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História As Crônicas de Um Amor Invernal - Jaime Lannister - O Saque de Porto Real


Escrita por: HenriqueVietri

Notas do Autor


Boa Noite a todos, acabei de concluir mais um capítulo.
Eu imaginei coisas para Jaime Lannister que são minhas e espero que compartilhem e gostem do que pensei, tendo em vista que há precedentes para tais coisas em As Crônicas de Gelo e Fogo (pequenos precedentes, mas eu os utilizei).
Enfim, espero que gostem!

Capítulo 23 - Jaime Lannister - O Saque de Porto Real


As notícias da derrota e da morte do Príncipe Rhaegar Targaryen atingiram Porto Real e arrasaram a moral dos apoiadores do Rei Aerys, que permanecia inflexível quanto a sua posição, ainda mais agora que Lorde Tywin Lannister marchava para o sul. Sabia que o exército rebelde viria o mais rápido possível, a fim de evitar que seu pai chegasse primeiro a cidade e salvasse o Rei. Permaneceu imóvel atrás do Trono de Ferro enquanto o Rei dormia, silenciosamente, nem parecia ser o mesmo inquieto Rei Louco de outrora.

Ficara consternado pela morte do Príncipe Dragão, lamentara sozinho, pois todos os Guardas Reais não se encontravam ao seu lado. Sor Gerold, Arthur e Oswell foram enviados em alguma missão pelo Príncipe. Lewyn Martell perecera no Tridente, e diziam que pela espada de Sor Lyn Corbray, assim como Sor Jonothor Darry, que fora morto durante o recuo do exército lealista. No momento derradeiro, ao ver o príncipe caído, ele reunira os cavaleiros mais leais a Coroa e marchara na direção do exército rebelde, perecendo honrosamente em combate. Sor Barristan Selmy poderia estar morto também, mas nada fora dito sobre ele, para bem ou para mal. Oficialmente apenas Sor Jaime Lannister protegia o Rei em Porto Real, sendo considerado um dos mais promissores espadachins de seu tempo.

“Infelizmente uma promessa solitária”. Dissera Lorde Varys em uma das reuniões do Conselho. “Aguardemos Lorde Tywin Lannister, pois ele nos socorrerá”. Dissera o Grande Meistre Pycelle, o mais orgulhoso de todos os Meistres da cidadela, a poderosa Vilavelha. Jaime se abstivera de julgamentos, sua espada precisava estar pronta a qualquer custo se o rei precisasse, e a chance de combater o rebelde Robert Baratheon ao lado de seu pai o deixava ainda mais animado. “Não se deixe enganar, meu Rei. Agora que o Príncipe Rhaegar está morto e seu exército disperso, de qual lado permanecerá Tywin Lannister?”. Dissera Lorde Rossart, o Necromante, a Mão-do-Rei, odioso aos olhos de Pycelle.

“Lorde Tywin sempre lhe foi fiel, majestade”. Murmurava o velho asqueroso, Pycelle, o Meistre mais repugnante que pudera conhecer. Jaime não acreditava que seu pai trairia a causa do Rei, impossível que fizesse isso. Sorriu para si mesmo, pois aguardava uma única chance para combater o Lorde rebelde, a fim de mostrar a ele o que ele deveria ter recebido no Tridente.

Elia Martell se aproximou lentamente pelas laterais da Sala do Trono, silenciosamente. Jaime fez sinal para que a mulher não falasse muita coisa. Caminhou em sua direção com um sorriso caridoso, algo que recuperara depois de se desvencilhar de Cersei. Elia Martell trajava o laranja arenoso de Dorne em um vestido deslumbrante. Seus cabelos estavam presos a um coque e seu rosto demonstrava toda a sua amargura.

- O Rei dorme milady. – disse Jaime.

- Não desejo incomodar. – respondeu. – Apenas preciso fugir, e para isso precisava do Rei.

Ele ficou confuso.

- Por que fugiria? Está na segurança do Rei em Porto Real. – devolveu Jaime. – Dorne está distante demais, por que fugiria?

- Rhaegar está morto por outra mulher, não por mim. – disse Elia. – Nada mais me resta em Porto Real além do sofrimento e da espera. O inimigo não vai descansar, ele vai matar a mim e meus filhos quando vier para cá.

- Meu pai...

- Seu pai? – Elia deixou algumas lágrimas escaparem. – Ele se aliará ao lado vencedor. A Batalha do Tridente selou a vitória do inimigo, pois ninguém pode socorrer Porto Real agora. Mace Tyrell não levantará seu cerco tão cedo, e mesmo que o fizesse, levaria muito tempo para se reorganizar e nos salvar.

- Sim, por isso Lorde Tywin...

- Não entende Jaime? – ela tocou o lado direito do rosto dele, deixando-o boquiaberto. Sua mão era macia e seu rosto desabava em lágrimas. – Está acabado. Preciso retirar Aegon e Rhaenys, salvá-los. Robert irá matá-los, ele possui pretensão ao Trono, basta matá-los.

- Eu não permitirei.

- Mesmo que tenha de lutar contra os homens de seu pai?

- Eu sou um Guarda Real, luto pelo Rei Aerys e pelo povo de Porto Real, sou um Cavaleiro! – disse, afastando-se ao lado de Elia. – Confie em mim...

- Confiar em você?

Uma voz surgiu. Lorde Varys se esgueirava aqui e acolá sem ser percebido e isto era fato, mas às vezes os hábitos do Eunuco o irritavam. O homenzinho caminhou em sua direção com o rosto sério e alerta, os braços cruzados e a sua toga tradicional, mais ao estilo dos pentoshi (do qual tinha laços) do que um westerosi.

- Sugiro que cuide dos assuntos do Rei, Sor. – disse Varys para Jaime. Ele se voltou para Elia – Estou cuidando pessoalmente de seus filhos, minha princesa, e garanto: vou mantê-los a salvo.

- Como?

- Eu tenho meus segredos e minhas artimanhas, Sor Jaime, assim como você tem a sua espada bonita e recatada. – devolveu o eunuco. – Cada um de nós aproveita como melhor entende as dádivas que lhes foram concedidas pelos deuses, não? Eu aproveitarei as minhas da melhor forma possível.

O Eunuco se retirou sem dizer muita coisa mais, bem ao seu estilo. Chegar e partir repentinamente.

- Venha até mim na minha torre. – pediu Elia. – Preciso lhe falar.

- Falar o que...?

De repente dois homens foram introduzidos à presença do Rei por Lorde Rossart. Elia Martell retirou-se sem ser vista, imitando o eunuco que estava com eles agora pouco. Reconheceu os homens de imediato, leais e honrados: Sor Jaremy Rykker e Sor Allister Thorne, dois dos comandantes da defesa de Porto Real. Ele retornou para o seu lugar ao lado do Rei Louco e ali permaneceu enquanto estes discutiam a respeito das defesas da cidade, sobre como deveriam organizar-se e as provisões, caso fossem atingidos por um cerco. “Eu quero vê-los queimando”. Disse Aerys, mais de uma vez.

- Podemos sobreviver a um cerco por muito tempo. – disse Allister Thorne.

- Se tudo for perdido, garanta que a cidade queime Lorde Rossart. – disse o Rei ao seu piromante. Aquilo assombrou o coração de Jaime, não compreendia o motivo de o rei pedir tal coisa.

- Defenderemos a cidade. – insistiu Thorne. – E se Tywin Lannister reforçar nossas defesas, então poderemos resistir até a chegada dos homens da Campina.

Tudo naquele dia girava em torno de Tywin Lannister, afinal, era o único que era “leal” ao Rei e estava mais próximo da capital. Os Greyjoy ainda não tinham se manifestado sobre qual lado ficariam, mas a distância impedia que ajudassem de maneira eficaz. Meistre Pycelle e Lorde Varys surgiram, caminhando lado a lado, na direção do Trono de Ferro.

- Seis mil homens formam o grosso da tropa da Patrulha da Cidade. – afirmou Jaremy Rykker. – Ainda podemos recrutar homens dentro da cidade para fortalecer nossas forças, somando algo em torno de dez mil homens, se necessário.

- O traidor possui pouco mais do que isso, vossa majestade. – afirmou Lorde Rossart.

- Pouco mais antes de sua vitória no Tridente. – cuspiu Lorde Varys, a Aranha, habilidoso em estar aqui em acolá rapidamente. – Quantos não terão se unido a ele agora?

- Ainda pouco para um cerco de meses, anos. – disse Meistre Pycelle.

O Rei ponderou por alguns segundos e chamou o piromante, necromante, seja lá o que for, para perto de si. Conversaram por alguns segundos antes de dar sua resposta.

- Envie corvos para Mace Tyrell na Campina, peça para que traga o exército até a capital. – disse Aerys II, o Rei Louco, com sua voz engasgada pela velhice. – Ordene que abandone o Cerco de Ponta Tempestade. Envie corvos também para Doran Martell em Dorne, quero mais homens para guarnecer minha cidade!

Horas foram necessárias para terminar aquela discussão, e quando acabou Jaime se sentiu livre novamente. O Rei desejava descansar em seus aposentos e para estes momentos o rapazola ficava prostrado frente ao quarto real, vigiando, atento e silencioso. As horas se passavam e parecia que nada mudaria. Os jardins da Fortaleza Vermelha eram tão belos e graciosos, gostava de observá-los todas as vezes que ali ficava. Apreciava relembrar os momentos mais pitorescos de sua vida, desde o seu treinamento com onze anos de idade, no Paço de Codorniz, servindo como escudeiro de Sor Sumner Crakehall. Lembrava-se de ter vencido seu primeiro torneio dos anos depois, com treze. Aos quinze ele fora nomeado cavaleiro no campo de batalha pelo próprio Sor Arthur Dayne, a Espada da Manhã, depois de um combate contra a Irmandade da Mata de Rei.

Fora tolo suficiente ao dar ouvidos a Cersei, pois seu pai pretendia casá-lo com Lysa Tully, segunda filha de Lorde Hoster Tully de Correrrio. Cersei sugeriu que ele tomasse o manto branco da Guarda Real (já que Sor Harlan Grandison estava morto) e assim se livrar de Lysa e ficar próximo de Cersei e sua boceta dourada. Fora elevado a Guarda Real, o que provocou uma cisão enorme entre Tywin e o Rei Aerys, enviado para Porto Real a fim de proteger a Rainha Rhaella e o Príncipe Viserys, sendo privado de participar do Torneio de Harrenhal. Foi quando notou que seus planos serviram como uma luva para o rei, que desejava vingar-se de seu pai, nomeando-o Guarda Real e retirando do mesmo o seu Herdeiro (já que Tyrion era um anão e deformado). O plano foi totalmente por água abaixo quando a fúria de seu pai o levou a renunciar o cargo de Mão do Rei e retornar para Rochedo Casterly, levando Cersei, acabando com os planos de ambos permanecerem juntos.

Muita coisa poderia ter sido evitada se não a tivesse ouvido, se sua vontade ficasse em Rochedo Casterly e não na boceta de Cersei. Poderia estar casado com Lysa Tully agora, servindo como regente de seu pai enquanto este era Mão do Rei em Porto Real. Isso poderia ter permitido sua participação em Harrenhal, impedindo o Príncipe Rhaegar de vencê-lo e coroar Lyanna Stark. A verdade era que se tivesse sido inteligente, a guerra estaria igualada. Os rebeldes provavelmente teriam sido derrotados no Tridente (isso se houvesse um Tridente). Lorde Hoster Tully permaneceria neutro ou até mesmo estaria ao lado de seu pai, tendo em vista que ele estaria casado com Lysa e Brandon Stark estaria morto. “Eddard não se casaria com Catelyn em Correrrio e teríamos as Terras do Rio”. Pensou. Então a guerra se restringiria a uma aliança entre As Terras da Tempestade, Norte e o Vale, contra todo o resto de Westeros.

Mas a boceta de Cersei sempre falou mais alto aos seus ouvidos (ou ao seu pênis, não sabia dizer exatamente), por isso cometera um erro que lhe custaria uma vida. Seria privado de seus títulos, não herdaria Rochedo Casterly e seu pai teria de entregá-la ao seu irmão deformado, Tyrion, a seu contragosto. “Por que você faz tudo que ela quer, seu imbecil?”. Gritou consigo mesmo. A boceta rosada e dourada de Cersei não poderia lhe dominar para sempre, afinal.

- Ocupado? – indagou Elia Martell, surgindo pelos corredores.

- Dizem que estou a proteger o Rei Aerys.

- E não se cansa?

Ele sorriu.

- O tempo inteiro, milady. – disse. – E você?

Elia tentou manter o sorriso, pois era conhecida como boa e graciosa, além de ser excelente para fazer alguém rir.

- O Rei Aerys acredita que Lewyn traiu Rhaegar no Tridente e por isso proibiu-me de sair de Porto Real. Além de ordenar que Dorne demonstre sua lealdade, enviando ajuda.

- Príncipe Lewyn jamais trairia seu rei e nem seu príncipe.

A Guarda Real era fiel aos seus princípios e a seus irmãos juramentados. Sabia tudo sobre o príncipe, até mesmo sobre sua amante (segredo que todos guardavam com muito cuidado). Ele jamais seria um traidor.

- Gostaria de saber. – começou Jaime.

- O que?

- O motivo da mulher mais sorridente que já conheci estar tão entristecida. – disse Jaime. – Além da morte de seu marido, é claro.

- Rhaegar gostava muito de mim, mas não me amava. – Elia se aproximou de Jaime Lannister. – Cumpria seus deveres e me tratava com amor e respeito como nenhum outro homem faria, mas ele não me amava, e por isso fugiu com Lyanna Stark.

- Sinto que isso fere seus sentimentos, milady.

Ela assentiu.

- Os dias se tornaram tristes e complicados. – disse Elia. – Lembra-se de quando visitamos Rochedo Casterly?

- Como esquecer? – Jaime sorriu. – Sua mãe sugeriu a meu pai que você e eu nos casássemos. Cersei se casaria com seu irmão, Oberyn.

- Mas seu pai planejava casar Cersei com Rhaegar.

- E Rhaegar casou-se com você, minha senhora. – disse Jaime.

Riram juntos por algum tempo antes de prosseguirem a conversa.

- Já imaginou como seria se tudo fosse diferente? Se tivéssemos nos casado de verdade?

Jaime abaixou a cabeça, corado.

- Bem, eu já deveria ter me casado tantas vezes em minha vida que perdi as contas, afinal. – devolveu.

- Mas já imaginou?

Olhou-a de cima a baixo e sentiu vergonha. Corpo belo e de beleza indescritível, sorriso malicioso e, notavelmente, sem suas roupas íntimas. Podia ver os mamilos de Elia Martell por detrás do vestido alaranjado e sentiu seu membro ereto, rijo, o que o fez sentir ainda mais vergonha. Aquela mulher linda e feita de verde oliva, linda como nenhuma outra mulher. Sentiu por ela o mesmo desejo que o abateu quando viu Cersei nua pela primeira vez.

- Devo admitir que eu não “ando” imaginando muito.

Elia Martell riu tanto que ele próprio rendeu-se ao riso.

- Mas imaginou...

- Faz menos de cinco minutos a primeira imaginação, mas imaginei. – disse Jaime, ainda envergonhado por ter de admitir. Sentia como se estivesse traindo o amor de Cersei por ele. Mas do que adiantava? Ela estava em Rochedo Casterly e ele estava ali. “Foda-se Cersei e sua boceta de ouro”.

- Encontre-me esta noite em meu quarto na Torre de Maegor. – pediu Elia. – Por favor.

- Milady, eu sou um Guarda Real...

- Proibido de possuir terras, títulos e filhos, mas não proibido de foder quando desejar, não? – disse Elia, resgatando um pouco do senso de humor que ela perdera. – Está escrito no livro de honra dos Guardas Reais: “não foderás?”.

“Não”. Gargalharam juntos novamente e ela beijou seu rosto delicadamente antes de partir as pressas. Buscava compreender o que acontecera ali com exatidão, pois jamais esperava isso dela. A Princesa Elia ficara encantada quando vira seus longos cabelos loiros e seus olhos verdes em Rochedo Casterly há muitos anos, mas não imaginava que isto fosse valer algo agora. Percebeu que a dor da perda de Rhaegar poderia estar influenciando sua Princesa a dizer aquelas coisas, mas ainda sim iria vê-la à noite.

E a noite chegou mais rápido do que pensava, deixando-o nervoso e ansioso. Lorde Tywin Lannister se aproximava de Porto Real, mais veloz do que poderia imaginar, porém os batedores de Allister Thorne indicavam que ele ainda levaria mais um dia para, finalmente, alcançar a capital. Contaram doze mil homens em sua tropa e foram atrasados por uma tempestade no momento em que atravessavam as Terras do Rio. Aquela noite seria pacífica, imaginava. Tratou de jantar ao fim do seu serviço, sendo substituído por Jaremy Rykker. Comeu ovos cozidos e carne de carneiro, além de bacon frito e alguns bons queijos oriundos de Essos. Fez descer tudo com um bom Dourado da Árvore para ajudar a empurrar tudo para baixo. Ficou aliviado com a refeição e caminhou lentamente até a Fortaleza de Maegor, para que se sentisse leve suficiente. Bebeu duas taças a mais de vinho a fim de não ficar com vergonha perante Elia.

Sua folga seria aquela noite e esperava que fosse proveitosa, não fazia ideia do que sua Princesa realmente queria. E quem sabe? “Talvez ela apenas precise de alguém para conversar”. Pensou. Ouviu a voz de Cersei em sua mente, dizendo: “Você é inocente, irmãozinho... Não percebe a malícia onde ela existe”. Era jovem e não conseguia compreender com exatidão a malícia que poderia estar impregnada nas intenções de Elia.

Encontrou a porta dos aposentos dela e bateu cuidadosamente. A Princesa abriu rapidamente, por isso deduziu que era aguardado com certa ansiedade. Ela trajava o mesmo vestido de outrora e permanecia sem as roupas íntimas, uma bela mulher em todos os aspectos. Seus olhos escuros sorriam assim como seus lábios entristecidos, convidando-o para entrar e passar algum tempo da sua vida com certa alegria. Entrou sem pensar e ela indicou uma poltrona feita de couro para que se sentasse próximo da lareira. Ali na alta Fortaleza de Maegor, o frio atacava de uma forma que não fazia lá embaixo.

- Um pouco de vinho? – indagou Elia.

- Não, por favor. – disse Jaime. – Acredito que o Rei Aerys não desejaria um Guarda Real bêbado amanhã, principalmente porque sou o último que lhe restou em Porto Real.

Ela sorriu.

- Compreendo Sor.

Elia sentou-se ao lado dele em uma segunda poltrona próxima à lareira, onde Rhaegar costumava a se sentar. Conversaram sobre Westeros, sobre Essos e sobre seus sonhos, sobre o que sonhavam ser quando eram crianças. Eles permaneceram um bom tempo conversando sem sequer notar o tempo passando vagarosamente. Rhaenys e o bebê Aegon estavam sob os cuidados de suas aias em outro aposento, separado dali.

- Acha que vamos sobreviver? – indagou Elia.

- Vou protegê-la, Princesa. – disse Jaime. – Ninguém arriscaria feri-la e indispor-se com Dorne.

- Rhaenys e Aegon são herdeiros de Rhaegar, suas esperanças vivas. – disse Elia. – Robert não terá piedade de meus filhos se a cidade cair. Eu não pretendo vê-los morrer sem fazer nada.

- Jurei proteger o Rei e a sua cidade, proteger você e seus filhos. O povo. Nada de mal lhe ocorrerá. – disse Jaime, inseguro de suas palavras.

Temia que seus deveres para com o rei o atrapalhassem, sem contar a loucura de Aerys. O Rei ordenara que fogovivo fosse colocado em todas as estruturas de Porto Real, para que se a cidade caísse, o exército do traidor perecesse. “O povo morreria”. Pensou. “Fui nomeado cavaleiro para proteger os menos favorecidos, os pobres, os necessitados. Estaria falhando em minha missão”. Mas não poderia falhar em sua missão de proteger o Rei, a todo custo. Jaime Lannister suspirou ao ver o fogo crepitar levemente a sua frente e o ar frio da noite adentrar por uma das janelas do aposento. Havia adornos dorneses por todos os lados, vivos e vermelhos, além de multicores, tapetes e tapeçarias incríveis que jamais vira em toda a sua vida. Por um momento sentiu raiva de seu pai por negar-lhe Elia Martell quando teve a oportunidade. “Cersei, sua maldita. Fez-me acreditar que eu seria melhor sem você, mas quando estou ao seu lado, apenas consigo me sentir um escravo de sua vontade”. Movido pelo desejo ardente, Jaime perdia todo o senso de razão.

A Princesa de Dorne fazia com se sentisse mais tranquilo, de uma forma que Cersei jamais faria. Ela escorou sua cabeça em seu ombro (coberto pela armadura da Guarda Real) e permaneceu por alguns minutos em silêncio observando o fogo crepitar, mexendo os dedos de forma pitoresca por cima das coxas e levantando o vestido levemente. Talvez a garota tentasse lhe dizer algo, não sabia dizer. “Se meu pai tivesse me casado com Elia Martell, Rhaegar poderia ter sua Lyanna Stark livremente e não teríamos esta maldita guerra”. Ou seria diferente? Já pensara em incontáveis formas para que tudo fosse diferente.

Ela acariciou delicadamente seu rosto e sua barba que crescia devagar, passeando as mãos pelos seus longos cabelos dourados. Jaime suspirou, incomodado pelo desejo que sentia pela princesa e com vontade de tomá-la em seus braços. Sentiu que trairia Cersei se o fizesse, mas a irmã não estava ali, e ele não teria outra chance.

- Princesa...? – sussurrou Jaime.

- Perdoe-me, Sor. – disse Elia. – Vejo que extrapolei os limites.

- Não, não.

- Então o que foi?

- Apenas não pare...

Jaime Lannister tocou a face de Elia Martell com delicadeza, sentindo sua pele macia feita da mais doce oliva, sentindo seus cabelos macios entre seus dedos e puxando seu rosto para perto do dele, beijando ardentemente seus lábios doces. Nada mais importava naquele momento, pois poderia estar morto ao raiar do dia. Viveria aquele momento agora e sentiria os beijos e se permitiria a Elia enquanto ainda lhe restava fôlego. Talvez ela pudesse mostrar o quanto Jaime perdera não se casando com ela, não insistindo, buscando entrar na Guarda Real a fim de aproximar-se de Cersei. A Princesa dornesa subiu em seu colo e envolveu-o com seus braços, beijando-lhe e bagunçando seus cabelos loiros. Ela removeu o vestido rapidamente, mostrando seu corpo nu.

Seus seios eram do tamanho de melões, macios e da cor verde oliva típica de um Roinar. Levou seus dedos até a boceta molhada da princesa, acariciando-a por dentro, sentindo o calor em meio aos pequenos pelos escuros que ali havia. Utilizou um dedo e depois a mão inteira, passeando por dentro dela, fazendo-a sentir fogo. “Talvez Elia pertencesse a mim e não a Rhaegar. E o Príncipe pertencia a Lyanna Stark, e não a Elia Martell”. Pensou. Levantou-se com ela em seus braços, em meio aos beijos, sussurros e carícias, ela mordiscava sua orelha e removia a sua armadura pedaço a pedaço, nada mais importava. Um Príncipe morto não demandava fidelidade, e Jaime não tinha muita confiança que poderia sobreviver à loucura do Rei Aerys Targaryen.

Jogou-a na cama antes de remover o que restava de suas roupas, apresentando-se nu diante da Princesa de Dorne, nada a esconder, nada a perder. Rastejou pela cama na direção da mulher, beijando-lhe o corpo desde as pernas até o seu sexo, utilizando os dedos e a língua para satisfazê-la, fazê-la ir às alturas. Elia segurou com força a sua cabeça, apertando sua nuca e massageando os cabelos loiros de Jaime. Mordiscou o clitóris da princesa enquanto utilizava o dedo indicador para penetrá-la. Respirou fundo antes de subir pelo corpo dela, beijando-a, deixando o dedo no mesmo lugar, sem removê-lo. Sentiu a pele macia nos lábios, o cheiro perfumado, desde o delicado umbigo até os seios.

Tomou os seios da princesa e afogou-se neles, mordiscando os mamilos escuros e macios, segurando-os com firmeza. Jaime voltou-se para a garganta dela, usando a língua, subindo-a até os lábios carnudos da dornesa, deleitando-se naquela imensidão de prazer. “Oooh Jaime, não pare”. Dizia a garota, segurando-o firmemente. Ela tomou o seu membro entre as mãos, com movimentos repetitivos de cima para baixo, ela o excitou e o deixou rijo. Usou a boca, passeando sua língua pela glande e chupando-o. Jaime Lannister suspirava enquanto a princesa mantinha sua boca ocupada em seu membro, acariciando seus cabelos, seios e costas, massageando-a.

Elia usou os lábios em seu peito, seu abdômen e voltou novamente para o seu membro, sorridente, com malícia nos olhos. “Uma malícia mais pura do que a que vejo nos olhos de Cersei”. Pensou. Beijou-lhe os lábios novamente e ela puxou-o para si, deixando suas pernas entreabertas e chamando-o. “Venha, Sor Jaime, não me deixe aqui molhada e esperando”. Foi conduzido por ela através do seu corpo, penetrando-a devagar no início, aumentando sua velocidade levemente até finalmente perceber ambos os corpos empapados com o suor, o doce suor que carregava consigo o cheiro de sexo.

Jaime e Elia chegaram juntos ao orgasmo (pelo menos foi o que ele teve a impressão, pois Cersei o ensinara a segurar o suficiente). Deitou-se ao lado dela completamente nu, suado e cansado, mas satisfeito por tudo o que pudera viver naquela noite. Sabia que tudo seria diferente no outro dia, ela seria Elia Martell de Dorne novamente e ele seria Sor Jaime Lannister, o Guarda Real. “Isso se Aerys for vitorioso. Isso se meu pai tiver vindo para ajudar”. Mas sentia ali no fundo que Lorde Tywin vinha com esta intenção. Suspirou, pensando em como as coisas seriam, em caso de vitória para a Casa Targaryen. Provavelmente a garota retornaria para Lançassolar com Rhaenys e o pequeno Aegon, onde os criaria. Desta forma ficariam afastados para todo o sempre. Jaime aprendera a suportar algumas perdas, já que, constantemente, sofria com as mesmas. Apenas não fazia ideia do que lhes aconteceria em caso de derrota. “Todos nós morreremos”. Pensou.

- Amanhã seu pai estará aqui. – disse Elia. – Prometa-me uma coisa.

Ele virou o rosto para encará-la.

- Prometa que irá proteger o povo da cidade, que irá honrar o seu título de Cavaleiro, que irá proteger o Rei e o Reino. Que irá me proteger.

- Duvido que seja ferida no processo, princesa. – respondeu Jaime. – Quem ousaria como já disse, a indispor-se com Dorne?

- Alguém poderoso suficiente.

- Nada de mal lhe ocorrerá. Fique aqui na Fortaleza de Maegor, dentro dos limites da Fortaleza Vermelha. Duas muralhas protegerão você e seus filhos. Está protegida por um quadrado maciço com muralhas de três metros e meio de espessura, sem contar o fosso seco coberto por espigões de ferro que a rodeiam. Como alguns dizem, “um castelo dentro de um castelo”.

- Aerys e seus aposentos estão aqui. O Trono de Ferro está no Grande Salão e de lá ele já quase não sai, em meio a sua loucura.

Jaime beijou-lhe o rosto delicadamente, prometendo algo que não sabia se poderia cumprir.

- Irei protegê-la. Os deuses a privaram de Rhaegar, mas eu vou protegê-la. Em nome dos antigos e dos novos deuses, nada de mal lhe ocorrerá. Quando meu pai chegar, eu vou negociar os termos e...

- Lorde Tywin vem para nos testar, Jaime. – cortou Elia. – Por qual motivo ele viria com doze mil homens?

- Para reforçar as defesas do rei, obviamente...

- Jamais! – Elia tocou-lhe o rosto com as duas mãos. – Ah, Jaime! Havia ouvido falar a respeito de sua ferocidade em campo de batalha e sua inocência como um homem! – ela fez uma pausa. – Tywin Lannister não pretende se aliar a uma causa que ele julga perdida, mesmo que seja seu Rei por direito, o mesmo Rei que o traiu, tomando seu herdeiro como Guarda Real. Seu pai virá para nos acossar, por isso ele traz um pequeno número de soldados, considerando a sua real força. Rochedo Casterly pode reunir muito mais do que isso em nome do Rei, mas ele trouxe pouco. Por quê?

- Leva tempo para reunir um exército grande e o Rei precisa de ajuda agora. – respondeu. – Talvez tio Kevan esteja reunindo o exército que meu pai necessita, por que não? Enquanto isso ele vem pessoalmente guarnecer Porto Real com soldados experientes, leais a Casa Lannister.

- Ele vem com poucos, pois sabe que seu pai abrirá os portões para sua passagem. Ele vem com poucos, pois não deseja gastar seu tempo em um longo cerco e sabe bem que o exército de Robert está vindo para a capital. – Elia se sentou. – Grande Meistre Pycelle aconselhou o Rei a abrir os portões quando o exército Lannister chegar, então será o nosso fim.

- Meu pai não é um traidor, ele...

- Seu pai é um jogador, Jaime, e no Jogo dos Tronos, não podemos nos dar ao luxo de escolher mal o nosso lado, nem mesmo nossa posição. Meu amado Rhaegar mantinha o exército e a moral dos homens, mas agora ele está morto. Príncipe Lewyn instigava o medo nos corações dos adversários, e agora está morto. Sor Jonothor Darry? Morto. Os outros Guardas Reais estão desaparecidos, inclusive o Senhor Comandante Gerold e o melhor amigo de meu marido, Sor Arthur. – ela fez uma pausa. – E mesmo que estivessem aqui, são grandes soldados e não líderes. Barristan Selmy provavelmente está morto também. Nós não temos um grande líder, somente um Rei Louco e dois comandantes com pouca reputação como Sor Allister Thorne e Jaremy Rykker. Lorde Rossart inspira nojo entre os homens e Pycelle não passa de uma maldita sanguessuga! Mace Tyrell está muito distante para fazer algo por nós e meu irmão ainda mais distante. Ambos os irmãos. Com esta posição, qual lado seu pai escolheria?

- Escolheria sua honra, seu rei.

- Não Jaime. – ela sorriu, parecia tocada pela inocência dele. – Todas as esperanças estavam com meu marido no Tridente, e essas esperanças se foram. Quando seu pai chegar, será um banho de sangue, não tenho dúvidas. Ele quer me matar, acredite nisso, pois ainda sente ódio pelo Rei ter me escolhido para Rhaegar, ao invés de Cersei. Duas oportunidades de vingança ele encontrará, além de um possível novo Rei que poderá lhe devolver seu herdeiro.

“Cersei era minha”. Pensou.

- Meu pai não é tolo como meu avô.

- Eu sei disto, sei que ele não é tolo como o risível Lorde Tytos. Por isso mesmo nós estamos condenados.

- Não... – Jaime balançou a cabeça. – Não acredito, eu...

Elia Martell beijou-o novamente e deitou-se sobre o seu peito, acariciando seus pequenos pelos dourados que cresciam lentamente e ficavam cada vez mais espessos.

- Por favor, não falemos mais. Apenas fique comigo esta noite.

Foi exatamente o que fez. A noite passou rápido e Jaime partiu antes do amanhecer, deixando um beijo leve nos lábios da Princesa antes de retornar para a Torre da Espada Branca. Lá poderia lavar-se e trajar roupas novas, vestir a armadura e pentear os cabelos antes de retornar ao seu serviço no Grande Salão. Lavou-se e esfregou o corpo até deixar a pele vermelha, descansando por um tempo dentro da banheira, sentindo o vento soprar através das janelas. Seu aposento era um lugar arejado com portas de mogno e uma janela que dava uma visão privilegiada da cidade e uma possível olhadela para a Água Negra. Também havia uma escrivaninha e alguns livros, além de papeis, penas e tinta suficiente para meses. Uma estante ficava encostada a parede direita, recheada com diversas obras sobre espadachins e afins, além de livros de Meistres e Arquimeistres sobre guerreiros antigos de Westeros, inclusive Aemon, o Cavaleiro Dragão, Nymeria de Nyr Sar, Sor Duncan, o Alto (um dos mais notáveis Comandantes da Guarda Real. Barristan Selmy se orgulhava e era lembrado por tê-lo vencido em um torneio em Porto Real), entre outros.

Havia um livro sobre a Casa Lannister e seus membros históricos, seus feitios e condutas. Lann, o Esperto, mítico herói e trapaceiro que originou a Casa Lannister podia ser incluído entre seus favoritos. Tommen II Lannister viajou para Valíria a fim de combatê-la e jamais retornou, perdendo a espada ancestral da sua família. Loren Lannister, último Rei do Rochedo, derrotado por Aegon, o Conquistador, e elevado a Protetor do Oeste, um grande homem que sabia a hora certa de parar. O último listado era Tytos Lannister, Lorde do Rochedo, o mais débil dos senhores de Lannister.

Pensou a respeito de outros, particularmente, entre eles seu tio Gerion, que desapareceu em uma jornada para encontrar a antiga Cidade Franca de Valíria. Pensou tanto que foi desperto de seu mundo por um soldado do Rei, dizendo que o mesmo exigia sua presença no Grande Salão. Lorde Tywin se aproximava de Porto Real e até o final da tarde estaria frente aos portões. A decisão deveria ser tomada, o Rei se reuniria com alguns de seus conselheiros e precisava ter a Guarda Real o protegendo (sendo Jaime o único que restava na cidade. Temia ser o único ainda vivo). Respirou fundo e vestiu-se o mais rápido que pode, indo até o salão do Trono de Ferro, onde o Rei Aerys (O Louco) aguardava.

O Rei Louco estava sentado no Trono de Ferro, como era de se esperar, ao seu lado Lorde Rossart embebia o Rei com palavras fúteis, sem dúvidas. Lorde Varys e o Grande Meistre Pycelle se faziam presentes, além de Allister Thorne, pois Rykker permanecera com os homens nas muralhas, com seus arcos preparados para o exército do Rochedo que se aproximava.

- Como eu dizia meu rei, Lorde Tywin não pode lhe ser considerado de confiança. – disse Varys.

- Por quê? Lorde Tywin sempre foi um homem leal ao Rei e ao Reino. – cuspiu Pycelle. – Os Lannister nos são leais.

- Onde estava Lorde Tywin quando o Tridente foi perdido e o Príncipe Rhaegar caiu? – devolveu Varys.

- Maldito eunuco! Como ousa...

Jaime ajoelhou-se diante do Rei e colocou-se aos seus serviços, porém este não disse nada. Tomou lugar ao lado do mesmo e observou a discussão acalorada que durou o dia inteiro. Não sabia dizer o quanto aquilo o deixava enojado, porém a única coisa que lhe restava era observar e aguardar. A tarde se aproximava e a noite já caía novamente, porém o exército de Tywin permanecia do lado de fora. O Rei se inquietava sobre o Trono de Ferro, em agonia, desesperado para tomar uma decisão e sem saber qual deveria ser. A corte ficava encalorada, os aliados admitiam que se o Senhor do Oeste estivesse ali contra eles, nada poderia ser feito.

Ele permaneceu imóvel ao lado do Trono de Ferro, o grandioso trono da glória de Aegon, o Conquistador, o desejo e a ambição de qualquer um que ansiasse por dominar Westeros. Observava cada movimento dos membros do Pequeno Conselho, além de estar inquieto e seu ponto, sentindo um desconforto jamais visto. Respirou fundo em uma tentativa de acalmar a ansiedade, colou a cabeça, cantarolou uma canção em sua mente, porém nada que prestava saiu. Infelizmente acabou ouvindo “As Chuvas de Castamere” em sua mente, literalmente aquilo não fazia com que se sentisse melhor, apenas incomodado. Meistre Pycelle voltou a insistir para que o Rei abrisse os portões e aceitasse a ajuda de seu antigo aliado e Mão.

Varys voltou a insistir que seria tolice, mas a palavra de Pycelle parecia ter mais poder. “Eu forjei minha corrente quando Maekar ainda era Rei em Westeros! Sirvo ao Trono de Ferro desde Aegon V, servi a Jaehaerys e agora eu o sirvo, meu Rei, salve o Reino! Deixe Lorde Tywin entrar!”. Dizia o velho. Pôde notar o olhar de reprovação vindo de Varys. O eunuco simplesmente se levantou e caminhou silenciosamente na direção do nada. O Rei, por sua vez, deu ordens a Sor Jaremy Rykker para abrir os portões e permitir que o seu aliado do Rochedo guarnecesse as muralhas de Porto Real.

Tudo parecia estar correndo bem, aparentemente. Elia Martell tinha ficado em seus aposentos na Fortaleza de Maegor, onde poderia estar mais segura. O Rei permitira a entrada da guarnição que podia ajudá-los a vencer o rebelde, além de ser sua Mão novamente, se a vitória viesse. Jaime permaneceu esperançoso ao lado do Trono, até um tanto ingênuo, como poderia afirmar. A armadura reluzia enquanto se mexia, e o manto branco puro não havia sido manchado por sangue, nem nada, e talvez nem fosse necessário. Ele talvez ainda poderia alimentar o sonho de ser o “Leão Branco” da Guarda Real, talvez substituir Sor Gerold Hightower, quando chegasse o momento, tudo poderia se voltar para os seus sonhos infantis.

Mas não era exatamente o que estava acontecendo. Sons estranhos ecoavam da cidade e labaredas foram vistas por todos os lados. Os sons das mulheres gritando chegavam aos ouvidos do Rei em sua fortaleza, além das espadas cantando lá embaixo. Jaime caminhou na direção das janelas para ver e o que via não poderia ser mais brutal: o exército Lannister saqueava a cidade, queimavam casas e matavam pessoas indiscriminadamente. Estupravam mulheres antes de, finalmente, matá-las, esfaqueavam crianças e destruíam lojas, além de queimarem piromantes e decapitarem septões. Não compreendia o que estava acontecendo, lágrimas escorriam de seus olhos, pois sabia que agora teria de lutar contra seu próprio pai e jamais se negaria a isso. “Eu pertenço a Guarda Real. Sou um Cavaleiro”. Pensou.

- Jaime Lannister. – chamou o Rei Aerys. Sua voz se tornara fantasmagórica, tão estranha quanto a sua aparência. – Onde está a sua lealdade?

Jaime ajoelhou-se diante do Trono de Ferro e ofereceu ao Rei sua espada.

- Está convosco, majestade. – disse. – Com a Casa Targaryen. Não sou mais um Lannister, eu sou um membro da Guarda Real. Lutarei por vós!

Rossart sussurrou algo nos ouvidos do Rei e este sorriu, pois lhe parecia bem dar tais ordens ao seu último Guarda.

- Prove-me. – disse Aerys Targaryen enquanto se levantava do trono e rosnava, com ódio. – Traga-me a cabeça de Tywin Lannister, seu pai! Eu o quero morto, o traidor. Eu quero a cabeça, e você vai me trazer a cabeça, ou vai queimar com todos os outros, todos os traidores!

- Peço humildemente, meu rei, permita-me negociar com meu pai. – respondeu Jaime. – Ainda podemos reparar este terrível engano, eu...

- Pretende interceder por ele ou salvar seu rei? – indagou Lorde Rossart com os braços cruzados diante do Trono. Pycelle começava a se levantar, partindo na direção de seus aposentos. Jaime adoraria apunhalá-lo.

Os ventos sopravam através das janelas e tudo o que ouvia do lado de fora eram os gritos horrendos.

- Eu o matarei. – murmurou Jaime, consternado. – Trarei a cabeça de Lorde Tywin e a depositarei aos seus pés, em sua honra, meu Rei!

Levantou-se com sua espada e caminhou na direção da porta. Fechou os olhos por um minuto, esperando que tudo fosse diferente quando os abrisse. Tocou a maçaneta e abriu a porta, mas parou por alguns segundos, hesitou, e isto foi o suficiente para fazê-lo perceber. Ao ouvir o Rei Aerys dizer a Rossart: “Queime todos, quero que queime todos. Os traidores querem a minha cidade, mas vou dar-lhes nada além de cinzas. Vamos ver se Robert será Rei de ossos carbonizados e carne cozida”. Aquilo o pegou de surpresa, pois não iria muito longe antes de Rossart destruir a cidade. O coração de Jaime congelou e pegou-se pensando nas pessoas de Porto Real, nas vidas que seriam perdidas, nas crianças, e em Elia Martell e seus dois filhos. Não podia deixar isto ocorrer.

Fechou a porta novamente com muito cuidado e caminhou na direção de Lorde Rossart, que se aproximava de outra porta. Silenciosamente Jaime Lannister agarrou sua boca por trás, impedindo-o de gritar, com a mão esquerda ele o silenciou, e a sua mão direita foi a que transpassou as costas do alquimista, rasgando-lhe o corpo e as entranhas, matando-o sem piedade. “Não posso deixar queimarem a cidade”. Pensou. Deixou o corpo de Rossart despencar, inerte, pois já não importava mais. Aproximou-se de Aerys Targaryen por detrás do Trono de Ferro enquanto ele urrava aos sete ventos, esperneava e praguejava, e seus gritos horríveis.

- Queime todos! Queime todos! Queime...

Jaime cravou a espada em suas espáduas, logo abaixo do pescoço, matando-o quase que instantaneamente. A espada o transpassou como se sua carne fosse feita de seda, o sangue escorreu limpo através da lâmina. O Rei suspirou, mas não gritou, simplesmente manteve os olhos arregalados enquanto a morte chegava dócil até ele, quieta e silenciosa. Ele removeu a espada em um puxão e empurrou o Rei Louco para fora do trono. Seu corpo cambaleou pelas escadas e espatifou-se, manchando o chão com seu sangue, aos olhares de todos os crânios dos dragões que pertenceram a sua Casa outrora. Respirou fundo, não acreditava no que acabara de fazer, sua espada acabara de trair o Rei que jurara proteger. Jaime sentiu os seus olhos lacrimejarem ao observar o corpo de Aerys inerte. “Ele mataria a todos”, tentou se consolar. Sentiu o peito arfar, o ar entrar em seus pulmões e ser cuspido para fora, nada poderia fazê-lo voltar a sentir a tensão daquele momento.

Aerys II da Casa Targaryen, o Rei Louco, estava morto.

“Elia!”. Pensou. A princesa dornesa deveria estar em seu aposento na Fortaleza de Maegor, como ele tinha lhe dito para fazer. Jaime correu o quanto pôde até lá a fim de socorrê-la. Os portões haviam sido destruídos por um piromante tolo que, acidentalmente, deixou cair um frasco de fogovivo em uma tentativa fútil de destruir uma tropa inimiga. Os soldados do Rochedo invadiram e agora queimavam tudo, estuprando algumas mulheres, matando os homens, jogando as crianças das muralhas. Homens sob o estandarte do Leão Lannister ao lado de Três Cães sob um fundo amarelo. “Gregor Clegane, o Montanha”. Pensou. Em todos os Sete Reinos jamais haveria alguém tão cruel e repugnante quanto Gregor. Um homem gigante e violento, conhecido por estupros, guerras e terror.

Alguns homens de Sor Gregor o viram e tentaram impedi-lo, porém Jaime era melhor do que qualquer um deles. Balançou sua espada para a direita e arrancou o braço direito do rapazola que tentou atacá-lo primeiro, até o cotovelo. Chutou-o para o lado e retirou um fétido soldado do Montanha de cima de uma menina. Jaime rasgou-lhe o ventre com sua espada, deixando-o para morrer com as entranhas em suas mãos.

Bloqueou no processo o golpe de um soldado que insurgiu por detrás dele, empunhando sua lâmina para trás em um último momento. Girou o corpo velozmente e usou uma adaga para rasgar os intestinos do soldado, que gritava com as tripas na mão. Jaime Lannister não hesitou ao cortar-lhe a cabeça, deixando-a quicar na direção dos outros onze homens que o observavam, atônitos, e indecisos se deveriam atacar ou não.

- Meu nome é Jaime Lannister, Cavaleiro da Guarda Real. – disse. – Acho que vocês entendem o que isto significa, não? – balançou sua lâmina ensanguentada para que eles vissem. – Não podem contra mim, mas podem tentar. Neste caso vocês morrerão, eu não ligo. Se vocês querem viver, podem correr agora, ou morrer.

Os homens de entreolharam, e um rapazola quis arriscar atacar, porém Jaime não teve muito trabalho. Girou a espada e desarmou o rapaz com um golpe firme em seu punho, utilizando-se do cabo no momento que sofreria uma estocada. Utilizou um golpe de cima para baixo a fim de rasgar o rapaz ao meio. Seu manto branco manchara de sangue, mas já não ligava. Precisava ir até Elia.

- Alguém mais?

Virou-se sem observar se alguém tentaria algo, mas pode ouvir os passos dos amedrontados soldados saindo da Fortaleza. Ele correu até o quarto de Elia e encontrou a porta aberta quando chegou ao corredor. Havia um lanceiro Lannister no caminho que insurgiu com sua arma a fim de estocá-lo. Jaime correu em sua direção e saltou, cambaleando por detrás do rapaz. Golpeou para trás e rasgou as costas do garoto, matando-o. Quando finalmente se levantou, teve coragem de olhar para dentro do quarto que cheirava a sangue e morte. Não viu Gregor Clegane, mas achou o quarto bagunçado e destruído, havia sangue por todos os lados.

Quando finalmente viu a monstruosidade que ocorrera ali, que ele realmente chorou. Jaime desabou de joelhos no chão aos prantos, sobre o corpo de Elia Martell de Dorne. Seu crânio estava esmagado, seus olhos saltavam das órbitas e suas roupas estavam rasgadas. Havia sangue entre as pernas dela, muito sangue, além de marcas de socos e golpes. “Ela foi estuprada. Apenas o Montanha faria isso. Maldito!”. Gritou para si mesmo. Sua cabeça era uma ruína, seu corpo estava destruído, não sobrara muito.

A Princesa Rhaenys jazia sobre a cama vermelha, pois fora esfaqueada tantas vezes que o vermelho rubro do sangue manchou a cama inteira. A menina tinha um rosto angelical até na hora da morte, por tal rosto diziam que a filha de Rhaegar se assemelhava a Rhaenys Targaryen, esposa de Aegon, o Conquistador. O Príncipe Aegon, o bebê, tivera sua cabeça esmagada contra a parede como se fosse gado, como se fosse nada. Seu cérebro sujava o berço e a parede, seus olhos pequeninos permaneciam fechados e tristes. A criança não merecia isso e Jaime sabia muito bem, mas e agora? O que seria?

“Vão me chamar de Assassino do Rei. O Regicida. Não o Leão Branco, mas um traidor maligno. Falhei com meu Rei e com a minha Princesa, com quem passei a única noite de paz sincera em toda minha vida”. Murmurou e pranteou consigo mesmo, disposto a matar Sor Gregor por aquele crime. Levantou-se velozmente com a espada na mão e correu de volta para a sala do Trono, onde poderia, talvez, encontrar seu pai com os seus vassalos traidores. “Agora você também é um traidor”. Pensou. Nada mudaria isso.

O corpo de Aerys permanecia no mesmo lugar que ele deixara, inerte. Observou que ninguém conseguira chegar até o castelo, mas com certeza chegaria. Alguém reclamaria o Trono de Ferro e assim o ciclo continuaria. Jaime sentiu o peso do mundo em suas costas, pois tomara decisões erradas. O Rei Louco não poderia ser protegido, mas a Princesa sim. Deveria ter fugido com ela para Dorne, tê-la protegido e salvado. Jaime viveria com mais um “e se” em sua vida, duvidando a respeito de si mesmo e do seu futuro se tivesse tomado decisões diferentes.

Deu a volta no Trono de Ferro enquanto acariciava suas lâminas pontiagudas e assassinas. Admirou-o tanto que se sentou devagar sobre o Trono, tão duro e sem conforto que compreendia as palavras de Aegon: “Um Rei não deve se sentir confortável ao governar”. De fato. Ponderou sobre a morte de Elia, Aerys, os filhos dela. Pensou em Rhaegar, de quem pensou ser amigo. Tywin ordenara ao cão que fizesse aquilo, pois desejava vingança. “Rhaegar deveria ser de Cersei. Por isso ele matou Elia”. Sentiu um desejo intrigante de também matar o seu próprio pai e descer aos Sete Infernos como um Regicida e Parricida. Escorou-se no Trono e cruzou as pernas, o braço direito deitado sobre a braçadeira. O outro apoiado e a mão sob o queixo. Assim permaneceu pensativo enquanto os sons da batalha ecoavam por Porto Real, a noite inteira, de uma forma perturbadora. Pensamentos estranhos o dominaram, sonhos sobre a morte, dor e sofrimento.

Pranteou em sua solidão ao som da sinfonia grotesca que se apresentava do lado de fora. Jaime desejava que o Trono o matasse, tal como Maegor, o Cruel. “Que eu morra. Antes morto do que Regicida”. Assim ele seria lembrado, suas esperanças começaram a se quebrar naquele momento. Percebeu o quanto suas escolhas eram ruins e como se deixava ser dominado por todos. Sons de golpes nos portões do Salão do Trono foram ouvidos, sons de machados e espadas, e uma tropa Lannister surgindo logo depois que eles foram quebrados, tantos soldados que não se deu ao trabalho de contar. Lorde Tywin surgiu à frente deles e sorriu (com os olhos, pois sua boca jamais expressava um sorriso) ao ver o filho sobre o trono e o Rei Louco morto.

O silêncio pairou de forma perturbadora. “Jon Darry estava certo. Esta cidade fede”. Pensou. Sor Jonothor, jamais o veria novamente, e se pudesse vê-lo, Darry sentiria vergonha dele. “Acredito que chegará uma hora, Sor, em que você terá a vida do Rei em suas mãos. Deverá decidir nos tempos difíceis se o protegerá ou o deixará cair. Seja você ou não um fazedor ou destruidor de reis, eu acredito no seu potencial, seja qual for o uso que lhe der. Um dia Westeros poderá estar em suas mãos, basta pegar a oportunidade”. As palavras de Gerold Hightower, o Touro Branco, ecoaram em sua mente naquele momento.

Os homens dos Lannister abriram caminho para uma comitiva passar. Soldados recém-chegados do Tridente sob vários estandartes (em sua maioria os de nortenhos). Percebeu o Lobo Gigante da Casa Stark à frente e seus comandados, assim como Lorde Eddard Stark de Winterfell. Ele caminhava na direção do trono. Logo atrás vinha Lorde Robert Baratheon com sua pompa e sua glória, um homem a ser temido. Aparentemente não tinham participado do combate, mas estavam dispostos a reclamar o Trono.

- Eu reclamo o Trono de Ferro para Robert da Casa Baratheon! – gritou Ned Stark.

Os homens da Tempestade que surgiam detrás dos nortenhos gritavam o nome de Robert. Jaime nada disse, apenas permaneceu em silêncio enquanto Lorde Tywin fazia sinal para seus homens, a fim de que trouxessem os corpos multilados de Elia e seus filhos em tributo ao novo Rei. Sentiu o sangue congelar, havia ódio dentro dele, algo que decidiu esconder por enquanto. Ned Stark ficara estupefato com a violência praticada contra os pequenos. Robert sorria sem esconder sua felicidade, satisfeito pela crueldade praticada. Stark estava boquiaberto e virou-se para Robert imediatamente.

- Isso é um crime.

- Não, Ned! – disse Robert, eufórico, incapaz de se conter. – Tudo o que vejo são os bebês dragões prestes a crescer. Ameaças, isso sim!

- Em sua homenagem, Milorde. – disse Tywin Lannister, fazendo uma reverência. – Uma prova de nossa lealdade.

- Lealdade? – indagou Ned. – Que lealdade?

- A mesma que a vossa, Lorde Stark. – afirmou. Tywin. – Ou vocês são menos rebeldes do que eu fui?

- Eu não enganei o Rei com promessas falsas. – devolveu Eddard apontando o dedo para Tywin. Voltou-se para Robert. – Os homens que fizeram isso devem ser punidos, pelos deuses!

- Eles serão recompensados pelos seus feitos e sua lealdade. – disse Robert Baratheon.

- Você não pode fazer isso! – Ned encarou Robert.

- Eu sou o Rei agora! Faço o que eu quiser! – devolveu Robert, empurrando-o. – Se está incomodado, Stark, volte a sentar sua bunda no gelo de Winterfell!

Lorde Jon Arryn os separou antes que a briga tomasse maiores proporções. Notou o olhar sádico de seu pai, pois nunca sorria, apenas permanecia com o mesmo olhar frio e fixo de sempre. Observou a briga por um tempo, até que Eddard cansou-se dela.

- Pode ficar com seu reino! – ele se retirou da Sala do Trono. – Eu tenho uma irmã a resgatar!

- Foda-se, Ned! Seu merdinha! – gritou Robert.

Jaime permaneceu imóvel enquanto observava um Lorde partindo e outro se aproximando do Trono para tomar o seu lugar como o novo Rei. Um ritual grotesco tomara conta do Salão, o fedor do sangue era mais adocicado do que o cheiro da traição. Ele jamais se perdoaria por tudo aquilo que estava vivendo.

- Você o matou? – indagou Robert.

Jaime assentiu sem dizer nada.

- Pode ceder-me o Trono, Regicida? – perguntou Robert, encarando-o.

- Claro, afinal eu não fazia outra coisa senão esquentá-lo para vós, majestade.

Ele se levantou com o coração esmigalhado, deixando o trono para o novo senhor Usurpador. Caminhou para fora da Sala do Trono, pois Rossart estava morto, porém havia outros piromantes sob as ordens do Rei Louco. “Não salvei Elia, mas posso salvar o povo”. Pensou.

Jamais cantariam ou contariam histórias sobre um Sor Jaime Lannister que salvara o povo de Porto Real da destruição pelo fogovivo, nunca cantariam em sua homenagem e a sua coragem, pela forma que perdeu a honra para cumprir seu dever como cavaleiro. Sempre se lembrariam dele como o homem que assassinou seu próprio rei, um Regicida, um amaldiçoado pelos deuses, abominação e outras coisas mais. Jaime não suportou a vontade de chorar e continuou a chorar enquanto se aproximava dos túneis secretos da Fortaleza de Maegor, os quais ele aprendera a utilizar. Pediu perdão para Elia em seus pensamentos, sofria demasiadamente por dentro por todas as suas falhas.

Naquele momento, apenas naquele momento, Jaime percebeu que perder a vida era menos doloroso do que perder sua honra.

E a sua se perdera para sempre.

 

 



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