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História As Crônicas de Zhank - Magicamente científico


Escrita por: LeoKramer

Capítulo 2 - Magicamente científico


- Como pode o filho de dois grandes magos não ter aptidão nenhuma? Quem vai substituir vocês no conselho?

- Calma Dolores, não precisa ser tão rude. O garoto talvez seja tardio. - diz Arthur desconfortável.

    A conversa era tensa na sala. Saara preferiu apenas ficar quieta, pegar a taça de vinho, se sentar e deixar o marido resolver a questão. Porém, por maior que a casa fosse, a gritaria era ouvida por todos os cantos. Inclusive do lugar que ninguém queria que ela chegasse : o quarto de Ethan.

    O garoto suspirou, segurando ao máximo o choro. Sentou-se no chão ao lado da cama e olhou fixamente sua mão.

- Por que eu não sou que nem todo mundo?

    Nem mesmo uma luva rúnica era capaz de fazê-lo sentir a magia. Seu destino era esse. O filho dos maiores magos que Lyrak já tivera, não passava de um bastardo. Era assim que os magos do distrito de Zerinth chamavam os que não tinham aptidões mágicas.

    Dolores terminou de grunhir e saiu batendo os irritantes saltos até a porta da casa. Ela era do alto escalão, responsável por registrar todos os magos que entravam para o exército. Eram tempos difíceis para Lyrak. As batalhas contra o comandante Ulroth deixaram marcas profundas na economia da região, mas os moradores dalí não imaginavam a sorte que tinham por não ser do reino de Rhael.

    Arthur e Saara eram magos poderosos, responsáveis pelo conselho do reino. Eram eles que ditavam as regras, tanto do ensino das artes quanto dos julgamentos dos acusados de abuso dos poderes. Porém eles eram pessoas pacíficas, que acreditavam no potencial de cada indivíduo, não importando o quão fraco ele parecesse. E isso enfurecia Dolores, que queria reger o distrito com mãos de ferro e ser temida pelos magos da região. Esse era um dos principais motivos de seus embates com Saara nos quais Dolores sempre ouvia que deveria arrumar o que fazer, como preparar uma poção de perna de Gnir pra dor de cabeça. Quem em sã consciência usaria perna de Gnir pra isso?

    Ao fim da discussão, o casal deu um grande suspiro seguido de uma troca de olhares. A aura ao redor dizia claramente que Ethan tinha ouvido tudo e estava chateado. Os dois então subiram as escadas até o quarto do filho.

- Onde está o meu garotão? - pergunta Arthur tentando parecer animado.

- Aaaaah, me deixa... - responde Ethan, virando de costas para o pai.

    O garoto tinha se cansado de observar a mão com a bendita luva que nada fazia e tinha ido deitar em sua cama, que ficava de frente pra porta.

- Ora, não precisa ficar chateado. - diz Saara docemente.

    Os dois se sentam aos pés da cama. Ethan se arrasta até o colo de sua mãe.

- Por que todo mundo fica me chamando de bastardo? - pergunta Ethan com os olhos marejados.

- Porque eles são chatos e maus. E meu anjinho não precisa se importar com isso. - responde Saara afagando a franja castanha de Ethan.

    O garoto se senta na cama, de frente para os pais. Ajeita os óculos que estavam molhados de lágrimas.

- Mas e se eu não puder usar magia?

- Você não precisa disso. Tudo o que você precisa é disso... - o pai toca o filho na testa e continua – e disso ... - e então o abraça.

    E naquele momento, em meio ao agora abraço triplo, que Ethan entendeu que já que a magia não veio até ele, ele irá atrás de sua própria magia.

    Ele era o mais esperto de sua turma, e inclusive o mais esperto dentre os outros garotos de 8 anos que estudavam na Escola de Zerinth. Lá, além das disciplinas habituais que todos os habitantes dos Reinos Térsicos tinham, os alunos tinham as disciplinas de magia. Porém aqueles poucos que não tinham aptidões mágicas, podiam fazer as disciplinas de Especialistas, que era o nome dado aos não magos que podiam usam a mecânica e a robótica ao seu favor. Ethan era quase o melhor de sua turma, perdendo apenas para Angela.

    Ah, a doce Angela. O garoto era apaixonado por ela embora não tivesse coragem de dizer. Ele acreditava que sua barriguinha saliente não agradasse tanto as garotas quanto os músculos definidos dos garotos das turmas posteriores. Angela, aos olhos de Ethan, era um anjo de cabelos dourados. Mas não era apenas a beleza o forte da jovem, ela era uma cientista impecável. Seus autômatos não apresentavam defeitos e aos 16 anos, ela desenvolveu um núcleo avançado que permitia aos inventos de lata cheios de engrenagens, conseguirem bateria suficiente para mais de meses, e tudo isso usando um pequeno cristal que era encontrado na região.

    Angela era um refugiada da guerra. Ela perdeu sua família nas batalhas em Rhael e foi salva por um grupo de pessoas que estavam fugindo dalí. Como Lyrak era o lugar mais perto, o grupo atravessou a fronteira e se estabeleceu no distrito de Zerinth. Angela foi aceita como interna na escola e passou a morar lá. O Conselho dos Magos se sensibilizou com a causa dela e de outros refugiados e enviava mensalmente um custeio para que a escola os mantivesse.

    Com o passar do tempo, restaram apenas os dois na turma dos especialistas. Os outros que também não tinham habilidades com magia acabaram descobrindo talentos em outras áreas, principalmente nas lutas com espadas ou arqueria, mas os dois permaneceram lá. Até que um dia seus olhos se encontraram e Ethan descobriu que o amor entre eles era mútuo. Os dois mesclaram suas tecnologias e suas descobertas e criaram coisas ainda mais fascinantes. Aos 18 anos, eles entraram na Universidade Geral de Lyrak que ficava na capital Toraeg. Os dois se mudaram pra lá para morarem numa pequena casa só deles.

    Os pais de Ethan ficaram felizes com seu progresso. Mesmo o garoto não sendo tardio e sim um bastardo, eles acreditavam que a tecnologia e o conhecimento de Ethan poderiam render bons frutos. Aos 18 anos, mesmo com a dor da separação, eles permitiram que ele fosse viver sua vida na capital junto com sua amada. Nada que impedisse Saara de enviar cartas com selos rúnicos que transportavam biscoitos, afinal de contas qual seria a graça da magia se ela não permitisse alguns caprichos?

    Os anos se passaram. Os dois se casaram. Angela não perdeu sua doçura e Ethan não perdeu o peso extra, mas talvez alguns fios de cabelo. A pesquisa dos dois tinha avançado para um ramo interessante: criar um dispositivo que permitisse os não magos a terem aptidões mágicas. Ao que parecia, os cristais da região que Angela havia descoberto, se fossem corretamente tratados e a cobaia fosse devidamente exposta a eles, poderia gerar uma conexão com a aura mágica do mundo. Em outras palavras, todos tratados pelo cristal poderiam usar magia.

    Era um objetivo difícil de alcançar, ainda mais que os cristais não eram tão fáceis de conseguir pois se formavam no fundo de cavernas escassas. Diversas vezes os dois acabaram se aventurando em viagens perigosas ao interior do reino para conseguir os cristais. Em algumas vezes foram até assaltados, como na passagem por Garganta Cortada. Mas eles não desistiam.

    A universidade bancava os gastos da pesquisa, já que os dois eram famosos e rendiam diversas publicações, além de serem professores. O tempo passou, e os dois já eram casados, tinham 30 anos e aparentemente, além de não ter aptidões mágicas, Angela também não podia engravidar. As marcas das torturas da guerra do passado eram pesadas. Ela tinha uma saúde frágil e sempre ficava doente, mas a paciência e o amor dos dois era tudo o que eles precisavam.

    Mas se engana quem pensa que os dois não passavam de espertalhões fracos. Ethan, utilizando fragmentos dos cristais quebrados que restavam dos testes, criou um núcleo de energia e implantou em algumas armas, fazendo com que elas se tornassem verdadeiras desintegradoras de matéria. Talvez não pra tanto, mas um tiro daquele laser doía pra valer. Com o ameaço da guerra batendo na porta, toda população maior de 16 anos passava por treinamentos semestrais em casos de ataques surpresa vindos de Thamar. O treino incluía uso de armas, combate e táticas de guerra. Ethan era simplesmente terrível no quesito combate, porém, assim como Angela, sabia manusear armas muito bem e tinha uma excelente mira.

    Na medida que a pesquisa deles progredia, o destino preparava surpresas para os dois, e algumas delas não eram tão boas assim.

    Numa noite fria, alguém bateu na porta. Já era muito tarde, então os dois estranharam a "visita", e foram até a porta com cautela. Ao abrir, eles de depararam com uma garota, de provavelmente 10 anos, deitada no chão. Ela estava enrolada numa coberta e segurava firmemente um arco todo ornamentado.

    Angela abaixou depressa para verificar o pulso da garota, e para seu alívio, ela estava viva.

- Ela está viva! Me ajuda aqui! - grita Angela.

    Ethan pega a pequena nos braços e a leva para dentro, deitando ela na cama do casal. Angela antes de fechar a porta dá uma observada aos arredores. Não parecia que tinha alguém nas ruas, e muito menos alguém que talvez tivesse deixado a garota alí e depois ter corrido, mas então quem bateu na porta?

    Ela não tinha ferimentos e suas roupas estavam limpas, era apenas uma garota dormindo. Sua pele era negra como a noite e seus cabelos estavam arrumados em pequenas e apertadas tranças. Mas suas roupas chamavam a atenção. Elas pareciam ser de couro de animais e eram costuradas de uma maneira bem rústica, e possuíam desenhos em uma tinta amarela cintilante que ornamentavam a roupa toda. Era quase como a base de uma armadura.

    O arco era grande, e possuía figuras parecidas com as da roupa em toda em sua extensão, e sua forma era retorcida, lembrando bastante um chifre de algum animal.

    O casal ficou um bom tempo sentado ao lado da garota observando-a. Eles pensaram em tentar acordá-la, mas o sono profundo em que ela estava despertou uma certa pena no dois.

- Seja lá de onde ela veio e o que tenha passado, eu acho que devemos deixar ela dormir e tentar resolver as coisas amanhã. Algo me diz que isso é o certo a se fazer. - diz Angela.

    Ethan concordou e correu para os armários em busca de cobertas macias e travesseiros. Os dois montaram uma pequena cama improvisada no chão e dormiram. Talvez aquilo tivesse sido irresponsável mas os dois realmente não sabiam o que fazer.

    No dia seguinte, os papéis se inverteram. Quando eles acordaram, quem os estava observando era a garota, mas ela estava com uma adaga na mão e não parecia muito feliz.

- Ares tes yalah? - grita a garota apontando a adaga pro casal.

- O que? O que você está falando? - indagou Ethan.

    Os dois confusos se sentaram na cama improvisada e estavam com a mão estendida na direção da garota no intuito de tentar pará-la.

- Atua les zenia? - grita a garota com um olhar cheio de ódio.

- Calma … olhe pra mim, nós não vamos fazer mal algum a você, ok? - diz Angela calmamente, tentando se aproximar da garota para segurar sua mão.

    A menina estava com os olhos marejados. Seja lá o que tivesse acontecido, não tinha sido algo bom. E de onde uma criança daquele tamanho tinha tirado uma adaga?

- Você fala a nossa língua? - pergunta Angela acenando com a cabeça e esboçando um leve sorriso.

    A menina larga a faca e abraça Angela. Seu choro era desesperador.

- Calma meu anjo, vai ficar tudo bem. - diz Angela afagando o rosto da garota.

 



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