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História Armas e bisturis - Capítulo XXIX


Escrita por: tiffanyisles

Capítulo 30 - Capítulo XXIX


O cheiro de Taeyeon impregnando seu nariz foi a primeira coisa que despertou em sua consciência. Ela tentou abrir os olhos, mas o estado de letargia impediu o movimento, então ela continuou mergulhada na escuridão acolhedora daquele conforto. As lembranças flutuaram levemente em sua memória, e ela recolheu uma de cada vez, começando pela da noite anterior. Ela e Taeyeon tinham feito amor. Não sexo. Amor: lento, com paixão, em movimentos sincronizados e gestos calorosos, cheio de cuidado e carinho. Ela tinha adormecido em cima do peito da loira, de forma que as batidas do coração a ninaram para um sono profundo. Ela não teve nenhum pesadelo, não acordou suando no meio da noite com o coração acelerado, desorientada. Era a segunda noite consecutiva que dormia bem, e embora fizessem apenas oito dias depois da invasão, o hematoma em suas costas já não estava tão dolorido, graças aos cuidados de Taeyeon, e Irene se sentia segura novamente para dormir em sua própria cama - também graças à loira.

Tudo parecia estar voltando aos eixos, inclusive a vida sexual. Elas tinham feito amor na noite anterior... E também naquela manhã. Nawoon tinha levado Irene para o parquinho logo cedo, e depois iria levá-la ao shopping para comprar roupas e brinquedos - um mimo que uma avó precisa fazer aos seus netos! - ela tinha argumentado e Taeyeon não iria desafiar aquele olhar decidido. No momento em que a mais velha deixara a casa, a detetive logo viu a vantagem de estarem sozinhas. Ela tomou Tiffany em seus braços e a levou de volta para a cama, e dessa vez nenhuma delas tiveram que se preocupar com barulhos. E dessa vez tudo tinha sido mais sedento, ainda que continuasse no mesmo ritmo da noite passada. Era como se precisassem de cada segundo para desfrutar do calor, memorizar os gestos, aproveitar sem pressa o arrepio que corria o corpo quando lábios encontravam pele, quando gemidos escapavam das bocas circulando no ar para morrer num suspiro baixo.

Ela se lembrou das palavras da loira logo depois de ter alcançado o orgasmo. Taeyeon tinha a abraçado por trás e colocado a mão em seu peito, apenas para sentir o coração bater descompassado. O ar quente no ouvido arrepiou sua pele.

- Você é tão linda. É algo que eu nunca vou me acostumar. - Os dedos dançaram no cabelo dela e logo a loira plantava um beijo em sua nuca. - Sem maquiagem, quando você acorda e seu cabelo tá bagunçado... Isso me deixa atônita. - Tiffany riu e chacoalhou os ombros. - Quão justo isso é com as outras pessoas? Quer dizer, olha pra mim! - E a morena riu mais. Não podia ser verdade, não que Taeyeon estivesse mentindo, era apenas que aquela era a percepção dela.

- Isso é impossível, Taetae. - Ela murmurou de volta sentindo a bochecha arder.

- É muito possível, eu vejo todo dia.

- Se você se checasse mais vezes no espelho, você também veria o quão linda você é. - Ela replicou, tentando tirar o foco de atenção dela. Tiffany podia ser aberta para muitas coisas, e ativa para tantas outras; na cama geralmente ela não tinha vergonha de nada, e nem mesmo as mais ousadas provocações, movimentos ou palavras a deixavam desconfortável, mas depois disso se Taeyeon a segurasse nos braços e começasse a elogiar... Ela ficava tímida de alguma forma. Apenas porque era doce, porque Taeyeon cuidava tão bem dela e com tanta ternura, porque a loira a polia, a colocava num pedestal. Ninguém fizera isso com ela antes. Na vida profissional qualquer conquista tinha sido através de esforço, logo tudo o que adquiria tinha vindo apenas como consequências. No âmbito familiar ela nunca havia recebido elogios dos pais, talvez porque parecesse tão independente e madura a ponto de não os fazer pensar de que tais palavras pudessem fazê-la se sentir bem. Mas agora havia Taeyeon, e toda vez que a loira oferecia palavras gentis, toda vez que Taeyeon dizia o quão linda e perfeita ela era... seu rosto ardia em pura e verdadeira timidez. Ela simplesmente não sabia o que fazer com aquilo, e ao passo de que se sentia extremamente bem e confiante, era algo que a desarmava.

Ela rolou para o lado de Taeyeon e escondeu seu rosto no pescoço da mulher.

Taeyeon riu. - Você me faz tão feliz.

Tiffany levou a mão no pescoço da loira e acariciou, a voz se perdendo no sono. - E você a mim.

A loira sorriu e abraçou sua mulher, num ato que a fez perceber claramente algo. Tiffany e Irene eram todo o seu mundo. E... - Tudo o que eu preciso para ser feliz cabe dentro dos meus braços.

Tiffany riu docemente. - O que seria? Um fardo de cerveja e uma bola autografada pelo Kia Tigers

Taeyeon riu enquanto beijava a cabeça da morena. - Não! Você, você e Irene. As duas únicas pessoas que preciso para ser feliz!

Tiffany ergueu os olhos para ela, e seu olhar estava agora carregado de afeição. - Você acha que consegue abraçar três de uma vez? - Ela sorriu. Ela sorriu e Taeyeon sabia o que aquele sorriso significava.

Ela quer um bebê.

- Deus, - ela riu - eu abraçaria até mesmo quatro!

A médica sorriu com a lembrança - ou pelo menos ela achou que estava sorrindo, considerando o quão preguiçosa estava naquela manhã. Minutos depois ela sentiu os lábios quentes da detetive beijando seu pescoço: primeiro levemente, com carinho, depois com mais insistência. Tiffany resmungou e passou um braço em volta da loira.

- Nunca se cansa? - As palavras saíram preguiçosas.

- O que? Eu só quero te fazer carinho. - E ela riu em seguida. Se entregando.

- Uhum. Nós duas sabemos que isso não é verdade. - A morena abrira os olhos e pousara as mãos nas costas da detetive que agora estava em cima dela.

- É sim! Eu não tenho culpa se isso leva a outras coisas... - E o sorriso que Tiffany conhecia tão bem estava estampado no rosto da loira.

Ela revirou os olhos. - Você é impossível.

- Irresistível. - Ela corrigiu quando correu a mão pelo seio nu da mulher e sentiu o mamilo endurecer rapidamente.

- E tão humilde. - Tiffany mordeu o lábio inferior enquanto sorria, e apertou a coxa entre as pernas da loira, pegando-a desprevenida.

- Oh - Ela gemeu e arregalou os olhos para a morena. - E você diz que sou eu quem começo com isso?

- Eu só estou adiantando a sua brincadeira. - Ela riu de novo e, segurando o pescoço da loira, a puxou para um beijo. As línguas se entrelaçaram e a respiração ficou mais pesada a medida que os corpos buscavam um pelo outro - dançavam um com o outro. Quando elas quebraram o beijo para pegar ar, a morena apertou as pernas na cintura e beijou o ouvido da loira. O ar quente arrepiou Taeyeon, mas não mais do que as palavras.

- Taetae, dessa vez não precisa ser gentil. - Ela afastou o rosto apenas para encarar a loira, apenas para que Taeyeon visse o sorriso maroto nos lábios, a sobrancelha levantada em perversa sugestão.

- Deus... É por isso que eu amo você. - E o sorriso safado no rosto da loira, o cabelo rebelde e incontrolável modelando o rosto, as mãos segurando firme em sua cintura, prometiam a Tiffany que ela teria exatamente o que desejava. Ela aproximou o rosto da morena, o suficiente para os lábios se roçarem, e então falou com a voz firme e autoritária. - Eu vou pegar o strap-on. - A morena balançou a cabeça em sim, levemente. - E você nem pense em gozar até que eu diga que você possa. - E as palavras soaram roucas e diretas no ouvido da médica. Uma onda de prazer percorreu suas costas e ela inclinou a cabeça ligeiramente para trás, antes mesmo de Taeyeon pressionar seu centro. Uma arfada de ar escapou de seus pulmões.

Oh sim, ela adorava aquele jogo.

Taeyeon traçou uma linha invisível de beijo do pescoço da morena, descendo entre os seios e abocanhando um deles. Tiffany arqueou as costas com o movimento abrupto. Ela entrelaçou os dedos no cabelo loiro e segurou Taeyeon contra seu corpo, e a cada sugada a morena sentia a umidade aumentar entre as pernas.

- Tae, você disse que ia pegar algo, se lembra? - Ela disse entre arfadas. A loira mordiscou o mamilo e soltou lentamente, em pura provocação, depois encontrou seu rosto com o dela.

- Por que a pressa, Pany-ah? Achei que você tinha... - Mas a frase morreu no meio porque o celular começou a tocar. Taeyeon franziu as sobrancelhas e Tiffany enroscou suas pernas na cintura da loira.

- Não. Não agora.

Taeyeon deu de ombros e sorriu maliciosamente. Ela poderia fazer Tiffany gozar em tão pouco tempo, se ela quisesse, mas Taeyeon gostava da doce tortura... Ela gostava de...

Se ao menos o barulho do celular a deixasse em paz.

- Merda! - Ela resmungou quando inclinou o corpo para o lado para apanhar o aparelho. E se fosse importante? Ela precisava saber Tiffany rolou os olhos em reprovação, mas esperou pacientemente pela mulher.

- Kim. - A loira falou com a voz rouca. Ela lançou um olhar para Tiffany e a expressão de seu rosto passou de irritação para assombrada. Qualquer vestígio de luxúria tinha desaparecido e sido preenchido por tormento. A médica sabia que o que tinham planejado para o resto da manhã não iria mais acontecer.

Tiffany se apoiou nos cotovelos e correu os olhos pelo rosto da loira, preocupada. Algo tinha acontecido com Nawoon e Irene? Ela sentiu o coração disparar. - Taetae?

A detetive estendeu a mão num gesto de espera e balançava a cabeça enquanto anotava mentalmente cada palavra ouvida.

- Onde? - Ela perguntou. - Ok. Eu vou... Ok. Obrigada.

Quando ela desligou o celular e voltou a atenção para a morena, o peito subia e descia descompassadamente.

- Tae, o que aconteceu? Alguma coisa com Irene? Nawoon? - Tiffany tinha se sentado na cama agora e estava segurando nos braços da loira.

- Eles encontraram... Encontraram ele, Fany. - As palavras saíram secas, arranhando a garganta da loira. Ela viu Tiffany se encolher um pouco enquanto a tensão se instalava em seu corpo. Taeyeon suspirou e a colocou entre seus braços, um tanto quanto aliviada, um tanto quanto ansiosa. Se ao passo de que parecia ótimo terem finalmente pego o agressor da invasão, lembrar de tudo o que acontecera, ainda mais nesse momento em que tudo estava começando a finalmente se apagar, reabria as feridas. - Você sabe que está a salvo.

A cabeça da morena se mexeu levemente em seu ombro. - É só que... E se a história se repetir, Tae? E se quando transferirem ele para a prisão o matarem? E se outra pessoa vir atrás de nós?

Taeyeon já havia considerado isso. Elas estavam com uma criança que deveria ser a mercadoria de alguém. A mercadoria... Ela franziu o cenho, irritada. Mas para eles, Irene era apenas isso: uma transação de bens. E crianças eram vendidas por um alto valor, um valor que a pessoa por trás de tudo isso não recebido. A detetive sabia tão bem como perda de dinheiro deixava pessoas furiosas. Ela se perguntou até onde essa máfia iria, e se eles mandariam mais alguém atrás delas. Quem sabe conseguiriam alguma resposta agora que haviam capturado o homem? E se o medo de Tiffany se confirmasse? Afinal de contas a mãe da menina havia sido morta mesmo sob a proteção do programa de testemunhas.

- Fany, eu sei que Sunny e Sooyoung vão fazer o que for possível para... para acabar logo com isso. Ok? Nós já pegamos dois deles, Fany-ah. Eles estão perdendo números... quer dizer, quantos mais eles estão dispostos a perder?

A morena deu de ombros. Como ela poderia saber? - Você pode ligar para sua mãe e chamá-la de volta? Não gosto da ideia de Irene... Não quero ela lá fora.

Taeyeon compreendia e compartilhava do sentimento. - É claro, querida. E tem mais uma coisa...

Os olhos da morena se encontraram com o dela. - O que é?

- Você e Irene precisavam identificá-lo. Nós temos que ir até a delegacia e...

- Eu sei. - Ela disse e abaixou a cabeça, esfregando as mãos uma na outra num sinal de nervosismo.

- Eu vou estar com vocês o tempo todo. Ok?

 

...

 

Irene balançava a perna para frente e para trás, esperando ansiosa por Taeyeon. Sentada na cadeira da detetive, ela não tinha muito o que fazer - a ponta do lápis arranhava a folha de papel em branco, aquela que ela supostamente deveria estar desenhando, mas sua atenção estava focada na conversa dos adultos ou, ao menos, no que ela estava tentando ouvir dela. O que não era muito.

A menina observava Taeyeon gesticular e falar sobre algo com Sooyoung e Sunny. Tiffany estava ao seu lado, esfregando as mãos no vestido a todo momento, como se quisesse alisar as dobras invisíveis dele. Os sussurros eram abafados pelo barulho ruidoso do trânsito, de telefones tocando na sala, detetives e policiais conversando ao redor. Derrotada pela incapacidade de ouvir qualquer coisa, ela abaixou os olhos e riscou linhas na folha.

Alguns passos de distância, Taeyeon tentava negociar o que iria acontecer dentro de alguns minutos.

- Ela precisa mesmo fazer isso? - A detetive resmungou em voz baixa, se referindo à Irene.

- Taeyeon, você sabe que a confirmação dela ajuda na execução do caso. A de Tiffany já é suficiente, mas como o júri vai reagir quando souber que a própria criança o reconheceu? Você sabe como isso mexe com eles. Ele vai pegar uns bons anos. - Sunny disse.

A detetive não estava muito convencida, ela não queria expor Irene de novo, entretanto ela não podia ignorar que o reconhecimento do invasor feito por duas pessoas distintas aumentavam as chances de condená-lo. - Tudo bem. Mas eu entro com elas, e eu explico para ela o que vai acontecer. - Ela olhou para Tiffany em busca de apoio. A morena balançou a cabeça em sim.

- Certo. - Sooyoung disse e logo depois Taeyeon se virou para elas e andou até sua mesa.

A detetive segurou a criança em seus braços e depois se sentou na cadeira, colocando-a em seu colo. O olhar curioso de Irene encontrou o dela. Aquela menina era tão nova e já tinha passado por tanta coisa... Taeyeon queria levá-la embora dali e protegê-la, e que fosse para o inferno todo aquele caso, mas a detetive que existia nela não lhe deixava a razão faltar. Prazeroso ou não, ela não podia negar que Sunny tinha razão. Ela respirou fundo e tentou um sorriso para a menina.

- Ei, tartaruga. Eu vou precisar de sua ajuda agora, ok?

- Tá bom. - Irene parecia disposta a ajudá-la no que quer que fosse. Ela juntou os joelhos junto ao peito e abraçou as pernas mantendo o olhar fixo no da loira.

- Ok... Você se lembra... - Taeyeon suspirou. Era difícil. - Você se lembra do homem que entrou em casa e machucou sua mom?

Os olhos castanhos escureceram e a menina ficou séria. - É, eu me lembro.

- Você acha que o reconheceria se o visse de novo? - Taeyeon passou as mãos no corpo pequeno da menina, num instinto de proteção.

- Acho que sim. - E ela parecia incerta agora.

- Ok. Nós... Conseguimos pegá-lo, Irene. Ele vai para a cadeia e ele nunca mais vai aparecer de novo.

As sobrancelhas da menina se arquearam para ela e ela mordeu o lábio. Taeyeon tomou o silêncio como um bom sinal e continuou falando.

- Mas nós precisamos que você o veja uma última vez. Ele não vai ver você, querida. - Ela se adiantou em dizer quando a menina pareceu assustada. - Eu vou com você, e Fany também. Ele vai estar segurando uma plaquinha com um número e tudo o que você precisa fazer é dizer que número é. O que você acha?

Ela pareceu ponderar por um minuto. - E depois eu nunca mais vou vê-lo?

- Nunca mais. Ele vai morar na prisão, e ninguém pode sair da prisão, garotinha. É impossível. - Taeyeon sorriu para ela enquanto os olhos se estreitaram em pensamento.

Irene olhou para trás, para Tiffany que parecia ansiosa e pálida até mesmo para a percepção dela, e depois voltou o olhar para Taeyeon novamente. - Ele nunca mais vai vir atrás de nós?

- Nunca mais.

- Acho que posso fazer isso. - Ela disse ainda parecendo insegura, mas querendo a todo custo colaborar com a loira.

Taeyeon se levantou e a colocou num abraço apertado. - Você é tão corajosa, tartaruguinha. - Ela esperou que a menina a soltasse e olhasse em seus olhos de novo. - Eu cuido de você, ok? Nada de ruim vai acontecer. Eu prometo. - E ela deu um beijo na bochecha de Irene.

Taeyeon balançou a cabeça para os três e logo elas estavam sendo conduzidas para a pequena sala de observação. O quarto era apertado e mal iluminado e a sensação de ser posta em um caixão deixava Tiffany ainda mais ansiosa. As persianas do outro lado do espelho de duas faces estavam fechadas e Sunny aguardou a confirmação de Taeyeon.

Ela olhou para Tiffany que estava ao seu lado e a morena acenou com a cabeça. Taeyeon apertou o braço em torno do corpo de Irene e olhou para o homem. Um maneio de cabeça e Sunny deu dois soquinhos no vidro. Alguém do outro lado da sala subiu as persianas. Taeyeon passou os olhos em cada homem que estava lá, segurando uma placa numerada do número um ao quatro. Ela ainda estava estudando o segundo demoradamente quando Irene arfou e se jogou contra seu peito, escondendo o rosto no seu pescoço e apertando os braços nela.

- Irene? - Tiffany colocou a mão em suas costas, mas a menina não se movia.

- Eu achei. - Ela sussurrou, inegavelmente assustada.

- Tudo bem, querida. Lembra que ele não pode ver você? Ele também não pode te ouvir. - Taeyeon ofereceu.

- Medo. - Num murmúrio ela estendeu a mão para fora e fez o número quatro.

- Esse é o número que ele tá segurando, querida? O quatro?

- Sim!

- Fany? - Taeyeon se virou para a morena que parecia tão desconfortável quanto a menina.

- É ele, Tae. Número quatro.

- Sunny? - A loira chamou pela mais baixa.

- É isso. - Ela bateu mais duas vezes no vidro e as persianas voltaram a se fechar. Antes de sair da sala ela apertou de leve o ombro de Taeyeon.

- Fany, você tá bem? - A detetive pousou uma mão nas costas da morena. Ela não parecia bem.

- Só... Vamos sair daqui? - O desconforto que sentia a deixava fraca. Estar mais uma vez no mesmo ambiente do que aquele homem trazia de volta medos que tinham sido enterrados, mas que agora voltavam do túmulo para assombrá-la. Um mau pressentimento agarrou sua pele e arrepiava os pelos do corpo, e ela não conseguia se livrar da sensação. Aquele homem iria ser preso, mas aquela questão não parava de rodar em sua mente: e se mandassem outra pessoa atrás delas? Isso não acontecia com pessoas que se envolviam com a máfia? Elas teriam alguma paz de agora em diante? A mão invisível do medo agarrou seu estômago e apertou sem piedade. Ela sabia que era um medo quase irracional, neurótico até, mas ela não conseguia se controlar.

- Fany, acabou. - A loira passou a mão na cintura dela e elas caminharam para fora da sala, e se Tiffany não tivesse se apoiado nela, ela teria dificuldades para se locomover. Ela sabia que Taeyeon estava atormentada, e isso também a incomodava. O instinto de proteção estava em alerta total, e Tiffany sentia que além do cuidado adicional havia algo de mais ali; algo que Taeyeon não estava contando.

A detetive puxou a cadeira para ela e ela se acomodou, e logo depois Irene estava em seus braços. - Tá tudo bem, garotinha. - Tiffany beijou sua cabeça e a abraçou, e Irene encostou a cabeça em seu ombro e não disse mais nada.

- Eu sei que foi difícil. Me dê mais alguns minutos e eu peço para alguém levar vocês para casa. - A detetive disse enquanto acariciava o braço da morena em conforto.

Tiffany agarrou rapidamente o braço dela. - O que você quer dizer com nos levar para casa? E você?

- Eu quero interrogá-lo, Fany. - Ela disse naturalmente.

- Você não está mais no caso, Tae.

A loira a cortou. - Eu vou interrogá-lo, Fany. Vocês são minha família e Heechul não pode me negar isso. - Ela disse com a teimosia de sempre.

- Ele pode, e você pode ser suspensa se -

- Fany, eu preciso saber, ok? Eu preciso esclarecer algumas coisas. Tenho certeza de que Sunny -

- Esclarecer que coisas? Existe algo que você não me contou?

Bela escolha de palavras, Kim. Ela correu a mão pelo cabelo revoltoso. - Não, não tem nada. - Ela mentiu. Omitiu? Ela nem sabia dizer ao certo ainda. - Eu juro. Você sabe de tudo o que eu sei.

Tiffany não pareceu muito convencida, ainda mais porque mesmo que Taeyeon não soubesse de algo novo, ela tinha certeza de que a loira tinha pelo menos algum novo palpite.

- Ok. - Ela disse em voz baixa, cansada e estressada demais para argumentar contra.

Taeyeon apertou a mão da loira uma última vez e mordeu o lábio inferior em pensamento. - Eu já volto. Vou conversar com Sunny e arrumar alguém para levar vocês.

A detetive se virou e andou até as duas mulheres que estavam discutindo alguma coisa em voz baixa, encarando o quadro do caso que ela havia começado a montar. Agora a foto do homem que tinha acabado de ser identificado – Jay Park - estava colada ali. Ela estudou o quadro com cuidado, e quando Sunny se virou para ela e entrou em sua frente para esconder as informações, ela fez uma careta.

- Ah, qual é?

- Você sabe que não tá mais...

- Trabalhando nesse caso. Me diga algo novo. - Ela disse, emburrada. - Sunny... Eu entendo os motivos, mas eu posso, por favor, interrogá-lo? - Ela tentou a versão educada, sabendo que as chances seriam maiores. Mesmo assim...

- Nem em sonho. - Sooyoung respondeu. - Eu não quero ter que impedir você de matar ele. Não. De jeito nenhum.

Ela olhou para a parceira sem nenhuma expressão no rosto, o que era ainda pior do que qualquer outra. Era como se ela estivesse dando uma segunda chance, fazendo de conta que não escutara corretamente a primeira resposta.

- Taeyeon, não sou eu quem faço as regras. Você não pode interrogá-lo e...

- Ele tava no mercado. - Ela falou tão baixo quanto pode. As mulheres se viraram para ela e franziram a sobrancelha. - Ele tava no mercado. Quando Irene foi levada para casa do outro casal, Yonghee estava aqui. Nós fomos no mercado e ele falou comigo. Ele estava de olho o tempo todo em nós, e talvez tenha pensado que na época Irene ainda estivesse com a gente. Ele poderia ter sequestrado ela lá, Sunny! De baixo dos meus olhos.

As duas mulheres pareciam entre duvidosas e assombradas.

- Ele tem uma tatuagem de dragão no braço. Uma tatuagem vermelha. Vocês podem checar.

- Ele tem. - Sooyounh deu de ombros, porque embora não fosse algo que elas tivessem conseguido ver da sala de observação, era algo que Sooyoung tinha visto quando apreendeu o homem.

- Me deixa interrogá-lo, Sunny. - E ela estava implorando agora. - É Fany, Irene. Como eu devo protegê-las sendo que não sei direito do que isso se trata?

A mulher mais baixa pareceu incerta, dividida entre a amizade que tinha por Taeyeon e a obrigação do trabalho. Ela falou quando pareceu finalmente encontrar uma solução. - Você pode assistir, Taeyeon. É o máximo que posso fazer. O resto você confia a mim.

Ela sorriu. Era melhor do que nada. - Obrigada, Sunny. - Ela notou pelos cantos dos olhos que Yuri acabara de entrar na sala.

- Não faça eu me arrepender disso. - A menor advertiu.

- Eu não vou! - Ela disse enquanto se distanciava para se encontrar com sua irmã. - Ei, Yul! - Ela levantou a mão para chamar a atenção da mais nova.

- Taeng? - Ela soou surpreso.

- Não. A fada madrinha. - Ela disse com sarcasmo.

A morena revirou os olhos e suspirou. - Oh sim, eu senti tua falta também.

A loira segurou o braço da irmã. - Me faz um favor? Você pode levar Irene e Fany para casa? -Ela apontou com o polegar atrás de suas costas, onde as duas ainda estavam sentadas, conversando sobre alguma coisa.

- Posso, claro. - Ela disse imediatamente.

- E... você pode ficar e se certificar de que elas estão bem?

- Posso ficar durante... Uma hora? Depois preciso voltar para cá.

- Sem problemas, é o suficiente. - Ela sorriu para a irmã. - É mais do que suficiente. Obrigada, Yul.

- Não por isso, Taengoo.

Ela espremeu os olhos. - Me chama de Taengoo mais uma vez e eu atiro em você. - Ela deu um soco no braço da irmã para provar seu ponto, mas riu logo depois quando se virou. Ela andou até Irene e Tiffany e explicou que Yuri iria levá-las para casa, e de quebra lhe fariam companhia durante um tempo. Irene pareceu empolgada, sabendo desde que passara a morar com elas de que Yuri gosta tanto de jogar basquete quanto Taeyeon. A menina se atirou no colo da tia enquanto tentava comprá-la, sem saber que não precisava, para um jogo assim que chegassem em casa.

- Eu e você. Mommy no outro time. - Porque parecia perfeitamente razoável para ela de que ela ficasse no time dos - com certeza - vencedores. Tiffany era péssima naquele esporte.

Taeyeon riu, mas não fez nenhum comentário, sabendo que a morena não estava em nenhum estado para provocações. - Eu vejo vocês em casa, ok?

- Okaaaay. - Irene respondeu enquanto acenava do colo de Yuri.

A detetive se apressou e beijou a bochecha de Tiffany antes dela entrar no elevador, e acenou a cabeça num sinal de que tudo ficaria bem. Tiffany sorriu - o melhor que pôde - e as portas se fecharam.

Agitada, Taeyeon se apressou para a sala de interrogatório. Antes de entrar, entretanto, ela parou por um minuto e respirou fundo. Ela não podia perder a cabeça. Ela não podia deixar se afetar pelo que quer que o sujeito dissesse. Ela sabia que as provocações viriam, e que ela iria ouvir coisas que a irritariam ou a machucariam. Ainda assim, era algo que ela precisava fazer. Ela virou a maçaneta da porta e entrou, tentando ignorar a presença do outro homem no quarto. Ela focou apenas em Sunny e Sooyoung, até o momento que ela cruzou os braços, se encostou na parede, e com um olhar sério encontrou seus olhos com o do criminoso.

Ele estava sorrindo ironicamente. As mãos em cima da mesa davam a impressão de que ele estava se sentindo em casa, como se ela fosse a convidada. Taeyeon não gostava daquilo, ela não gostava nenhum pouco. Algo dentro dela - a velha detetive Kim - gritava que aquilo não acabaria bem.



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