História Arcos não combinam com espadas - Capítulo VI: Regresso.

— Aqueles que forem chamados, por favor, deem um passo à frente! — disse Luna, em alto e bom som para que todos pudessem escutá-la.

Estavam todos no pátio principal da academia, os 40 alunos formavam quatro filas horizontais, uma atrás da outra. Kwan estava presente naquele momento, parado em cima de um palco ao lado de Luna. Ninguém sabia o porquê, visto que nunca havia aparecido desde a chegada dos novos alunos. Era um homem ocupado, isso ninguém poderia negar.

Estavam todos nervosos para saber se haviam ou não se adaptado bem aos treinos extremamente pesados, inclusive Namjoon. O rapaz havia se dedicado ao máximo nos últimos meses e sabia que tinha melhorado bastante nas aulas de exercícios físicos, ainda mais com a ajuda de Jimin. Porém, não tinha certeza se conseguiu se igualar aos demais alunos, pois ainda tinha dificuldade para dominar os cavalos e pecava um pouco nas aulas práticas.

Sabia que o Park havia se dedicado para fazer o Kim melhorar, contudo não esperava algum tipo de privilégio por parte de Luna, muito pelo contrário.

O primeiro nome fora mencionado, depois o segundo, terceiro e logo Namjoon perdeu a conta. 

— La Chan e… — Luna abaixou a folha e olhou em volta a procura da última pessoa. Não parecia contente com o que havia visto no papel — Kim Namjoon — Uma facada teria doído menos.

Foi inevitável arregalar os olhos, assim como era impossível conter a tremedeira que sentia em suas mãos e pernas. O Kim não conseguia definir exatamente quais sentimentos passavam por si naquele momento, apenas queria chorar e até vomitar. Os olhares e os cochichos não ajudavam, a sensação de incompetência apenas aumentava.

Ao final, 25 garotos foram mencionados e o Kim estava entre eles, para sua infelicidade.

Luna e Kwan deram a volta, iriam começar os preparativos para enviar os alunos mencionados para outra academia ou até mesmo para casa, e depois chamariam os rapazes para explicar exatamente como iria acontecer a mudança.

Jimin veio em sua direção completamente eufórico, sua expressão era dolorosa. O mais baixo, embora demonstrasse que queria falar alguma coisa, apenas abria e fechava a boca. Namjoon não conseguia encarar os olhos do amigos, então mantinha a cabeça baixa, olhando seus pés como se fossem a coisa mais interessante do mundo.

— Desculpa, Nam, eu achei que tinha te ajudado — disse o Park, quebrando o silêncio finalmente.

— Não foi sua culpa! — retrucou com convicção e ergueu a cabeça, encarou os olhos do amigo na intenção de mostrar que estava sendo sincero — Eu não fui capaz de passar nos testes, a culpa é todo minha.

— Como será agora?

— Eu não sei.

E de fato: Namjoon não tinha a menor ideia de como seria dali em diante. Estava completamente perdido.

Os dois decidiram voltar para o dormitório. O Kim achou melhor arrumar suas coisas agora para que não precisasse correr depois.

Ambos os amigos caminhavam em silêncio, afinal, não havia muito o que falar naquele momento.

Assim que entrou no cômodo, Namjoon não olhou para ninguém, apenas seguiu reto até sua cama e tirou o pouco de roupa que havia em seu baú.

Os cochichos eram muitos, e embora o rapaz tentasse não prestar a atenção, era impossível quando a voz de Hoseok se sobressaía.

“Já vai tarde”, foi o que ouviu sair da boca do Jung.

— Não liga para eles, Nam — disse Jimin, este que estava sentado em sua própria cama e observava o amigo arrumar as coisas.

— A verdade dói, né? — gritou Hoseok do outro lado do cômodo usando um tom de voz cômico. Ele estava deitado em sua cama, completamente à vontade. Alguns rapazes estavam perto dele, sentados em sua cama ou na cama ao lado, formando um pequeno círculo.

— Cala a boca! — retrucou o Kim. Não ergueu os olhos para encarar o Jung, apenas continuou arrumando suas coisas, embora agora estivesse um pouco irritado.

Ouviu Hoseok rir, sendo seguido pelos colegas próximos.

— Sempre soube que seu lugar não era aqui. Seu e daquele seu amiguinho estranho. Você entrou por pura sorte, mas é claro que não ficaria por…

— Eu mandei você calar a boca! — Ergueu o tom de voz e finalmente olhou para Hoseok. Todos ficaram intimidados pela mudança súbita de humor, exceto o Jung, que riu divertido.

— Ficou irritado por quê? Por que falei da sua saída ou por ter mencionado o “resto de gente”?

O tom de deboche em sua voz fazia o sangue de Namjoon ferver. Porém, aquilo não era realmente o problema. O que mais incomodava Namjoon, era o sorrisinho cínico nos lábios do Jung, aquele maldito sorriso que o Kim fazia questão de arrancar de sua face desde a primeira vez que o presenciou.

— Namjoon, ignore-o! — pediu Jimin, enquanto segurava o braço do amigo e o puxava para trás. Não era necessário ser um gênio para ver que o Kim estava irritado, contudo, apenas Jimin notou os punhos do amigo se fecharem com uma força absurda, sabia que isso não levaria a algo bom.

— Tem medo que Namjoon apanhe novamente, Jimin? — dessa vez foi outro garoto que falou, mas Hoseok riu divertido pelo comentário.

— Eu queria saber a resposta, poxa.

— Chega, Hoseok! — disse com dificuldade, visto que segurar Namjoon não era uma tarefa muito fácil.

— Você não manda em mim, idiota! — Aquele foi o ápice.

Com muita força, Namjoon soltou seu braço de Jimin e correu até a cama de Hoseok. Ninguém sabia dizer exatamente como, mas em segundos o Kim já estava em cima do Jung, dando-lhes socos seguidos, enquanto o outro tentava se defender. Hoseok estava deitado, então o máximo que conseguia fazer era pôr os braços na frente de seu rosto, mesmo que isso não ajudasse muito. 

Os olhos de Namjoon estavam cegos, a única coisa que conseguia pensar era nas piadinhas que o rapaz embaixo de si havia feito sobre as pessoas que amava. O sangue já ganhava presença em suas mãos, mas ele não se importava. 

O Kim só parou quando dois alunos seguraram seus braços e o jogaram da cama. A queda trouxe Namjoon de volta à realidade; quando seus sentidos se normalizaram, pode focar seus olhos em Jimin, que já estava de joelhos ao seu lado, e em Hoseok, que erguia o corpo com dificuldade e usava uma das mãos para parar o sangue que saia de seu nariz. O rosto inteiro estava extremamente vermelho, deixando claro que o Kim havia usado muito força.

— Qual é o seu problema? Era só brincadeira, cara — comentou um rapaz que ajudava o Jung a se erguer da cama. Iriam levar o colega para a enfermaria e claro que iriam denunciar o Kim para algum superior. No fundo, Namjoon não se importava, afinal, já estava de saída e bater em Hoseok era algo que estava se corroendo para fazer há tempos.

Quando o Jung passou ao seu lado, seus olhos se cruzaram e Namjoon não pode conter o sorriso de vitória, ato esse que fez Hoseok franzir o cenho.

Após todo o alvoroço, Jimin ajudou o amigo a se levantar e o Kim terminou de fazer o que estava fazendo, porém com uma satisfação percorrendo seu corpo.

Um soldado fora buscar os alunos reprovados quando a noite começava a cair. Namjoon se despediu de Jimin com um abraço breve e seguiu o homem de armadura prateada juntamente com os demais 24 alunos.

Todos foram até a sala da Luna para receber suas instruções, quatro alunos iam por vez. Namjoon, por ser o último a falar com a mentora, foi sozinho. Assim como aconteceu com Jimin, o Kim não conseguiu encará-la diretamente. Viu, de soslaio, um sorriso acolhedor se formar na face da mulher.

— Desculpe. — Foi a única coisa que conseguiu dizer.

— Não se desculpe, Namjoon, não foi culpa sua.

— Não fui um bom soldado, mesmo com a ajuda de Jimin.

— Saiba que, se dependesse de mim, você ficaria na academia. — O Kim ergueu os olhos, agora ligeiramente curioso.

— Achei que a senhora fosse a única a decidir esse tipo de coisa.

— Ah, não. Bem, pelo menos não dessa vez — Deu de ombros, acomodando melhor as costas na cadeira que estava sentada e fechando a cara ao pronunciar as próximas palavras — Kwan quis interferir dessa vez. Por mim, apenas cinco de vocês iriam embora, mas ele disse que era um pedido do rei, então não pude negar.

— Ele disse por que precisava mandar tantos alunos embora?

— Não — Luna parecia tão desapontada pela falta de informação quanto Namjoon. A mentora sorriu após alguns segundos em silêncio — Mesmo que tivesse dito, isso não seria da sua conta, certo?

— Desculpe! — abaixou o tronco em sinal de respeito. A mulher apenas riu contido.

— Tudo bem, não se preocupe. Vamos falar do que importa: você irá trabalhar nos campos do castelo.

— Nos campos? — A decepção havia ficado nítida em seu tom de voz.

— Kwan que escolheu, desculpe.

Ir para o campo significava que a academia estava mandando Namjoon de volta para casa, não necessariamente a sua, mas alguma que ficava nas áreas de cultivo. Ainda iria trabalhar no plantio, porém não era necessário ir à uma academia, pois os conhecimentos necessários eram passados pelos mais experientes do local. 

No fundo, Namjoon até gostou de ir para lá, visto que tinha mais afinidade com essa tarefa do que com a cozinha — uma das opções que tinha para ir. Porém, voltar para a terra era o mesmo que voltar para a estaca zero.