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História As Garras do Matrimônio - Uma Lição do Passado


Escrita por: DocePerfume

Notas do Autor


Talvez tudo o que Boruto e Sarada precisassem era aprender com o passado.


Então, penúltimo capitulo! Eu tô muito orgulhosa de mim e de todos vocês que chegaram aqui comigo, aqueles que não desistiram mesmo quando eu demorei muito pra atualizar a fanfic, sou muito grata a vocês.

Capítulo 22 - Uma Lição do Passado


  

A garotinha de olhos verdes encarou a mulher de cabelos vermelhos com os lábios pressionados um contra o outro, enrugando o nariz para evitar o choro. Não compreendia por que seus pais haviam a enviado para longe de casa e, naquele momento, só desejava a presença de sua mãe, mesmo que a mulher nunca fosse verdadeiramente carinhosa consigo.

- Querida, está com fome?- Kushina perguntou, abaixando-se em frente a menina com um sorriso no rosto. 

Sakura assentiu enquanto analisava os longos cabelos vermelhos da mulher, uma cor que até então jamais vira em nenhuma outra dama, assim como a coloração rosa de seus próprios fios.

- Gostou do meu cabelo?- Kushina perguntou, puxando uma longa mecha para o ombro a fim de mostrá-la para a jovem. 

- É como o meu- Sakura falou, puxando um de seus fios curtos à frente do rosto. 

- O seu é muito bonito- a Uzumaki elogiou.

Os olhos verdes da jovem voltaram a brilhar, mas dessa vez não com lágrimas. Sakura encarava Kushina como se, de repente, enxergasse uma nova esperança para sua curta vida. Tudo que a menina pensou naquele momento foi que, quando crescesse, queria ser como Kushina Uzumaki. 


 

Anos depois, podia-se dizer que Sakura havia alcançado todo o status que Kushina havia planejado para ela. Jamais retornara para o lugar onde havia vivido a sua infância, de modo que até mesmo os rostos de seus pais estavam quase apagados em sua mente. 

Tanto para a alta sociedade londrina quanto para os próprios Uzumaki, Sakura fazia parte da família de duques. A única característica que a distinguia e a lembrava de suas verdadeiras origens era seu sobrenome, o qual em breve perderia ao casar-se, quem sabe tornando-se oficialmente uma Uzumaki. 

Não era segredo que Naruto, o herdeiro do duque, tinha suas atenções focadas na protegida de sua mãe e mantinha uma boa relação de amizade com a garota. Todos comentavam sobre isso, era certo que um dia ele a pediria em casamento, e Sakura finalmente se tornaria a filha de Kushina Uzumaki. 

Muitas vezes, a duquesa se encontrava avaliando a jovem, lembrando-se da menina tímida que havia recebido em sua casa e comparando-a com a moça educada e instruída que a acompanhava nos dias atuais. Sakura era seu orgulho. 

Ao contrário de Karin, que sempre fora sapeca e muito apegada ao pai, Sakura acompanhava Kushina em todos seus afazeres. Aos dezesseis anos, a garota passava as tardes lendo, aprendendo novas línguas e estudando. 

Ela sabia ser forte quando necessário, vivia ralhando com Naruto e Karin, mas, assim como Kushina, a garota tinha seus momentos de delicadeza e amor. Era uma jóia preciosa, e a duquesa a tinha em alta estima. 

Todas essas qualidades eram, em partes, o motivo pelo qual Kushina desejava do fundo de seu coração ter Sakura como sua sucessora. Seu filho era um bom garoto, daria um ótimo duque pelo seu senso de responsabilidade e o grande coração, mas Sakura poderia fazê-lo ainda melhor, ela pensava. 

Mas, acima de tudo isso, Kushina desejava aquele casamento porque Naruto a amava. Nada no mundo a faria mais feliz do que vê-los juntos. Na verdade, não havia sequer uma alma da alta sociedade londrina que não acreditasse que Naruto e Sakura acabariam no altar. No entanto, nenhum deles contava com Sasuke Uchiha, o filho mais novo do conde.

Sasuke havia crescido na casa ao lado, brincando com Naruto e Karin pelos quintais de ambas as casas. A relação forte entre as duas famílias não se perdeu com o tempo, mesmo quando os jovens cresceram. 

Assim como todos pensavam que Naruto acabaria com Sakura, todos sabiam que Karin Uzumaki se casaria com Sasuke Uchiha. Já era de conhecimento público que Minato Uzumaki havia feito um acordo com Fugaku Uchiha que envolvia os filhos. Ninguém sabia o que ambos ganhavam com isso, mas acordos desse tipo eram comuns o suficiente para que não levantasse tantas perguntas. 

No entanto, naquele mesmo ano em que Sakura Haruno debutou na sociedade londrina, a família Uchiha morreu em um incêndio em uma de suas casas de campo e Sasuke, que, na época, estudava na universidade, passou a ser o herdeiro legítimo ao título de conde. 

Sasuke Uchiha estava em sua pior fase, lidando com a grande responsabilidade de assumir um condado e a dor da morte de sua família. Naruto tentou ajudar o amigo, mas ninguém conseguia afastá-lo da escuridão em que estava imerso.



 

Sakura respirou fundo o ar da noite, sentindo-se um pouco melhor longe de todos os olhares, danças e bajulações da alta sociedade. Amava Londres, os bailes, as conversas e os parques, mas, às vezes, só às vezes, ela se lembrava do lugar onde havia crescido: uma casa simples de campo, onde tudo era silencioso e todos os dias eram iguais. 

- Não seja ingrata, Sakura- murmurou consigo mesma. 

- Falando sozinha?- uma voz grave perguntou.

A jovem teve um sobressalto, virando-se de forma instintiva na direção de onde vinha a voz. Relaxou quando identificou o Uchiha nas sombras, o que não era uma surpresa visto que elas pareciam acompanhá-lo para onde quer que fosse nos últimos tempos. Sakura, no entanto, sempre achara Sasuke intrigante, e foi movida por essa mesma curiosidade que ela decidiu aproximar-se. 

Mesmo na penumbra era difícil não se impressionar com a beleza do jovem. Sasuke nunca precisou se esforçar para parecer o que quer que fosse, bonito, educado ou inteligente, e Sakura o invejava por isso. Todas as damas com quem ela falava relatavam sentir uma atração sem sentido pelo Uchiha, no entanto, todas o achavam rude e recluso. 

Se Sakura perguntasse com quem elas preferiam se casar, Naruto ou Sasuke, a resposta seria Naruto, pois ele era amável e simples, mas todas, com talvez apenas uma exceção, olhavam para Sasuke quando ele entrava no salão.

A Haruno sempre culpou-se por sentir aquela mesma atração estranha para com o Uchiha, quando, na verdade, tinha todo o afeto de Naruto sobre si. Mas havia, de fato, algo em Sasuke difícil de simplesmente ignorar. 

- É melhor voltar para a festa- ele murmurou quando viu-a se aproximar. 

- Volte você- Sakura respondeu. 

- Eu estava aqui primeiro.

Nesse momento, Sasuke saiu para a luz das poucas velas que haviam ali. Os olhos negros do rapaz estavam enfeitados com olheiras profundas, mesmo assim, Sakura prendeu a respiração ao analisar seu rosto. 

- Se queria ficar sozinho, não deveria ter falado comigo, eu teria apenas seguido em frente. 

- É engraçado como você sempre tem uma resposta na ponta da língua, Sakura. 

- Engraçado? Não estou vendo-o sorrir- ela levantou uma sobrancelha, nervosa e, ao mesmo tempo, extasiada por estar recebendo a total atenção do cavalheiro. 

À contragosto, seu coração acelerou quando Sasuke deixou um pequeno sorriso de lado se formar em seu rosto. 

- Sakura, você deveria voltar para a festa, devem estar procurando-a. 

- Sasuke, volte você- ela respondeu, correspondendo seu sorriso. 

E aquela foi a primeira interação dos dois naquele ano, não houve um beijo escandaloso ou mesmo um flagra, eles conversaram naquela noite e depois, discretamente, voltaram para a festa sem deixar suspeitas. 

No entanto, no mesmo dia em que Naruto conversou com seus pais sobre um possível casamento com Sakura, eles encontraram os dois na biblioteca.


 

Sasuke havia resolvido visitar a casa vizinha para conversar com Naruto, mas, ao receber a notícia de que teria que esperar até o amigo terminar a reunião com os pais, resolveu vagar pela mansão. 

Desde a noite em que encontrou-se com Sakura, a jovem não saía de seus pensamentos, lembrando-o da sensação leve que tomou seu peito ao encarar os olhos verdes da garota. Talvez inconscientemente seu corpo tivesse o levado até ela, talvez fosse apenas sorte, mas após uma longa caminhada pelos corredores da casa, ele a encontrou na biblioteca. 

Sakura lia distraidamente até deparar-se com Sasuke, recebendo-o com surpresa e simpatia. Ao questioná-lo sobre sua presença ali, Sasuke informou que estava pronto para partir em uma viagem pela Europa e desejava despedir-se do amigo.

- Oh, compreendo- Sakura assentiu, tentando não aparentar tão decepcionada quanto se sentia.- Fará bem ao senhor. 

- Não precisa me chamar assim- ele comentou, passando os olhos intensos sobre ela. 

- Sei disso- ela sorriu. Em seguida, suspirou.- Imagino como deve ser poder simplesmente sair de Londres quando desejar.

Sasuke enrugou as sobrancelhas, estranhando a repentina mudança de assunto. 

- Algo a está incomodando? Seu debut?- perguntou. 

Sakura suspirou novamente e encarou o cavalheiro.

- Sim- admitiu.

- Lady Uzumaki não a deixaria tentar novamente na próxima temporada?

- Se eu pedisse, Kushina com certeza me concederia esse desejo, mas sinto que já estou há muito tempo dependendo dessa família… 

- Eles a amam como um membro legítimo- Sasuke comentou.

- Sei disso- Sakura sorriu. 

Naquele momento, Sasuke percebeu que na próxima vez em que pousasse seus olhos sobre Sakura ela seria uma mulher casada, a esposa de alguém. A esposa de Naruto, seu melhor amigo. E, naquele mesmo momento em que todos esses pensamentos giraram em sua cabeça, Sasuke a beijou.

No instante seguinte a porta da biblioteca foi aberta, o grito de Kushina fez eco na sala, assim como o rugido de raiva de Naruto, aquele que havia acabado de perder a garota que amava há anos pela atitude egoísta do amigo. 


 

Naruto não compareceu ao casamento de Sakura, mas Karin sim. Seu coração estava esmagado no peito, mas ela não sentia raiva. Kushina e Minato também compareceram, dando seu apoio à menina que, por muitos anos, haviam tratado como filha. 

Mesmo com a compreensão da família, Sakura sentiu-se só. Sabia que havia causado desgosto a grande parte dos Uzumakis, mesmo aqueles que a amavam demais para odiá-la. Foi assim que a amizade com Tsunade Senju surgiu, das cinzas de sua relação com a família Uzumaki. Tsunade era amiga de Kushina, havia ajudado a educar Sakura em muitos momentos, e agora era a única que não a julgava. 

A situação não era de todo mal, pois Sakura estava casando com Sasuke, o qual se mostrou mais compreensivo, amoroso e necessitado do que jamais imaginou. Apesar de se arrepender de ter traído o amigo, o Uchiha não se arrependia do casamento com Sakura, não quando a dama iluminava seus dias escuros. 

Mesmo morando ao lado dos Uzumaki, a condessa quase nunca os via. A saudade ardia em seu peito, mas mesmo que Sasuke pedisse para que ela fosse visitá-los todos os dias, Sakura não tinha a coragem necessária para tal. Assim, a relação entre as famílias se perdeu com o tempo. 

Sakura ouviu a notícia de que Naruto se casava com Hinata Hyuuga e mandou uma carta os parabenizando, assim como o pingente em forma de losango que Kushina havia dado à ela em seu casamento. 

Então o primeiro filho de Naruto nasceu, e Sakura continuava em suas tentativas de engravidar. Após várias consultas com os melhores médicos de Londres, o casal Uchiha descobriu que Sakura, na verdade, conseguia manter uma gravidez apenas em seu início, as cólicas e sangramentos repentinos que a atingiam eram apenas o sinal de que perdia os bebês. 

Sentindo-se culpada, mesmo que o marido insistisse que não precisava de filhos tão cedo. Até que, um dia, após semanas de enjoo, Sakura percebeu que estava grávida. E o bebê seguiu crescendo em sua barriga, saudável e sem interrupções. 

Foi apenas na noite do parto que Sasuke percebeu que a esposa corria algum risco, e que estivera em perigo desde o momento em que engravidou de Sarada. Naquela noite, Kushina apareceu na casa Uchiha, dizendo querer conhecer a neta e apoiar Sakura. No entanto, Sasuke, já nervoso com os sangramentos da esposa relatados pelo médico, assim, mandou a duquesa de volta para sua casa. 

No dia seguinte, ela recebeu a notícia de que Sakura falecera. 


 

Sarada não notou que estava chorando até sentir o gosto salgado das lágrimas invadir sua boca. Com as costas da mão, ela limpou o rosto. 

- Vou carregar o arrependimento de tê-la abandonado em seu momento mais difícil para o resto da vida. Da mesma forma em que carrego o peso de nunca poder tê-la conhecido até hoje, Sarada, embora não possa dizer que foram poucas as minhas tentativas, mas seu pai sempre foi muito protetor com sua única filha- Kushina sorriu.- E eu o entendo. 

A Uchiha soltou um suspiro trêmulo, emocionada com a história de sua mãe que, em muitos ângulos, era parecida com a sua. Agora, Sarada descobria que, talvez, estivesse mais conectada com os Uzumakis do que jamais imaginara. Sua mãe, afinal, havia sido considerada como uma parte daquela família por muitos anos. E pensar que ela poderia ter crescido ao lado de Boruto… 

Sarada sentiu a mão envelhecida e trêmula de Kushina tomar a sua com um aperto. 

- Tenho que agradecer ao meu neto por tê-la trazido à família.

Sarada sorriu, limpando as lágrimas. Olhou ao redor, notando que Karin usava um lenço para disfarçar os olhos marejados, enquanto Himawari fungava em sua cadeira. 

- E Lord Uzumaki, ele perdoou minha mãe?- Sarada perguntou, lembrando-se de Shinki. 

Kushina suspirou, com os olhos tristes.

- Naruto jamais odiou nenhum dos dois, ele não seria capaz. Mas estava magoado e sofreu muito com a morte de sua mãe, que, acima de tudo, era uma amiga. Tenho certeza que ele se arrepende de ter mantido o orgulho por tanto tempo. 

Sarada assentiu, mordendo o lábio. Talvez, apenas talvez, estivesse cometendo os mesmos erros do passado. O orgulho já havia arruinado uma família unida e uma amizade de longa data, e agora separava um amor que tinha tudo para dar certo, mas que envolvia duas pessoas muito diferentes, complicadas e teimosas. 




 

Em poucos dias Sarada já havia ouvido mais sobre sua mãe do que em seus 18 anos de vida. Kushina amava Sakura e sentia sua falta, de forma que envolvia cada uma de suas histórias com esses sentimentos. 

Segundo ela, havia muito da antiga condessa em Sarada, que possuía uma personalidade bastante parecida com a da mãe, embora levasse características dos Uchihas na mesma medida.

- Bem, não é de todo mal, agora que já estou velha posso admitir que Sakura e Sasuke formavam um belo casal. E você, minha querida, carrega um pouco dos dois. 

Kushina adorava falar, e parecia ter melhorado muito naquela primeira semana em que esteve na companhia de Sarada e Himawari, as duas jovens ficavam horas ao redor da idosa, ouvindo suas histórias e conselhos. 

- Não importa o quanto você ama o seu marido, irá odiá-lo em alguns momentos- Kushina dissertava.- Minato era tão carinhoso e compreensivo, mas, devo dizer, sabia me irritar quando queria. 

Sarada sorriu, lembrando-se de Boruto. Talvez, afinal, o que viviam em seu relacionamento fosse mais comum do que imaginava. 

- E você, Sarada, ouvi que também tem uma história muito interessante de como acabou casando-se com meu neto- a Uzumaki se virou para ela.

- Ah, vovó, a senhora precisava vê-los quando se conheceram! Pareciam gato e rato, entretiam a todos nós com as alfinetadas entre si.

- Oh, minha querida, isso é clássico- Kushina falou.- É uma forma de chamar a atenção um do outro e descontar os ânimos inflamados. 

- Garanto que isso não se aplica a mim- Sarada se defendeu.- Realmente não nos dávamos bem. 

- Pareciam divertir-se quando estavam na presença um do outro- Himawari falou, recebendo um olhar afiado da Uchiha. 

- Bem, em alguns momentos...

Kushina riu, interrompendo-a. 

- Não vejo a hora de vê-los juntos, parecem adoráveis. 

- Eu não diria isso…- Sarada começou, sendo interrompida por Himawari. 

- Com toda a certeza, quando estão juntos, meu irmão e Sarada não dividem a atenção com mais ninguém. 

Sarada enrugou a testa, perguntando-se se realmente agia desse modo. Agora que estava longe de Boruto, sem tê-lo influenciando sua mente das piores maneiras possíveis e causando distrações, podia finalmente avaliá-lo melhor, assim como seus sentimentos. 

À contragosto, lembrou-se das incontáveis vezes em que perdeu-se nos olhos do marido em uma festa, observando-o sorrir para ela enquanto o mundo inteiro congelava ao redor. Lembrou-se da dinâmica dos dias em que passou no pequeno vilarejo em Gales, nas batidas incessantes de seu coração toda vez que deitava-se para dormir ao lado do Uzumaki, mesmo que sequer trocassem qualquer contato físico. De fato, Boruto era o único com a capacidade de surtir esse feito em Sarada. 

Se pudesse ter um pedido realizado naquele momento, ela teria requisitado a imagem do marido. Tudo o que Sarada desejava era poder vê-lo novamente, encarar aqueles olhos magníficos, o rosto tão dolorosamente familiar, que, afinal, a pertencia. Sentia esse fato no fundo do seu peito quando cruzava o olhar com o dele e tinha toda a sua atenção focada em si, nesses momentos, Boruto era dela. 

Mas a Uchiha havia demorado muito a perceber que, nesses momentos, ela pertencia a ele na mesma medida. 



 

Na segunda semana no campo, os preparativos para o casamento engataram em um ritmo acelerado. Sarada participava de pequenas confraternizações no quintal com os moradores da vizinhança, fazia caminhadas pelos diversos setores do quintal de Kushina, passava as manhãs conversando com as mulheres da casa e as tardes andando à cavalo com Himawari. 

- Você sabe que meu pai tem sérios problemas em manter uma conversa, certo?- ela perguntou para Karin.- E ele a deixará falando sozinha se necessário. 

- Sei disso- Karin sorriu.- Está tudo bem. 

- Ele também é muito mal humorado, e não gosta de ser questionado. 

- Tudo bem- Karin riu. 

- Sempre existirão assuntos que ele não irá falar, mesmo que você o obrigue. 

Karin assentiu, esperando que Sarada acabasse de expor os defeitos de seu pai para todas as mulheres da sala, que riam da situação.

- E ele sempre, sempre, irá preferir a sua filhinha- Sarada finalizou, sorrindo provocativa. 

- Posso lidar com isso- Karin concordou.

- Então está pronta para se tornar Lady Uchiha- Sarada falou, dando a mão à amiga. 

As mulheres ao redor comemoraram de forma descontraída, brindando com seus sucos. 

- Quem me dera alguém tivesse me citado todos os defeitos do Konohamaru antes do nosso casamento- Hanabi riu. 

No dia anterior, Lady Sarutobi havia chegado à casa de campo, carregando consigo uma barriga de grávida em crescimento, ainda imperceptível nos vestidos largos que usava. 

- Minato roncava enquanto dormia- Kushina gargalhou. 

- Jiraya, se me permitem dizer, gostava de escrever um tipo muito especial de histórias- Tsunade falou, maliciosa. 

- Que tipo de histórias?- Hima perguntou. 

Ignorando a pergunta da filha, Hinata se pronunciou:

- Naruto esquece de todos os aniversários, todos os anos. 

Em meio a tantos risos, Sarada voltou a pensar em seu próprio relacionamento. Ela olhava para Hinata, uma mulher totalmente diferente do marido, calma e centrada, enquanto Lord Uzumaki era agitado e distraído. E, por mais incrível que parecesse, eles eram felizes e amavam-se, mesmo com todas as diferenças, mesmo que Naruto esquecesse de todos os aniversários todos os anos. 

O mesmo servia para cada mulher naquela sala, não havia parceiro perfeito, pois não haviam seres humanos perfeitos. Assim, na segunda semana no campo, Sarada percebeu que ela e Boruto podiam dar certo, desde que o aceitasse como ele verdadeiramente era. 


 

Na terceira semana, Sarada morria de saudades. Todos os dias era atingida por diversos pensamentos sobre voltar para Londres antes da hora, nos seus momentos de maior sensibilidade a dama quase cedia a essas vontades.

Guardava todas as descobertas sobre seus sentimentos e tudo o que desejava falar a ele dentro do peito. A distância era uma faca em seu coração agora que já sabia exatamente o que desejava para o futuro de seu casamento. Queria fazer as pazes com o marido, e queria que ele a aceitasse de volta. Ele iria, não é? Boruto disse que a amava, disse que a queria mais do que tudo, um mês não poderia mudar isso, certo?

A única coisa que foi capaz de espantar um pouco do nervosismo de seus músculos foi a chegada de Chocho. 

Sarada sentia-se emocional naquela última semana, carregando todo o peso da história de sua mãe e seu pai, da realidade de seus sentimentos, e, por isso, chorou ao abraçar a Akimichi.

- Senti sua falta.

- Também senti a sua- Chocho falou, limpando as lágrimas do rosto da amiga. 

Sarada a olhou desconfiada ao perceber um sorriso muito largo no rosto da jovem. 

- O que aconteceu?- perguntou.

- Tenho que lhe contar algo. 

- Estou esperando- Sarada murmurou, ansiosa. 

- Não aqui- Chocho revirou os olhos.- E não sem chá.

- E bolinhos- Sarada completou, entrelaçando o braço no de Chocho ao puxá-la para dentro da casa.

- É muito bonito aqui.

- É o lugar mais bonito em que já estive- a Uchiha concordou.- Recebeu a minha carta?

- Sim, e, devo admitir, derramei algumas lágrimas com a história de sua mãe- Chocho comentou.- Estava pensando em escrever sobre ela, sabe, Sakura Haruno foi uma personalidade. 

- Tenho certeza que ela se sentiria honrada- Sarada sorriu, apontando para que Chocho se sentasse em uma das cadeiras da mesa já preparada com chá e bolo.- Deixei tudo preparado para sua chegada. 

- Eu a amo, sabe disso, não sabe?

- É claro- Sarada revirou os olhos.- Mas e agora? Qual sua novidade? 

Obviamente, Chocho deixou que o mistério se espalhasse pelo ar antes de começar a falar, enquanto tomava um longo gole de chá. 

- Shinki no Sabaku irá se casar.

- É mesmo?!- Sarada inclinou o corpo para frente, os olhos cheios de curiosidade.- Com quem? 

Nesse instante, ela percebeu as bochechas coradas de Chocho e o sorriso muito aberto em seu rosto.

- Você!

- Sim- ela riu. 

- Oh, meu deus!- Sarada pulou de seu lugar, pegando a mão da amiga em cima da mesa.- Como isso aconteceu? 

- Bem, no último mês estivemos trocando cartas entre nós, pois eu queria coletar dados do exterior para uma história que estou escrevendo. Também não sei como, mas parece que nos aproximamos, e então, de uma hora para outra, ele apareceu na minha casa, levou flores… Meus pais nem acreditaram que isso estava acontecendo, eu ainda não acredito. 

- Pois deveria, Shinki soube ver o melhor em você, e foi inteligente o suficiente para não deixá-la escapar- Sarada sorriu.

Dessa vez, quem precisou limpar as lágrimas do rosto foi Chocho, emocionada com a gentileza da amiga.

- Falei com o seu senhor Uzumaki- Chocho comentou.

- É mesmo?- Sarada moveu-se na cadeira, tentando disfarçar a onda de interesse que a atingiu. 

- Perguntou-me se estava mantendo contato com você.

- E?

- Só isso- Chocho deu de ombros.

- Só isso?- Sarada perguntou, tentando esconder a decepção.

- Ele também me pediu para lhe entregar uma carta... 

Chocho escondeu o sorriso atrás de um gole de chá.

- Onde está?!- Sarada voltou a inclinar-se sobre a mesa. 

- O que?

- A carta.

- Nas minhas malas, vou precisar de algum tempo para achá-la. 

- Chocho!- Sarada enrugou a testa, sabendo que a amiga mentia. Chocho Akimichi jamais deixaria uma carta importante guardada em meio aos seus vestidos, para ela, as palavras eram mais importantes que qualquer outro bem. 

- Tudo bem- a dama desistiu, retirando a carta de dentro de um bolso escondido na saia do vestido.- Pedi que o instalassem por precaução- comentou. 

Sarada segurou a carta com o mesmo cuidado com que seguraria diamantes. Sentia a boca secando com a ansiedade e o medo de ler o que estava contido naquele papel. 

Para Sarada Uzumaki, estava escrito no envelope. 

A Uchiha ergueu o olhar para falar com Chocho, mas notou que a amiga havia partido enquanto ela se distraía com suas preocupações. Respirando fundo, Sarada umedeceu os lábios e abriu o lacre com o selo Uzumaki. 

As mãos tremiam quando ela desdobrou a carta, reconhecendo a letra fina e elegante do marido. 


 

Senhorita Uchiha. Sarada Uchiha. Uchiha. Senhora Uzumaki. Sarada Uzumaki. Sarada. 

É sempre difícil para mim, um cavalheiro que foi educado a liderar e me portar como uma autoridade, escrever ou falar qualquer coisa em sua presença. Mesmo agora, que você está tão longe, ainda posso sentir seu olhar forte contra minhas costas. A verdade, Sarada, é que você me intimida, eu invejo a sua frieza e a sua rigidez, você nunca se curva, e esse é um dos motivos pelos quais sempre provoca em mim o pior tipo de irritação. 

Quando estou com você não posso ser Boruto Uzumaki, o futuro duque, sou apenas Boruto, um homem jovem e tolo, em frente à uma mulher mais jovem ainda, que parece gostar de me ter nas mãos. 

Sinto muito se pareço estar ofendendo-a, mas é como me sinto grande parte do tempo. E, mesmo assim, não consigo deixar de amá-la. Fazem dias, talvez uma semana, desde que você partiu para o campo, e não consigo deixar de tê-la em minha mente. 

Ontem à noite participei de uma estranha conversa entre seu pai e o meu, ambos dividiam suas memórias de infância. Acabei descobrindo toda a realidade sobre a desavença de nossas famílias, posso contar a você depois, se quiser, mas não é sobre isso que vim escrever. 

O orgulho vem nos prejudicando, Sarada, temos deixado ele vencer. Desde o início, naquele baile de debut, você era a mulher mais bonita que eu já havia visto, e depois tornou-se a mais interessante. Eu teria me casado com você mesmo sem a pressão de nossos pais, mesmo que eu fosse ainda mais jovem. Eu teria lhe beijado naquela roseira mil vezes se necessário, e teria deixado você partir meu coração mais mil. Eu a amo, e estou disposto a sofrer nas suas mãos pela eternidade, se você estiver disposta a me aceitar novamente, com todo meu orgulho e sensibilidade. 

Eu a amo, com o coração de um tolo, mas a amo. 


 

Sarada deixou um soluço escapar. O sorriso de alívio e felicidade que surgiu em seu rosto era incomparável. Mais uma vez, ela era agraciada com uma segunda chance. Havia dito tantas palavras duras ao marido, havia pisado em seu coração, mesmo sem desejar tê-lo feito. 

Mas, como todo Uzumaki, Boruto se mostrava teimoso ao extremo e com uma reserva de amor infinita para dar. Ainda trêmula, mas feliz, Sarada pressionou a carta contra seu coração.

 



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