Como um bom marinheiro, Afonso conhecia muito bem o mar.
Afinal, o mar sempre esteve ao seu alcance.
A primeira recordação dele era justamente o mar.
O extenso e grandioso mar, diante aos seus olhos, revelava um monte de oportunidades.
Como aquelas que teve durante os Descobrimentos.
Lembrava-se que, na altura, era somente um adolescente entusiasmado pela ideia do desconhecido.
Perguntara ao Infante dom Henrique, antes de partir naquela aventura, Verei monstros? E sereias? Terei a oportunidade de ver alguma criatura que desconheço?
De certa forma, vira sim criaturas que desconhecia. Animais que, até então, eram-lhe desconhecidos. No entanto, as criaturas monstruosas e mágicas revelaram-se mero fruto da imaginação humana.
Afonso gostava de se lembrar desses grandiosos tempos, mas, no entanto, dava-lhe também desgosto.
Enquanto Luís de Camões glorificava os momentos, Gil Vicente os criticava.
Ambos com razão. Havia o lado positivo e o negativo nos Descobrimentos.
Como Fernando Pessoa escrevera uma vez:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
Enfim, teria que se consolar que havia visões diferentes sobre o mar.
Muitos o consideravam perigoso, devido às tempestades e grandes ondas.
Afonso, de certa forma, não. Pensava que era só preciso ter precaução em relação ao mar.
Sem falar que 97% dos territórios do país eram mar.
“Portugal é mar” era o que anunciava o novo mapa.
Naquele momento, Afonso e Luciano passeavam numa praia.
- Quem foi que quis vir p’ra praia nesse frio?!!! – Luciano perguntou retórico, lançando um olhar chateado a Afonso, enquanto se abraçava numa tentativa de se aquecer. A temperatura estava mesmo baixa.
- Eu. – respondeu Afonso, rindo. Sabia que fora uma pergunta retórica, mas gostava de picar os outros. – Pode estar frio, mas não é assim tanto.
- Claro que não! – retrucou ironicamente o brasileiro. Revirou os olhos.
- Oh, alguém acordou com os pés fora da cama.
- O que você esperava? Venho p’ra Portugal descansar e me acorda cedo. – reclamou ele, olhando para um ramo de flores que Afonso trazia. – P’ra quem são essas flores?
Antes de responder, Afonso pensou um pouco e sorriu.
- Para o mar.
- Hã? – Luciano não entendeu o que o outro acabara de dizer. Como assim para o mar?
- Ou melhor, para quem perdeu a vida nele. – continuou Afonso. – Virou um hábito meu fazer isso.
Luciano calou-se. Não sabia o que dizer. Afonso suspirou e puxou a bochecha do outro.
- Depois vamos para casa e alugamos um filme, com pipocas e bebidas quentes incluídas.
- Eu escolho o filme! – exclamou o brasileiro, sorrindo.
Afonso abaixou-se e colocou o ramo na areia, tirando o papel que estava envolto dos caules das flores.
- Vamos? – perguntou, levantando-se e limpando as calças, tinha um pouco de areia.
O brasileiro balançou a cabeça positivamente e ambos regressaram a casa do português.
Que filme Luciano escolheu?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.