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História As cinco ocasiões em que ele soube conquistá-la - Cinco Ocasiões


Escrita por: GilmoreWrites

Notas do Autor


Como prometido, cá está a continuação da minha última one-shot, que acabou ficando muito maior do que eu esperava. Mas de toda forma, espero muito que vocês gostem.

Capítulo 1 - Cinco Ocasiões


1. Convivência
Já faziam duas semanas. Duas longas e estressantes semanas desde a sequência de acontecimentos mais importantes da vida de Pendleton. As havia encontrado na rodoviária, prestes a ir embora para sempre, havia participado de uma das discussões mais acaloradas que tivera com Luísa D'Ávila e, tudo isso na frente de sua filha, com centenas de pessoas como testemunhas. Foi uma situação um tanto quanto difícil de enfrentar, principalmente porque embora não quisesse magoar a moça, também não abriria mão de sua filha tão fácil assim, tinha esperado muito tempo para revelar a verdade a ela, tinha passado muito tempo vivendo sozinho, afundado em sua própria dor e agora tinha a chance de recomeçar.
Abaixou-se em frente à Poliana, foi sincero com ela como nunca antes tinha sido, admitiu com olhos marejados sua paternidade, lhe pediu perdão e lhe abraçou com a verdade clara entre eles eles pela primeira vez na vida. Ela concordou de imediato em se mudar para sua casa, queria muito compensar o tempo perdido e descobrir como era estar na companhia de seu pai de sangue todos os dias. Vendo a tristeza presente no rosto de Luísa a forma qual ela pedia que respeitasse o acordo que eles tinham feito e não lhe tirasse a menina, Pendleton não pôde evitar e estendeu o convite a ela também. Não confiava na moça o suficiente para deixar que tivesse a guarda de Poliana outra vez, sendo que mesmo depois de se acertarem ela havia tentado fugir com sua filha, mas também não queria e nem iria quebrar o forte laço que existia entre as duas. Poliana não tinha mais uma mãe, mas tinha Luísa a quem ela amava como tal.
No entanto, não esperava que ela fosse levar a sério a nova proposta. Pensou que entraria na justiça e brigaria para ter a sobrinha de volta, mas não, ao invés disso ela apareceu na porta de sua casa com mala e tudo, decidida a estar onde quer que Poliana estivesse. Ele ficara surpreso, estupefato diante da ideia de verdadeiramente tê-la morando sob o mesmo teto que ele, embora o convite tivesse partido de sua parte. Tratou de indicar o quarto de hóspedes que ficava em frente ao seu, pois era o único, além dos quartos que havia preparado para Ester e Poliana que ele não tinha transformado em laboratório ou armazém de peças para suas criações. Estava incerto, meio nervoso, meio hesitante. Podia lidar com sua adorada menina-robô, mas seria capaz de lidar com o restante?
O sorriso de Poliana era a luz de seus dias desde a primeira vez em que a vira, ainda sem saber que era sua filha e, a presença constante dela naquela casa trouxe um aconchego para seu coração que há muito ele não sentia. Era como se os pedaços quebrados estivessem vagarosamente se juntando uns aos outros e todas as vezes em que ele a ouvia se corrigir em meio à um alegre "Sr. Pendleton" para simplesmente "pai", sentia como se tudo estivesse bem no mundo de novo. Não ia mentir é claro, era difícil também quando escutava essa palavra e em sua mente ecoava a lembrança da voz de Estela chamando-o da mesma forma, entretanto isso era algo que ele estava tentado superar. Muitas vezes fingia não ver a irritação de Luísa com a tão fácil aceitação da menina, outras vezes simplesmente lhe lançava um sorriso inquisitivo que a fazia baixar o olhar e mergulhar em seus próprios pensamentos.
Havia algo de errado com ela, isso ele sabia desde o dia em que as encontrou prestes a fugir, isso porque a Luísa que ele conhecia era um pouco mais racional do que isso. Alguma coisa a levara a tomar essa decisão e ele se perguntava se isso tinha somente a ver com Poliana ou se havia algo a mais. Ela andava quieta e irritadiça, o que acabava por irritá-lo também, pois sempre que trocavam mais do que duas palavras acabavam presos numa conversa rude e insustentável, daí todo o estresse que estava sentindo. Queria passar mais tempo em casa, conversar mais com sua filha, mas Luísa não parecia disposta a deixá-los sozinhos e, nas poucas vezes em que saiu para ir à padaria ver o irmão, ele também acabou tendo que ir resolver assuntos pessoais na O11O, já que a maldita Nadine estava tentando derrubá-lo.
Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e, para alguém que tentava ao máximo ser frio e calculista, Pendleton estava tendo sérias dificuldades em lidar com os próprios sentimentos. Não que algum dia ele fosse admitir isso para alguém, mas não se podia mudar os fatos. Foi em plena uma quarta-feira acerca da hora do almoço que ele saiu do laboratório onde havia trabalhado a manhã toda e encontrou Luísa na sala de estar se preparando para sair com um pedaço de pano laranja nas mãos.
- Aonde você vai? - não foi ele quem perguntou, mas Ester que estava sentada num canto afinando seu violino.
Luísa levantou a cabeça como se só então se desse conta da presença dela ali.
- Vou trabalhar na padaria do meu irmão, acho que você se lembra onde fica, esteve lá com João e Poliana uma vez, - respondeu ela, muito cordialmente, forçando um sorriso a aparecer em seus lábios.
- Ah, - Ester murmurou.
Virando-se para sair, Luísa deu de cara com ele, parado no corredor. Por um instante ela não se moveu, olhou fixamente em seus olhos e Pendleton pôde notar um certo desespero em sua expressão. A forma como os lábios dela se apertavam e o maxilar se retraia mostrava um desconforto ao qual embora ele já estivesse acostumado, não desejava ver com tanta frequência.
- Você precisa matricular ela em uma escola, - foi tudo o que Luísa aparentemente conseguiu pensar em dizer, apontando com o queixo para onde estar Ester. - Não é bom uma criança da idade dela ficar trancada em casa o dia inteiro. Tenho certeza que se você conversar com a Ruth ela pode conseguir uma vaga, mesmo que o ano letivo já tenha começado.
Pendleton cruzou os braços.
- Veja bem, esse não é exatamente o problema. Eu não sei se quero que Ester estude na Ruth Goulart, acho que talvez ela possa se sentir meio deslocada lá.
- Uma menina que toca vários instrumentos com tanta perfeição? - Luísa meio que riu. - Eu duvido! Mas ela é sua afilhada, não minha, então acho que essa decisão não cabe a mim.
Mais uma resposta rude, como em todos os outros dias em que ele tentou dizer qualquer coisa para ela, até mesmo um simples "bom dia". Talvez ele pudesse superar logo isso, se não fosse o fato de que cada vez em que olhava para ela, vislumbrava-a em seus braços e se recordava da maneira como ela se havia entregado a ele sem nenhuma restrição mesmo ainda tendo um compromisso com Marcelo. Ele prometeu que ia esquecer, claro, mas sabia que embora não falasse sobre isso, era impossível apagar suas memórias. Pendleton disse a si mesmo para deixar aquilo de lado, porém quando Luísa fez menção de sair novamente ele não poder evitar lhe agarrar o braço e bloquear seu caminho.
- O que é isso, Pendleton? - Luísa arfou. - Me solta.
Ele balançou a cabeça.
- Volte a trabalhar na O11O, - sugeriu em um tom calmo, diminuindo seu aperto e segurando-a com delicadeza. - Eu sei que você odeia ter que fazer esses bicos na padaria e que o Durval provavelmente não paga muito, então por favor, por uma vez na sua vida, deixe de ser orgulhosa e volte a trabalhar comigo.
Houve silêncio. Luísa o encarava como se achasse que ele tivesse enlouquecido, mas não tinha sequer se movido para desvencilhar-se dele.
- Não posso.
- Por que não?
- Eu... - ela engoliu em seco. - Eu não vou me envolver em outra dívida com você.
Pendleton abriu a boca para responder, mas então pegou com o canto dos olhos a visão de Ester parando bem atrás deles e voltou sua atenção para ela, já sabendo que a menina queria alguma coisa.
- Tio Otto, posso ir à padaria com a tia Luísa?
Tia, Ester tinha pego o hábito de chamar Luísa assim por influência de Poliana, já que ela costumava imitar o comportamento das outras crianças. Ele até tinha tentado corrigí-la, mas sua filha acabou insistindo que a tia não se importaria e desde então Ester estava espalhando por aí que agora morava com o tio Otto, a tia Luísa e sua quase-irmã Poliana. Quem quer que ouvisse isso, pensaria que era uma piada de mal gosto, até mesmo o próprio Pendleton, caso não estivesse ele mesmo vivendo os fatos.
- Bom, - o empresário limpou a garganta. - Se Luísa não se importar, acho que pode sim.
- Por mim tudo bem, - concordou a moça, finalmente puxando o braço para longe dele e pegando a mão de Ester com firmeza. - Tenha uma boa tarde, Pendleton.
E assim elas se foram. Luísa de faces coradas e cenho franzido, desejando mais do que tudo poder engolir seu maldito orgulho e ser franca com ele, mas ainda era cedo demais para isso. Então Otto deu meia volta, retornando ao laboratório e sabendo que teria uma tarde bem quieta.
Pelo menos, até Poliana chegar da escola.

2. Estúdio
Era estranho como ficar em silêncio dentro de carros parecia ter se tornado uma espécie de rotina para Pendleton e Luísa. Tinham acabado de deixar as meninas na porta da Ruth Goulart, porque de alguma forma, ele havia se deixado convencer que talvez Ester se desse bem na escola. Era o primeiro dia de aula dela e Poliana havia insistido que os dois tinham que levá-las juntos até lá e então terminaram os quatro enfiados em seu carro, ele é Luísa meio quietos, meio desconfortáveis enquanto, no banco de trás, Poliana falava sem parar e Ester fazia as perguntas mais retóricas possíveis. Acabaram por deixá-las lá, muito feliz, ganharam beijos e abraços e acenaram enquanto as crianças desapareciam portão adentro, mas foi aí que ficaram sozinhos e a tensão se instalou no ambiente novamente.
Dirigiram de volta para casa sem dizer sequer uma palavra e, assim que ele estacionou, Luísa saiu do carro rapidamente, caminhando à passos duros até a entrada da mansão. Com um suspiro pesado, ele a seguiu. Pelo jeito, ela não iria trabalhar na padaria naquele dia, ou então teria pedido que ele a deixasse lá antes de voltar e, Pendleton tinha aprendido que, quanto mais tempo ocioso Luísa tinha, mais irritada ela ficava. Foi por essa razão que, ao vê-la cruzar o corredor em direção ao quarto ele decidiu que já estava na hora de mostrar a carta que estava guardando na manga há alguns dias.
- Luísa, - chamou ele, fazendo com que ela se virasse para trás com uma única sobrancelha erguida. - Você pode me acompanhar? Quero te mostrar uma coisa.
- Se for sobre aquele seu novo projeto para a O11O, então não precisa nem se dar ao trabalho. As meninas já tagarelaram o suficiente sobre isso na minha cabeça ontem.
Com um bufar, Pendleton revirou os olhos. Ela era impossível. Lembrava-se de seu casamento com Alice e sobre os dias em que o bom-humor exagerado dela o incomodava e chegou a conclusão que isso não passava nem perto do quanto o orgulho de Luísa o estressada. Era estranho pois ele tinha sentimentos muito fortes com relação às duas irmãs D'Ávila e, elas pareciam enlouquecê-lo de maneira semelhante.
- Não é sobre isso, - Otto garantiu. - Você vai me acompanhar, ou não?
Luísa olhou para baixo, depois para os lados e, parecendo se perceber meio que sem saída ela assentiu.
- Seja breve, eu tenho trabalho para fazer.
Claro, a mente dele ecoou, pensando que, agora que a família dela estava falida, se Luísa não fosse servir mesas, obviamente não tinha mais com o quê trabalhar e, portanto estava mentindo descaradamente. Não que ele a culpasse. De forma alguma. Afinal, ele mesmo já havia mentido dessa forma em diversas ocasiões. Tratou de levá-la para o lado oposto da casa, onde ficava o laboratório, alguns de seus estoques e uma pequena saleta que dava para o jardim dos fundos. Aquele nunca havia sido seu lugar favorito na casa, era muito claro e oferecia distrações muito fáceis, já que possuía portas duplas de vidro que deixavam transparecer o jardim que só estava vivo até então por conta dos cuidados de SARA.
Pendleton girou a maçaneta e deixou a porta se abrir, indicando que Luísa entrasse na sua frente, o que ela fez com alguma hesitação. Parou depois de alguns passos, arfando em surpresa e fazendo com que um sorriso torto cruzasse os lábios dele enquanto ele e seguia sala adentro. O lugar havia sido recentemente reformado, as paredes eram brancas como o resto da casa, mas a mobília velha tinha sido substituída por enormes cavaletes de pintura com banquinhos altos e confortáveis e, no canto esquerdo perto da entrada havia uma mesa computadorizada para desenho digital. Próximo às portas que davam para o jardim se dispunha uma prateleira que ia até o teto, cheia de pincéis e vidros de tinta das mais diferenciadas cores, isso sem contar com o estojo profissional de lápis de colorir e giz pastel. Havia demorado um pouco para encontrar tudo o que precisava, mas agora Pendleton via que havia valido a pena.
- O que significa isso? - Luísa perguntou num múrmurio.
- É para você. Sei que não se sente em casa aqui e que está infeliz por não trabalhar então pensei que você pudesse usar esse espaço para fazer o que faz de melhor, - explicou Otto. - Invista em si mesma, Luísa. Faça o que você deveria ter feito há muito tempo e se deixe levar pelo seu dom.
Ela o olhava boquiaberta, um encanto nos olhos que traziam o brilho da vida de volta à seu rosto. Deixou que a ponta de seus dedos corresse pela tela que estava presa à um dos cavaletes e repentinamente sorriu.
- Não sei o que dizer.
- Então não diga nada, - ele deu de ombros, observando-a solenemente. - Só aceite o presente e o conselho. Prometo que nada do que eu fizer daqui por diante será cobrado no futuro.
Engolindo em seco ela se virou para ele e, como se por passe de mágica, estava envolta em seus braços, segurando firmemente em seus cotovelos e olhando-o nos olhos com aquela sensação de falta de ar outra vez. Mas não era uma sensação ruim, era só o desejo perigoso que existia entre os dois e que os fazia andar numa corda bamba o tempo todo.
- Obrigada, Otto.
Sorrindo, ele baixou um pouco a cabeça. Iria beijá-la, precisava beijá-la. Forçou o nariz no dela e sentiu seu hálito de café e menta, mas foi parado pela intrusa onda de ar trazia ao estúdio que fizera somente para Luísa D'Ávila, por ninguém mais, ninguém menos do que SARA.
- Senhor Pendleton, fui fazer o escaneamento do lixo hoje cedo e encontrei algo que pode ser do seu interesse. Talvez tenha jogado fora sem querer, - disse a robô.
Meio irritado, Otto levantou o olhar para ela, ainda segurando Luísa perto o suficiente para sentir o calor de seu corpo.
- E o que é SARA?
- Alguns papéis, senhor, - informou ela. - Vamos ver, está escrito Beta HCG positivo.
Por um momento nada fez sentido. Ele ouviu Luísa ofegar e sentiu quando ela seu um passo para trás, mas permaneceu imóvel por um segundo mais.
- Você está grávida? - perguntou ele, seu tom subitamente rude.
- Pendleton...
- O quê? Estava esperando seu namorado voltar do exterior para espalhar a notícia?
O queixo dela tremia e as mãos apertavam uma a outra nervosamente. Havia muitas coisas passando pela cabeça de Otto, entre elas o fato de que nunca deveria ter convidado Luísa para morar com ele e muito menos ter lhe preparado uma surpresa tão boba, mas quando ela lhe agarrou o braço, fazendo-o olhar para ela novamente sua trilha de pensamento se rompeu.
- Esse filho não é do Marcelo.
- Ah não? Então de quem é? Do Afonso?
- Não, - Luísa disse firmemente. - O bebê que eu estou esperando é seu.
Houve então mais silêncio enquanto ele tentava processar as palavras ditas por ela. Seria pai. Céus, seria pai outra vez e de um filho de Luísa D'Ávila. Não conseguia aceitar, tinha que achar um modo daquilo ser uma espécie de mentira ou brincadeira de mal gosto, mas ainda assim lembrava-se dos momentos roubados que passaram juntos durante as férias e, sabia que em nenhuma das vezes em que fizeram amor ele havia se lembrado de usar um maldito preservativo.
- O que você vai fazer? - questionou Otto.
- Como assim o que eu vou fazer? - Luísa rebateu com um olhar confuso, as voz embargada.
- Vai ter esse filho?
Ela piscou, descrente. Algumas lágrimas lhe escaparam os olhos e Pendleton sentiu sua garganta se fechar diante do desespero e da tristeza dela.
- Mas é claro que eu vou! Se você pensa que eu seria capaz de... - ela engasgou num choro. - Você realmente não me conhece, Pendleton.
Balançando a cabeça, Luísa partiu em direção à porta, mas parou diante da soleira, olhando por cima do ombro.
- Vê se deixa essa bola voadora bem longe de mim, - avisou a moça. - Eu não quero ela fuçando as minhas coisas, entendeu?
Pendleton não teve tempo de responder, ela desapareceu no corredor deixando-o sozinho no estúdio. Ele se deixou cair em uma das banquetas e suspirou, esfregando o rosto com uma das mãos, esperando de certa forma, que tudo aquilo fosse um sonho, mas não era.
- Sara, - começou ele. - Vá atrás da Srta. D'Ávila e se certifique de que ela se acalme e tenha tudo o que precisa, mas seja discreta.
- Sim, senhor.
A robô desapareceu e Pendleton ficou um longo tempo ali sozinho, somente pensando no que o fato de que Luísa teria um filho seu poderia significar.

3. Família
Durante um longo tempo, ele não consegue falar. Não eram muitas as coisas que podiam tirar as palavras de César Pendleton, entretanto, na situação em que se encontrava tudo o que ele conseguia fazer era pensar. Isso talvez não fosse lá um grande problema, não fosse o fato de que esses pensamentos eram obsessivamente negativos e o estavam matando por dentro.
No dia anterior quando Poliana e Ester chegaram em casa, ele mal conseguiu ouvir suas histórias sobre a escola, acabou se desculpando e dizendo que tinha uma dor de cabeça para que pudesse ir para o quarto e ficar um pouco sozinho. Luísa tampouco apareceu para jantar e nem mesmo para tomar café da manhã, o que fez com que ele tivesse que mandar Poliana com uma bandeija de comida até o quarto dela, preocupado pelo longo tempo que ela tinha ficado sem comer. Sentou-se então no sofá com o tablet na mão, dando uma olhada nas notícias escandalosas que ainda se espalhavam acerca do mau funcionamento dos aparelhos da O11O e silenciosamente agradecendo a si mesmo por ter sido esperto o suficiente para investir seu dinheiro em outros negócios além da empresa.
- Você está triste? - perguntou Ester, parando ao lado dele, vestindo seu uniforme escolar, o cabelo preso pela metade em dois coques no topo da cabeça.
- Não, Ester, eu só estou preocupado.
- Com a tia Luísa?
Para um android, ela era um tanto quanto perspicaz.
- Também, - admitiu ele.
Um pequeno sorriso tomou os lábios da menina.
- Você está apaixonado por ela?
- Apaixonado? Ester! É claro que não, - respondeu Pendleton de imediato, sentindo suas faces queimarem um pouco, deixando-o meio sem jeito. - Você não tem que ir para a escola?
- Tenho.
Por sorte foi bem nesse instante que Poliana apareceu, exibindo um sorriso de orelha a orelha enquanto pegava sus mochila.
- Como está a sua tia? - perguntou ele.
- Brava, - disse a filha. - Não faço ideia do que poder ter chateado ela agora, mas ela não está de muitos amigos não. De qualquer forma, eu e a Ester precisamos ir ou vamos nos atrasar, além disso eu combinei de encontrar com o João e ele já deve estar esperando.
Poliana tinha o dom de falar mais rápido do que respirava. Às vezes Pendleton se perguntava se Estela teria sido tão vivaz quanto ela, ou se poderia ser mais reservada como a android que ele criara em sua homenagem. Gostaria que fosse alegre, disso ele tinha certeza, afinal, se tinha uma coisa a qual ele sempre desejou que suas filhas herdassem de Alice era o positivismo dela ao invés da quietude reservada dele. Isso com certeza as faria melhores pessoas.
- Tudo bem então, tenham um ótimo dia. E venham direto para casa depois da escola, não quero saber de ninguém enfiado em clubinho nenhum.
Poliana assentiu e se inclinou para abraçá-lo e depositar um beijo em sua bochecha.
- Pode deixar, tchau senhor Pen... Pai.
Um riso subiu pela garganta dele, pois o esforço de Poliana para se adaptar a sua nova vida o encantava. Ela era uma menina encantadora em si e ele a havia amado como sua desde a primeira vista, mesmo antes de saber que se sentia assim e mesmo antes de saber que ela era mesmo sua carne e sangue. Se sentia orgulhoso se ser pai de uma menina como ela e parte de si, se martirizava a cada dia por não tê-la criado desde o dia em que veio ao mundo.
Ele assistiu as duas crianças deixarem a casa e mirou Bob que estava deitado no chão à seus pés abanando o rabo numa provável expectativa de que alguma das meninas fosse voltar e brincar com ele, mas não iriam. Pelo menos, não tão cedo. Pendleton então se estendeu para acariciar a cabeça do cachorro, coçando entre suas orelhas e ganhando um pouco de tempo para pensar, pois não queria ser imprudente e impulsivo. Sempre havia sido um homem analítico e quando se tratava de Luísa, sabia que tinha de ser duplamente mais cuidadoso com tudo o que fazia.
Estava preocupado, estava aflito e, acima de tudo, estava assustado, o que era algo raro. Sabia que tinha que lidar com as consequências de seus próprios atos, mas tinha tantas vezes perdido aqueles que amava que sentia certa restrição dentro de si quando qualquer tipo de felicidade tentava se instalar em seu coração. Ele se levantou, caminhou lentamente corredor abaixo e parou diante da porta do quarto que havia designado à irmã de sua ex-mulher. À mãe de seu filho. À mulher que secretamente amava.
Bateu de leve e empurrou a maçaneta, tendo sua primeira visão de Luísa deitada na cama debaixo dos cobertores, encolhida, de costas para ele. Ouviu um fungar e soube que ela estava chorando.
- Luísa, podemos conversar?
A bandeija de café da manhã que Poliana havia trazido ainda estava intocada no criado mudo e havia uma pilha de roupas sujas jogadas no chão, as mesma que a moça estava usando no dia anterior.
- O que você quer, Pendleton? - Ela perguntou em uma voz fraca. - Veio fazer mais alguma sugestão cruel ou dessa vez você quer me dizer que vai pedir a guarda desse filho como fez com Poliana?
Luísa não o encarava, nem sequer tinha se movido, mas as palavras dela foram o suficiente para fazer seu coração se esmagar no peito.
- Não, é claro que não, - Otto defendeu-se. - Sejamos honestos, Luísa, você sabe que a minha reação foi legítima... Eu não esperava nada disso.
Dessa vez, ela se sentou na cama olhando diretamente para ele com os olhos verdes brilhando cheios de lágrimas.
- E você acha que eu esperava? Meu Deus, Pendleton, eu traí o meu noivo com você, eu perdi minha casa, minha sobrinha e agora isso! Eu nem sequer tenho dinheiro para cuidar de mim mesma, até meu plano de saúde foi cancelado!
A voz dela beirava a histeria e Pendleton se sentiu muito culpado. Ele deu alguns passos em sua direção, sentando-se na beirada da cama.
- Você não precisa se preocupar com nada disso, Luísa. Eu jamais deixaria que falassem cuidados para você, mesmo se não estivesse carregando um filho meu no ventre.
- Eu não...
- Nem ouse dizer que não quer minha ajuda, - disse ele, firmemente. - Você e eu não somos adolescentes. Eu fiz esse filho em você e eu vou assumir a responsabilidade.
Outro fungar se seguiu e Luísa tentou enxugar o rosto da melhor forma possível. Seu cabelo estava bagunçado, o rosto inchado. Ela estava usando somente as roupas debaixo, mas ele tentou não prestar atenção nisso e agradeceu o fato de ela estar se enrolando nos cobertores, pois assim só podia ver parte de seu sutiã preto.
- É isso mesmo o que você quer? Porque do jeito que falou ontem, eu pensei que talvez eu e essa criança fossemos só mais um fardo na sua vida.
- Desculpe, - Pendleton murmurou. - Não é isso. Eu me lembro de Estela e não consigo ser positivo. Alice e eu ficamos muito felizes com a gravidez, mas então descobrimos a doença dela e o mundo ficou mais cinzento, como um céu sem estrelas.
Os lábios de Luísa se contrairam e ela estendeu a mão para tocar o rosto dele, fazendo com que seus olhos se fechassem com o contato. Era algo bom. Havia muito tempo, Pendleton não se permitia carinhos e somente Luísa havia conseguido atravessar seus muros como estava fazendo agora.
- Eu sinto muito, Otto. Acho que nunca disse o quanto eu sinto, - ela sussurrou. - Estela passou pela sua vida por um motivo, para te mostrar o que havia de melhor em você. Ela se foi, mas agora você tem Poliana e vai ter esse bebê também. Você será pai de novo e vai se lembrar da razão pela qual Estela nunca perderá seu brilho.
Ela pegou sua mão, trazendo-a para seu ventre quando derrubou o cobertor. O toque o pegou de surpresa, a pele dela estava quente e ele percebeu uma leve protuberância na barriga que antes costumava ser lisa. Era estranho e surpreendente ao mesmo tempo, não imaginava que a gravidez já pudesse estar evidente, mas fazendo as contas, ele notou que ela já estava mais avançada do que ele sequer tinha se deixado imaginar. Não havia dúvidas então que o filho era seu.
- Luísa...
- Você me disse para investir em mim mesma, Otto. Agora eu te digo para investir em si e na sua própria felicidade.
A respiração dele ficou presa na garganta, pensou em as oportunidades que tinha perdido por se fechar tanto em seu próprio mundo, pensou nos anos que nunca teria de volta ao lado de Poliana e, sobretudo pensou em como arruinou o amor que tinha com Alice. Então, sem pensar, ele envolveu Luísa D'Ávila em seus braços e a beijou.
Naquela manhã, eles fizeram amor duas vezes, tomaram café na cama e falaram sobre o futuro.
E Pendleton nunca antes se sentiu tão completo.

4. Jantar
Poliana estava inquieta. Ela já suspeitava que alguma coisa estava acontecendo há alguns dias, afinal nunca havia visto sua tia tão feliz ao ponto de ser educada com Otto e até mesmo sorrir para ele. A menina havia comentado isso com Ester e João, mas nenhum dos dois pareceu dar muita atenção ao assunto, então quando Pendleton anunciou que teriam um jantar em família para contar algumas novidades ela ficou ainda mais enérgica e curiosa. Era engraçado ver a animação dela, principalmente quando saiu do quarto depois de ter tomado um banho e trocado o uniforme da escola por jeans e uma camiseta e encontrou todos já sentados a mesa com um grande banquete servido.
Pendleton assistiu a menina se sentar com um sorriso no rosto, estava segurando a mão de Luísa por debaixo da mesa. Seu coração batia acelerado, tinha medo de proferir as palavras e de repente perceber que tudo aquilo não passava de um sonho ou algo do tipo, pois seus momentos de alegria nunca duravam muito tempo. Ele tinha pensado em tudo com muito cuidado, exatamente como fizera quando se revelara como Otto Monteiro, só que dessa vez ele estava nervoso e apreensivo, pois uma família significava muito mais para ele do que seu cargo na O11O.
- Ah, como tudo está bonito, - disse Poliana, maravilhada. - Essa é alguma ocasião especial?
- É sim, Poliana, - concordou Luísa. - Seu pai e eu temos uma coisa muito importante para contar.
Os olhos da menina se arregalaram e ela olhou de um para o outro, enquanto Ester, que estava na cadeira a seu lado, permanecia em silêncio.
- A senhora não vai embora, não é tia?
Luísa riu e trocou um breve olhar com Pendleton. Aquela cumplicidade silenciosa dos dois fazia com que uma deliciosa sensação gelada se instalasse na boca do estômago dele. Antes, ele não fazia ideia do quanto queria o que tinham agora.
- Não, minha querida, é outra coisa.
- Então o que é? - rebateu a menina. - Meu Deus, gente, contem logo porque eu já estou ficando uma pilha de nervos!
Estendendo a mão por sobre a mesa, Pendleton tocou-lhe o rosto afetuosamente.
- Poliana, sua tia e eu gostaríamos de anunciar que estamos juntos.
O queixo dela caiu. Ester sorriu, solene.
- Eu sabia, - disse a androide. - E isso quer dizer que você mentiu para mim, tio Otto.
- Como assim você sabia? - perguntou Poliana.
- Ah, eu reparei no jeito que ele olhava para ela, - respondeu Ester em um dar de ombros. - Quando duas pessoas se sentem atraidas uma pela outra, elas tendem a manter contato visual por mais tempo e elas se tocam de uma forma diferente. Além disso, algumas vezes o amor pode se misturar com o ódio e deixar os sentimentos confusos, como acontecia com eles.
Poliana fez uma careta e Pendleton riu. Ester tinha muito o que aprender quando se tratava de comunicação, pois na maior parte das vezes ela usava longas descrições da internet que podiam surpreender um pouco as pessoas.
- Mas... - Poliana trilhou ainda meio confusa, logo antes de chacoalhar a cabeça e colocar um sorriso gigante no rosto. - Ah, quer saber? Eu estou muito feliz por vocês! Lembram que eu sempre achei que vocês foram feitos um para o outro?
- Com certeza lembramos, Poliana, - Luísa riu. - Agora, tem mais uma coisinha que gostaríamos de contar.
- Tem? - questionou ela. - Não me diga que vocês vão se casar?
- Ainda não, - foi Pendleton quem respondeu. - Mas você vai ser irmã mais velha. Sua tia está esperando um bebê.
A menina emitiu um grito alto, levantando-se da cadeira e correndo até o outro lado da mesa para envolver o pai e a tia num abraço apertado. Ela beijou o rosto dos dois repetitivamente, sua agitação e felicidade parecendo emanar por toda a casa.
- Eu não acredito! Quer dizer, acredito sim! Eu sempre quis ter um irmão.
- Parabéns, - disse Ester quando Poliana parou para pegar um fôlego. - Vai ser interessante ter um bebê por perto.
- Vai mesmo, mas vocês duas vão ter que me ajudar porque eu não sei nada sobre como cuidar de bebês, - respondeu Luísa, acariciando os cabelos da sobrinha.
- Pode deixar, tia! Ah, eu tenho que mandar uma mensagem para contar pro João.
No minuto seguinte ela tinha desaparecido no corredor. O jantar esfriava, esquecido na mesa, mas ninguém estava se importando muito com isso. Ainda havia muito que ser acertado, muitas conversas que tinham de acontecer, no entanto na felicidade do momento tudo parecia certo. Luísa olhou para Pendleton sorrindo e se inclinou para beijar os lábios dele.
- Eu disse que ela ia ficar feliz, - Otto murmurou puxando-a para mais perto.
A boca dela se abriu em meio à um segundo beijo e suas línguas se encontraram, entrelaçando-se enquanto os dois trocavam as carícias mais sinceras.

- Vocês sentem a necessidade de se beijar porque estão muito felizes ou estão felizes porque estão se beijando? - questionou Ester subitamente.
Pendleton e Luísa se separaram num pulo, ambos olhando para ela e só então se lembrando de sua presença na sala.
- Ester, o que você ainda está fazendo aqui?
- Você quer que eu saia para vocês poderem continuar se beijando sem se sentirem encabulados?
- Exatamente, - concordou Pendleton, sentindo as bochechas meio quentes.
Era ridículo ter vergonha de um robô, mas ele criara Ester para ser muito mais do que isso e, de toda forma, ela parecia muito uma criança comum, mesmo com todo aquele papo estranho.
- Tudo bem então.
- Não, - interferiu Luísa. - Você ainda nem comeu.
- Eu não estou com fome, - disse Ester. - Vou para o meu quarto.
Otto ainda tinha os dedos emaranhados no cabelo de Luísa, que um tanto risonha, um tanto sem jeito, deslizou para o seu colo, beijando-lhe as têmporas. Ele a puxou para si, a mão livre enlaçando-se em sua cintura e parando sobre aquela protuberanciazinha em seu ventre que ele tinha aprendido a amar tão rapidamente.
- Sabe, Otto, eu poderia ter noites assim pelo resto da minha vida... Talvez devessemos ter feito isso antes.
Um sorriso torto tomou os lábios dele enquanto Pendleton mordiscava o lóbulo de sua orelha.
- Tudo ao seu devido tempo. É melhor assim.
Ela assentiu, satisfeita.
A primeira etapa da revelação de seu segredo tinha saído muito bem, mas eles ainda tinham algumas outras para enfrentar.

5. Chegando com estilo.

O casamento de Durval e Cláudia aconteceu cerca de um mês e meio depois que Pendleton e Luísa contaram à Poliana que estavam juntos. É claro que os rumores sobre os dois já haviam se espalhado à essa altura, mas muito poucos sabiam da verdade. Havia a foto que Débora tirara deles no dia em que Otto foi devolver o cachorro para ela na casa de Marcelo, isso só por si já tinha causado um rebuliço enorme e então vieram as notícias de que Poliana era sua filha e que eles estavam todos morando na mesma casa. Nenhum deles confirmou boato algum, embora sorrissem de canto sempre que alguém mencionava o assunto.
João e Marcelo sabiam da verdade, porque Poliana havia contado ao amigo e porque Luísa tinha se explicado ao ex-noivo no dia em que terminaram, mas eles eram os únicos. Luísa não quis tirar o brilho do casamento do irmão com uma briga entre eles - essa que com certeza se seguiria à descoberta de Durval sobre a gravidez - mas estava ficando cada vez mais difícil de esconder seu pequeno segredo. As roupas largas ajudavam um pouco e também o fato de que ela estava trabalhando de casa, pintando alguns quadros com intenção de vendê-los em uma futura exposição, entretanto quando foi comprar seu vestido para o casamento Luísa soube que não tinha mais saída.
Naquela noite, Otto todo de preto, ela em um belo modelo azul que lhe ia até as canelas e as meninas combinando vestidos de florista, desceram do carro em frente à padaria. Estava uma noite linda, uma brisa agradável soprava, as paredes do estabelecimento estavam cobertas por lírios brancos e fios de luz pisca-pisca, o que trazia uma serenidade para o lugar, nunca antes vista.
- Está pronta? - perguntou Pendleton.
- Mais do que nunca.
Ele lhe deu um breve beijo nos lábios e lhe ofereceu o braço para que entrassem lado a lado na festa. O casal subiu os degraus que levavam à padaria, empurraram para longe as cortinas de voal que haviam sido penduradas no lugar das portas e se depararam com uma casa cheia. Pareceu então que todos voltaram os rostos para eles, mas ambos ergueram os queixos e caminharam na direção de Durval, Joana e Sérgio que tinham uma expressão de espanto no rosto.
O vestido de Luísa não era apertado, mas também não era largo o suficiente para que o inchaço de seu ventre não se fizessem percetível e ela, cansada de esconder e decidida a nunca mais na vida contar outra mentira, embalava com uma das mãos a parte baixa da barriga deixando a gravidez ainda mais evidente. Eles viram, com o canto dos olhos, Débora rindo indignada e Afonso tampando a boca em surpresa. Marcelo desviou o olhar e Lorena exclamou um "o quê" mais alto do que a música que tocava.
- Ora, Luísa que tipo de brincadeira é essa? - perguntou Durval em seu sotaque português.
Ela, no entanto se adiantou para abraçá-lo com força e depois deu um passo para trás, oferecendo-lhe um sorriso de desculpas.
- Eu estou muito feliz por você, meu irmão e espero sinceramente que você esteja feliz por mim.
Durval olhou com ódio para Pendleton mas se conteve enquanto Luísa era abraçada e parabenizada por Joana que declarava estar pronta para competir com Cláudia pelo posto de madrinha do bebê. Foi então que começou a tocar a marcha nupcial e eles tiveram todos que sair do meio da ilha improvisada na padaria, dando espaço para que Durval ficasse sozinho a admirar a beleza da noiva que acabava de fazer sua entrada triunfal.
Otto olhou para Luísa, imaginou se algum dia teria a honra de vê-la vestida de branco prestes a devorar sua vida a ele e, quando ela lhe sorriu de volta ele decidiu que não importava muito o que o futuro lhes tinha reservado. O que havia entre eles agora já era, totalmente e completamente, perfeito.


Notas Finais


Se você leu até aqui, muito obrigada.
Eu queria fazer uma perguntinha final. Sou escritora há alguns anos e tenho um livro que comecei lá por janeiro que teve muita inspiração vinda de Luotto e Poliana. Vocês leriam se eu postasse lá no Wattpad?


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