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História Arquétipos Patéticos - Como transformar a culpa em dor


Escrita por: Lyssu

Notas do Autor


Olha quem voltou com um capítulo cheio de Jikook para vocês s2

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah
surtando com a quantidade de favoritos de CASN e principalmente com a quantidade de comentários
cara, vocês são muito lindos!!!
só agradam essa autora....

Capítulo 3 - Como transformar a culpa em dor


Fanfic / Fanfiction Arquétipos Patéticos - Como transformar a culpa em dor

 

Quando acordei, não sei o que doía mais, se eram as minhas costas, o meu orgulho ou ver Jimin deitado apenas com uma blusa fina sobre o chão frio de uma praça. Pela temperatura e movimento das ruas, deveria ser por volta das sete da manhã. O sol ainda estava fraco como se tivesse nascido há alguns minutos, uma meia hora no máximo. E as poucas pessoas – exatas cinco, se eu contasse com o homem da banca de jornal – que passeavam ao redor nos olhavam como se fossemos usuários de substâncias ilícitas.

O que não deixava de ser uma meia verdade, afinal, ali estava eu com os efeitos do álcool a me lembrar de todas as desgraças que fui capaz de me submeter numa noite de inferno que gerou um dos piores deslizes possíveis; beber até perder a compostura e o amor próprio.

E, se havia algo a martelar na minha cabeça junto da dor causada pela ressaca, era a certeza de que eu nunca mais faria aquilo de novo. Nunca mais desejaria ver Jimin deitado no chão sujo, enquanto meu corpo descansava sobre um banco ao seu lado com o casaco dele a cobrir meu peito, fazendo o seu cheiro me invadir e me lembrar da nossa casa, da sua cama, do conforto que ele não usufruía por minha causa.

A culpa me corroía muito mais do que a dor de ser descartado como copo plástico depois de uma festa infantil.

Eu não lembrava muito da noite anterior, apenas o necessário para ter certeza que as minhas ações nos trouxeram a essa situação desastrosa. Sabe quando você tem plena consciência – ou quase – de que está fazendo algo errado e mesmo assim persiste no erro? Eu não sabia. Até levar um pé na bunda, eu era alguém que nunca faria algo do gênero, muito menos, envolveria Jimin naquilo.

Por mais defeitos que ele tivesse – não que fossem muitos, já que até suas imperfeições pareciam meros traços de charme –, meu melhor amigo não merecia sofrer por causa do meu coração partido. Nem merecia estar ali dormindo daquela forma com a parte inferior da sua calça favorita suja de vômito, com cerca de vinte centímetros de jeans, que antes era branco, manchado por ter desperdiçado seu tempo com um bêbado teimoso que não sabia sequer aceitar o fim de um relacionamento.

Jimin sempre cuidou de mim, eu sabia que daquela vez não seria diferente, por isso pedi ao loiro que viesse até o bar. Não haveria outra pessoa a quem recorrer, ele sempre foi minha primeira e última escolha quando mais precisava de alguém. Ele não era a única, mas apenas ele, mesmo tendo passado por péssimos momentos, me olharia com aqueles olhos pequenos e sorriria, transformando qualquer erro meu em piadas bobas.

Meu hyung sempre teve esse poder de fazer tudo ao seu redor dançar conforme o movimento dos seus lábios cheios e levemente avermelhados. Então como posso explicar o peso que sinto ao vê-lo tão exausto ao ponto de não acordar com os raios solares sobre o seu rosto ou com a sensação horrível de ter o corpo preenchido por germes microscópicos que poderiam causar alguma doença a ele?

Subitamente – sem pensar mais, sem desperdiçar mais um segundo remoendo culpas que não o ajudariam em nada – levantei e passei um braço por debaixo dos seus joelhos e o outro por seu tronco, suspendendo o corpo mole que sequer se mexeu ou pareceu notar que estava sendo carregado. O pouco que eu lembrava incluía Jimin gritando feito louco tentando me puxar e me impedir de fazer alguma idiotice. E como um grande teimoso que eu já era quando estava sóbrio, descobri que bêbado conseguia ser ainda pior.

Ser arrastado até o apartamento de Haejin deve ter consumido todo o resto de energia que ele ainda possuía depois de uma semana intensa de trabalho e universidade. Então, levá-lo nos braços até o carro seria apenas o primeiro passo para tentar me redimir com meu melhor amigo.

Com mais olhares estranhos sobre nós, comecei a caminhar lentamente para não o acordar, tendo o cuidado de posicionar minha cabeça de uma forma que fizesse sombra para que os raios solares não batessem diretamente no seu rosto. O vento bagunçava ainda mais os fios lisos e loiros que estavam completamente desorganizados.

Sorri em resposta àquela cena. Ele conseguia ser lindo até naquele estado em que qualquer um seria apenas deplorável. Sua face estava completamente serena, seus olhos cerrados e os lábios ligeiramente entreabertos, assemelhava-se a uma criança tendo sonhos bons, longe da realidade cruel de ter adormecido no chão duro de um local aberto no frio cortante do inverno que marcava quatro graus célsius segundo um dos relógios de rua pelo qual eu passei depois de sessenta e três passos.

— Eu sinto muito por tudo o que te fiz passar ontem e prometo que isso não se repetirá. — Mesmo que eu soubesse que ele não me ouvia, senti a necessidade de me desculpar, pois sua pele estava tão gélida que temia que ele estivesse com hipotermia ou adoecesse.

Até cogitei a possibilidade de levá-lo ao hospital por precaução, mas desde criança tenho aversão a locais repletos de gente doente, bactérias e vírus que poderiam ser transmitidos através de um único espirro. Então, decidi que o melhor seria levá-lo para casa e banhá-lo com água morna a fim de esquentá-lo e livrá-lo de todo o resquício da sujeira que contaminava sua pele delicada. E, caso ele adoecesse, faria questão de pagar um médico que fosse até nosso apartamento para consultá-lo, assim como pagaria pelos medicamentos que ele pudesse precisar.

Após andar treze quarteirões e trinta e dois passos, cheguei ao carro que estava estacionado perto do bar onde ele me encontrou, ao menos isso eu pude lembrar corretamente. Ajeitei Jimin de forma que ele ficasse quase em pé, escorando seu corpo no meu e abraçando-o para que ele não caísse. Procurei as chaves nos bolsos da sua calça, destravando o carro assim que as encontrei.

Ele ainda parecia dormir, sua cabeça apoiava-se no meu ombro e todos os seus sessenta quilos continuavam sendo sustentados por mim. Quando ele estava cansado, seu sono era bastante profundo e acordá-lo era uma tarefa quase impossível. De certa forma, agradecia por isso. Ainda não fazia ideia de como encará-lo depois da sequência de besteiras que eu havia feito, nem sabia como contaria a ele que Haejin terminou nosso namoro logo no dia do nosso aniversário.

A frustração e a vergonha travavam uma batalha no meu interior para saber qual das duas se sobressaía sobre a outra. Independentemente do resultado, eu era o único a ser derrotado.

 

•Ꝋ•

 

— O que houve com ele? Bebeu de novo? — Kim Namjoon perguntou enquanto abria a porta e andava em direção ao sofá alisando a própria barriga por dentro da blusa preta. E, após se espreguiçar levantando os braços compridos, sentou entre as pernas abertas do namorado, apoiando sua cabeça no ombro dele.

Entrei na sala fazendo uma breve reverência ao cumprimentá-los em silêncio e, logo em seguida, empurrei a porta com minhas costas para que ela fechasse. Sem pressa, retirei meus sapatos com meus pés e posicionei-os de forma que ficassem virados para a porta, logo ao lado do par de tênis surrado – que tive que ajeitar para que ficassem no mesmo alinhamento dos meus – do Kim mais novo.

Seokjin, o dono do apartamento, estava sentado no conforto do estofado assistindo a um filme qualquer de tiros e perseguição policial com uma máscara cosmética verde cobrindo o rosto. Mais uma cena cotidiana para um domingo de manhã, onde o casal aproveitava o máximo de tempo juntos. De segunda a sábado, eram raras as vezes em que Jin encontrava-se em casa naquele horário.

Habitualmente, ele estaria a caminho de alguma entrevista, ensaio ou qualquer coisa do tipo que tomava todo o seu tempo, deixando Namjoon a mercê de distrações passageiras que o namorado comprava tentando aliviar o peso na consciência por presentar a pessoa que mais o amava com o gosto amargo da solidão.

Se tudo continuasse daquela forma, tinha certeza que o relacionamento dos dois estava fadado ao desastre assim como o meu deveria estar e apenas eu não pude perceber. O frio que invadia meu corpo já não pertencia ao inverno, era apenas medo de que Haejin não voltasse para mim e eu tivesse que me acostumar com sua ausência.

— Não, ele só está cansado por ter cuidado de mim a noite toda e acabou dormindo. Sabe como ele é quando dorme pesado.

Evitei olhar para eles enquanto respondia, meus sentimentos estavam em desordem e minha cabeça latejava a cada lembrança de ter sido abandonado por quem me jurou amor eterno. E como se isso não fosse suficiente para eu ter vontade de sumir, sabia que Namjoon me julgaria por ter arrastado Jimin para aquela situação. Entretanto, ao contrário do que eu imaginava o moreno mais alto levou a mão até o nariz e fez uma careta de nojo.

— Que cheiro é esse, Jeon? Andou brincando com merda? — A voz de Namjoon saiu nasalada e irritada enquanto se remexia no colo do namorado, levando a outra mão para proteger o nariz de Seokjin também.

Quando o observei melhor, percebi que sua calça estava ao avesso, a etiqueta exposta gritava para que eu arrumasse aquilo, mas eu tentava me controlar. Não podia simplesmente arrancar a calça de alguém que constantemente buscava qualquer motivo para me infernizar durante dias.

— Não fala assim com ele, Joonie. Jungkook é quem sempre cuida e limpa essa casa mesmo não recebendo nada em troca. Além disso, é quem tem mais higiene de nós quatro e você é quem bagunça mais. Deve ter acontecido algo para ele estar assim, não é mesmo, Kook? — Seokjin se pronunciou dando um pequeno tapa na perna do namorado mal-humorado, que virou o rosto na minha direção e me fulminou estreitando os olhos. Entretanto, ao invés de responder, não consegui me conter, aquela etiqueta parecia zombar da minha cara assim como o dono dela.

— Sua calça... — Olhei para Namjoon, que devolveu o olhar, transparecendo sua dúvida. E, como parecia que ele não entenderia o que desejava dizer tão cedo, complementei a frase. — ...está ao avesso.

— E?... — Sua expressão de deboche era óbvia, então eu respirei fundo e desviei meu olhar para Jimin adormecido nos meus braços, buscando a paz dos sonhos que fazia seu peito subir e descer a cada quatro segundos. Um. Dois. Três. Quatro. Um. Dois. Três. Quatro. Um. Do...

— Não ligue pra Namjoon, apenas conte o que aconteceu. — Seokjin me encorajou passando a mão pelos cabelos recém-pintados de um castanho claro que combinava perfeitamente com ele. Os fios desceram lentamente voltando ao mesmo local, e aquela imagem junto da sua voz calma me ajudaram a continuar.

— Aconteceram várias coisas, mas, resumindo, acabei bebendo além da conta. Depois de cinco copos de vodka, ou algo parecido que desceu queimando minha garganta, fui expulso do primeiro bar por falar alto demais. — Contei ao mesmo tempo em que lembrava do motivo estúpido de ter sido enxotado do local apenas por ter tentado desabafar com o barman sobre minha desilusão amorosa. — Quando fui me virar para xingar os seguranças, que me jogaram nos fundos do bar, tropecei num saco de lixo e cai. O saco estourou e os restos de comida podre que tinham dentro melaram todo o meu casaco, joguei ele fora, mas minha blusa já tinha molhado e parece que minhas calças também. E é por isso que estou com esse cheiro horrível.

Saber e, o pior, admitir que havia sido irresponsável ao ponto de beber exageradamente e me humilhar daquela forma não era fácil. Meu peito queimava com os resquícios do meu orgulho, afinal, eu sempre frisava o quanto se embriagar era uma atitude idiota que só causava vergonha própria depois que o efeito do álcool abandonava seu corpo levando junto sua dignidade. E estar imundo com a pele cheia de germes, fedendo a comida estragada, só confirmava a minha opinião.

— Achei que você não bebia... — Seokjin comentou com a voz baixa e uma expressão preocupada, fazendo eu me sentir um completo retardado que prega uma coisa, mas faz exatamente o oposto.

Ele não deveria estar entendendo o que me levou a agir tão fora do meu padrão. E eu não queria ter que explicar sobre como minha comemoração de aniversário de namoro havia sido arruinada e como eu estava lutando para engolir a vontade de chorar e gritar feito um louco. À medida que aquela conversa se estendia, eu lembrava de Haejin e mesmo que fosse meu cérebro a comandar cada parte do meu corpo, meu coração não o obedecia e se lacerava a cada lembrança da noite anterior, se negando a se conformar com o fim.

— Jungkook? Aconteceu algo? Você está pálido. — A voz voltou a soar daquela forma calma que por pouco não me fez correr ao seu colo e desabafar entre soluços. Porém, eu ainda possuía autocontrole e Seokjin, por mais que nunca tivesse demonstrado não ser de confiança, não era alguém que eu me sentiria a vontade de compartilhar minhas dores.

O único ao qual eu contaria tudo sem receios ainda estava adormecido nos meus braços com o rosto enterrado no meu peito e as pequenas mãos segurando o tecido da minha blusa, sem se importar com o mau cheiro, com o barulho das nossas vozes ou com aquela maldita etiqueta que parecia brilhar em néon.

— Eu já estava bêbado e houve outras coisas que me fizeram seguir para aquele bar onde Jimin costuma beber, sabe? — Seokjin confirmou com a cabeça enquanto Namjoon ria disfarçadamente de mim, mas eu decidi ignorá-lo e apenas continuar a história a fim de me justificar com o mais velho, pois me sentia mal por aparecer naquele estado no seu apartamento. Se a situação fosse inversa, eu estaria tendo um surto. — Então, como o dono de lá é amigo do Jimin, que é um dos seus clientes mais frequentes, e já cansou de me ver junto dele, o cara me deixou beber o quanto quisesse, mesmo que isso tenha expulsado algumas pessoas. Seis para ser exato. Uma mulher de cabelos longos e pintados de ruivo com um vestido que parecia ter sido embalado a vácuo no seu corpo, um homem por volta dos seus... — Narrava a história sem me aprofundar nos motivos que me levaram a agir daquela maneira inconsequente quando a voz áspera de Namjoon me interrompeu.

— Jungkook, pouco me importa como eram as pessoas que você expulsou com essa catinga. Na verdade, nem quero saber mais o resto dessa história. Só vai para o banheiro e se escalda por lá porque tua situação tá péssima. Aproveita e dá um banho no Jimin também, já que parece que você vomitou nele. Tanta gente no mundo, e ele vai escolher logo você. — Sua mão esquerda apontava na minha direção e seu rosto exalava desprezo. Um nó se formou na minha garganta, e não consegui evitar me sentir ofendido e ao mesmo tempo culpado. Seokjin abaixou o braço do outro rapidamente e lançou um olhar reprovador ao namorado, que não satisfeito se levantou e se aproximou de mim.

— Mas ele não me escolheu, na realidade... — Tentei explicar, mas logo a voz grossa me interrompeu novamente

— Eu sei, já ouvi essa história quinhentas vezes. Você falou com ele primeiro porque tinha se incomodado com os dentes dele. E, de repente, vocês eram melhores amigos inseparáveis. — A voz dele estava alterada, assim como suas mãos que gesticulavam nervosamente. O que me fez apertar ainda mais o corpo de Jimin nos meus braços e virá-lo na minha direção, deixando-o praticamente de lado.

— Eu não me incomodei, os dentes dele são... — Lindos. A palavra travou dentro de mim, assim como meu corpo ao lembrar da primeira vez que havia visto aquele sorriso desfilando pelos corredores da nossa universidade.

— Tortos. — Namjoon complementou, rindo de maneira estranha.

Mas que droga era aquela? Por que ele estava agindo daquela forma?

Já esperava que ele fosse se chatear, porém a conversa estava tomando um rumo que nada tinha a ver com o problema em questão. E ele parecia se satisfazer com aquelas provocações ridículas.

— Qual teu problema, Namjoon? — Perguntei sem pensar direito, meu limite de respeito já tinha estourado e o de educação estava bem perto. Eu já não me importava se ele era mais velho que eu ou se ele namorava o dono do apartamento. — Se quer saber, eu não te devo satisfação nenhuma, você é a única pessoa dessa sala a qual não devo desculpas. E se insiste em cuidar da minha vida, aprenda primeiro a vestir as próprias calças que estão malditamente ao avesso! Caso não tenha notado, etiquetas e costuras aparentes indicam a parte interna da roupa.

— Jungkook, vai tomar banho e some da minha frente antes que eu vomite também. — Ele respondeu sarcástico, e Seokjin, que até então só pedia para o namorado parar, levantou e o puxou de modo brusco. Os dois se entreolharam.

— Chega, Namjoon, deixa o Jungkook em paz! O Jimin já chegou nesse apartamento em situações piores que a dele e você nunca reclamou. Sem falar que Jungkook é quem sempre cuida do seu amigo por mais bêbado que ele esteja. Então, para de implicar com o garoto, senta essa bunda no sofá e não estraga o nosso dia!

Garoto?

Por mais que eu soubesse que Seokjin tentava me defender, ele ter me chamado de garoto só contribuiu para que eu me sentisse pior, porém não estava com a menor vontade de prolongar ainda mais aquela discussão sem sentido, nem queria que Jimin acordasse com os berros de Namjoon. Então, sem dizer mais uma palavra, fui até o penúltimo quarto do corredor.

Aquele quarto era o segundo maior do apartamento, tudo ali era na cor branca ou em tons de cinza claro. As outras cores presentes vinham de alguns pequenos objetos como os livros, que estavam sobre as prateleiras organizados em ordem alfabética pelo sobrenome do autor, ou como as canetas, que descansavam sobre a mesa de estudos indo das colorações mais quentes para as mais frias.

Para a minha surpresa, tudo estava exatamente como eu havia arrumado no dia anterior, com exceção da cama de casal completamente bagunçada, como se aquele tivesse sido o único local onde o loiro ficou durante o tempo em que permaneci fora.

Todos os móveis haviam sido projetados por mim, assim como escolhi todos os adornos. Na época em que resolvi fazer uma reforma no quarto de Jimin – no final do ano passado, quando eu estava no quarto semestre de arquitetura –, achei um ultraje deixar meu melhor amigo viver naquele ambiente como era antes.

Uma profusão de cores e estilos que nada se encaixavam com o seu dono.

Como ele não parecia ter apego a nada que houvesse ali, vendi tudo para uma loja de móveis usados. E, com o dinheiro da venda e uma quantia que havia guardado, comprei os materiais que precisava para fazer o novo mobiliário – que já havia desenhado – e improvisar uma surpresa de aniversário para o meu hyung.

Quando a noite chegou, ele entrou no quarto para tomar um banho e descansar depois de um dia cheio. Entretanto, ao ver tudo o que eu havia feito, ele sorriu largo e, sem demorar, seu corpo se chocou contra o meu num abraço apertado enquanto seus lábios me tocaram num selinho casto, algo que ele sempre fazia quando estava excessivamente feliz.

Depois disso, passamos a noite inteira deitados na sua cama conversando sobre assuntos aleatórios até a manhã seguinte. E eu não pude deixar de me sentir realizado, pois tudo o que eu queria era fazê-lo sentir uma parte do bem que ele me causava. Toda a confusão da minha mente, todos os pensamentos impertinentes e todas as preocupações desnecessárias tomavam proporções ridículas diante do seu sorriso.

Se havia uma cor que o definisse, diria que Jimin era branco. Segundo a ótica, a cor que resulta da união de todas as outras. A que me causava aquela paz confortável. Uma calmaria que eu me afogava sem medo.

Estar com ele era como submergir numa piscina só minha. A água cristalina envolvia meu corpo como seus abraços ternos e quentes. Os barulhos externos eram abafados por aquela sensação tranquila de tê-lo ao meu redor.

Sem qualquer dificuldade, ele fazia todo o resto sumir.

Despertando dos meus devaneios e lembranças, caminhei até o banheiro dele, onde o piso de madeira escura cobria toda a área em frente à bancada e tinha exatamente o mesmo tom do móvel abaixo da cuba. Todo o resto – paredes e piso abaixo da banheira, assim como os degraus que levavam a ela – eram em mármore branco carrara.

Olhei nosso reflexo no grande espelho acima da cuba e depois para os pequenos enfeites sobre a bancada. Percebi que eles estavam inclinados a quarenta e cinco graus em relação à borda da pedra e em ordem decrescente de tamanho, assim como eu havia deixado na manhã anterior. Tudo ainda estava impecavelmente limpo e com o leve perfume cítrico do seu dono. E aquilo me encheu de uma sensação confortável que poucas pessoas poderiam entender.

A ordem é como uma flor de copo-de-leite, delicada e sutil.

Levei Jimin até a parte mais alta, onde ficava a banheira e o coloquei com cuidado sobre o piso elevado. Abri a torneira, girando o metal uma volta e meia, e chamei seu nome três vezes, mas em resposta só obtive pequenos resmungos manhosos e um bico dengoso acompanhado do franzir do seu cenho. Então, ao invés de insistir em acordá-lo, avisei que iria banhá-lo e prossegui, retirando as roupas sujas para que eu pudesse colocá-lo na banheira que já enchia com água morna. A blusa saiu facilmente quando a puxei, num único movimento, o tecido deslizou pelos seus braços. E, antes de retirar a próxima peça, tratei de dobrá-la e colocá-la sobre o primeiro degrau para que, após o banho, eu a levasse até o cesto de roupas sujas.

Afrouxei os cadarços do seu tênis e retirei-os, assim como suas meias, passando a mão pelos pés rosados e quentinhos que se encolheram com o toque repentino. Levei seus tênis até o closet, colocando-os no seu devido lugar, na quarta bandeja do sapateiro, onde organizei todos os seus calçados brancos.

Quando voltei ao banheiro, Jimin ainda se encontrava na mesma posição em que o deixei, sentado com as costas apoiadas na parede, a cabeça tombando para o lado direito e as pernas estiradas. Aproximei-me dele para tirar a sua calça – que era bastante apertada –, levando exatos um minuto, dezesseis segundos e bastante paciência para que eu conseguisse livrar suas coxas torneadas sem machucá-lo. Perguntava-me mentalmente como ele conseguia vestir aquilo e, ainda por cima, tê-la como sua peça de roupa favorita. Depois de dobrá-la devidamente, coloquei o jeans embaixo da blusa.

Esperei mais alguns segundos olhando a água da banheira subir até a marca – que eu havia feito para que quando entrássemos a água não escorresse para o lado de fora – e fechei a torneira. Desfiz-me de toda a minha roupa, colocando-a ao lado da do loiro e organizando-as das cores mais escuras para as mais claras. Após estar completamente despido, retirei a única peça que ele ainda vestia – uma cueca branca –, colocando-a sobre a pilha de roupas dele.

Durante alguns segundos, parei para observar o quanto Jimin tinha o corpo lindo. Todas as suas proporções eram perfeitas, cada detalhe, cada manchinha, sinal ou pequena cicatriz formava um conjunto harmonioso. Um deleite para qualquer um que tivesse algum senso de beleza mais apurado, assim como eu.

Ele era tão perfeito quanto à sequência de Fibonacci.

Depois de apreciá-lo, levantei um pouco o corpo inerte, apenas para entrar com ele na banheira e ajeitá-lo numa posição confortável. Então, sentei de frente para ele, abrindo suas pernas e apoiando-as sobre as minhas. Suavemente, fui passando a esponja macia com sabonete líquido, que tinha um cheiro doce de morango, pelo seu peito e pelos seus braços. Seus lábios se contorceram num sorriso de lado e, finalmente, os olhos pequenos se abriram. Em seguida, ele levantou seu braço direito e tocou a pele da minha bochecha num afago calmo que me fez fechar os olhos somente para sentir seu polegar passeando lentamente no meu rosto.

— Está sujo aqui. — Sua voz soou mais rouca que o normal, provavelmente, por ele ter acordado há pouco tempo. Abri os olhos, vendo sua mão se afastar aos poucos e um bocejo preguiçoso sair pela sua boca no momento em que ele esticou os braços para cima, alongando a musculatura e provocando alguns estalos.

— Eu estou todo sujo, e você também. Só em pensar na quantidade de germes que entrou na nossa pe...

Os dedos dele repousaram sobre os meus lábios e um arrepio percorreu todo o meu corpo. Os toques de Jimin sempre me trouxeram uma sensação diferente, algo como um choque, não sei explicar ao certo. Era diferente de tudo o que eu já havia sentido por Haejin, então não é como se fosse algo com apelo sexual. Também era diferente de quando meus pais me tocavam ou quando era abraçado por outras pessoas.

Era uma sensação estranha, mas era boa.

— Não tem problema, já estamos tomando banho. Parece que, até quando você bebe, quem acaba dando trabalho sou eu. — Seu sorriso aumentou e sua cabeça inclinou para o lado direito graciosamente. Passei a esponja pelo seu pescoço, pois já estava acostumado com esses tipos de pedidos mudos que ele fazia quando o banhava.

— É, mas não te culpo dessa vez, você estava tão exausto que pensei que só fosse acordar amanhã. Desculpe, eu... te dei muito trabalho... Até vomitei na sua calça favorita. Jimin, agora eu só tenho você. — Confessei lembrando do término desastroso, porém a presença do loiro me confortava e aquilo não parecia doer tanto quanto antes. — Haejin terminou tudo. — Ele sorriu novamente, ainda mais largo, me deixando confuso ao ponto de cessar os movimentos no seu pescoço.

— Jungkook-ah, não se preocupe. Logo você acha outro alguém bem melhor que aquele idiota. Se quer minha opinião, você sempre foi areia demais pro baldinho dele, já que aquele lá não tem decência nem pra ter um caminhão. — Seu pé se apoiou no meu ombro, e sem que ele precisasse pedir, passei a esponja pela sua perna, fazendo a minha contagem mental de vinte e duas vezes na sua panturrilha para então descer até sua coxa.

— Mas, eu... quero ele. — E assim que as palavras foram proferidas, sua perna abaixou repentinamente molhando tudo nosso redor. — Droga, olha o que você fez! Tá tudo molhado, agora vou ter que secar isso.

— Isso é pra você aprender a parar de ser trouxa! Ele te largou, Kook. Ele não te quer mais, então não precisa se arrastar por aquela lombriga loira. Existem outras pessoas que dariam tudo para estar com você. — Jimin estava estranhamente irritado como se eu tivesse dito ou feito algo de muito errado. Entretanto, ele não tinha razão para agir daquela maneira tão bruta e isso me chateou. Eu precisava do seu carinho. Precisava que ele me ouvisse e me ajudasse, pois, minha cota de brutalidade já havia sido preenchida por Namjoon.

— Você não entende, porque nunca amou ninguém, não se apega a nada e todo dia tem uma pessoa diferente na sua cama. E assim como você não quer ser como eu, eu não quero ser como você! Eu quero uma pessoa para ficar pelo resto da minha vida, não quero só uma foda! Eu quero Haejin. — Falei exasperado, levantando da banheira e jogando a esponja na água.

Com um turbilhão de sentimentos que eu mal conseguia explicar, sai do banheiro e do seu quarto, indo em direção ao meu para tomar um banho sozinho e tentar acalmar aquela vontade insana de chorar. O que mais doía em mim não era ter lembrado da noite passada. Nem ter me frustrado quando meu melhor amigo pareceu não se importar com o fiasco da minha vida amorosa. O que me fazia meu peito arder eram as palavras que havia dito a Jimin. Estranhamente, aquilo queimava e descia em lágrimas pesadas e quentes.

Confusas.

 

 

 


Notas Finais


Então, né?! XD
o que dizer desse Jungkook confuso?
e desse Jimin quase esfregando na cara do JK que gosta dele?

Façam suas apostas!
Qual dos dois vai admitir primeiro que gosta do outro?

aaaaah! amo vocês s2

p.s.: estou respondendo os comentários aos poucos... não se preocupem, responderei todos!


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