História As Aprendizes - O Tutor

Os alunos se levantaram, indo para os respectivos salões comunais, sendo os primeiranistas acompanhados pelos monitores.

 - Céus! Que preguiça de imaginar o enigma de agora na porta! – Alice resmungou, desanimada.
 - Senhorita White, senhorita Demetria – elas ouviram a voz da diretora atrás das duas.
 - Boa noite, diretora – elas cumprimentaram.
 - Poderiam vir comigo, por gentileza? – ela acenou e andou em direção à porta.

                As meninas se entreolham, preocupadas. Dessa vez tinham se superado, nem ao menos haviam tido um único dia de aula. Ainda assim, seguiram a diretora em silêncio, atraindo alguns olhares e cochichos.

 - O que será que houve? – sussurrou Alice para a amiga.
 - Não faço ideia – ela respondeu – Será que ela soube sobre a discussão?
 - Pensei nisso agora – ela respondeu, roendo as unhas.

                Alice suava, nervosa, com medo da notícia ter se espalhado pela escola. Estragar seu futuro por culpa daquele idiota?

                As três pararam em frente a uma grande estátua de grifo.

 - Meia lua – disse Minerva, fazendo a estátua girar, revelando uma grande escada em espiral que levava à sua sala.

                As garotas subiram, levemente receosas, seguindo por um longo corredor até chegarem à sala, que Mcgonagall abriu e convidou para que entrassem. O ambiente com diversos quadros dos antigos diretores era esplêndido e, ao mesmo tempo, amedrontador. Atrás da cadeira que Minerva sentara havia uma pintura mais recente do último diretor, que olhava as garotas com ternura.

 - Boa noite, meninas – ele cumprimentou.
 - Boa noite, professor Dumbledore – disse Alexandra, sorrindo. Sempre gostou de Dumbledore, especialmente de suas conversas inteligentes.
 - Boa noite...
 - Por favor, sentem-se – disse a senhora.

                As duas obedeceram, sentando-se na frente da diretora, que tinha alguns papeis espalhados na mesa.

 - Bom, vejo aqui nas cartas que mandaram durante as férias sobre o cargo de atuação profissional que ambas querem ser professoras, estou correta? – elas apenas assentiram com a cabeça – Os seus NOMS foram realmente muito bons – ela continuou, passando os olhos pelos papeis – Especialmente na área de poções e herbologia.

                As meninas olharam uma para a outra, ainda não entendendo o que faziam ali.

 - Vocês foram as únicas do ano que escolheram lecionar. E ainda mais no ramo de poções. Não é uma coisa muito comum. Parabenizo vocês pela escolha. E agora o motivo de vocês estarem aqui – ela parou um instante, observando as garotas – Quando temos alunos interessados na área da pedagogia damos um ensino extra no assunto desejado. Aqui vocês disseram que querem poções. Pois bem.
                “Duas vezes por semana, vocês terão aulas particulares sobre o assunto, além das aulas normais, é claro. Serão treinadas para conseguir manusear com perfeição, procurar ingredientes e aprofundar os conhecimentos sobre poções de várias culturas e épocas. Alguma pergunta?”.
 - Er... Essas... Essas aulas serão com qual professor? – Alice perguntou, torcendo para ser aquele que estava pensando.
 - Com o professor Slughorn, naturalmente.
 - Slughorn?! – as duas protestaram em coro.
 - Algum problema? – perguntou a diretora, arqueando uma sobrancelha, visivelmente surpresa pela reação das meninas – Os alunos que seguem o ramo sempre preferiram o professor Slughorn.
 - Ah... Problema nenhum professora, mas é que...

                Alexandra pisou no pé da garota antes que ela pudesse dar algum chilique, enquanto esta a cutucava de volta.

 - Bom diretora – Alexandra começou – O caso é que nós realmente preferíamos ter aulas com o mor... Professor Snape – ela corrigiu rapidamente.
 - O professor Snape é uma lenda! – Alice disse, sem se conter.
 - Ele foi quem nos inspirou a seguir essa área então, nada mais natural do que continuar com quem foi nossa admiração inicial, sem contar que já estamos acostumadas com o modo dele de ensinar – Alexandra continuou, forçando a voz, olhando de relance para a amiga.

                Alice fingia tremenda seriedade, assentindo.

 - De fato... – Minerva observou as duas – Particularmente eu considero Severo mais competente no ramo do que Horácio, mas... – ela pensa em voz alta – Não é comum os alunos preferirem ele, vocês entendem... Ele tem alguns... Métodos, diferenciados.
 - Não tem problema!
- Exatamente – Alice concordou, sorrindo.
 - Pois bem – ela terminou – Posso conversar com o professor Snape para conseguir que ele aceite ser o tutor de vocês, mas não prometo nada – ela diz, num meio sorriso – Em breve vocês receberão os dias das aulas de cada uma.
 - Esperaremos a resposta, professora – Alice disse, sorrindo incontrolavelmente.
 - Muito bem, então. Podem ir descansar. E bem vindas a Hogwarts, mais uma vez.
 - Obrigada professora!
 - Obrigada professora, boa noite!

(...)

 - Alvo...  Desde quando alunos pedem para Severo ser tutor? – perguntou Mcgonagall para o quadro, assim que as meninas saíram da sala.
 - Desde quando uma animaga e uma ofidioglota querem ser professoras de poções – ele riu.

**

                Alice não conteve um grito de esperança ao saírem da sala. Alexandra não conseguia tirar um sorriso de alegria do rosto. Aulas particulares com o Morcegão mais lindo de Hogwarts. Era um sonho se tornando realidade.

 - Merlin! Já imaginou? Serão as melhores horas do dia! – Alice disse, pulando.

                Elas desceram as escadas rapidamente encontrando o corredor vazio. As risadas ecoavam por todo ele.

 - Imagina! Aquela voz, aquele olhar... Só pra você! – Alexandra completou, imaginando como raios ela faria para se conter durante as aulas.
 - Céus! Acho que dessa noite eu não passo! Aliás, preciso passar dessa noite, preciso ter essas aulas com ele! – a outra disse alto, ignorando o fato delas nem estarem na sala comunal ainda.
 - Aulas com quem? – Helena Ravenclaw perguntou, olhando as garotas, curiosa.
 - Ah, er...
 - Com... Ahm... – elas gaguejaram.
 - Com a professora Minerva! Transfiguração é incrível! – Alice disse, sem olhá-la no rosto.
 - Mas você disse “ele”...
 - Ele? Não... – Alice mentiu, rindo nervosa.
 - Ah... – Alexandra fingiu um bocejo – Eu estou morrendo de sono, não lembrava que a viagem no trem cansava tanto! Acho que vou indo...
 - Estou logo atrás de você! – Alice disse sorrindo, despedindo-se, para Helena, que flutuou para longe, estranhando o comportamento das garotas, que geralmente eram bastante simpáticas para com ela.

 - Eu acho que você tem que controlar essa sua boca! – Alexandra bateu na cabeça da outra.
 - Eu esqueci que por aqui é comum ter fantasmas!

                Alexandra revirou os olhos, rindo. Estava animada demais para dormir, mas assim que entraram no dormitório e ela observou a cama sentiu o cansaço que a tomava. Pegou a camisola dentro do malão e se trocou. Deixou a varinha na cabeceira. A essa hora Safira estava no corujal; era estranho ficar longe da coruja depois de três meses dormindo juntas.

 - Vai, Pandora! Você devia ficar no corujal! – Alice tentava fazer a coruja se mover, sem sucesso.

                Ela desistiu e se trocou para dormir, deitando-se na cama ao lado da amiga.

 - Pensei que estávamos fritas na sala da Mcgonagall – Alice suspirou, aliviada, depois de deitar.
 - Estávamos vírgula, foi você que socou o garoto – a outra riu baixinho para não acordar as outras duas garotas – Qual o nome dele, afinal?
 - Bati nele, não fizemos apresentações! – ela retrucou, irritada só de lembrar sua cara esnobe – Aliás, isso não me interessa, não quero vê-lo novamente.
 - Claro, claro. Ron e Hermione começaram assim – ela provocou. Deixar Alice brava era um dos passatempos preferidos da garota.
 - Para! – ela retrucou e jogou um travesseiro na amiga, começando a ter um ataque de risos, e tentou rir baixinho para não acordar as amigas.
 - Mas agora falando sério, porque você ficou tão nervosa com ele a ponto de dar um tapa na cara dele?! – perguntou Alexandra, que não se lembrava de ver a amiga tão brava assim antes.
 - O que me irritou foi o modo como ele me tratou, arrogante, se achando melhor; o jeito que ele disse que eu não pertencia à Corvinal... Basicamente tudo nele me deixou com raiva. Não sei explicar exatamente, mas é como se ele se achasse no direito de rebaixar qualquer um só para se sentir melhor – Alice tentou explicar.
 - Sabe, eu estava pensando aqui sobre ele – Alexandra começou, contendo um riso – Agora que estamos no sexto ano, as probabilidades de termos as mesmas aulas são mínimas. Você ouviu a Mcgonagall, fomos as únicas a escolher dar aulas de poções. É impossível ele ter herbologia, trato das criaturas mágicas, poções, estudos antigos...
 - É ... – ela concordou fingindo indiferença – Bom, boa noite – Alice disse, finalizando o assunto, virando-se para o outro lado.
 - Boa noite.