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História As Cores da Liberdade - Devia ter aceitado um amor mais fácil quando tive tempo


Escrita por: semondok

Notas do Autor


Caramba eu viajei muito nesse capítulo enquanto eu escrevia.

Apesar disso, espero que gostem!

Capítulo 14 - Devia ter aceitado um amor mais fácil quando tive tempo


Fanfic / Fanfiction As Cores da Liberdade - Devia ter aceitado um amor mais fácil quando tive tempo

JOOHYUN

O vermelho sangue do tecido contrastava minha pele alva, pano sobre pano delineava meu corpo percorrendo minhas penas não muito longas e indo de encontro com o sapato preto que me deixava quinze centímetros mais alta, não prenderia o cabelo essa noite, o deixaria com algumas leves ondulações para caíssem em uma cascata curva entre meus ombros, o pescoço ainda liso se preparava para recepção esplêndida de um colar prata escrutado de pequenos diamantes, esse foi presente de papai que herdara a bela de vovó, para combinar com peça valiosa, escolhi brincos que devido ao cabelo não apareciam muito, a não ser quando delicadamente eu colocasse uma mexa por trás da orelha e projetasse levemente meu pescoço para o lado, seria meu momento encantador e faria isso perto de um ou dois acionista que fosse mais difícil de convencer de algo.

Me olhei por mais alguns segundos no espelho, preenchendo a pálpebra esquerda com mais um pouco de brilho. Finalmente a noite chegou, o momento pelo qual trabalhei desesperadamente por todos esses dias. Ao mesmo tempo que me sentia excitada, sentia o medo pois naquela noite eu seria protagonista, e depois disso as desculpas acabariam e eu teria de enfrentar meus medos reais, aquele que não ousava nem pensar.

- Pelo menos ainda temos essa noite – Disse aplicando mais um pouco de batom em meus lábios.

A campainha toca, não esperava que Jennie fizesse algo do tipo, porque geralmente ela apenas entra e fica me esperando aflita na sala enquanto bebe uma ou duas taças de vinho. Caminho até a porta de entrada e abro com um sorriso sabendo que Jennie aparecida com um buquê de flores, é o que ela faz em toda inauguração. Mas não é Jennie quem está ali, ainda que estivesse com um buquê com grandes rosas vermelhas.

- Surpresa.

- Sehun? – Não saberia dizer qual parte do “acho melhor não nos encontrarmos por um tempo”, ele não entendeu – O que faz aqui? – Ele pareceu levemente aturdido com a pergunta mas elaborou seu sorriso galanteador e o entregou para mim de bom grado.

- É sua festa, e eu sou seu acompanhante – Sehun me chamou a atenção pelo seu porte despreocupado, não o interessava ser um grande herdeiro, ele queria curtir a vida e pensar nos problemas depois, não imaginei ser grande coisa para ele, sempre cheio de mulheres em iates. Mas aparentemente o rapaz tinha mais sentimentos do que se permitia mostrar, e por uma culpa entalada na garganta, eu não fui capaz de o mandar embora.

- Preciso ligar para Jennie e dizer que tenho uma companhia.

Agora os problemas que deixei para resolver amanhã tinha mais um nome para lista. Eu não queria lidar com Sehun de novo, não o queria em minha cama e acho que não o queria ver nunca mais, mas ainda sim entrelacei nossos braços e o deixei depositar um beijo em minha bochecha. Me sentia uma idiota por não ser firme com ele como era na área profissional da minha vida, e me sentia mais idiota ainda por o iludir por mais um par de horas.

 

SEULGI

- Você não vai de terno.

- Mamãe...

- Minha filha, você fica linda em vestidos – A cena era: minha irmã e minha mãe brigando para saber qual era a melhor roupa para eu ir até a inauguração. Olhei no relógio e já estava atrasada, me sentia ansiosa pois todas as fotografias que fiz estariam estampadas em tamanho gigante por todo o solão. Amber me explicou que os repórteres iriam falar comigo o tempo todo e perguntar sobre as modelos, as roupas e muito sobre Irene. Me perguntei se em algum momento eles se interessariam mesmo pela fotografa, ou se eu era só uma pecinha que contribui para aumentar a fama da minha chefe.

- Sooyoung, sabe como foi difícil arranjar um convite pra você? Poderia pelo menos estar pronta na hora certa? E mamãe, Joy é a minha companhia e ela já estará em um vestido, eu usarei o terno para acompanhar essa formosa dama.

- E não seria prudente ela sair mostrando essas tatuagens para o alto escalão de Seul – Joy usou a cartada das tatuagens, e por mais que mamãe quisesse discordar, ela sabia que aquele argumento era irrefutável.

- Eu disse tantas vezes para não fazer isso, as vezes não vejo diferença entre você e o filho da Oh Dan-i.

- Aquele que foi preso envolvido em tráfico de drogas? – Joy questionou em um falso tom assustado.

- Ele também tem os braços assim – Ponderou a mais velha – Primeiro são tatuagens e depois vem a drogas, eu não sou Dan-i e não vou na prisão levar kimchi pra você – A mais estava mesmo contrariada, ela acreditava profundamente nas palavras que dizia, eu, por outro lado, já era acostumada com seu jeito interiorano e apenas a abracei beijando sua bochecha.

- Não vai me visitar nem mesmo no meu aniversário? – Ela se desprendeu do abraço deixando um tapa pesado no meu ombro enquanto Joy ria da cena que ela mesmo havia criado.

- Não vou falar mais nada – Mamãe deixou o quarto irritada enquanto Joy ainda ria – Vai então parecendo um homem, pra que tanta beleza se você insiste em ficar feia? Não vai nunca nos arranjar um bom casamento.

Peguei minha roupa, que não era bem um terno completo, apenas um blazer preto com uma camiseta também preta por baixo. Ainda estava com dúvidas sobre a calça e o sapato, eu queria usar meu all star, mas Joy disse que pelo menos uma vez na vida eu deveria me parecer com gente rica. Então deixei que ela mesmo decidisse, e por fim ela optou por uma calça justa, um cinto e uma bota que eu nem sabia que tinha, ela era longa e com salto, tudo que eu mais odiava.

- Não sabia que você gostava tanto de preto – Pontuei.

- Não gosto, mas fica bom em você que já tem essa marra meio gótica, e combina com seus olhos – Jogou as peças sobre a cama, parou bem próxima do meu rosto semicerrando os olhos – Não abusa da maquiagem, sua roupa já é muito carregada, e com a graça de Deus você já é bonita – E deixou o quarto para que ela mesma pudesse terminar de se arrumar.

- Se apresse, não vou esperar por ninguém.

...

Foi ideia de Joy pedir um carro por aplicativo, eu preferia não gastar tanto dinheiro e apenas pegar um ônibus, mas ela afirmou que aquilo não combinaria com seu vestido e eu não estava afim de discutir porque já estava atrasada e ouviria algumas de Jennie insuportável Kim. Era lindo pensar na minha grana guardada e que se tudo desse certo logo estaria me mudando.

Minha irmã parecia ansiosa, ela nunca foi a festas como essa, e acredito que eu também não fui, a julgar pela movimentação dos últimos dias e a quantidade de bebida que estava na lista de encomendas, parecia que eu estava indo diretamente para uma balada da alta sociedade de Seul, não haveria a mínima possibilidade daquela festa ser agradável para mim. Primeiro que eu seria obrigada ouvir a falação de Jennie no meu ouvido, e segundo passaria a noite falando sobre roupas que eu nem ao menos entendia, e terceiro porque eu veria Bae Irene pela primeira vez desde o fatídico dia no elevador, o que me motivava era saber que depois de hoje eu provavelmente não veria minha futura ex chefe nunca mais, e poderia colocar minha cabeça no lugar com o bolso cheio de grana. O lado bom de tudo era saber que Wendy estaria lá, quem deixaria o evento mais cedo e curtir de verdade com minha amiga em algum bar.

Quando mal parou e os flashes já me cegavam, era literalmente uma cena de filme. Irene não poupou esforços para conseguir debutar as roupas da entrada de estação no Grande Museu Nacional, ou seja, havia espaço de sobra para os jornalistas e fotógrafos se espalharem por todos os cantos de fora daquele lugar. Me senti insegura de descer do carro, por mais que ninguém me conhecesse, ainda sim era uma grande pressão me locomover do carro até a entrada com todos esses flashes e gritaria.

Enquanto eu e Joy seguia pelo grande corredor de pessoas, eu reconhecia alguns rosto. Eu poderia jurar que a senhora à minha frente e vestia um vestido azul muito cafona, estava no última drama que acompanhei. Seguranças se distribuíam entre todas as extremidades.

- Não precisamos dar nosso nome para ninguém? – Estava tão entretida com meu deslumbre ao estar em um lugar tão rico, que esqueci de observar como minha irmã parecia ainda mais extasiada. Com certeza ela admirava a construção, era sempre o que chamava mais atenção, pra mim aquilo era só um grande retângulo de pedra no qual se encontrava coisas antigas, mas Joy se fascinava com tudo isso.

- Esses seguranças são pagos para decorar o rosto de cada convidado, eles não precisam de lista porque já as tem na cabeça – Eu mesmo fiquei impressionada quando Amber me contou sobre essa agencia de segurança, de certo modo eu sentia pena desses caras, além de ficarem a noite toda parado como estátuas, eles tinham que decorar a feição de um bando de rico mimado porque eles são orgulhosos o suficiente para se indispor a não dar seus nomes – É onde o egocentrismo chegou – Joy parecia pouco interessada no meu argumento meio filosófico, ela voltou a admirar aquela grande caixa que estávamos prestes a entrar.

Tudo para mim parecia um exagero, o lugar era maior do que imenso, assim que entramos eu queria correr para o bar, mas a câmera no meu pescoço me fez lembrar que eu estava ali a trabalho. Com minha irmã eu não precisava me preocupar, ela já estava se perdendo entre as fotografias e a cara de espanto.

- Seulgi, eu sinceramente não esperava que fosse algo desse nível – Ela tocou uma de minhas fotos e sorriu – Você sempre tratou do lugar com tanto desprezo.

- Não é grande coisa.

- Não é grande coisa? – Ela esteou meu braço – Estamos no Grande Museu Nacional de Seul, as pessoas a nossa volta são bilionárias ou os artistas que vemos cantando e atuando pela televisão.

- São todos insuportáveis a julgar pelos poucos que conheci.

- Isso não importa, olha em volta, todas as fotos são suas, esse evento é seu – Ela sorriu e tinha uma espécie de brilho diferente nos seus olhos, foi então que olhei para tudo aquilo como ela estava olhando.

As fotografias se dispunham por todo salão, eram enormes e caíam do teto suspensas por fios brilhantes. Elas não estavam gravadas em papel, e sim em um tipo específico de pano, ao chegar muito perto eles se tornavam quase transparente, mas de longe pareciam sólidos como uma fotografia qualquer. Me lembro bem de Irene deixando a equipe louca atrás desse tipo de material, era difícil admitir, mas tudo parecia perfeito, o bom gosto estava em cada detalhe e em cada escolha.

As cores combinavam e se contrariavam e mesmo assim faziam o perfeito sentindo, as roupas que a equipe de garçom combinavam com as bebidas do bar, não só a decoração, mas as pessoas também pareciam parte do ambiente. Irene não era iniciante, eu acompanhei o processo e a dor de cabeça de cada telefonema. Mas o resultado era ainda mais impressionante.

- Seulgi – Luna parou ao meu lado – Está atrasada, preciso que venha comigo.

- Vai ficar bem? – Joy assentiu,

- Eu cuido dela - Uma Wendy sorridente surgia da multidão, ela não usava suas roupas sociais, e parecia muito chique naquele vestido preto. Estava bonita como sempre, e risonha também. Caramba eu sentia muita falta daquela garota - Vai logo, depois a gente conversa.

- Não vá até o bar - Apontei para Joy, e Wendy sorriu travessa.

- Não tenho idade pra isso – Ela respondeu como se fosse óbvio, mas algo como idade nunca me impediu. Isso me fazia pensar como Sooyoung é uma adolescente melhor do que eu poderia ser – Okay, vamos logo com isso.

Era muitas pessoas para ser apresentada, a maioria não olhava bem nos meus olhos, aquilo não me incomodava porque eu também não fazia questão de aprofundar conversas ou dar algum cumprimento muito polido. Uma breve inclinação era o suficiente para se fazer entender a minha falta de interesse.

Um era acionista da RBB, outro era debutado, esse eu conhecia de nome e propagandas na televisão. Meu pai sempre enfatizou como políticos não prestam, então eu cresci um pouco adversa nesse mundo de politicagens, segundo ele nada vai melhor a menos que nos trabalhemos para isso. Hoje eu sei que apenas meu esforço não vai mudar nada nessa grande roda capitalista, mas me fez compreender o que meu pai queria dizer sobre nenhum desses homens prestarem.

- Graças a Deus, Irene chegou.

Nada do que a mulher fazia era pequeno, e por isso as luzes se voltaram para a ponta da escada onde Irene se destacava em um vestido de um vermelho tão vivo que tomava a atenção do salão mesmo que não tivesse todas aquelas luzes, e me chamando ainda mais atenção, a mulher que o vestia tinha um sorriso nos lábios que não me faziam pensar em outra coisa senão o sabor que eles tinham enquanto estavam colados nos meus.

Parecia piada a beleza dessa mulher, a forma como seu corpo era delineado. Era como se Afrodite tivesse vindo na Terra e se reencarnado em forma humana, não havia no mundo algo tão belo como era Bae Irene. Impulsionei a câmera, era mais do que trabalho, era a necessidade de guardar o estrago que ela fazia a cada passo que dava para mais perto. Seria uma foto perfeita se ao lado não tivesse...

- Sehun? O que esse cara tá fazendo aqui?

Jennie completou meus pensamentos, ela estava parada ao meu lado olhando a estrada de Irene, e pelo que entendi as duas viriam juntas. Parece que alguém foi trocada pelo engomadinho, ela estava visivelmente contrariada e isso me deixou um pouco mais contente, mesmo eu tendo perdido a chance da foto perfeita. Não sei se gostava um pouco mais de Jennie por odiar Sehun ou se deixava de odiar o pouco o rapaz só por ele deixar Jennie tão chateada.

- Os dois forma um lindo casal, espero que não demore para anunciarem o compromisso.

- Deus me livre, mamãe, não quero ele de cunhado.

Percebi que a família de Irene estava bem próxima, troquei um par de olhares com a mãe da minha chefe, e ela parecia cem vezes mais afiada do que a filha, ela me olhava desinteressada, diferente da forma que olhava o cara meia boca que acompanhava a filha. Talvez fosse porque eu não era da alta sociedade? Ou minha roupa não parecia adequada o suficiente para prender sua atenção. Seu marido parecia mais tranquilo e sorria erguendo uma taça em direção a filha, notei alguns flashes nesse casal, o que queria dizer que provavelmente eles também eram conhecidos nesse meio. Bae Yerim parecia contrariada ao lado dos dois, estava totalmente indiferente com os cutucões que a mãe lhe dava e sempre que desviava o olha era pra encarar o bar que estava logo ao lado, eu definitivamente gostava dessa menina.

- Mamãe – Me dei conta que Irene estava muito próxima, sua beleza era ainda mais perceptível assim como uma tremedeira insistente dentro de mim. Eu não a via por dias, mas ela era exatamente como da última vez, parecia que meu hobby preferido era tentar decorar cada centímetro do seu rosto, o som da sua risada, a entonação da sua voz que se eleva levemente quando ela se irrita e vira um sussurro quando está envergonhada, mas que na maior parte do tempo e calma e polida, com uma dicção invejável. Eu sabia de cor todos esses detalhes, pois na sua ausência eu me agarrei a eles. Me sentia uma idiota por isso, não é como se servisse pra alguma coisa, mas ainda sim eu o fazia – Yoona ainda bem que veio.

Ela abraçou uma meia dúzia de pessoas que eu nem notei que estavam próximas, todas pareciam da família, e eu continuava parada ali estática, primeiro porque eu não sabia para onde ir e segundo porque Jennie me mandou tirar fotos sempre que possível. Não entendi em qual momento eu virei fotógrafa de festa, mas era uma boa desculpa para continuar perto da minha chefe.

- Seulgi – Sua voz era baixa e quase doce, ela me olhava com um pequeno sorriso polido, não demonstrava nenhum desconforto e nenhuma alegria, é como se o dia do elevador nunca tivesse existido. Enquanto eu pensei naquele beijo todos os dias infalivelmente. Me aproximei devagar até parar ao seu lado, hoje nosso tamanho estava igual pois ela calçava longos saltos e os meus não eram altos o suficiente. Ela passou um braço sobre minhas costas e repousou sua mão em meu ombro de modo que ficamos coladas. Eu sentia toda claustrofobia em respirar Irene. Queria correr, mas queria estar presa ali para sempre, sentindo seu toque delicado – Essa é Kang Seulgi, ela fez isso – Apontou ao redor.

- Uau, você tem uma visão única – Uma mulher mais alta disse, ela tinha o tom de pele um pouco mais escuro que as outras e portava um terno turquesa em detalhes preto, era de fato uma mulher muito bonita, e talvez uma das primas de Irene pelo modo que a vi conversando – Nunca fui a evento em que as fotos pareciam captura de estranhos na rua, trouxe leveza. Quando é feito em estúdio não dá pra perceber o movimento das roupas, ou se elas ficariam bem em alguém que não fosse modelo, parabéns, você fez um trabalho incrível.

- Fico feliz que tenha gostado, foi meu primeiro ensaio.

- Primeiro? – A mãe de Irene trocou olhares com ela – Arriscado – Por fim disse sem acrescentar mais nada.

- Tudo que Irene faz é arriscado.

- Obrigada, Yoona – Seu nome e feição não me eram estranhas, eu sentia que conhecia essa mulher de algum lugar.

- Eu  que o diga, Irene adora ser diferente – Yeri disse com um leve sorriso, Irene tirou sua mão de mim e pareceu desconfortável com o comentário, quase me empurrando ela saiu na velocidade da luz atrás de Jennie que conversava com alguém da equipe de segurança – Não adianta fugir de novo.

Okay, alguma coisa estava rolando entre as irmãs Bae, e o engraçado era que contraria as expectativas, era Irene quem parecia na defensiva, enquanto Yeri se esgueirava para o bar. Garota esperta. Fui atrás, não bem atrás dela, mas de algo para molhar a garganta e porque Wendy estava ali, sem minha irmã.

A família Bae cheirava a dinheiro e certa frieza, um pouco típica e até mesmo clichê. Mas quem sou eu para julgar?

- Cuidou bem da minha irmã, a propósito, cadê ela?

- Se perdeu entre paredes de granitos que não tem nenhum atrativo, sua irmã é bem esquisita - Dei um abraço nela, já fazia tem desde a última vez, tinha alguns assuntos para atualizar - Pode contar todos os podres de Bae Irene.

- Eu não saberia por onde começar - Disse rindo enquanto me serviam uma bebida.

Contemplava a festa e o vai e vem das pessoas enquanto virava um copo de whisky, coisa que me arrependi na sequência porque queimava como o diabo, soju era incrivelmente melhor e barato, com certeza era uma das piores coisas que já tinha bebido na minha vida.

- Por acaso o senhor não teria uma garrafa de soju? – O bartender sorriu com desdém e continuou a atender os velhos que o cercavam, velhos esses que estavam bastante preocupados com as pernas das mulheres que passam enquanto comentavam sobre a economia do país. Peguei dois discutindo a beleza de Irene, e como ela perdia tempo tentando ser reconhecida no trabalho, mas que se daria melhor como esposa de alguém importante, pois a beleza ela tinha.

- Em um jantar ficamos por último, se eu insistisse sei que teríamos algo, mas não queria me indispor com o Bae.

- É complicado porque ela é muito bonita, não sei se eu resistiria.

- Negócios são mais importantes.

- Não sei.

- Cai na real ahjussi, ela nunca olharia pra você, talvez se você voltasse trinta anos no tempo e tentasse ser um pouco mais educado – Yeri estava com uma taça de vinho e ficava me perguntando onde ela conseguiu arranjar isso, ela estudou os dois homens – Na... nem assim – Antes que os homens reclamassem, ela saiu e pousou ao meu lado me olhando com olhos bastante curiosos, me senti um pouco incomodada com a menina claramente me estudando.

- Oi? – Queria que ela parasse com aquilo, era estranho.

- E ai? Qual a sua?

- Como?

- Não ia defender minha irmã dos velhos assediadores?

- Eu deveria?

- Você acha que não? - Wendy que até então parecia absorvida pela música, voltou para realidade e trançava olhares entre Yeri e eu. 

Esse pequeno bate e volta estava me deixando ainda mais perplexa, será que ela sabia de algo? Me sentia um pouco exposta perto da menina, e agora entendia o desconforto de Irene, ela tinha esses olhos de quem poderia atravessar sua alma, e parecia que ela sabia algum segredo meu, o pior deles. E sabemos bem que meu segredo mais profundo é Bae Irene.

Avistei Joy enquanto desviava o olhar a jovem Bae, e a chamei, aquilo estava muito desconfortável e minha irmã poderia aliviar a situação. A medida que ela se aproximava ela mudava o olhar entre mim e Yeri.

- Yerim – Soltou quando já estava bem perto – O que faz aqui?

- É a festa da minha irmã, e o que você faz aqui? – Yeri trocou olhares entre nós duas – Não me diga que Kang Seulgi é sua irmã? – Ela parecia verdadeiramente chocada.

- Seulgi, Irene está te chamando, vão começar o desfile daqui a pouco e ela quer te apresentar... lá no palco – Era Luna que dizia tudo enquanto me arrastava para longe das duas menores, mal tive tempo de colocar o copo que segurava no balcão – Antes de recusar, saiba que eu vou levar bronca se aparecer sem você, então seja boazinha.

E assim eu fui, sentia meu corpo um pouco mais leve, talvez a bebida era forte assim como era ruim. Mal tive um segundo de paz com Wendy. As coisas me incomodavam um pouco menos agora, mas eu ainda pensava que deixar Joy e Yeri juntas não era uma boa ideia, porque a menina Bae não parecia uma boa influência para minha irmãzinha.

Paramos em frente ao palco e Irene já estava pronta para começar a falar, ela fechou os olhos e a vi respirando algumas vezes, talvez estivesse um pouco nervosa. Foi inconsciente, e muito idiota, mas entrelacei nossos dedos levemente, ela arregalou os olhos e me encarou como quem pedia socorro com o olhar, mas ainda sim deixou nossos dedos se tocando, eu queria acreditar que eles falassem melhor do que o olhar nervoso que ela me lançava. Eu não era boa com palavras, e por isso poupei de usa-la, apenas sorri para mulher e tentei assim dizer que tudo ia ficar bem.

E assim ela subiu as escadas laterais e foi para o centro no palco, a música abaixou e pela segunda vez na noite as luzes estavam voltadas para a mulher, eu olhei para trás e vi a quantidade de gente que preenchia o ambiente, era um evento imenso e não duvidava que amanhã esse seria o assunto da cidade.

- Boa noite a todos – Ela agora parecia tão confiante, seu olhar desafiador olhava cada uma das câmeras e seu do mais sincero orgulho no espaço de cada palavra, era impossível não se sentir enfeitiçada por ela – É um sonho, tudo isso, é um sonho, eu prometi para Hwang sunbaenim que levaria esta noite para o mundo, confiei em cada membro da RBB e juntos sei que fizemos nosso melhor. Então quando aquela passarela se abrir, saibam que não é o meu esforço, não é o meu trabalho. A competição, a correria contra o tempo, tudo se tornou força para levar nosso país aos olhares do mundo, esta noite todos os olhares se voltaram para nós e é com orgulho que eu dou início ao RBB spring fashion show.

Por mais que os flashes nesse momento fossem altos, e os aplausos estourassem por todo salão, ouvi fogos. Me lembro de Luna e Amber correndo atrás de um show de pirotecnia, eu era totalmente contra, sou uma amante dos animais e jamais poderia concordar com essa bizarrice. Mas infelizmente, como em todos os âmbitos da minha vida, eu era a única do contra, e meu voto contava para simplesmente nada. Sehun, que eu fazia questão de não notar a presença, conversava com Amber e eu notei a interação estranha, mesmo tendo chegado depois eu sabia que ele não era próximo de ninguém ali, as vezes nem parecia próxima da sua quase, deus livre, namorada.

Depois que ele deixou a cena, Amber veio com os olhos desconfiados até Jennie que estava ao meu lado. Nosso momento de paz declarado em homenagem ao evento. Sem dizer nada, Amber apenas estendeu uma caixinha, parecia muito com uma caixa de anel.

- Sehun pediu para eu guardar isso, ele quer fazer o pedido no fim do desfile.

- Merda.

As luzes se abaixaram e a passarela construída no meio do salão rescendeu, uma música alta tomou conta do ambiente e as modelos foram surgindo de todos os cantos, por estar perto do palco eu estava afastada delas, não as via bem, e agora isso nem me importava. Eu só imaginava Sehun se ajoelhando e formalizando aquela relação. Alguns olhares insistentes me lançavam sorrisos como congratulações de um bom trabalho, e eu sorria de volta, mas era como uma fotografia desfocada, eu não parecia realmente ali. De repente senti vontade de sair daquele lugar, nada disso me pertencia e Irene nunca seria minha. Parecia mesquinho a estranha imagem um dia já ter tido a liberdade de beija-la. Por que eu ousava me incomoda se nunca tivemos nada? Ela sumiu depois daquela faísca de aproximação que tivemos. Por que me sentia tal mal mesmo sabendo que era improvável acontecer qualquer coisa? Eu estava provando o gostinho amargo daquela desilusão.

- Okay – Jennie amarga e muito séria dizia – Você tira Joohyun daqui assim que o desfile acabar, eu vou dar um jeito de sumir com Sehun, esse pedido não vai acontecer.

Pensei por alguns instantes, e o mais sensato era dizer que estava pouco me fodendo para Irene que para aquela droga de relacionamento que ela estava prestes a entrar. Se não queria, por que havia de aceitar? Mas eu me importava o suficiente para entender tudo isso e ainda sim concordar com a cabeça aceitando o plano de Jennie.

Não perguntei porque daquilo, sinceramente eu não me importava, me senti cheia de um egoísmo heroico, lembrei daquelas anotações e me agarrei na ideia de que faria por ela, e não por mim, seria minha última ajuda antes de esquecer que um dia conheci Bae Irene. Me entupi dessa mentira e segui com desconfiança a imagem de Sehun sorrindo e bebendo seu champagne. Como eu despreza esse ser que parecia ter tão fácil o que eu mais queria agora.

Era só mais uma noite e me afastaria de vez, mas nem isso eu conseguia. Que merda que era estar apaixonada por aquela mulher.

IRENE

Quando Jisoo entrou me senti orgulhosa como nunca, a noite parecia perfeita, mas sentia a inquietude de ver Seulgi andando de um lado para o outro com tanta confiança com seu olhar felino, as vezes eu queria saber o que passar na cabeça porque nada parecia afeta-la. Mas evitava olhar muito porque todas as vezes que a olhava eu sentia sobre mim o olhar penetrante de Yerim, outra que esbanjava confiança no auge da sua adolescência. De algum modo eu passei a ser intimidada por ele. Sehun não perdia nenhuma oportunidade em estar ao meu lado, mesmo eu tentando me esgueirar entre uma conversa e outra, mas mamãe estava irredutível na tentativa de nos juntar de vez.

É sim um bom moço e de uma ótima família, um relacionamento só traria boa reputação para minha casa, eu poderia e seria o primeiro casamento de um neto, já posso imaginar a festa. Sentia uma faísca de felicidade em imaginar como todos estariam orgulhosos, seria bem sucedida no trabalho e em âmbito pessoal e tudo isso antes dos trinta, era perfeito. Não nos faltariam eventos, ou viagens, e em certo ponto eu engravidaria e teria que me ausentar da empresa, mas Jennie faria um bom trabalho nesse meio tempo. Era sim o que eu deveria fazer, e então daqui uns quarenta anos, quando eu olhasse para trás, veria tudo que construí e sentiria orgulho. Contaria aos meu netos como conheci o avô deles e como nos apaixonamos, mesmo que tivesse de encobrir um pouco a história. Seulgi não seria mencionada, ela não seria nada mais que uma das fotógrafas com quem trabalhei. Quem sabe depois de algum tempo eu seria capaz de parar de sonhar com aquele momento em que não me importei com nada mais que sua presença em um elevador quebrado.

Ela estava ali, parada e me olhando, como se lesse meus pensamentos e risse de todos eles. Ela me olhava como quem soubesse que eu não poderia esquece-la ou considerar um efeito colateral qualquer. Seulgi me olhava com ironia com um sabor de vitória, de quem sabia que estava virando meu mundo, ela sentia orgulho disso. Era de certo modo prazeroso para ela esse jogo que inventou, leu meus medos e me deixou exposta para então invadir minha mente.

Ela se aproximou e por reflexo dei um passo para trás.

- Querem uma foto nossa.

Foi tudo que ela disse antes de me abraçar de lado, ela não sorriu e eu não consegui olhar para câmera, não foi meu momento mais fotogênico. Mas pareceu ter sido o suficiente para que fossem embora, enquanto ela se permitiu ficar mais um pouco. Não queria me rebaixar as inseguranças que ela me provocava, esse medo de algo que não sabia o que era. Por certo sabia que Seulgi era um alguém diferente do que já encontrei, mas não sabia em que âmbito esse diferente se encontrava.

- Essa foto deve ter ficado horrível.

Eu ri. Foi uma espécie de sorriso irritado, de saber que por mais que a odiasse eu não conseguia me desprender desse meio abraço medíocre. Diante dessa relação tão agressiva eu me afastei, me lembrando da ambiguidade da boca da outra, ela sabia despejar as maiores grosseiras me despertando uma raiva que por anos eu escondo em um gracejo superficial, mas aquela boca que me soltava ofensas ridículas, me beijou de modo tão desesperado. Era uma lembrança boa, por mais que se tratasse de uma relação condenada pelo mundo.

- O desfile acabou.

- É.

- Vem comigo.

Ela segurou meu braço firme e saiu apressada entre as pessoas, ao longe escutei Sehun me chamando, mas não fui capaz de responder, não que não desse tempo, era só que não quis deixar de seguir Seulgi por onde quer que ela fosse me levar. Era de certo modo estúpido de ignorar toda minha razão, eu deveria voltar e agradecer a todos, deveria abraçar Jisoo e dizer que fez um ótimo trabalho, receber o buquê que meus pais me entregariam e esperar um por um beijo insistente do meu companheiro. Notariam meu sumiço, não tinha nem lógica correr atrás dessa mulher, e ainda sim aqui estava eu, ofegante e de salto.

A droga da realidade é que nada disso parecia suficientemente prazeroso para eu me soltar daquele momento. Seulgi entrou em uma sala e eu entrei atrás para logo depois ela fechar, percebi que uma pequena perseguição tinha acontecido quando os passos de Sehun passou direto no corredor, tentei com apenas o olhar questionar Seulgi sobre tudo aquilo, mas ela apenas fez um sinal de silêncio que não entendi porque obedeci, mas ainda sim o fiz em uma confiança prematura. É que ela parecia ter algum tipo olhar brilhante como quem parecia consumida pela excitação do momento, então a olhar agora era como um modo de me refletir.

- Ele vai pedi você em namoro.

Não foi assustador ouvir aquilo, por mais que não fosse a noite certa, eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele faria algo assim.

- E por que você se importa?

Essa era minha dúvida real, o interesse repetindo de Seulgi pela minha vida amorosa.

- Eu não me importo.

- Então me deixe voltar lá e aceitar o pedido – Seulgi tinha uma feição desgostosa, parecia decepcionada com a minha resposta e eu me sentia vitoriosa em arrancar qualquer reação daquele rosto imóvel. Ela ficou muda - Respondi Seulgi - Continuou muda - Por que me escondeu aqui? - Eu a desafiava esperando mais mais alguma reação.

- Você não gosta dele.

Era verdade, eu não gostava e já tinha dito isso muitas vezes para mim mesmo, mas quando era dito por outro alguém, aquelas palavras ganhavam mais força e se desenterra algo que eu não podia esconder. Eu não gostava dele, eu nunca gostei de nenhum deles. Mas se eu aceitasse aquela verdade, o que me sobraria além de um monte de relações vazias?

Eu estava lutando tão bem contra esses desejos dentro de mim, e de repente tudo que parecia real se tornava um mal-estar. Esse meu existir era sempre de um trabalho que validasse o que sabia que não conseguiria.

Era com isso que uma crise existencial se parecia? Essa epifania de autoconhecimento pela qual eu não pedi. Desviei o olhar.

- Você não gosta dele – Ela repetiu, ou eu ecoei sua voz na minha cabeça, que repetia por várias vezes "você não gosta dele", e ela dizia aquilo como quem visse o meu desespero e jogasse sal na ferida.

Eu olhei Seulgi, sem as camadas na qual me escondi por anos, sem adjetivos inúteis, eu a olhei como uma vez me deixei olhar minha colega de turma. Ainda tão nova, tão ingênua com o mundo que se formava, eu de alguma forma sabia que era um desejo além de uma amizade sincera. Não me permiti nunca mais chegar perto dela, seria totalmente desrespeitoso, sentia falta daquele pequeno sorriso brilhante, sei que ela também sentiu porque mandava cartas para minha casa que eu insista em não ler. Mamãe me perguntava o motivos e eu não falava nada, até o momento que disse que preferia estudar do que ter aquelas amizades, mamãe se sentia orgulhosa de sua filha, e eu me sentia orgulhosa em ver que tudo parecia normal de novos.

Depois de tantos dias afastadas, ela desistiu das cartas e eu me senti feliz por sua desistência. Nunca mais deixei que algo assim me acontecesse, e com o tempo fui deixando essa memória se enterrar dentro de mim, as vezes quando me sentia desocupada e não tinha mais o que fazer pela empresa ou por minha família, esses dias voltavam tênues na minha lembrança, mas eu reforçava seu esconderijo com mais trabalho, sufocando qualquer respiro dessas memórias inúteis.

Agora elas voltaram todas de uma vez, e eu não sabia o que fazer com tudo aquilo que rasgava o meu peito. Me sentei na extremidade da sala, enquanto Seulgi fazia o mesmo, tudo ali era escuro a não ser pelas luzes coloridas que invadiam o ambiente e pintava a mulher ao meu lado de azul, vermelho, roxo e mais uma infinidade de cores. Ela parecia ainda mais linda agora. Meu olhar estava totalmente nu, sem o véu que deixei sobre ele durante tanto tempo. Talvez isso tenha soado como um convite, porque ela se aproximou.

- Jennie me pediu para esconder você, ela se preocupa - Ela notou meu desconforto e recuou suas palavras acusatórias, agora seu tom era leve, bom de ter ao lado.

Deixei um sorriso baixo escapar, de certo modo combinava com os sussurros dela.

- Pensei que depois de tudo, eu poderia ajudar, não vamos nos ver tão cedo mais – Ela jogou suas verdades assim como quem dá bom dia, estava totalmente pronta para nunca mais me ver. Eu é quem não sabia se queria uma despedida tão prematura. Os diálogos pareceram tão pouco, eu insisti em fugir dessa mulher como o diabo foge da cruz e me arrependia dos dias que não tivemos.

- Então acho que devo agradecer.

- Agradece se quiser, faz o que sentir vontade.

- Não seria educado.

- Mas seria sincero. Você tem carência em ser sincera as vezes...

Eu a olhava sem escutar suas palavras. Então ela se calou. Percebeu que eu não olhava seus olhos diretamente, e sim sua boca, não consegui desviar por mais que no meu âmago tudo dissesse que o que estava fazendo agora era dançar na borda de uma queda livre para o inferno. Quando consegui olha-la diretamente, quase me sobressaltei porque ela me encarava curiosa de volta. Ela se aproximou e eu deixei que fizesse isso, mas num segundo infeliz quando já sentia seu rosto tocar o meu, eu a segurei.

- O que estamos fazendo, isso é errado.

- Eu sei – Seulgi sempre me pareceu um pouco melhor com as palavras – Você... me faz sentir algo que definitivamente não deveria.

- Eu não posso fazer isso – Eu a entendia, mas não podia.

- Eu sei.

- Para de concordar comigo – Seu olhar cruzava com uma facilidade enorme entre meus olhos e minha boca.

- Eu.. não posso – Juntei o resto das forças que me deixava longe dela, mas agora elas pareciam tão inúteis, tão frágeis, os muros desabaram e não restava mais nenhum esconderijo. Minha verdade estava escancarada, eu nunca gostei de nenhum daqueles caras que me forcei a gostar, e eu nunca iria. Yerim estava certa no fim das contas – Não posso... evitar – Me aproximei e senti ela tocando minha mão, enquanto toquei nos lábios, não era o primeiro mesmo, mas era o primeiro beijo confessado. Não era um acidente e infelizmente eu tinha consciência disso, o que eu sentia por Seulgi era maior que qualquer apego que tive antes. Me agarrei nela, agora já não importava mais as mentiras que disse para mim durante todos esses anos, ela arrancou cada pedacinho da minha farsa, de um modo perverso eu gostei disso. Seulgi é minha mais doce desilusão.

Talvez ainda estivesse na minha mão não mostrar essa fragilidade, me recolher e deixar Seulgi para trás, eu já fiz isso uma vez. Controlar o caos ou me jogar nele de vez, era uma decisão. Por um instante a vida que vivi até aquele momento parecia tão mais segura, na sua moralidade premeditada, que deixasse sua insanidade para a construção de um império pessoal, tornasse isso sua maior conquista da vida. Afastei Seulgi sentindo minhas mãos tremendo, ela ainda tinha os olhos fechados, e eu por mais que estivesse longe ainda sentia seus lábios, aquele contato quente que me atormentava mas me fazia falta no instante de deixava de existir. Era um afeto que me dava ânsia, eu a amava com nojo. Não dela, ou de mim, era dos destroços que eu poderia causar deixando ela entrar onde eu tentei deixar vários outros. Aparentemente a chave era única. Eu amava com dúvida todos os anos vividos, não foi uma ilusão nem uma mentira, eu senti todo esse tempo percorrendo em mim, todas as boas memórias, mas apesar de compreender meu instante de vivência, eu sentia falta, era uma parcela de vazio que nunca foi preenchido que nunca seria se eu me levantasse e saísse agora.

Seulgi abriu os olhos e me atormentava ainda mais com seu olhar curioso, ela colocou a bomba nas minhas mãos, ela é muito boa com o silêncio. Não havia como fugir, o muro cedeu, quebrou. Diante de Seulgi como eu não poderia olha-la? Então, sim, eu devolvi aquele olhar, também a atormentei como conseguia. Seu rosto se tornou vermelho, talvez o meu também, mas não havia vergonha. Era outro sentimento ou assentimento.

- Você não vai fugir, vai?

Fugir. Como eu poderia fugir da maior vontade de viver que meu coração sentia? Eu sorri, porque era até cômico o desastre em que nós duas nos colocamos. Antes tivéssemos nos odiado com mais vontade, antes eu a tivesse demitido, antes não tivesse provado o fruto proibido direto da boca e Seulgi, agora eu sabia toda a verdade, e diante dela eu era incapaz de fugir porque era vítima da maior lucidez que me acometera.

- Se não fugir, eu não vou.

Ela sorriu, depois gargalhou, por falta de opção eu fiz o mesmo. A cena era de certo modo graciosa, duas mulheres sentada sob luzes coloridas rindo abertamente de mãos dadas. Deixei minha cabeça descansar sobre seu a curvatura do seu pescoço. Sei que pelo olhar da outra, ela não entendia essa forma de desejo que nos adoentara tão misteriosamente, era aconchegante não ser a única vítima. Se ela estivesse tão aterrorizada como eu estava, então tudo bem. Eu devia ter aceitado um amor mais fácil quando tive tempo. Seulgi era mesmo uma mulher muito estranha, e agora eu notava certa estranheza também crescendo dentro de mim.


Notas Finais


finalmente as bonitas cederam!

Até a próxima <3


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