver o filho sendo marcado, logo ia curtir, feliz dele estar divertindo-se tanto. Cansados de jogar no Xbox, Hongbin buscou o baralho de Uno, que decidiram jogar em dupla. Hakyeon com Hongbin, Taekwoon com Sanghyuk e Wonshik com Jaehwan. Sanghyuk morria de medo já vendo a hora que Taekwoon faria ele engolir uma carta de tanta raiva, Hakyeon não parava de brigar com todo mundo e acusá-los de roubo. 

— VOCÊ É UM PILANTRA, JUNG TAEKWOON! O ROSTO NEM FERVE DE VERGONHA? – Hakyeon gritou. Jaehwan apoiava-se em Wonshik pois já estava fraco de tanto rir. 

— EU NÃO ESTOU ROUBANDO, INFERNO! 

— ENTÃO LEVANTA QUE EU QUERO VER SE NÃO TEM CARTA ESCONDIDA AÍ EMBAIXO. 

— GENTE, DÁ PARA ACALMAR? – Hongbin gritou também em meio ao caos.

Wonshik aproveitou a confusão para calmamente pegar a última lata de cerveja que Hakyeon estava tomando, sem que ninguém percebesse, e dividiu-a com Jaehwan. Os dois rindo, aproveitando-se do roubo de Wonshik. 

— ACALMAR NADA! ELE FICA ROUBANDO! 

— EU NÃO ROUBEI! NÃO É CULPA MINHA SE VOCÊ É RUIM! 

— CADÊ MINHA CERVEJA, EU VOU JOGAR ELA EM VOCÊ. – Hakyeon gritou e começou a buscar a lata pela mesa, mas não encontrou-a. 

Ao receber o olhar maléfico de Hakyeon, Jaehwan não conteve-se. 

— FOI O WONSHIK! 

— VOCÊ QUE MANDOU, SEU TRAIDOR!

Sanghyuk agarrou Hakyeon que gargalhava falando que mataria Wonshik. Hongbin ria tanto que acabou engasgando com um pedaço de chocolate. O celular de Wonshik já explodia de tantas fotos e vídeos. Ele realmente estava feliz. 


Não demorou até a energia dos 6 começarem a esgotar-se, então deixaram os jogos de lado e começaram a assistir um filme. Sanghyuk fechou os olhos e com o controle escolheu um filme aleatório para que ninguém pudesse reclamar. Hongbin estava sentado em uma parte do sofá com a cabeça de Hakyeon, deitado, em seu colo. Já na outra parte Sanghyuk fazia o mesmo com Taekwoon, este último que já estava adormecido pois não aguentara o tanto que aquele filme era meloso. Um romance qualquer água com açúcar. Hongbin fingia prestar atenção, mas na verdade estava jogando no seu Nintendo Switch, já que ele mesmo não suportava aquele tipo de filme. Os únicos realmente que prestavam atenção eram Hakyeon e Wonshik e Jaehwan. Eles estavam sentados juntos, no chão bem na frente do sofá, comendo pizza de mais cedo que já estava um gelo e Pepsi quente sem gás. Já era tarde da noite, até mesmo o pai de Hongbin já havia saído, ido à torre de rádio fazer uma transmissão à noite. O dia havia sido tão divertido. Wonshik estava tão feliz em poder compartilhar aquele momento com seus novos amigos. Ele nunca pensou que iria divertir-se tanto ao permitir-se viajar sem seu irmão. 

Quando o filme acabou, Sanghyuk acordou Taekwoon pois começariam a despedir-se e ele precisava levar Wonshik e Jaehwan para o hotel, assim como Hongbin para a torre, já que ele não gostava de deixar o pai voltar sozinho de madrugada. Taekwoon foi lavar o rosto e buscar a chave, já Hongbin foi vestir roupas mais confortáveis e quentinhas. Hakyeon contou que a irmã de Sanghyuk viria buscá-los, então logo despediram-se, Sanghyuk fazendo questão de lembrar Wonshik que havia trazido as coisas que ele pedira mais cedo por telefone para que comprasse para ele e que as sacolas estavam no quarto de Hongbin. Depois de todos devidamente despedidos, as sacolas já guardadas no banco da minivan e Wonshik agradecer milhões de vezes por tudo que aqueles rapazes fizeram por ele, Taekwoon, Hongbin, Jaehwan e Wonshik entraram na minivan. Ele não conseguia parar de acenar pela janela para Hakyeon e Sanghyuk e já estava com saudades deles, mesmo que não tivesse nem saído ainda. 

Com buzinadas animadas, Taekwoon deu a partida e cada vez mais a casa de Hongbin ia ficando para trás. 


A escuridão do lado de fora da minivan era assustadora. Era possível ouvir as centenas de sapos coaxarem, o cricrilar dos grilos junto do canto das cigarras e o barulho de galhos destroçados pelos pneus conforme subiam a montanha. Hongbin dormia nos fundos do carro, roncando baixinho. O silêncio era mortal. Taekwoon no volante também dava uns bocejos de vez em quando. Mas ao contrário dos dois dorminhocos, Jaehwan e Wonshik estavam muito bem dispersos. O dia tinha sido perfeito, eles estavam empanturrados com as delícias que Hongbin comprou e ainda relembravam de todas as conversas, brincadeiras e gritos que tiveram. Jaehwan surpreendeu-se em como Wonshik estava confortável e conectou-se com seus amigos. Era como se ele sempre estivesse ali, como se fizesse parte deles há muito tempo. Estava ainda mais frio, devia estar próximo dos 0°C. Jaehwan, ao ver Wonshik encolhido, não hesitou em tirar a jaqueta que vestia e dar a ele, que de início negou, mas com a insistência aceitou, mesmo que já estivessem perto do hotel.  Não demorou, logo Taekwoon virou à esquerda e entrou no estacionamento. Como Hongbin estava dormindo, Wonshik saiu primeiro e Jaehwan foi logo atrás dele, fechando a porta atrás de si depois de descer da minivan. Os dois contornaram o carro até chegarem na janela do motorista para despedirem-se de Taekwoon e agradecer por ter levado-os em segurança até o hotel. Wonshik carregava as várias sacolas com o que Sanghyuk comprara para ele, para subir a montanha no dia seguinte. 

 — Estão entregues. Tenham uma boa noite, os dois. – Taekwoon disse apoiado na janela. 

 — Você também, hyung. Obrigado por trazer-nos em segurança.  

 — Sim! Obrigado, hyung. Eu nunca vou esquecer o quanto vocês foram gentis comigo, mesmo que fosse um estranho. Muito, muito obrigado. 

 — Deixa disso, Wonshik. Agora você é nosso amigo também. Foi um prazer tê-lo conosco esse final de semana. Você tem nossos números, mantenha contato, certo?

  — Certo.  

 Wonshik estava tão feliz que seus olhos encheram-se de lágrimas. Ele agradeceu por estar escuro e os outros dois não poderem vê-lo chorar. Estava tão agradecido e contente. Fora um dos melhores finais de semana da sua vida. Aquele grupo de amigos realmente fê-lo feliz em tão pouco tempo. Ele sabia que realmente sentiria tanta falta daquele ambiente. Seu coração apertava só de imaginar que logo teria que partir e aquela fora a última vez que veria-os por um bom tempo. Sua passagem foi comprada para o dia 15 de julho às 8 da manhã, não teria tempo de vê-los uma última vez.

  — Bom, amanhã eu preciso acordar cedo então nos despedimos por aqui, fiquem bem. E você, Wonshik, cuidado sozinho naquela montanha. 

 —  Tchau, hyung.  

 — Eu vou ficar bem, lá não é tão deserto, às vezes tem pessoas. Mas obrigado por preocupar-se. Boa noite, Taekwoon hyung.  

 Taekwoon lançou uma piscadela mas todos assustaram-se quando uma voz surgiu do nada.  

 — Wonshik hyung, pode ficar tranquilo que amanhã de manhã eu passo aqui para te dar uma carona, ok? Não esqueci não, meu pai vem trabalhar cedo e eu pego o carro uns minutos para te levar. 

 Hongbin estava apenas com o rosto para fora da janela. Era nítido o sono em sua expressão, tanto que ele dividia suas frases entre bocejos.  Mais cedo Wonshik tinha feito o pedido da carona, já que agora estava sem carro para locomover-se

 — Ah, obrigado mesmo, Hongbin! Vai ser de grande ajuda.  

 Hongbin sorriu e acenou antes de voltar para dentro do carro por completo. Taekwoon resolveu não enrolar mais, apenas ligou o carro e deu a ré. Jaehwan e Wonshik ficaram lá, observando a minivan calmamente continuar seu caminho subindo a montanha, mas logo a escuridão sem o farol tomou conta do estacionamento. Uma única lâmpada presa num pedaço de madeira fazia o péssimo trabalho de iluminar o local.  

— Vamos, eu te ajudo a levar essas coisas para o seu quarto. – Jaehwan disse e Wonshik assentiu, dividindo um pouco das sacolas com ele e passando a seguir o mais velho.  

 Diferente da última noite, o hotel estava bem iluminado. Passaram pelo lobby e Wonshik percebeu que a luz era bem fraquinha, dando ao ambiente um clima muito confortável e ele pensou que talvez passaria um tempo ali quando voltasse da montanha. Mal teve tempo de explorar o local por inteiro, desde que chegou tudo fora uma loucura. O período entre o momento que conheceu Jaehwan e agora estavam ali era um enorme borrão onde ele apenas lembrava-se do quanto sentiu-se feliz e do quanto aqueles novos amigos eram preciosos para ele. Ele queria mais tempo, queria poder ficar ali mais um pouco. Mas, não dava. Por um momento as lágrimas voltaram aos seus olhos e mesmo sentindo-se horrível por isso, amaldiçoou até mesmo seu irmão por partir tão cedo, se não fosse por isso, eles estariam felizes esperando ansiosamente para subir a montanha e Wonshik não estaria subindo a escada de um hotel com um garoto que conheceu durante um final de semana e que possivelmente era a primeira pessoa na qual ele mais chegou perto de um interesse romântico. Tudo aquilo era tão assustador e confuso, ele não sabia o que fazer. 

Ao chegarem no topo da escada, mesmo com todo o silêncio, Jaehwan sabia que havia algo errado. O clima estava pesado, o silêncio não era apenas constrangedor mas sufocante também. Mesmo com o dia perfeito que tiveram, a cada passo ele ficava cada vez mais triste e não podia entender o porquê. Sua mente estava perdida em pensamentos. Era seu grande problema. Nunca conseguia apenas sentir seus sentimentos, sempre recorria a tentar analisar a si mesmo como um de seus pacientes, tentava a todo custo obter respostas de sentimentos, uma das coisas mais complexas do mundo. Por um momento esqueceu o peso daquelas sacolas que carregava para Wonshik e tentava concentrar-se em seus passos para não afogar-se mais em pensamentos tristes.

Finalmente chegaram a porta de número 14. Wonshik destrancou-a e com dor largou as sacolas no chão, depois esfregando os braços doloridos pelo peso. Jaehwan pediu licença e tirou os sapatos antes de entrar no quarto, onde deixou as sacolas que carregava sobre a cama. Ele tentou não reparar no quarto, mas não conseguiu. Wonshik tinha cara de bagunceiro, mas o cômodo estava tão arrumadinho. Jaehwan pediu licença novamente e sentou-se na cama. Wonshik criou coragem e força nos braços para levar as sacolas para dentro e fechar a porta.  

 — Você quer que eu ligue o aquecedor? – Perguntou Wonshik enquanto tirava a jaqueta  que Jaehwan emprestou-o e deixava-a pendurada na maçaneta da porta.  

— Não, tudo bem. Não vou demorar muito aqui. 

 — Certo.

  Wonshik pegou as sacolas do chão e colocou-as juntas das que estavam sobre a cama. Algumas coisas eram para subir a montanha, mas também haviam algumas bobagens para quando ele chegasse já que não teria tempo de alimentar-se direito. Ele nem sabia como iria levar todas aquelas coisas de trem, mas isso não importava. Já um tanto cansado, sentou-se ao lado de Jaehwan.

 — Eu queria agradecer, hyung. Você realmente cuidou de mim durante esse final de semana, como disse que faria. Estou muito grato por tudo. 

 Jaehwan encarou-o e sorriu.  

 — Divertiu-se? – Jaehwan perguntou e deu uma risadinha ao ver o mais novo responder com acenos positivos com a cabeça. 

 De novo, o silêncio tomou conta do quarto. Os dois encaravam-se perdidos em pensamentos. O ar estava pesado, fazendo com que eles ofegassem. Estavam lado a lado mas a distância parecia enorme. Wonshik nervosamente umedeceu os lábios enquanto via Jaehwan calmamente inclinando o corpo em sua direção. Estavam há milímetros de distância quando o mais velho sussurrou no ouvido dele.

 — Eu também me diverti muito.  

Tomado por uma insana coragem, ao sentir o adocicado do perfume de coco de Wonshik de olhos fechados, Jaehwan aproximou-se do pescoço dele e beijou-o. Na tentativa de manter o equilíbrio por conta da posição desconfortável, sem querer Jaehwan apoiou uma das mãos sobre a coxa de Wonshik enquanto a outra estava esparramada na cama. Assustado com a ação do mais velho, Wonshik afastou-se rapidamente, encarando-o com uma expressão surpresa. Seu coração pulsava extremamente rápido e a barriga doía num gélido nervoso. Tudo aquilo era novo para ele e surreal, mas havia uma coisa que sabia. Sabia que queria mais.  Jaehwan, ainda chocado com sua coragem mas não deixando transparecer, umedeceu os lábios sem conseguir deixar de pensar na maciez da pele de Wonshik. Também estava assustado e confuso, mas cada parte de seu corpo gritava para que ele beijasse cada centímetro de pele daquele rapaz em sua frente. Sem pensar muito, Wonshik fechou os olhos e aos poucos foi aproximando-se de Jaehwan, até que seus lábios se tocaram. Afim de trazê-lo para mais perto, Wonshik puxou Jaehwan pela cintura, mas manteve mão ali depois, segurando-o bem próximo a si. Já o mais velho tocava o pescoço dele, acariciando a área com movimentos suaves, às vezes mudando o alvo das carícias para a orelha inundada de piercings dele. Calmamente Jaehwan mudou o alvo de seus beijinhos para o lábio inferior de Wonshik, que anestesiado com a situação mal percebeu o que estava fazendo e quando deu-se conta, já havia entrelaçado os dedos da mão esparramada sobre a cama com os de Jaehwan. Agora, eles tinham certeza do que sentiam, sabiam que gostavam profundamente um do outro, mesmo que conhecessem-se há tão pouco tempo. A pele de Wonshik arrepiava-se com os toques de Jaehwan, que não conseguia controlar-se e cada vez mais aumentava a intensidade do beijo, completamente hipnotizado por Wonshik. As trocas de olhares entre os beijos foram ficando cada vez mais frequentes. Eles não podiam evitar de sorrir um para o outro, mesmo que logo o êxtase unisse seus lábios novamente. Assim, Jaehwan tirou a mão do pescoço de Wonshik e calmamente começou empurrá-lo pelos ombros para que deitasse na cama. O mais novo só teve tempo de jogar as sacolas para baixo de qualquer jeito antes de ter Jaehwan sobre ele. Os dois encaravam-se, os rostos vermelhos e suados, a respiração ofegante, as roupas amassadas. Jaehwan realmente achava-o tão bonito. Sem entender o porquê, as lágrimas invadiram seus olhos e envergonhado, encostou a testa no peitoral de Wonshik para que ele não visse-o chorar.

 — Hyung… o que foi? – Preocupado, tentou fazer Jaehwan levantar a cabeça, mas logo pôde ouvir os soluços. 

 — Não vá, por favor… Não vá, Wonshik. 

 Ouvir aquelas palavras em meio aos soluços apertou seu coração de uma forma que ele nunca poderia imaginar. Simplesmente não poderia largar tudo e ficar por ali. Havia o trabalho, Butt e sua família. No fundo, ele sabia que amores de verão eram passageiros, e não podia correr o risco de cometer um erro ao deixar tudo para trás. Mas, isso não significava que não gostasse de Jaehwan e que não estivesse arrasado por precisar partir. Ele queria tê-lo por perto, queria sentir seus lábios macios mais uma vez, rir juntos, darem as mãos de novo. Mas ele tinha que ir embora. 

— Eu também não quero ir. – Seus olhos encheram de lágrimas também, mas segurou-as com toda sua força de vontade. Lentamente Wonshik empurrou Jaehwan para o lado, para que ele deitasse em seus braços, bem próximo a si. O mais velho não hesitou em abraçá-lo e esconder o rosto em seu peitoral, ainda soluçando como uma criança na qual seu doce fora roubado. Wonshik delicadamente passou afagar Jaehwan, brincando com seu cabelo e às vezes beijando o topo de sua testa.  

 — Eu não sei o que está acontecendo. O que é isso? – Podia escutar a voz abafada murmurar, ainda chorosa.  

 — Não sei, realmente não sei. Mas acho que é bem simples. Talvez eu goste muito de você. 

 — Eu não quero gostar de você. Por que tenho que passar por isso? Depois de amanhã você irá embora e tudo vai acabar. Como isso aconteceu tão rápido?  

 — Algumas coisas simplesmente não têm explicação, senhor psicólogo.  

 — Cale a boca, quero dormir. – Respondeu manhoso.  

 — Deixa eu ir apagar a luz.  

 — Durma de luz acesa, eu não vou te soltar de jeito nenhum. Boa noite. 

 Jaehwan agarrou Wonshik com ainda mais força, como se ele fosse um grande urso de pelúcia e aos poucos foi acalmando-se até só restarem apenas soluços. Wonshik, sem escolha, continuou acariciando Jaehwan até ouvir os roncos baixinhos do mais velho e sorrir.  

 — Não quero ir embora. – Murmurou encarando o teto.  

 Naquela noite, demorou bastante até Wonshik conseguir parar de encarar aquele rapaz descansando em seus braços e conseguir dormir. 


Notas Finais


espero que estejam gostando ! 💖


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